Imagine que a “Animação Suspensa” fosse realidade e você
pudesse entrar em um estado de sono profundo e ser acordado muitos anos depois,
em um futuro completamente diferente do que imaginou? Esse é um tema que
atualmente não está mais na moda no campo da ficção cientifica, mas que serve
de plot para o filme King of Thorn (Ibara
no Ou). Há temos que a fronteira entre os gêneros ficcionais se diluiu a
tal ponto que atualmente são poucas que trabalham somente em cima de uma linha
narrativa. Produzido pelo estúdio Sunrise,
famoso por seus animes do gênero mecha, King of Thorn é mais uma série que faz
essa transposição – E acaba se saindo bem ao misturar ficção científica,
fantasia e aquele feeling de história de sobrevivência que se faz presente
durante toda a execução.
A história se desenvolve em cima do estranho e desconhecido
Vírus Medusa, que igual a Mitologia Grega,
onde o olhar de Medusa transformava quem a olhasse em estátua de pedra,
assim que o vírus se manifesta e vai para sua segunda fase, transforma o
portador em uma estatua de pedra. A estranha doença se espalha e provoca pânico
na população mundial. A empresa Venus Gate, desenvolve um experimento secreto que
tem como intuito, garantir um atraso na progressão da doença, selecionando 160
pessoas infectadas que são induzidas a máquinas de Sono Criogênico para
servirem de cobaias para o experimento que significará o futuro da humanidade. Porém,
assim que todos são induzidos ao sono pelo programa operacional, algo de errado
acontece durante o experimento e quando os pacientes acordam, se veem imersos
em um terrível pesadelo. O castelo onde eles haviam sido levados se encontra
completamente imerso em ruinas e tomado por estranhas raízes com espinhos e
aparentemente, eles são os únicos sobreviventes. Logo eles descobrem que não
estão sós, mas em companhia de terríveis criaturas que se parecem com
dinossauros e outras terríveis aberrações da natureza. O sonho tranquilo a
espera da cura, acabara de ser transformar em uma intensa e eletrizante luta
pela sobrevivência.
O desenvolvimento da
ideia
King of Thorn começa trabalhando em cima do seu mote Sci-Fi,
já mostrando os terríveis efeitos do Vírus Medusa, tanto física, como
psicologicamente – A primeira cena, de uma mulher mergulhando do alto de uma
arranha céu em Nova York, se espatifando ao solo, já transformada em pedra,
denota todo o terror e a crise que a população e os países estavam enfrentando.
Podemos dividir o filme em 3 partes distintas, com a primeira dela se
desenvolvendo cadencialmente em cima da operação “Bela Adormecida”, que é o
projeto onde as 160 pessoas seriam induzidas ao sono profundo.
Eu não sei se a versão original de King of Thorn foi inspirada
no famoso conto de fadas, A Bela Adormecida, mas acaba desenvolvendo sua
narrativa em cima dessa premissa e torna a experiência ao se assisti-lo, bem
peculiar. Temos a princesa que é induzida ao sono profundo para escapar da
morte, e os príncipes que enfrentam a floresta de espinhos para tentar
desperta-la de seu sono. Essas metáforas foram usadas de forma fantástica no
decorrer do filme e não estão ali por mero acaso, que é o que descobrimos no
desfecho final.
Depois de uma mudança de cenário, que tem como foco da ação,
a Escócia, o filme entra em sua segunda e explosiva parte.
As pessoas
selecionadas despertam abruptamente e se veem completamente isolados do mundo.
Se a sensação de pânico já se fazia presente, o desespero é geral quando eles
começam a ser atacados por morcegos carnívoros vindos sabe-se lá de onde. Aqui,
temos a luta pela sobrevivência em maior ênfase e se assemelha ao gênero survival
horror. É bem genérico, não sendo surpresa alguma a dedução dos personagens que
são possíveis candidatos a morrer no meio da jornada. Dos 160 inseridos no
plot, em menos de 30 minutos de reprodução, restam apenas 7 personagens que
serão a base de toda a história a parti desse momento e que logicamente irão se
despedindo um por um. A protagonista, Kasumi Ishiki, uma japonesa insegura
emocionalmente, mas que deseja sair com vida para poder reencontrar sua irmã gêmea,
não é uma personagem tão boa assim, mas que acaba surpreendendo. Por outro
lado, temos o americano Marco Owen e o afrodescendente (LOL) Ron Portman, que protagonizam algumas sequências espetaculares
de pura adrenalina.
Quando eu digo que a abordagem em cima da luta pela
sobrevivência é genérica, não é necessariamente demérito. Tem tudo o que um bom
filme americano do gênero pode oferecer – Em alguns momentos, tive a ligeira
impressão de estar assistindo ao primeiro filme da franquia Residente Evil, em
suas melhores sequências. A abordagem é a mesma e o feeling também: Personagens
enclausurados, enfrentando uma terrível ameaça. Mas a história vai além de uma
fuga desenfreada a procura de um lugar seguro, dá sinais de que algo mais
profundo e complexo está acontecendo.
A partir dai, a narrativa que até então se focava no grupo
de sobreviventes tentando encontrar uma saída daquele castelo obscuro e repleto
de criaturas, passa a dar ênfase à fantasia. Mergulhamos então na complexa e
última parte do longa animado, que contempla o lado fantasioso. Porém, o
interessante de King of Thorn, é o fato
do roteiro não usar a fantasia como explicação de todos os eventos. A trama
se sustenta no Sci-Fi e dá uma resolução lógica para o mistério chave da
história. O que vemos, é mais uma trama que trabalha em cima do fabuloso
universo dos sonhos e os efeitos do fenômeno na realidade. Entre tantas,
destaco Paprika, do saudoso diretor japonês,
Satoshi Kon, tanto pela similaridade da proposta, quanto pelo tema – Mas falar
mais a fundo sobre isso, seria spoiler e quem ainda não assistiu certamente
iria querer me matar.
King of Thorn, é uma adaptação do prestigiado mangá homônimo, de ficção cientifica e sobrevivência, do
autor Yuji Iwahara. É um seinen de 6 volumes, já finalizado em 2005. Como
toda adaptação, essa que falo aqui também está longe de ser uma unanimidade
devido as liberdades tomadas com relação ao mangá, inclusive contemplando a
todos com um final original. Logicamente, mudanças são necessárias na adaptação
de uma história compilada em 6 volumes para um filme de 1 hora e 50 minutos.
Mas o diretor, Kazuyoshi Katayama, acaba se perdendo em alguns pontos cruciais
no momento que a verdadeira história se revela e começa-se a trabalhar em cima
das peças chaves. Há pontos em que ficou bastante confusa a compreensão, quando
na verdade deveria ser de fácil percepção, o ritmo acelerado acima do tom
adotado até então, também acaba prejudicando um pouco o clímax, com um final
que não convence ao se passar a ideia de uma obra fechada.
Mas talvez o pior, seja o péssimo uso do CG, que ficou antinatural
ao extremo em todas as cenas que se precisou utilizar o recurso. O contraste
dos personagens em 2D com os dinossauros e morcegos em CG, passou a sensação de
estar tudo fora do lugar em uma colagem muito bizarra. Aliás, juntamente com o
feeling de survival horror que a história passava, todo o gráfico parecia ter saído
de um game pra PS2. Não que chegue a prejudicar, mas como o roteiro é repleto
de cenas de ação, é algo que chama bastante atenção, querendo ou não. Afinal, o
que houve com a Sunrise dessa vez?
Por outro lado, nas cenas externas e principalmente as
paisagens naturais, a animação é belíssima e repleta de detalhes. A história é
excelente, com muita ação, mistérios e reviravoltas inesperadas, o que faz com
que o filme não tenha um momento de monotonia em todos os seus 120 minutos. O
conceito é interessante, e o filme sabe como levantar a questão em todos os
momentos até o desfecho final, com pedaços de flashbacks, memorias soltas e uma
crescente ansiedade de “o que está
acontecendo”, “isso é sonho,
realidade ou uma mistura de ambos?”. Sem dúvidas, o melhor que há em King
of Thorn, é sua premissa e a forma como se desenvolve naturalmente, mas
gostaria de ver algo assim, nas mãos de algum diretor realmente competente no
assunto e que certamente saberia aproveitar melhor todas as nuances do projeto.
Os personagens são bem rasos, mas em conjunto conseguem conduzir bem a
história. Destaque para a
ótima OST.
Ganhador do prêmio “Asia Pacific Screen Award” (que também premiou filmes como 5
Centimeters Per Second e Summer Wars), King of Thorn é um bom longa
metragem e se dá melhor ainda como entretenimento pipoca, mas não chega a ser indispensável.
Dirigido: Kazuyoshi Katayama
Escrito: Kazuyoshi Katayama , Hiroshi Yamaguchi
Estúdio: Sunrise
Tipo: Filme
Duração: 120 minutos
9 comentários :
Yuji Iwahara? Me deixou curiosa - pela arte, no mínimo. Mas o conceito também parece interessante (nem gosto de histórias de sobrevivência, né? xD), se possível, dou uma olhada. =)
Saudações
Temas catastróficos ou apocalípticos costumam, ainda, chamar fortemente a minha atenção.
Recorda-se do filme [Eu, A Lenda]? Pois bem: a temática dele sobre um vírus que praticamente aniquila com grandiosa parte da humanidade se faz mostrar na animação aqui comentada, com um diferencial chamativo: ao invés de se tornarem criaturas sedentas por sangue e noturnas em suas ações, os humanos viraram pedra...
King of Thorn parece seguir o caminho do suspense para a salvação. Unindo um evento que até pode ser denominado como apocalíptico e o gênero/característica sci-fi (viagem no tempo manda calorosas lembranças), a animação parece-me ter alguma consistência em sua história.
A análise que fiz foi à partir deste seu texto, Roberta. Pois ainda não vi tal animação para poder dar uma opinião mais objetiva. Contudo, verei tal obra para dar uma palavra definitiva sobre a obra.
Ficou ótimo este post. E, se me permitir endossar, este tipo de análise (entenda-se como obra que está sendo dissertada) é a cara de seu blog, Roberta.
Até mais!
Assisti a um tempo atrás, eu gostei bastante, mas esperava mais. Até pq um dos trailers que vi parecia extremamente animador, e quando comecei a ver a historia achei que estava vendo uma masterpiece. Mas a coisa meio que desandou na metade do filme. O fim foi interessante, mas não foi aquelas coisas. dou uma nota 7 pra ele . Não foi ruim, nem bom, foi divertido.
Valeu Beta, tava precisando de algo assim pra ver se dar uma animadinha no domingo. Já estou baixando. Falou que é sobrevivência, raramente eu penso duas vezes ^^
Eu não gostei desse filme, foi muito méh, e o visual escroto das GCs incomoda realmente.
Eu já havia lido o mangá e quando vi que teria mudanças esperava que fossem para o melhor, mas não.
Inventaram de enviar Bela Adormecida que pra mim não acrescentou nada, só deu um ar artístico muito besta.
O final diferente faz menos sentido do que o original, besta também.
Nenhuma dessas duas mudanças seria um problema pra mim se não tivessem mexido também no miolo. Eu só assisti o filme para ver a Alice e acabou que cortaram ela, a personagem mais interessente, simplesmente cortaram.
Acabou perdendo a graça focando tudo no Owens, desperdiçando vários momentos legais dos outros personagens. A ausência da Alice faz uma grande falta no miolo do filme pelas interferências que ela fazia sem que os outros percebessem.
Ficou um filme meio sem graça e com aparência de mal feito por causa das CGs.
Pelo menos a Sunrise conseguiu melhorar e MUITO, MUITO mesmo a qualidade dos personagens feitos em CG depois disso, como pode ser visto em Koisento.
bom se a historia do filme fosse so pessoas acordam no futuro para lutar contra doença e acabam encontrando monstros ia ser perfeito,mas e cheio de crises existenciais bobas,dramas sem graça e um bom filme,mas não ia fazer falta ,para min ele tem o mesmo plot de alien
o filme perde muito da atmosfera criado no mangá e abandona vário conceitos interessantes, incluindo o que há de melhor em Ibara no Ou, que é a Alice, como bem observado pelo Panino Manino. O mangá é muito bom, eu compraria qualquer hora que lançassem aqui, mas o anime perde muito tempo com pseudo filosofias. O melhor mesmo, é a parte da ação º/
A sinopse é muito atraente e o trailer também, então vou dar uma conferida.
E você comentou do primeiro filme de RE *___*
É o melhor daquela franquia caça niquél, já assisti umas 4 vezes
Tá aí um bom chamariz: Toques do conto da Bela Adormecida,Do mito da Medusa e o da Alice(aquela do País das Maravilhas que foi descartada ,segundo outros comentadores) numa atmosfera sci-fi pós-apocalíptica.Mas também se tem a "sensação" que a "diversão" poderia/deveria ter sido maior.
Quem sabe algum dia eu assista...
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