Seriam gatos seres demoníacos ou alienígenas?
Quando eu decidi baixar esse OVA, eu achava que se tratava
de uma história de terror e por mais que esteja repleto desses elementos, a bem
da verdade se trata de uma peça de Ficção Cientifica. Experimental, Midori no
Neko (The Green Cat) é mais um dos
diversos exemplos do visionário que era Osamu Tezuka. Com 25 minutos de
duração e adaptado de um mangá homônimo, a intenção era produzir e lançar 26
episódios sem qualquer contrato de exibição na Tv, direito no Home Vídeo. Mas
sabe-se lá o que ocorreu (provavelmente
grana $$$), o projeto não foi pra frente. Na prática, Midori no Neko é o
primeiro anime pensado e produzido diretamente para VHS antes mesmo de existir
a palavra “OVA”, mas oficialmente é Dallos, do mesmo ano, o primeiro OVA
lançado comercialmente. O que acontece é que não há provas de que Midori no
Neko fora lançado oficialmente, apesar de terem encontrado uma copia em um fã
clube do Tezuka, na época.
Curiosamente, ambos são de 1983 e com pouquíssimo espaço de
tempo entre um e outro. É mais uma daqueles recorrentes acontecimentos históricos
sincronizados, tal qual aconteceu na época em que requisitaram a patente do
telefone, sendo que diversos inventores vinham trabalhando no projeto, sendo
que dos dois principais nomes, um deles só conseguiu a patente por questões de horas e $$$. Coisas da
vida. No entanto, essas coisas não acontecem por acaso. Assim como nenhuma obra
artística surge do vácuo (sendo
necessário um contexto para tal, ao contrário do que alguns pensam), tendências
também surgem motivadas por paradoxos sociais. Se na década de 1960 o anime
semanal vinculado na tv só foi possível com a popularização das televisões
entre as massas, a popularização dos aparelhos de VHS e a bolha econômica foram
fundamentais para tal.
Midori no Neko conta a história de Sango (Kaneto Shiozawa), um garoto órfão que
teve o pai assassinado durante um assalto, nos EUA. O amigo de seu pai, Ban
Shunsaku (Kousei Tomita), resolve
tomar conta do garoto, mas ao voltarem pro Japão numa viagem de navio, Sango
acaba se perdendo de Shunsaku e cresce sob a tutela de um gato... verde (!!). É isso mesmo, o mesmo gato que se
encontrava na mão de Susan (Kumiko Takizawa), a responsável pela morte de seu pai. Aparentemente o pequeno
diabo verde traz bastante azar para seus portadores. :P
Com direção de Tezuka, roteiro adaptado e storyboards por Hiroshi
Nishimura, Midori no Neko é deliciosamente pulsante e alucinante. A história é
simples e direta ao ponto, mas não pude deixar de me surpreender em quão é
atraente como entretenimento puro. É uma fantasia lúgubre com lógicas ingênuas
que levam a encontros e desencontros providenciais. Tudo parece se passar num
universo de sonho, e não por acaso, o desfecho tem um ar de alivio após
despertar e perceber que tudo não se passara de um pesadelo (não, a história não usa esse truque baixo,
ufa!). Mesmo a violência contida aqui, é bastante suavizada por uma
narrativa que enfatiza a adrenalina, não o choque, além da arte estilo cartoon
que dá um tom bastante caricato. Aliás, a própria estrutura da história é um
tanto quanto infantilizada em determinados aspectos, e mesmo para um adulto
seria fácil nutrir empatia pelos sentimentos soarem sinceros.
Já os desenhos de storyboard, com todo seu estilizado e
cenário retro-futurístico, são uma beleza à parte. Claro, você sente que é uma
animação muito limitada, a fluidez de movimentos não é boa, revelando a pobreza
de inbetweening: responsável pela transição suave de movimentos em uma ação
exercida. Então, numa sequência de pancadaria, um personagem pula e de repente
já está no cangote do outro, sem frames intermediários, por exemplo. Mas
compensa pelo nível de experimentalismo e belo cenário. A sequência de uma luta
num quarto de hotel, em que a partir de certo ponto, nossa perspectiva ganha tons
vermelhos, para em seguida o mover de quadros revelar que a ação se passava por
detrás de um copo de vinho. Eu achei bonito e criativo, principalmente para a
época. Eu adoraria que tivessem investido mais nos aspectos de terror, havia
potencial, mas o foco narrativo foi outro e se saiu bem na proposta.
Trívia:
-Você pode assistir de modo oficial e gratuito, no canal de Tezuka no Youtube.
-O projeto de 26 episódios foi cancelado, mas este OVA ganhou
uma série com mais 5 adaptações em anime (de
25 minutos) adaptados de mangás de Tezuka da linha Lion Books Series; mangás
de 1 volume sem ligação entre si, salve por ventura, a temática utilizada.
-Gatos verdes existem mesmo, só que criados artificialmente em laboratórios para fins... científicos!
Nota: 07/10
Direção: Osamu Tezuka
Roteiro: Hiroshi Nishimura
Trilha Sonora: Reijiro Koroku
Quantidade: 1
Perfil: MAL, ANN
Temas Relacionados:
-Cat Diary - Itou Junji no Neko Nikki: Yon & Mu
-Gatos verdes existem mesmo, só que criados artificialmente em laboratórios para fins... científicos!
Nota: 07/10
Direção: Osamu Tezuka
Roteiro: Hiroshi Nishimura
Trilha Sonora: Reijiro Koroku
Estúdio: Tezuka Productions
Duração: 25 min.Quantidade: 1
Perfil: MAL, ANN
Temas Relacionados:
-Cat Diary - Itou Junji no Neko Nikki: Yon & Mu
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