quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Darker Than Black - Duas temporadas + OVAs

Saudações do Crítico Nippon!


Ao escrever sobre Shiki, disse que as OVAs de Darker Than Black haviam sido algumas das melhores séries que assisti naquele ano. Feitas como ponte para a primeira e segunda temporada, trazia toda qualidade do estúdio BONES e respondia algumas questões pendentes do anime de forma bastante satisfatória. Este artigo será dividido entre as duas temporadas separadas e as OVAs, como fiz com Kara no Kyoukai. Adaptado de um mangá sem graça e pobre de apenas dois volumes, situação parecida à Wolf’s Rain (embora o mangá tenha sido adaptado e não o contrário), portanto, já sabem que não devem levar em consideração.



Dez anos atrás, surgiu o “Hell’s Gate” em Tóquio e o "Heaven's Gate" no Brasil, fazendo as estrelas serem substituídas por falsas e criando um misterioso território por trás do Portão. Poderes misteriosos também despertaram em algumas pessoas, estas chamadas de Contratantes, devido a certo preço que precisam pagar para usarem suas habilidades. Nesse mundo quase-pós-apocalíptico, acompanhamos Hei (conhecido por infinidades de nomes: Li Sheng Shun, BK-201, Shinigami Negro) que é um Contratante, a “doll” cega Yin, Mao e Huang, todos partes do Sindicato que almeja desvendar os segredos do Hell’s Gate eliminando qualquer um que ficar em seu caminho.

Lembrando em sua estrutura Cowboy Bebop, a principio não conhecemos nada sobre o grupo de Li/Hei, nem dele próprio, passando a nos importarmos com aquelas pessoas gradualmente em suas missões e torcermos por estes “criminosos”. Só que com a vantagem das tramas durarem sempre dois episódios. Às vezes parecendo até que poderiam ser vistos fora de ordem, embora eles sejam espertos de colocarem pistas daquele universo na ordem cronológica correta. Por exemplo, o casaco protetor de Hei; o clima sombrio gradual ao redor do Portão, que poderia até fazer os Contratantes perderem o controle; etc. Mantendo o público curioso com as habilidades de seus super humanos, estes precisam sempre fazer uma espécie de “pagamento” após o uso. Variam entre alinhar pedrinhas no chão ou quebrar os dedos da mão, dependendo da sorte.




Fascinante ao tratar seu universo com toda seriedade, não há maiores gracinhas gratuitas, e quando surgem alguns personagens leves e carismáticos, nunca ficam com expressões caricatas e forçadas pela animação (vide um outro lá sobre Titãs). Com personagens secundários que crescem com o tempo e jamais soam estereótipos, diferente de uns e outros animes que andei comentando há pouco. Levando até mesmo o Contratante Mao, que está preso ao corpo de um gato, ser uma figura séria e inteligente aos nossos olhos, aproveitando a vantagem que tem de quase sempre passar despercebido aos inimigos.

Contribuindo para o tom conspiratório que já envolve organizações “místicas” para o público como o FBI, a CIA, o Sindicato e, claro, o Hell’s Gate, vemos o protagonista revistando a sua casa nova cuidadosamente; e as diversas vezes que Hei, Huang e Mao se reúnem estão de costas um pro outro e procurando disfarçar. Com figurinos que remetem às necessidades e personalidades deles, todo grupo principal veste roupas opacas e sem vida, passando despercebidos em multidões. Da discreta camisa branca e calça jeans do Hei, aos trapos marrons de Huang, constantemente mesclados com o cenário de fundo. Temos também os coloridos roqueiros no condomínio de Li, sempre fazendo festa; passando pela jovem detetive cosplayer em vestidinho rosa e todo seu carisma; os ternos brancos e largos dos gângsters; o traje social e escuro da policial Kirihara, refletindo seu modus operandi correto e centrado; a roupa social roxa de November 11, remetendo ao seu pagamento cancerígeno, e personalidade charmosa que parece sempre estar um passo a frente de seus próprios aliados.





De qualquer forma, o anime tem sua parcela de problemas e perguntas nunca respondidas. Jamais vemos o que acontece com um Contratante que deixa de executar seu pagamento. Explodem? Viram pó? Transformam-se em borboletas? Isso deveria ser fundamental e proveitoso para cenas tensas em que eles estivessem incapacitados de pagar, porém é completamente desperdiçado. E qual o pagamento do Hei? Ele não tem? Se sim, por quê? Outra coisa são os constantes adversários sem maiores informações. Quem são? O que querem? Por quê? Assim, jamais soam memoráveis ou despertam nosso interesse profundo.


Apesar disso, Darker Than Black consegue se manter a cima da média justamente por sempre se levar a sério. E se os figurinos desempenhavam um importante papel na composição dos personagens, as cores empregadas nas noites da capital japonesa contribuem para uma ambientação quase noir daquele universo. Variando entre um azul sempre místico de outro mundo, ou um verde matrix espectral e incômodo, constantemente se tem a sensação de que há algo “deslocado” com todos envolvidos. E não é pra menos, afinal, tratam-se de perseguições envolvendo Contratantes, dolls, e companhias secretas.


Com uma trilha sonora impecável, absolutamente orgânica à todos os climas presentes no anime, melodias de conspiração, despreocupadas, às mais reflexivas e agitadas. São composições que lembram muito as fabulosas de Durarara. E os elogios técnicos não param por aí: os dubladores tem uma qualidade excelente, dos personagens principais, aos antagonistas e aos meros figurantes, encarnando-os com uma naturalidade imensa. Sem esconder cenas mais fortes como dos pedestres queimados vivos, ou dos policiais fatiados, até mesmo o protagonista e sua forte personalidade são jogados contra o espectador como um desafio. Como quando ele tortura a ruiva Havoc, ou acerta o rosto da Amber, e percebam que eu acabei de citar mulheres

Servindo muitas vezes como estudo de personagem, seguido paramos para ouvir longas conversas calmas entre eles. Alguns exemplos como Hei e o cientista olhando as estrelas no Portão, ou Hei e Kirihara trancados no banheiro, e diversos outras. Apesar de tudo, funciona muito bem nas cenas de ação. Rápidas e claras em sua direção, os poderes dos Contratantes se tornam ainda mais ameaçadores justamente por não ficarem brigando por muito tempo, decidindo a luta em poucos e mortais golpes. Exibindo uma inteligência fantástica no uso das habilidades de cada um, desde Hei usando sua eletricidade para fazer uma desfibrilação nele mesmo durante a batalha (!!!!); até November 11 se livrando de várias explosões usando uma simples possa d’água.

Prejudicado por um anti clímax marcante (no mau sentido), não temos a sensação de resolução de nada e sequer sabíamos exatamente o que esperar. Esta primeira temporada de Darker Than Black acaba não servindo se observada como um grande arco, mas analisada como pequenas situações e missões que nos deixam curiosos e empolgados. É uma pena que com tantas peças curiosas para trabalhar, tenha sido finalizada quase que por acaso, ficando perigosamente perto de estragar boa parte do que construiu até então.



Darker Than Black - Ryuusei no Gemini


A segunda fase de Darker Than Black consegue ser ainda melhor por inúmeras razões. Já familiarizados com o universo e suas regras e personagens, e com o número de episódios reduzidos pela metade, sem manter a mesma estrutura de 2 por missão. O anime adota uma estrutura serial frenética e ainda mais conspiratória que seu antecessor. Sim, os momentos de reflexão entre personagens ainda estão lá, novos personagens secundários também e são desenvolvidos, porém ainda assim o ritmo é fantástico.

Começando dois anos após os incidentes da primeira temporada, Hei agora não está mais no Sindicato e sim na CIA. Enviado para capturar uma tal de Pedra da Lua, acaba se deparando com a garota Suou. Esta cujo irmão gêmeo, Shion, está sendo perseguido por motivos obscuros por outras pessoas. Devido algumas circunstâncias e acidentes, Hei e Suou acabam se unindo. É então que vemos uma série de organizações se movimentando atrás de Shion e de outra tal de Izanami, e a trama começa a aumentar exponencialmente.


Inteligente desde o primeiro episódio, quando acompanhamos aquela que agora é a protagonista da história, Suou. O clima de sossego e tranqüilidade passageiros ao redor dela e seus colegas é estabelecido em algumas pouquíssimas cenas (algo que o recente Shingeki no Kyojin demora dezenas de episódios para estabelecer conexão entre todos). A garota, aliás, é extremamente interessante desde o início e seu crescimento é contínuo até o final. Alegre pelas conquistas de seus colegas; repreendida pelo pai por querer ficar perto do irmão; corajosa ao bolar estratégias e enfrentar seus perseguidores mesmo quando ainda está confusa; enfim, é uma moça agradável.

A confiança no público é algo que chama muita atenção, raramente mastigando maiores detalhes. Isso torna a narrativa incrivelmente mais dinâmica. Exemplos como o gato preto de coleira vermelha pulando de uma janela em que vemos rapidamente um esquilo, aí já sabemos que Mao trocou de corpo; o barulho de choque e gritos sabemos que Hei está agindo contra alguém; o acúmulo de origamis anormal já nos faz pensar que pode ser um “pagamento”; a beleza de uma chuva de estrelas cadentes que esconde um massacre de Contratantes; e diversas outras cenas econômicas sem precisar dizer uma palavra.

                                                          
Chegamos, finalmente, ao antigo protagonista Hei. Dessa vez fazendo o papel de mestre para Suou, é sempre hipnótico ver esses dois personagens treinando juntos, conversando e crescendo simultaneamente com a ajuda um do outro. De qualquer forma, suas atitudes violentas e imprevisibilidade, mesmo com o sexo feminino, continuam. E o vemos agredindo meninas e mulheres, inclusive torturando cruelmente. Confesso que admiro a coragem dos realizadores por se arriscarem assim. Perdendo seus poderes elétricos de Contratante (embora sua personalidade continue a mesma. Hum.), tornando todas as cenas de ação incrivelmente mais tensas. O que não o impede de continuar aceitando suas missões e servindo como distração para Suou e Mao escaparem sempre. Mantendo lutas com estratégias fascinantes e rápidas, em nada deixam a desejar com relação à primeira temporada.

Ainda que exagere um pouco na nova composição do Shinigami Negro visualmente. Sim, é interessante vê-lo com um semblante diferente, porém parece que queriam usar todas as pistas possíveis de uma vez só para mostrar que estava passando por uma fase difícil. Cabelo cumprido (vejam, estou perturbado!); barba por fazer (vejam, estou perturbado!); capa à prova de balas retalhada (?!?!) (vejam, estou perturbado!); constantes bebidas alcoólicas (vejam, estou perturbado!). Me surpreende não lhe fazerem tomar remédios para depressão e ir em consultas ocasionais com psiquiatras. Afinal, ele está perturbado. Perceberam?


















Mantendo seu tom conspiratório e instigante, os personagens constantemente estão correndo de algo, ou fugindo em algum meio de transporte. As cenas nas quais se escondem em esquinas ou árvores são abundantes, bem como observando inimigos de longe, criando um clima sempre de urgência. E o fato de se abrigarem próximos de uma construção em andamento para abafar o som dos tiros dos treinos da Suou é de um cuidado brilhante. Nos dizendo isso em apenas uma vaga frase (“Seu tiro será ouvido se disparar entre as pausas da obra ao lado”) e com rápidas cenas de 2 segundos da obra e seu barulho baixo ocasional, sendo necessário bastante atenção para notar uma escolha inteligente dessas nem um pouco escancarada.


Tratando seus personagens secundários com sensibilidade admirável. Norio e seu pai são carismáticos e possuem problemas que cativam o espectador. E a opção sexual do velho jamais é usada para fazer graça nem quando estão discutindo, revelando uma maturidade incrivelmente respeitosa (e é lamentável ainda termos que nos surpreender com isso). Falando sobre isso em apenas uma única frase bem construída e encerrando ali o tópico: “Eu costumava ter o direito de subir na Arca de Noé”.



























Assim como na primeira temporada, os personagens mantém relações delicadas entre os membros do grupo principal. Se na primeira, o Shinigami Negro e Huang constantemente se confrontavam, nesta segunda vemos Suou cogitando fugir dele por bastante tempo; depois Hei se preparando para abandonar Julho facilmente; etc. Com um final bem mais aceitável que a primeira, no próximo parágrafo irei mastigar um pouco ele para os que tiveram maiores dúvidas. Então se prepare para spoilers aqui embaixo.

Shion decidiu criar um novo mundo, ausente de contratantes e dolls, porém que fosse parecido com o nosso. Decide dar isso à sua irmã que foi morta e copiada por ele. A tia loira de cabelo curto e o pai dos gêmeos criam um supercomputador que tinha a potência para criar este mundo alternativo, o qual eles chamam de Lua. Entretanto, esse mundo torna as memórias instáveis, sendo assim, testam Suou usando aquele fragmento no pescoço. E acabou dando certo, assim só faltavam recuperar o pedaço. Formada a entidade Izanagi + Izanami (uma espécie de Yin fêmea e Yin macho), somado com a energia coletada no dia da mudança (episódio 12), fez a potência e garantir o mundo alternativo. Assim, migraram as almas de um plano para outra, então dependendo da crença, talvez ninguém tenha morrido.

Sobre o final de Hei e Yin, o poder do primeiro estava selado ao pedaço que Suou carregava no pescoço, assim uma vez destruído, seus poderes voltaram. É provável que com seus poderes de manipulação eletrônica (elétrons) ele tenha conseguido mover o “espírito fêmea” de Yin de volta para ele, separando da outra metade.



Darker Than Black – The Black Contractor


            As OVAs finais ligam a primeira e a segunda temporada, após a fuga de Hei do Sindicato e a perda de alguns antigos parceiros. O protagonista e Yin ganham traços mais profundos e humanos (por incrível que pareça para, hum, um Contratante e uma doll). Talvez pelo fato de estarem sozinhos dessa vez, sem nenhum antagonista realmente memorável como acontecia nas duas temporadas. Hei varia constantemente entre perturbado, surpreso, triste e às vezes até feliz. Yin, mesmo com pouco variação em sua expressão, consegue expressar suas pequenas alegrias, medos e até ciúmes. Comunicando-se com algumas poucas palavras que dizem apenas o básico necessário, é bacana notar como não precisam de muito para se expressarem. Seja pelos anos trabalhando juntos, ou pelos sentimentos crescentes um pelo outro.





Fazendo um excelente trabalho na qualidade máxima do estúdio BONES, temos cenários sempre interessantes e ricos em detalhes, sejam internos ou externos. Com uma animação extremamente eficiente, as batalhas e personagens fluem com destreza e agilidade. As lutas ficam mais sangrentas e os Contratantes continuam sempre fascinantes com suas habilidades. Mantendo o tom conspiratório ao faze-lo revistar os quartos e ficarem sempre preocupados com seguidores, bem como nunca sabermos exatamente quando algum Contratante mudará de lado. Encerrando com uma gostosa sensação de retorno à segunda temporada, com as características e personagens que a marcavam. Darker Than Black é uma série única e eficiente, e ainda que tenha alguns problemas ocasionais, o saldo total é um ótimo anime que só melhorou com o passar do tempo. 















(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)
@PedroSEkman

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