segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A Garota que Conquistou o Tempo (Toki wo Kakeru Shoujo)

Saudações!

Já faz muito tempo que venho querendo escrever sobre esse filme. Acabei fugindo um pouco e indo para o mestre Makoto Shinkai, mas percebi que ele já está famoso suficiente. Então pensei em trazer algo pouco conhecido (ao menos, em menor grau que as obras de Shinkai). Dessa forma, trago este Toki wo Kakeru Shoujo (A garota que conquistou o tempo) que faz um excelente e original trabalho naquilo que se propõe e que já foi usado tão fartamente em produções cinematográficas: viagens no tempo.


Baseado na obra de Yasutaka Tsutsui, o filme acompanha a extrovertida garota Makoto, dessas que prefere se divertir com os garotos do que com aquelas do mesmo sexo (e isso o filme evidencia já nos créditos iniciais, com ela isolada jogando baseball com seus amigos Kousuke e Chiaki, que a acompanharão o filme inteiro). Uma colegial normal que após um pequeno acidente em uma sala de aula, tem sua vida mudada ao encontrar um objeto mágico/tecnológico que lhe dá a habilidade de voltar no tempo (Uma máquina? Um DeLorean? Não, acreditem se quiser, é uma noz). E, como já era de se esperar, inicialmente maravilhada com as possibilidades de sua habilidade, aos poucos as coisas começam a dar errado e afetar os outros em função dessas brincadeiras.

Inicialmente, sem maiores preocupações com garotos (romanticamente falando) e sem vaidade feminina, Makoto lembra muito... um menino. Seu cabelo bastante curto e seu rosto desenhado de forma simples sem maiores detalhes ou bijuterias, não são o que se possa chamar de bonito. Usando quase sempre a camiseta pólo branca e sem vida do colégio, ela fica ainda mais opaca fisicamente até quando está junto dos seus amigos do sexo masculino, que vestem cores mais vivas e chamativas do que, vejam só, a menina do grupo. Porém, se eu disse que fisicamente ela chama menos atenção, assim mesmo Makoto nos conquista mais do que qualquer outro através de sua personalidade e carisma. E mesmo estando ao lado de outras garotas mais arrumadas e com cabelos longos, ela é sempre aquela que se destaca. Queremos ouvir tudo que ela tem a dizer e ver tudo o que ela irá fazer. Ajuda muito nesta tarefa a dubladora e atriz Risa Naka, conferindo toda energia que essa adorável protagonista precisa.











Juntando a ótima direção de Mamoru Osoda com a ótima qualidade de animação do estúdio Madhouse, nunca temos a sensação de estarmos vendo cenas “paradas” típicas de animes, embora elas estejam ali, sim. Quando o diretor não está fazendo seus cortes para tornar a narrativa mais dinâmica, a câmera mesmo encontrando-se estática, acompanha personagens em diálogos que soam extremamente naturais devido aos seus gestos. Conversam se mexendo na cadeira, gesticulando o tempo todo, alongando-se, e acreditem, há vários diálogos em que podemos ver tudo isso juntos!

E essa humanização nos pequenos gestos dos personagens enquanto mantém diálogos mais longos, pode parecer uma simples estratégia bem sucedida para não cansarmos. Porém, o mesmo pode ser encontrado em diálogos rápidos e curtos, que comprova uma imensa atenção e grandeza no trabalho que desenvolviam. Como por exemplo, quando Kousuke e Chiaki se cumprimentam de manhã com pequenas implicâncias típicas de meninos da idade, trocando pequenas cutucadas e brincadeiras de mão. Ou também na seqüência em que Kousuke está se preparando para rebater uma bola de baseball, e é surpreendido com uma de basquete. O personagem cai, levanta picando a bola recebida e vai atrás do amigo que lhe jogou, tudo isso em um longo plano estático que brinca com a profundidade da tela.













Comprovando segurança na direção, Osoda poda muito bem os planos em que a protagonista volta para concertar diversos ocorridos diferentes, sem que se torne longo ou enjoativo (afinal, voltando no tempo, estamos vendo a mesma situação repetidamente). Ou mesmo em momentos menores, como a ágil montagem do acidente na sala de culinária.

Mesclando sua trama de ficção científica com dramas colegiais e um ótimo humor, somos levados a sorrir através de acontecimentos pequenos: como as “chegadas” da protagonista no passado, sempre rolando e se machucando; ou o garoto que é agarrado pelas pernas e arremessado na grama várias vezes. Contando ainda com momentos mais inspirados como em toda a seqüência em que a irmã de Makoto acha que ela irá se matar e tenta se desculpar. Embalado por uma trilha sonora perfeita para o filme, combinando com todos os quadros, dos mais felizes aos mais oprimidos.

Mantendo sempre o clima alegre dos jovens, intercalando momentos de tensão com outros bem mais agradáveis, a força do filme reside mesmo em seu trio principal e a dinâmica desses. Unidos como irmãos, as melhores partes é quando estão os três juntos. Não é a toa que as cores mais quentes do filme são vistas quando estão ao ar livre no campo de baseball, espelhando a alegria dos encontros deles. Adotando cores um pouco mais cinzentas e colocando os personagens na sombra quando começam os maiores conflitos do filme, é usada uma excelente lógica visual neste sentido.












Falhando ao colocar uma narração em off da protagonista extremamente desnecessária, apenas para nos dizer obviedades como “eu sou uma garota desastrada e azarada e...” quando já estamos vendo isso em seqüências muito divertidas e, portanto, a voz dela só atrapalha. E em outro momento mais grave ainda, quando Makoto irá viajar no tempo pela primeira vez correndo sério risco de vida. Graças à sua voz de fundo, ao invés da câmera lenta causar tensão – como mais tarde acontece perfeitamente com o amigo Kousuke na mesma situação. – ouvindo a narração em off temos certeza de que ela encontrará um jeito de escapar, o que destrói quase toda urgência do acontecimento.

Deixando uma importante revelação para o terceiro ato do filme, é uma decisão sempre arriscada, e como acontece aqui, é difícil de engolir totalmente e nos faz perguntar se era realmente necessária esta “reviravolta”. Gerando questões nada fáceis de engolir, mesmo que o filme tente responder (a seqüência de imagens flashbacks que mostra a “origem” do trio principal, revela a transferência de determinado personagem para a escola onde se conheceram, mas de qualquer forma, após a revelação, isso já não faz mais tão sentido assim. E como ele pode dar em cima da garota no início sabendo que teria que ir embora em breve?). Ele (não vou dizer quem) simplesmente não precisava daquilo para se destacar, o arco de todos já estava muito bem desenvolvido, era só continuar.





De qualquer forma, a evolução gradativa de Makoto olhando para um certo alguém com outros olhos, quando no início não queria nada, soa incrivelmente natural e de nenhuma maneira forçada pelo roteiro. Passando o filme inteiro insistindo em enquadrar a protagonista de modo que mostre o vasto céu sobre sua cabeça, em uma referência que remete a sua mais nova liberdade infinita, de fazer e refazer o que quiser. Pena que o diretor, após plantar isso com cuidado o filme inteiro, resolva esfregar na cara do espectador nas últimas cenas, quando traz a câmera em um longo plano aberto com uma imensa trilha sonora evocativa. Parece gritar “e agora, viram? Estão vendo a nuvem?! E o céu? Só agora?! Mas eu mostrei o filme inteiro!”.

Chegando ao final do filme como uma belíssima jovem, A Garota que Conquistou o Tempo (a personagem e o filme em si) é diversão do início ao fim e em nenhum momento cansativo ou parado. De momentos de tirar o fôlego àqueles mais doces, a vontade que dá é de voltar no tempo e se maravilhar com essa obra como se fosse a primeira vez.









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@PedroSEkman


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10 comentários :

Zuperman disse...

Esse filme é lindo!

Mamoru Hosoda é um ótimo diretor! Summer Wars e Digimon Bokura no War Game que o digam!

Kauê disse...

Descobri esses dias que tinha esse filme gravado. Faz tanto tempo que baixei, pela curiosidade do Tsutsui, que quando li o título, tive que jogar no Google para lembrar qual filme era. Devo assistir em breve.

Agora, como os japoneses gostam de usar essas cancelas do trem para gerar metáforas nos animes.

Augusto Otavio disse...

Não seria a garota que saltava no tempo?

Natália Fontanna disse...

Oba, adoro histórias que exploram viagens no tempo. Vou baixar aqui com toda certeza.

Unknown disse...

Toki wo Kakeru Shoujo é uma belíssimo filme, daqueles que agente põe na estante, com a certeza que voltará pra pegar um dia e assistir novamente. Gostei de como trabalharam com o cliffhanger no final e não seria uma má ideia, explorar um pouco mais esse universo. Nunca assisti os live actions, mas agora bateu uma curiosidade. Talvez seja hora de ir atrás...

Bem, Pedro-kun, sua estrelinha brilhou, muito boa a crítica.

julio pq disse...

Filme bacana, o final me decepcionou um pouco, mas é pouca coisa perto da boa história presente no filme.

Moranguinha disse...

Vc podia falar sobre Summer Wars ;-;

Eu já tinha esse filme aqui a mó tempão, mas acabei lembrando dele quando vi o post aqui. Assisti e foi emocionante, vim aqui na seca achando que teria algumas teorias sobre o final, mas nem tem. O q vc acha da foto da tia dela?

ps. Trilha sonora do filme após os créditos é de mrorrer, baixei aqui.

Anônimo disse...

Esse é um dos melhores filmes que eu já vi e não é a toa que é um bom filme, já que ele foi premiado com o Japanese Academy Awards 2007. Então só com isso já deve servir para fazer algumas pessoas quererem ver o filme. No meu caso quando eu o vi foi mais pela arte da animação do que por qualquer outra coisa, mas no fim tudo valeu à pena.

Jonas Jax disse...

Esse filme é demais! Descobri ele por acaso quando vi o poster em site coreano(!), aí fui caçar o que era, baixei e depois comprei a edição especial em DVD duplo da Amazon, que vem com o CD da perfeita trilha sonora!

Desconsiderando o fato que eu consegui perder esse CD shuashuas mas um dia encontro!

Ótima crítica, apontou detalhes que eu não tinha percebido, deixando o filme ainda melhor e com mais vontade de rever! :D

Bird disse...

Eu ri muito assistindo a esse filme^^

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