quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Zetsuen no Tempest (2012): A Luta do Individual Contra o Plano Astral


Peço silêncio; os dedos sobre os lábios. Dos gonzos saiu o tempo. Maldição! Ter vindo ao mundo para endireitá-lo! 


Mahiro Fuwa (Toshiyuki Toyonaga) tem sua família assassinada barbaramente, mas tudo o que ele pensa é em vingar a morte de sua irmã de criação Aika Fuwa (Kana Hanazawa), provavelmente por causa de uma paixão reprimida e não correspondida. Um ano depois ele parte numa jornada de vingança de um homem apaixonado contra o mundo, e para ajuda-lo a localizar o assassino da irmã, ele faz um pacto com a autoproclamada maior maga do mundo; Hakase Kusaribe (Miyuki Sawashiro). Hakase se encontra reclusa em uma ilha depois de ser traída por integrantes do seu clã, que não acreditam na boa bonança da Arvore da Origem, e para poderem manicular contra ela, tiraram Hakaze do caminho, que é a princesa protegida da Arvore de Gênesis, que sem defesa, ficaria desprotegida para ser facilmente destruída. Eles só não contavam que a Arvore da Origem mexesse seus pauzinhos e alterasse toda a lógica do mundo. O clã Kusaribe inicia preparativos para acordar a Arvore de Êxodos, a única capaz de destruir a Arvore da Origem num battle shounen nunca antes visto... inovador ver duas arvores se pegando na porrada! Só que isso traz seus efeitos colaterais, a Arvore de Êxodos surge trazendo a destruição e seus frutos são portadores da terrível Síndrome do Aço Negro que transforma as pessoas em objetos metálicos. Para impedir seu clã, encabeçado pelo ruivo bishounen tsuntsun Samon Kusaribe (Rikiya Koyama), e de quebrar sair daquela ilha, Hakaze lança um feitiço através de um boneco de magia negra, que alcança Mahiro, e ambos fazem um pacto de se ajudarem. No meio do caminho, Mahiro se encontra com seu único e melhor amigo, Yoshino Takigawa (Kouki Uchiyama), e ambos partem em busca de desvendar o assassinato cruel de Aika (porque neste ponto, ninguém chora mais as mortes dos pais) e resgatarem Hakaze para acabar com a festinha dos Kusaribe. Nisto, Mahiro nem sonha que sua casta imouto tivera um romance secreto e proibido com seu amigo Yoshino. Tem inicio aqui uma trama de vingança, ódio, dúvidas, traições, jogos psicológicos, e... citações a Shakespeare.


Zetsuen no Tempest  é um anime da temporada de Outono de 2012, e fora um dos animes mais instigantes daquele ano. Quando fiz o texto de primeiras impressões, eu estava impressionada e cativada com sua teatralidade elisabetana e efervescência poética, trazendo a tona as características do teatro elisabetano e suas tramas mescladas entre o cômico, o trágico, e o tom novelesco dado pelos autores às suas obras. Aqui, cabe abrir um rápido parêntese: o teatro elisabetano tem esse nome por grande parte de sua existência ter se dado no reinado da rainha Elisabete I (de 1558 a 1603), um período de efervescência artística e essa mistureba, resumidamente, se dá porque os autores tinham que satisfazer diversos gostos do público inglês, de príncipes a camponeses humildes. Como se pode notar, era de grande popularidade por suas tramas de amplo alcance e preços de entrada acessível a toda população. Vale citar que o dramaturgo inglês William Shakespeare [o homem que inspirou Zetsuen no Tempest e grande tema deste texto] é um dos principais representantes do teatro elisabetano.

Agora, fechando parênteses. Eu estava deveras empolgada, eu adoro essa veia teatral e dramática, mas muitas coisas aconteceram e não pude voltar para comentar o final da série (o que é paradoxal, tendo em vista que continuei blogando). Zetsuen no Tempest é um amálgama, uma mistura de elementos diversos. Battle shounen com longas retoricas e monólogos, ação e poesia, magia versus lógica, vingança versus perdão, tragédia e esperança. Podemos supor então que o autor do manga no qual este anime se baseia, Kyo Shirodaira, propõe um jogo de retórica com seu leitor/espectador, utilizando meios psicológicos e argumentativos que o fazem adentrar num jogo de palavras tendo como base a indução. Pensa bem, a principal linha narrativa da série é sobre um mistério que parece cada vez mais insolúvel: quem matou Aika Fuwa? Quanto mais se descobre ao tomarmos conhecimentos de outras tramas que se interligam numa teia de relações complexa, mais emaranhada essa novelesca trama fica, e mais se interligam com a trama central da morte de Aika. A dedução é simples, mas o autor faz propositalmente para confundir o espectador, introduzindo muitas evidências falsas. O ápice se dá em torno dos episódios 08 e 12, que fecham o instigante primeiro cour da série, que em seu segundo ato retornaria com uma nova proposta. O autor utiliza a magia como Language of Truth (comum em tramas detetivescas que utilizam magia) para alcançar o pensamento lógico de dedução e indução, duas palavrinhas comuns no universo detetivesco, onde uma trama para ser desvendada necessita de vários argumentos (indução), que se encadeiam uns aos outros, até chegar a uma conclusão lógica (dedução). É este furioso embate que vemos entre Mahiro Fuwa, Yoshino Takigawa, Hakaze Kusaribe e Samon Kusaribe neste grandioso ápice.


Uma metodologia científica dedutiva num mundo onde a magia é a única verdade irrefutável. Uou! Mas se a magia é tão eficaz, porque a certa altura do segundo cour os personagens não veem a hora de se livrarem desse universo mágico e retornarem à sua vida mundana e cotidiana? A resposta está no mesmo segundo cour, que como já disse, difere substancialmente do primeiro. As respostas nele são mais obvias, o enredo deixa de ser detetivesco e trágico e passa a ser aventuresco, cotidiano, mais cômico. O autor pega diversos fundamentos e reconfigura em sua narrativa de maneira provocadora, é difícil dizer onde começa ‘A Tempestade’ e onde termina ‘Hamlet’, e é disso que Zetsuen no Tempest se trata, começando por seu próprio título. Devemos concordar que, se por um lado sua execução não é genial, o jogo indutivo e dedutivo que propõe tendo como base duas das obras mais emblemáticas de Shakespeare, é bastante engenhoso. A Tempestade e Hamlet são duas obras que se contrapõe, se completam, se assemelham narrativamente (a vingança, o homem em sua jornada individual lutando contra o destino imposto pelo universo) e se distinguem na sua moral (isso reflete em diversos pormenores da narrativa, como por exemplo, em Hamlet o universo mágico é gótico, enquanto que em A Tempestade é fantástico), com ambos terminando com um modo distinto de encarar a vida. Um é trágico, o outro é esperançoso. Enquanto em um tudo tende ao caos e desequilíbrio, no outro as desavenças são superadas rumo a um futuro otimista. Em Hamlet, a amargura e o ódio desencadeiam eventos irreversivelmente trágicos, em A Tempestade é amar e perdoar. No fim, a única dúvida que resta é qual dessas duas perspectivas o autor escolherá para sua obra. Quando estamos assistindo não sacamos, mas depois fica fácil: a adrenalina e a carga dramática diminuem porque o autor já havia feito a sua escolha, cabendo agora endireitar os dois gonzos e voltar o mundo à sua normalidade. Sem saber, quando escolheu defender Hakaze de Samon, Yoshino havia definido definitivamente o destino daquele mundo, afinal, Hakaze é o estopim de tudo (eu disse: tudo! Da investida de Samon contra ela, a prendendo numa ilha, à defesa de Yoshino que tenta lhe salvar daquele local).

Bom, para fechar meu pensamento acerca de Zetsuen no Tempest e seu paralelismo com A Tempestade e Hamlet, vamos precisar cavar mais fundo, vem comigo?


A Tempestade representou na sua época uma transição para a modernidade. A crença em um apocalipse eminente era comum durante a vida de Shakespeare, e no período do reinado de Elizabeth desenvolveu-se um consenso geral de que o papa era o Anticristo e que o fim do mundo estava próximo, e pra completar, a derrota da Armada Espanhola em 1588 que alimentou ainda mais a rivalidade entre os dois países, também alimentou a crença no apocalíptico. A Inglaterra sofreu com o que é chamado de “grande fome” com a quebra das safras, aí veio a depressão econômica, a pobreza generalizada e alta mortalidade de peste e fome. As expectativas apocalípticas se confirmaram, embora não fosse da maneira que se esperava. LOOOL. A Reforma Protestante trouxe mesmo o fim da ordem medieval, mas ao invés de ser o estopim para o julgamento final de Cristo sobre a terra, o resultado foi o surgimento da Modernidade. Há! O drama de Shakespeare é profundamente afetado pelo desaparecimento da ordem feudal com o nascimento de algo inimaginável. Shakespeare não viveu para presenciar a revolução inglesa, mas em sua ultima peça escrita, A Tempestade, ele retrata o mágico Próspero, que renuncia a sua magia ou arte, na última parte do jogo. Em Zetsuen, Hakaze é tida como Próspero, traída e abandonada numa ilha deserta para morrer por seus servos, mas é impossível traçar um perfil exato dos personagens do anime com os dois livros uma vez que tudo se mistura; este não é um ponto, e sim o espirito da mensagem. Assim como Próspero, não apenas Hakaze, mas todos os personagens renunciam à magia.

A Tempestade antecipa a aposentadoria de Shakespeare, e neste ultimo trabalho ele tece uma reflexão artística sobre a cada vez mais problemática hierarquia da pré-Renascença: Próspero por meio de um acordo, manipulava Ariel e Caliban a fim de alcançar seus objetivos, algo similar a relação entre Hakaze e Mahiro no primeiro ato do anime, de Hakaze que se via presa como um princesa imaculada no clã Kusarabe e era a mais alta no posto hierárquico. O período pré-renascentista é caracterizado pela hierarquia sacrificial, que trazia consigo a semente da destruição: o cristianismo. A hierarquia divina é em si sacrificial, e o anime retrata isto muito bem em torno das princesas da Arvore de Gênesis e a Arvore de Êxodo, ambas tiveram que se sacrificar para que o mundo pudesse voltar ao seu equilíbrio. A Arvore de Gênesis como sendo a origem, a civilização, requer o sacrifício de bens físicos, metálicos; enquanto que a Êxodos, surge em oposição brotando em enormes raízes pelo mundo afora, também exigindo um sacrifício alto por meio da Síndrome do Aço Negro. E isto culmina em dois eventos interessantíssimos. O despertar da Arvore de Êxodo em oposição a de Gênesis em suas raízes e frutos demoníacos cria a eminência de um apocalipse para aquele mundo, a violência diminui drasticamente – contrastando com os países em guerras ao se posicionarem cada qual como defensor de uma das arvores – e as pessoas passam a formarem cultos de adoração para ambas, as vendo como entidades místicas e lhes rendendo sacrifícios.




Voltando ao pano de fundo histórico, quando a ordem medieval é desestabilizada, surge o desenvolvimento da modernidade renascentista. Shakespeare reconhece em A Tempestade que o cosmos que manipulava o destino das pessoas, a natureza e todas as suas criaturas submetidas à ordem divina e os desígnios de Deus, tudo isto estava chegando ao fim. E que o tipo de arte que ele produzia, também estava chegando ao fim, pelas mesmas razões. Em Zetsuen, inicialmente as relações se dão principalmente por meio de acordos mútuos, um contrato, e ao fim, assim como acontecerá com Próspero, eles renunciam à figura de autoridade (a magia) e abraçam a vulnerabilidade de um destino que eles mesmo terão que criar com as próprias mãos. Uma das características do Renascentismo é a individualização do ser, onde cada um é responsável pela condução da própria vida. Em A Tempestade, há um problema real de autoridade, há uma tensão significativa, introduzido pelo individualismo. Miranda quer ter e terá sua própria história que é mais atraente para ela do que qualquer um dos devaneios de seu pai. Caliban quer ser senhor de si mesmo em sua própria ilha, Ariel anseia pelo fim do contrato que o prende à Próspero e gozar de sua liberdade. Isso tudo também é notável em Zetsuen com diversos protestos à servidão, que tal um exemplo? A figura de autoridade de Mahiro sobre Aiko sendo quebrada ao descobrir que ela rompeu um acordo imposto por ele de não namorar ninguém, ao se envolver com seu melhor amigo e ser dona da sua própria história até os últimos instantes de sua vida.

O argumento de Shakespeare é de que não há base para autoridade na natureza que não seja inerente aos próprios relacionamentos.  A autoridade mais eficaz depende da igualdade, movido por um acordo mutualmente benéfico. Na sociedade atual, as autoridades das democracias tem um poder consentido em um jogo de interesses mútuos não impostos. Um serviçal se permite servir para em troca ter uma recompensa, diferente da autoridade imposta. A relação de Próspero com Caliban é escravocrata, já com Ariel, é por meio de interesses mútuos. Paralelamente, Hakaze e Mahiro mantinham um acordo que beneficiavam ambos, diferente do jogo de Mahiro com Aika; este queria ser senhor de sua vida e o acordo era benéfico somente para um dos lados. Ser dono do próprio destino, esta é a máxima de Zetsuen no Tempest, que durante grande parte de seus episódios, colidiu seus personagens frente a um destino pré-moldado por magia e deuses mitológicos, um mundo fora dos eixos, fora de qualquer lógica ou razão, que impedia os personagens de guiar suas próprias vidas. Todos foram invariavelmente presos pelas teias dessa aranha venenosa e tiveram seus destinos modificados. A Arvore da Origem concedia à Hakaze toda a sorte do mundo, tudo pendia a seu favor, e como consequência, todos foram afetados quando Samon resolve colocar a sua vida em risco numa ilha isolada.

A Arvore da Origem mexeu seus pauzinhos, mas e quanto a de Êxodos? Este é o jogo malicioso do título da série. É difícil definir o título da série com exatidão uma vez que ele é puramente conceitual e alude a uma ideia. Seria algo como... ‘A Tempestade e a Expulsão do Jardim’. Zetsuen do kanji alude à ruptura, corte, descontinuação. Basicamente, a Êxodos interrompe o processo de reset ao planeta iniciado pela arvore de Gênesis (há algumas traduções que chamam de Arvore do Inicio ou da Origem. Originalmente é hajimari no ki) que pleneja recriar o mundo extinguindo o antigo (conceito bem mitológico). Êxodo (originalmente zetsuen no ki) significa saída, retirada estratégica, aludindo à ideia do abandono ao Jardim eclesiástico. Você sente isto na trama quando depois do extermínio da Arvore de Gênesis, onde o mundo volta à sua logica, à sua normalidade, os crimes aumentam assustadoramente e as pessoas voltam a ser menos religiosas. É o processo natural das coisas, no individualismo humanista há um atrito conflituoso inevitável, afinal, não há um ser superior para se temer, regurgitando assim uma ideia de pureza idílica. Em The Music of Marie, os personagens optam pela natureza eclesiástica, ainda que para alcançar a paz de espirito que tanto almejam, tivessem que sacrificar sua liberdade, se tornando pássaros engaiolados. Em Zetsuen no Tempest, eles aceitam o mundano e todas as suas incertezas em troca de poderem governar o próprio destino. Claro, não dá pra ter certeza se é isto que o autor pensou ao escolher o título, mas fica a linha de pensamento. Para descomplicar, o título no ocidente é mais simples; Blast of Tempest: The Civilization Blaster.


Não podemos nos esquecer de Hamlet. Nesta obra predomina o espírito cristão da cristandade europeia que de certo modo, fez da vida uma impossibilidade de se atingir seu fim que não fosse no além. Hamlet não sabe que está sendo usado pelo destino; sua vida sofre as dores do mundo, mas não tem meios de redenção senão na morte. Sua morte, juntamente com as dos outros personagens, apenas formam a trama da história, ele é apenas um fantoche, assim como Mahiro e Yoshino que são envolvidos nessa trama orquestrada pela Arvore de Gênesis, sem controle de seus destinos. No entanto, já é perceptível fragmentos do homem pré-renascentista em Hamlet, em que a individualidade começa a eclodir de dentro para fora, porque a única coisa que lhe interessa é confirmar é a si mesmo, não atendo o apelo nem de pessoas queridas para ele como sua mãe e Ophelia. Tudo que é exterior não passa de algo que se esvai juntamente de seu reinado. Fazemos essa leitura também quanto a Mahiro, que depois da morte de Aika, auto anulou tudo o que era exterior a fim de confirmar suas próprias convicções. Sua busca é a de um homem fragmentado que sente a dor da perda de si. O curioso é que Hamlet também é uma narrativa repleta de personagens fortes e mutáveis, o Hamlet do final da história não é o mesmo do começo, mas a historia não pertence mais a ele. Dessa forma, mesmo que ele a certa altura tenha desistido da vingança, seus atos anteriores desencadeiam uma série de eventos que o envolvem até o trágico desfecho tramado pelo cosmos. Ou seria karma? Sabemos que ações negativas desencadeiam restrições punitivas criando uma cadeia de ódio sem fim; isso segundo as leis do universo. No Ato V, Hamlet recobra sua identidade perdida, mas seu destino já não lhe pertencia. Cruel, não?

Os três paragrafos a seguir contém spoilers. Leia por conta e risco.
Mahiro tem mais sorte, ao perdoar Yoshino e aceitar o individualismo de Aika, ele retoma o controle de sua existência, ele se encontra. Os personagens de Zetsuen no Tempest são todos assim também, mutáveis, com exceção de Aika, por motivos óbvios. Zetsuen no Tempest tem seus méritos por sua engenhosidade envolvente; a trilha sonora overdramática dá sentido à teatralidade do enredo, uma personagem morta como a Aika se torna a melhor personagem da história em complexidade e sua presença é sentida a cada episódio através de memórias que se entrelaçam em detalhes com o tempo atual do enredo, e a história em si cobre todo o mangá e não possui furos. Todas as linhas do enredo são amarradas e as motivações dos personagens são justificadas. Sem esquecer a ótima dinâmica entre Mashiro e Yoshino, o companheirismo dos dois convence e é empático. As cenas de animação do BONES foram decentes e sólidas para o padrão tv, e tudo isso contribui para a experiência de se assistir o anime possa ser bem mais emocionante que acompanhar o mangá. O autor mescla a narrativa dos dois livros de Shakespeare com a urgência da mídia contemporânea, se mantendo fiel à ideia do autor. Se ele está seguindo o raciocínio lógico de Shakespeare, obviamente a tendência é que A Tempestade supere Hamlet na moral final do enredo, já que um reflete o outro. Porém, a obviedade do grande mistério da trama no segundo cour, tira parte da urgência do enredo de Zetsuen no Tempest.

Kyo Shirodaira ainda tenta inserir elementos que possam confundir o espectador/leitor para que ele continue numa postura ativa, na figura do mago suplente Megumu Hanemura (Yuki Kaji), mas este se torna uma peça sem sentido no tabuleiro e isto se sente gravemente no desfecho, que soa forçado, e de um modo geral, com um anticlímax decepcionante. A decisão de Aika em se sacrificar, só é válida pelo ponto de vista da excentricidade e egoísmo da personagem, uma vez que não havia qualquer implicação que a impedisse de reformular o destino e destruir com as próprias mãos a Arvore da Origem; ela era poderosíssima afinal de contas. Contudo devemos exaltar a decisão do autor em não recorrer a um artificio como a volta no tempo para salvar Aika. Sua morte é necessária para a solidez do enredo e sua mensagem, a personagem até o fim, por mais mesquinha e egocêntrica que fosse, fez exatamente o que quis, sendo seu sacrifício muito mais sua vontade de salvar e se imortalizar em Mahiro e Yoshino, do que para obedecer a uma ordem natural das coisas.

Há também o inevitável isolacionismo de tudo o que não se faz importante no palco principal, como a morte dos pais de Mahiro e Aika (que foram assassinados por ela) e todo questionamento embutido ai na mesquinharia da garota, ou a letargia de Mahiro que não conseguiu enxergar o que estava bem diante dos seus olhos; o autor ainda se dispõe a brincar com isso a todo o momento, com diversas sacadas cômicas, já que aparentemente só o garoto ainda não havia sacado que seu amigo tava pegando sua irmã na moita.  E que tal Hakaze, Yoshino e Mahiro planejando o futuro de boas depois de tramar contra diversos países e sequestrar seus oficiais? Pode decepcionar alguns, mas é dinamicamente funcional e atende à logica teatral de só se fazer presente no palco o que realmente importa para o pensamento da obra e entendimento do leitor. Para mim fora extremamente satisfatório, ainda que com um clímax decepcionante, o desfecho em si me agrada e floresce meu coração no sentido de cada personagem conseguir dar um passo adiante, superando as tragédias que o envolveram. É o que Shakespeare concluiu ao abandonar a cena prematuramente, o homem agora é responsável por sua própria história, não cabe a ninguém escrevê-la.



Nota: 08/10
Ano: 2012
Estúdio: BONES
Episódios: 24
Tipo: TV
Diretor: Masahiro Ando
Roteiro: Mari Okada, Hiroshi Yamaguchi, Keigo Koyanagi, Shinsuke Onishi

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