quinta-feira, 12 de abril de 2018

Made in Abyss (2017)


Saudações do Crítico Nippon!

Nas minhas anotações sobre este anime, devo ter escrito a palavra “aterrorizante” e seus derivados umas dez vezes. Tem a essência daquelas histórias infantis como João e Maria, e até o jovem clássico Over The Garden Wall. Made in Abyss é inteligente em seus detalhes, preenchendo o universo com novas informações o tempo inteiro, embalado por uma animação de tirar o fôlego. E totalmente desesperador.





Acompanhamos a pequena Riko, uma garota de 12 anos que vive em Orth, uma cidade que cresce ao redor do Abismo título. Aqueles que se aventuram descer em sua cratera são conhecidos como Exploradores. As crianças, ranqueadas como Apitos Vermelhos, exploram as beiradas do Abismo. Os adultos, quanto mais profundo exploram o buraco, sua cor evolui para Apitos Azul, Preto e Branco. A profundidade do buraco é desconhecida, pois o número de fatalidades ao explorá-lo é muito grande e algo normal aos habitantes de Orth. Aqueles que sobrevivem sofrem as sequelas da Maldição do Abismo, que ficam cada vez mais intensas conforme a profundidade.


É quando Riko recebe uma carta de sua mãe, uma lendária Apito Branco (os exploradores mais experientes), dizendo estar lhe esperando nas profundezas. E com a ajuda do misterioso garoto robô, Reg, parte em uma jornada onde criança alguma (e pouquíssimos adultos) jamais foi. 


Com uma frieza impressionante ao lidar com o Abismo, o anime não procura maquiar nem dar falsas esperanças em momento algum. Trata-se de uma jornada mortal. O mapa que constantemente aparece em posse de vários personagens, se encontra incompleto porque ninguém voltou para preencher o restante de como é nas camadas mais profundas. As histórias e boatos de mortes, loucura, perda da humanidade, distorções temporais, são atiradas no espectador em todo capítulo. É uma aventura que em momento algum parece ter um raio de esperança e perspectiva de um final feliz. 


Com uma belíssima trilha sonora em momentos pontuais, na maior parte do tempo estamos em silêncio descendo camada após camada com a dupla de protagonistas. Os sons ambientes são preenchidos por grilos, criaturas distantes, pássaros, o vento cortante. Contribui para essa sensação de isolamento a fotografia absolutamente espetacular. Os personagens são vistos sempre pequenos no centro do quadro, à mercê dos perigos infinitos do Abismo. Há uma beleza crua e fria na paisagem, muito longe dos desenhos animados vibrantes infantis. É a indiferença entediante, imparcial e indiscriminada da Natureza. E percebam como uma leve mudança na fotografia consegue transformar a bela paisagem de Orth, em uma periferia cada vez mais sombria e com raras aberturas para o sol. É um trabalho precioso e digno de aplausos.


Claro que contribui para a apreensão constante e urgência do anime, a personalidade carismática dos heróis. E Riko é um poço de alegria e espontaneidade. Reparem como ela conversa com os garotos do orfanato gesticulando fervorosamente quase que o tempo todo. E ao fazê-la aparecer constantemente nua e sem qualquer vergonha, a torna uma figura de pureza quase angelical, inocente, imaculada. O que nos traz ao seu fiel escudeiro, Reg. E o carinho que ambos desenvolvem um pelo outro é tocante, além de possuírem habilidades particulares, o que torna a ajuda mútua fundamental nesta aventura. Aliás, Reg se mostra tão corajoso e inteligente que sempre que ele se encontra receoso, o espectador fica imediatamente tenso. Os heróis podem ter os corpos de crianças (e até mesmo a personalidade encantadora delas), mas não há qualquer perda de tempo em brigas desnecessárias, discussões bobas, nem nada de outros animes ditos “adultos”. Riko e Reg possuem o raciocínio rápido e pensam em diversas questões que cruzam o seu caminho com uma maturidade admirável. 


Com coadjuvantes que possuem a ingrata tarefa de serem suficientemente interessantes para tomarem espaço dos adoráveis protagonistas. E conseguem. Ozen, uma mistura de Severus Snape com Cruela Devil, com seus trajes e cenário roxo e verde venenoso (representando o óbvio), é uma figura ameaçadora, inteligente, enigmática, tudo ao mesmo tempo. Ao passo que Nanachi evoca uma das histórias mais trágicas do anime, rivalizando com a quimera de Fullmetal Alchemist. 


Deliciosamente urgente quanto mais nos aprofundamos no Abismo (leia-se: uma tortura do caralho), Made in Abyss ainda traz elementos gráficos poderosos. Desde cadáveres perdidos e putrefatos ao longo do caminho, até situações grotescas com os heróis. Riko constantemente é vista vomitando, se mijando, sangrando e sofrendo das mais diversas formas. Culminando no episódio 10 que representa um dos maiores sofrimentos que passei assistindo algo nos últimos tempos (sou chorão demais). 


Segurando as rédeas da história maravilhosamente bem, sem cair para qualquer tipo de enrolação, Made in Abyss é uma aula de como criar um universo sólido e rico. Enxergando o Abismo de forma mística, seja como um Inferno ou mesmo um substituto de deus, as alegorias ao redor dele são vastas e todas encaixam. Os personagens acreditam que tudo dali nasce e para ali retorna, mesmo que grande parte de seus sofrimentos provenham dali. É uma questão de fé tocante e até mesmo trágica. Em suma, é surpreendente que esse anime tenha apenas 13 episódios e uma riqueza em termos narrativos e emocionais tão abundantes.


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