quinta-feira, 13 de setembro de 2012

[+18] Believers: Hikikomori, Aum Shinrikyo, e o Culto


"Isso é o que acontece a essas pessoas. Eles se aprofundam tanto em seus sonhos que suas mentes são consumidas por estes sonhos. Eles não conseguem dizer a diferença entre sonho e realidade (...)" – Believers

Sinopse: Dois homens e uma mulher são enviados para uma pequena ilha deserta com o propósito de se manterem afastados do mundo ímpio, de uma sociedade corrupta que se esqueceu de olhar para dentro de si para cultivar o materialismo, elevarem sua espiritualidade e se prepararem para a vida na terra prometida (chamada Terra do Conforto) por seu líder/guru espiritual. Assim, eles têm de sobreviver com escassez de alimentos e água, além de terem que resistir aos seus impulsos sexuais. Estes são os fiéis que tentarão sobreviver ao Programa Ilha Deserta, mas serão eles capazes de subjugar seus próprios desejos? E sua fé, permanecerá realmente intacta quando não existir nem mesmo água para beberem e os desejos mundanos começarem a aflorar a pele?

Este post possui uma algumas revelações com relação a história, ou seja, spoilers!

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Believers pode ser traduzido como “Crentes” ou “Fieis”, e para uma melhor análise deste mangá, é importante contextualizá-lo na época em que foi lançado, o ano era 1999. Cerca de quatro anos após o atentado terrorista com gás sarin ao metrô de Tóquio, realizado simultaneamente em cinco vagões por alguns fieis do culto japonês Aum Shinrikyo (Aum Verdade Suprema). A sociedade tem o costume de se voltar para o entretenimento, sempre que o envolvido no incidente possui certa ligação com alguma série, seja mídia em vídeo ou escrita. No Japão não foi diferente, proliferaram teorias sobre atratividade, aonde se chegou a cogitar que mangás com narrativas apocalípticas com efeitos perniciosos teriam desempenhado um papel importante no extremismo dos membros de Aum – Que no geral, era formado por membros bem nascidos. Válido lembrar que o líder espiritual de Aum, Shoko Asahara, possuía ligações estreitas com o fenômeno otaku.


A fascinação mórbida por este incidente, lógico, trouxe reflexos imediatos para o mundo do entretenimento, que começou a explorar em larga escala o argumento do culto a seitas, lavagem cerebral, teorias da conspiração, isso quase sempre de forma caricata ou pelo aspecto psicólogo do personagem. Mesmo um mangá caricato sobre o fenômeno hikikomori como Welcome to the NHK, possui em suas entrelinhas um apanhado de sátiras com relação ao culto. E bem, o incidente com a Aum Shinrikyo foi apenas o clímax do primeiro capítulo de uma história que tava começando, envolvendo muitas das grandes mazelas da população japonesa, entre elas, o fenômeno Hikikomori, assim como o otaku.

De um thriller policial como Death Note (2003-2006), a uma sátira como Saint Young Men, depois do ocorrido em 1995, o culto e a religião representada [principalmente] nos quadrinhos cults ganharam contornos bem mais cínicos. 20th Century Boys (1999-2007) de Naoki Urasawa, dessa leva é um dos que possui maiores nuances, e dos mais conhecidos também. Mas eu quero comentar sobre a obra de outro Naoki, o Yamamoto, que não é sua obra máxima, nem é genial, mas que é menos comentada do que deveria, e possui uma excelente montagem.

Meditação pra expurgar o veneno do corpo. Veneno, né...HÊHÊHÊ
Há certas séries que só podem ser absolvidas em seu máximo só se você tiver o mínimo de conhecimento do tema que este se propôs a inserir sua trama. Isso parece meio pseudo e intelectualoíde, mas, embora dê pra ter um entendimento básico da história, se perde subcamadas valiosíssimas para melhor degustação e exercício crítico. Verdade que o entretenimento muitas vezes é visto como algo que te propicia uma fuga da realidade, mas há outras tantas que propõe séries mais cabeça, para quem procura um algo a mais, que pode se dar ao luxo de se entregar ao argumento do autor, pois há aqueles que já estão tão exaustos mentalmente pela correria exaustiva do dia a dia, que tudo o que procura é algo leve e descomplicado.

Believers é dessas séries, que se lido superficialmente, não há tanto significado, fazendo a história parecer meh ou sem proposito [inclusive, com muitas das criticas feitas, sendo oriundas justamente de não se entender o contexto ao qual se situa], mas se permitir uma analise mais profunda, pelo seu contexto e execução bem amarrada, acaba crescendo e se tornando um ótimo quadrinho. Viram que eu disse quadrinho, né? Com isso eu quero dizer que é uma história que pode ser apreciada não apenas por fãs de mangás, mas por leitores ávidos de boas histórias em quadrinhos com contextos históricos. 


Believers poderia muito bem ser o roteiro de um filme do diretor cult Lars von Trier, tamanho perfeccionismo, atenção aos detalhes e a propensão em colocar seus personagens contra a parede por parte de Naoki Yamamoto. Pra começar, grande parte dos capítulos do primeiro volume, com os três personagens na ilha, são basicamente diálogos e ações repetitivas, num cenário sem nada significativo a vista. Se você espera por um urso polar, mistérios, intrigas, mortes, não vai acontecer. Pode parecer chato, você espera por algo, mas nada acontece, porém a genialidade da narrativa está na forma como o roteiro contextualiza àquele contexto histórico, e na apreensão atmosférica [VOCÊ FICA REALMENTE ANSIOSO PELO QUE VEM A SEGUIR], seja através de diálogos, ou no traçado de Yamamoto.


Claro, a narrativa de Yamamoto aqui é estereotipada, não sei se propositalmente ou não, mas faz parte do estigma que as pessoas que fizeram parte da Aum, mesmo que não tivessem conhecimento ou culpa algum do ocorrido, carregam. E também, as religiões como um todo passaram a carregar esse estigma naquele primeiro momento, onde era bem comum se confundir culto com religião. Believers passa uma visão equivocada através da crítica social de Yamamoto, que dá a entender que qualquer grupo religioso poderia descambar para a depravação sexual e violência. 


Os primeiros capítulos trazem os personagens vivendo num estado depreciável de higiene, se alimentando precariamente (eles não podem comer nada além do que é enviado para eles e esteja purificado por seu líder espiritual), fazendo atividades diversas sobre um sol impiedoso, repetindo frases como “Devemos trabalhar duro para nossos compatriotas” ou “reflexão é o inimigo”. Eles buscam o desprendimento total da vida mundana daquele “outro mundo”, recebendo ordens de alguém que nunca viu na vida e as cumprindo irrestritamente. Trata-se obviamente da representação da liderança de Shoko Asahara e sua indução à lavagem cerebral aos membros da Aum. Estes personagens são induzidos a não pensarem, não raciocinarem e expurgarem qualquer tipo de pensamento malicioso que possa denegrir suas almas.



Com o passar da história, a comunicação com o alto escalão da seita é rompida. Não é mostrado, mas Yamamoto dá dicas de que a Seita saiu de controle, com seus membros provocando atentados e seu líder sendo perseguido pelas autoridades, uma representação no mínimo curiosa, pois se ajusta perfeitamente com a lineariedade dos acontecimentos da Aum Shinrikyo em 1995. E este é um dos pontos brilhantes da narrativa; a de não ser explicita, mas subtendida. Em um dos capítulos, chegam pessoas de fora na ilha, eles são expulsos pelos membros, mas bêbados, resistem e ainda atentam sexualmente contra a única mulher entre os membros. A resposta é violenta e os dois personagens seguem o protocolo ordenado pela seita, que é eliminar qualquer perigo exterior. Pra quem não pegou Yamamoto aqui reescreve um dos capítulos onde a seita Aum estava sendo investigada, mas elimina prontamente a ameaça. Yamamoto tece sua critica com sutilezas, repletas de nuances e interpretações, mas fica obvio capitulo a capitulo como o desequilíbrio dos membros de seitas podem ser letais à sociedade comum.

E aqui a história começa a ganhar cada vez mais contornos psicológicos. A tensão entre os três personagens aumenta. Falta comida, falta água, a abstenção sexual começa a aflorar à pele dos três, os delírios aumentam e realidade e fantasia começam a se sobrepor, com os personagens não sabendo mais distinguir sonho de realidade. Num dos capítulos, um dos personagens sonha que está situado numa escada, onde ele olha para uma jovem mulher de vestido vermelho, e apesar de ela não ter rosto, ele não a reconhecer de inicio, essa é uma reminiscência de sua "vida antiga". Ele começa a acariciar as pernas da mulher, saciar suas fantasias, ao contrário do que a cena realmente representou na época. Este é seu subconsciente falando mais alto. Como vemos logo depois, ele acaba sobrepondo as feições da sua colega de ilha nessa mulher, e então o sonho se repete, ele goza na calça.

A montagem de Yamamoto se mostra bem fragmentada, e é um ponto bem charmoso, pois ele une as pontas soltas com  maestria
A questão da sexualidade emerge como mais um artifício que Yamamoto utiliza em seus mangás, mostrando como os poderes inerentes à sociedade se mostram extremamente opressores e violentos. Se os conflitos são a mola propulsora de suas histórias, a sexualidade é propositalmente utilizada por Yamamoto como mais uma temática permeada pelos embates que se constroem intrinsecamente à sociedade contemporânea.  Não à toa, as personagens são mulheres, MULHERES e HOMENS. Diante de um sujeito contemporâneo cada vez mais entregue às bases metafísicas e religiosidade como uma fuga da realidade voraz, os corpos emergem como o único refúgio inquestionável que resta, e é também por meio da violência corporal que se torna possível perceber as nuances de poderes que manipulam e submetem. Não à toa a violência é tão presente. Mas, não se trata de violência gráfica, e sim uma violência psicológica.


Aqui temos um ponto interessante da leitura, onde o representante do líder da seita na ilha, também sucumbe às tentações, e tenta achar justificava no campo espiritual para o que está sentindo, manipulando não só suas próprias emoções, como seus dois colegas, os convencendo de que isto não passa de um ritual de purificação. OOH, APEEEENAS UM RITUAL DE PURIFICAÇÃO, SEU CACHORRO. Isso, num estado cada vez mais delirante, onde, ainda assim, um dos personagens acredita veementemente no que ele diz, ainda que sua mente teime em dizer o contrário, porém, eles seguem o programa da ilha, no qual pontua que o pensamento é fruto do maligno, que engana e distorce a realidade. Interessante, que por mais caricata que seja a representação de Yamamoto dos fatos reais, lendo sobre casos assim, fica claro que sua narrativa ainda é super consistente.


Há sexo, um sexo tão bem amarrado ao enredo, que sua ideia não poderia ser passada sem este elemento. O melhor: É tangível, bem feito, e com personagens bem revestidos. Entender as construções representadas através de enquadramentos nas narrativas de Yamamoto é vislumbrar algumas de suas melhores escolhas, sendo que os deslocamentos dos personagens revelam conflitos que surgem a partir do ponto de vista de cada um deles. A linguagem de enquadramento e corporal que ele utiliza é simplesmente incrível:

[E eu adoro e achei lindo a forma como eles se tocam, e toda a linguagem corporal que utilizam. Mas eu sei que vocês não vão acreditar que é por isso de eu ter gostado, XD]

*Começa sem você perceber. 


*Se não quer ser percebido, que tal um flerte através de toques corporais?


*Aqui é interessante, pois ele não podiam falar o que estavam sentindo, ou seja, tesão um pelo outro, atração física, mas através dos momentos de meditação, quando emparelhavam os pés, os dedos começavam a se mexer "sozinhos" e diante de uma resposta positiva do outro lado, se intensificava.


* A tensão sexual presente entre ambos era tão forte, que não duvido muito que ambos já estivessem molhados neste momento (bem, levando em conta a suadeira, estão molhados de uma forma ou de outra).


* Das páginas que contém sexo ou insinuação, se trata da minha predileta. O reconhecimento pelo cheiro, aquele instinto meio animalesco, os dedos que se tocam.


*Os pés e as mãos, olhos fechados, há uma forma de se ter mais desejo se não no toque, tateando no escuro, de um casal que está começa a se conhecer sexualmente? Não sei, mas Yamamoto conseguiu colocar aqui algo bem instintivo.



* A forma como eles se abraçam e se desejam mutuamente. 


*E claro, transam loucamente e aqui, vou me abster de colocar as demais páginas. Mas, digo que eles variam bastante nas posições, rs (que bunda feia a do Operador). 



É como se fosse um filme de Lars von Trier, onde os personagens se entregam completamente aos conflitos da obra, mesmo em cenas de sexo extremamente ousadas para algo que não possui fins pornográficos (mas que consegue ser melhor que muito pornô), onde essa cenas parecem incrivelmente reais. "Tudo no filme vai ser para valer, não apenas as cenas de sexo. O que for ilegal vai ser exibido com a imagem desfocada", dizia um dos autores de um dos filmes de von Trier, e na versão de Yamamoto, a única censura é sobre as genitálias. As sequências de sexo são excelentes, porém acabam se repetindo bastante (o que pode incomodar alguns), mas ainda assim, nota-se como intencional, com Yamamoto batendo continuamente na mesma tecla, onde não apenas o sexo, mas as atitudes/desculpas dos personagens que eram tão falsas quanto os fundamentos religiosos da Aum [muito mais através da figura de seu líder, que viva no luxo, enquanto seus membros se alimentavam precariamente, do que propriamente da maioria dos fies que aderiram ao culto].Felizmente, há um ponto de ruptura.

 Yamamoto sempre mostrou uma ótima técnica de enquadramento e traçado, que é simples, mas sempre pontual. As páginas de seus mangás apresentam uma composição visual complexa que acabavam por ser definidas como frias e muitas vezes mal feitas, principalmente aqui. Mas, seu traço e storyboard se movem com os personagens, com a cena, como se fosse uma câmera e todo o cenário fosse completamente ausente de trilha sonora.  É aquele silêncio, meio inquietante, de que alguma merda irá acontecer. As imagens fotorrealistas com filtro de pixel aplicado se adequam perfeitamente ao enredo com cara de documentário politico.

As linhas de seu traçado são onduladas ao invés de agudas, e os rostos dos personagens (regularmente descritos como suados, com barba por fazer, ou sujo, que sempre dão um bom toque de paranoia) facilmente tornam-se assustadoramente vazios de sentimentos ou estranhamente perturbados. Yamamoto muitas vezes manipula seu texto para que um personagem faça um rant absurdo que vai transbordar um balão de fala, com a bolha do discurso ultrapassando toda a moldura, tampando o cenário, mas sempre pontuando o rosto do personagem para indicar um monólogo desconexo. E sim, desconexo, e muitas vezes irrelevante, denotando um estado de insanidade do mesmo.

[Vai ai dois exemplos. Yamamoto costuma oscilar bastante, entre um traço bem delineado, e o exageradamente torto e cartunesco]


Yamamoto aqui mostra sua visão de doutrina de grupo, sua relação antagônica com a sociedade secular, e as motivações de seus membros para com a união em grupo, contra os símbolos de poder que os oprime. O Exercito Vermelho Japonês (surgido em meados de 1969 e atualmente ainda na ativa) foi um grupo de universitários comunistas, e o livro ao qual Yamamoto se refere, foi escrito por um de seus ex-membros, sobre suas experiências vividas ali. Se você conhece a história, vai identificar de imediato com algumas situações, como os três personagens da ilha sendo obrigados a compartilharem entre si os sonhos que tiveram na noite anterior e qualquer resquício de imoralidade era severamente punido. O Exercito Vermelho é conhecido pelas suas técnicas de interrogatório agressivas e perturbadoras, tal qual é representado o representante dos 2 personagens na ilha, como um Tsuneo Mori, então líder do Exercito Vermelho, que não ousou matar 14 de seus subordinados na tentativa de despertar neles, a “verdade”, o espirito comunista interior de cada um.

Claro, minha intenção nem é dar uma aula de história, mas fazer um apanhado histórico beeeeem básico e contextualizar Believers.  E não posso terminar aqui, sem mencionar a referência mais obvia de Yamamoto, que é aos enclausurados em casa, os que passam o seu tempo na frente de um computador ou RPG, as páginas finais são completamente arraigadas nesse conceito, com diálogos dúbios, que ora parecem falar sobre grupos de religiosos fanáticos, ora parecem estar falando sobre hikikomoris. E certamente se perguntarem, o Yamamoto irá responder que é uma critica velada ao fenômeno hikikomori e como é prejudicial para a saúde mental à forma como eles se distanciam do mundo real, mas não irá mencionar o Aum Shinrikyo. O final, que muitos não entenderam, é sobre isso. E também é sobre Aum Shinrikyo e os seus membros que se envolveram em crimes, que tiveram que pagar por seus crimes depois da queda de seu líder. E sobre duas coisas completamente distintas, e ao mesmo tempo iguais, pertencentes à mesma raiz, e sem perder o sentido na narrativa.

[Página do capítulo mais emblemático da história. E não por acaso, o nome é "Homens Novos". E não por acaso, a meta referência é a um game, onde você ganha, se conseguir tirar o hikikomori do quarto. E não por acaso, a origem da seita ficcional do mangá, "Estação Sorriso", teve origem neste game, que se tornou popular, dando poder monetário ao seu desenvolvedor, para que este criasse uma seita, que se espalharia rapidamente para o país. Não é mera coincidência]


[E essa, é a piadinha cretina e repleta de cinista do Yamamoto. "Isso é gás venenoso", diz um personagem, membro da seita, que está sendo "demolida" pela força militar, após diversos atentados e de seu líder se tornar um criminoso procurado]





[Aqui, importante frisar que Yamamoto faz uma referência a Jim Jones que me parece ser bem obvia, mentor do suicídio em massa em Jonestown, na Guiana de 1978, resultando em mais de 900 mortas por envenenamento]


[Outra piadinha cretina e cínica de Yamamoto, fazendo referência no "líquido roxo" ao estado não-puro do gás sarin]

[Outra piadinha irônica, uma vez que este sempre foi um dos maiores temores de Jim Jones, que sua tentava de suicídio em massa, fosse interrompida militares para-quedistas. 

Tudo isso através de sentidos hierarquizantes. Uma seita religiosa possui sua hierarquia, com seus membros de alta patente, e os subordinados, como vemos na única forma de descrição daqueles personagens [O homem central, oPresidente, a única mulher, vice-presidente, e o último homem, operador – Ou seja,subordinado], isso vale também para jogos de RPG em geral; Os personagens são obrigados a seguir cegamento ordens às vezes incompreensíveis, para capturar itens raros, e crescerem de nível. A forma como o trabalho se divide na equipe entre o Operador, a Vice-presidente e o Presidente não são muito diferentes do que há nas guildas. 

Enfim, Believers é um ótimo mangá, com sua narrativa repleta de uma tensão sexual pulsante, com uma intricada crítica ao escapismo, de uma forma meio caricaturada ou mesmo, satirizadamente cínica, mas, coerente. E claro, é um mangá bastante metafórico, com diversas referências. A tensão é construída a partir da percepção do mundo real, ou seja, Yamamoto sempre busca inicialmente o tradicional lugar de conforto dos leitores para que no decorrer da trama haja um impacto. Para que isto aconteça, este impacto deve ser engendrado por conflitos que necessariamente façam parte do mundo simbólico da audiência. Believers carrega essa tensão, onde Yamamoto faz questão de jogar com os clichês, com as percepções padronizadas.  O ambiente interno trás propositalmente uma atmosfera intimista, e o externo, opressor. Como não se sentir afável quando a Vice-presidente e o Operador deixam vir à tona seus sentimentos? Como não sentir desconfortável quando o Presidente descobre isso e passa a ser o intruso no meio dos dois? Assim é com o dois vivendo sozinhos na pequena ilha, se alimentando de alimentos naturais, fazendo sexo, seguindo de sua própria maneira de ver a religião. É como ver retratados o membros de Aum que realmente estavam ali por aquele ideal.

Assim, a partir do momento em que a ilha é invadida, é o feeling é de opressão. Então, é justificável, que mesmo preso, o Operador se sentisse livre, ainda que enclausurado. Não é mesma sensação que a internet/games exerce? Você não se sente bem num ambiente fechado (sua casa) e oprimido no ambiente aberto? GOD POINT, Yamamoto.





"Sabe o que acontece quando se gasta 12 horas do dia sentado em sua mesa tentando relembrar seus sonhos? Você começa a perder a noção dos sonhos que teve. Você não sabe e foi o sonho que teve na última noite, ou na anterior, ou se é a continuação do sonho que teve2 noites atrás entrando no sonho que teve na última noite, ou o sonho que você teve um ano atrás entrando no sonho que você teve três anos atrás. Para começar, o conceito de tempo não existe quando você está em um sonho. E eventualmente, você começa a pensar que todos os sonhos que teve estão conectados, e eles se tornam um mundo. E quando isso acontece, você está a beira de perder sua noção de realidade. Os sonhos começam a parecer mais reais para você do que o mundo real."

"Eu sonho com o pôr do sol toda noite. O  pôr do sol naquela ilha. O sol se pondo no mar....era tão lindo que podia me fazer chorar. Eu sonho com isso toda noite. Eu nunca notei a beleza quando eu estava lá."


Nota: 08/10
Autor: Naoki Yamamoto
Volumes: 02
Status: completo
Ano: 1999
Editora: Shogakukan 
Revista: Big Comics Spirits
Demográfico: Seinen
Scanlator: Uchiha Scanlator

Similar: Lost (hahaha não resisti), Battle Royale, Welcome tho the NHK, Mawaru Penguindrum, Death Note, Saint Young Men, Century Boys

Dicas de Leitura: