sexta-feira, 7 de março de 2014

Midori no Neko: The Green Cat (1983) - Gato Demoníaco

Seriam gatos seres demoníacos ou alienígenas?

Quando eu decidi baixar esse OVA, eu achava que se tratava de uma história de terror e por mais que esteja repleto desses elementos, a bem da verdade se trata de uma peça de Ficção Cientifica. Experimental, Midori no Neko (The Green Cat) é mais um dos diversos exemplos do visionário que era Osamu Tezuka. Com 25 minutos de duração e adaptado de um mangá homônimo, a intenção era produzir e lançar 26 episódios sem qualquer contrato de exibição na Tv, direito no Home Vídeo. Mas sabe-se lá o que ocorreu (provavelmente grana $$$), o projeto não foi pra frente. Na prática, Midori no Neko é o primeiro anime pensado e produzido diretamente para VHS antes mesmo de existir a palavra “OVA”, mas oficialmente é Dallos, do mesmo ano, o primeiro OVA lançado comercialmente. O que acontece é que não há provas de que Midori no Neko fora lançado oficialmente, apesar de terem encontrado uma copia em um fã clube do Tezuka, na época.

Curiosamente, ambos são de 1983 e com pouquíssimo espaço de tempo entre um e outro. É mais uma daqueles recorrentes acontecimentos históricos sincronizados, tal qual aconteceu na época em que requisitaram a patente do telefone, sendo que diversos inventores vinham trabalhando no projeto, sendo que dos dois principais nomes, um deles só conseguiu a patente por questões de horas e $$$. Coisas da vida. No entanto, essas coisas não acontecem por acaso. Assim como nenhuma obra artística surge do vácuo (sendo necessário um contexto para tal, ao contrário do que alguns pensam), tendências também surgem motivadas por paradoxos sociais. Se na década de 1960 o anime semanal vinculado na tv só foi possível com a popularização das televisões entre as massas, a popularização dos aparelhos de VHS e a bolha econômica foram fundamentais para tal.

Midori no Neko conta a história de Sango (Kaneto Shiozawa), um garoto órfão que teve o pai assassinado durante um assalto, nos EUA. O amigo de seu pai, Ban Shunsaku (Kousei Tomita), resolve tomar conta do garoto, mas ao voltarem pro Japão numa viagem de navio, Sango acaba se perdendo de Shunsaku e cresce sob a tutela de um gato... verde (!!). É isso mesmo, o mesmo gato que se encontrava na mão de Susan (Kumiko Takizawa), a responsável pela morte de seu pai. Aparentemente o pequeno diabo verde traz bastante azar para seus portadores. :P

Com direção de Tezuka, roteiro adaptado e storyboards por Hiroshi Nishimura, Midori no Neko é deliciosamente pulsante e alucinante. A história é simples e direta ao ponto, mas não pude deixar de me surpreender em quão é atraente como entretenimento puro. É uma fantasia lúgubre com lógicas ingênuas que levam a encontros e desencontros providenciais. Tudo parece se passar num universo de sonho, e não por acaso, o desfecho tem um ar de alivio após despertar e perceber que tudo não se passara de um pesadelo (não, a história não usa esse truque baixo, ufa!). Mesmo a violência contida aqui, é bastante suavizada por uma narrativa que enfatiza a adrenalina, não o choque, além da arte estilo cartoon que dá um tom bastante caricato. Aliás, a própria estrutura da história é um tanto quanto infantilizada em determinados aspectos, e mesmo para um adulto seria fácil nutrir empatia pelos sentimentos soarem sinceros.
Adoro essa sequência, ela faz uso de uns planos que dá ótimo efeito dramático à ação de fundo.
Já os desenhos de storyboard, com todo seu estilizado e cenário retro-futurístico, são uma beleza à parte. Claro, você sente que é uma animação muito limitada, a fluidez de movimentos não é boa, revelando a pobreza de inbetweening: responsável pela transição suave de movimentos em uma ação exercida. Então, numa sequência de pancadaria, um personagem pula e de repente já está no cangote do outro, sem frames intermediários, por exemplo. Mas compensa pelo nível de experimentalismo e belo cenário. A sequência de uma luta num quarto de hotel, em que a partir de certo ponto, nossa perspectiva ganha tons vermelhos, para em seguida o mover de quadros revelar que a ação se passava por detrás de um copo de vinho. Eu achei bonito e criativo, principalmente para a época. Eu adoraria que tivessem investido mais nos aspectos de terror, havia potencial, mas o foco narrativo foi outro e se saiu bem na proposta.

Trívia:
-Você pode assistir de modo oficial e gratuito, no canal de Tezuka no Youtube.
-O projeto de 26 episódios foi cancelado, mas este OVA ganhou uma série com mais 5 adaptações em anime (de 25 minutos) adaptados de mangás de Tezuka da linha Lion Books Series; mangás de 1 volume sem ligação entre si, salve por ventura, a temática utilizada.  
-Gatos verdes existem mesmo, só que criados artificialmente em laboratórios para fins... científicos!

Nota: 07/10
Direção: Osamu Tezuka
Roteiro: Hiroshi Nishimura
Trilha Sonora: Reijiro Koroku
Estúdio: Tezuka Productions
Duração: 25 min.
Quantidade: 1
Perfil: MAL, ANN

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