Peço silêncio; os dedos sobre os lábios. Dos gonzos saiu o tempo. Maldição! Ter vindo ao mundo para endireitá-lo!
Mahiro Fuwa (Toshiyuki Toyonaga) tem sua família assassinada barbaramente, mas tudo o que ele
pensa é em vingar a morte de sua irmã de criação Aika Fuwa (Kana Hanazawa), provavelmente por causa de uma paixão reprimida e
não correspondida. Um ano depois ele parte numa jornada de vingança de um homem
apaixonado contra o mundo, e para ajuda-lo a localizar o assassino da irmã, ele
faz um pacto com a autoproclamada maior maga do mundo; Hakase Kusaribe (Miyuki Sawashiro). Hakase se encontra
reclusa em uma ilha depois de ser traída por integrantes do seu clã, que não
acreditam na boa bonança da Arvore da Origem, e para poderem manicular contra
ela, tiraram Hakaze do caminho, que é a princesa protegida da Arvore de
Gênesis, que sem defesa, ficaria desprotegida para ser facilmente destruída.
Eles só não contavam que a Arvore da Origem mexesse seus pauzinhos e alterasse
toda a lógica do mundo. O clã Kusaribe inicia preparativos para acordar a
Arvore de Êxodos, a única capaz de destruir a Arvore da Origem num battle
shounen nunca antes visto... inovador ver duas arvores se pegando na porrada! Só
que isso traz seus efeitos colaterais, a Arvore de Êxodos surge trazendo a
destruição e seus frutos são portadores da terrível Síndrome do Aço Negro que
transforma as pessoas em objetos metálicos. Para impedir seu clã, encabeçado
pelo ruivo bishounen tsuntsun Samon Kusaribe (Rikiya Koyama), e de quebrar sair daquela ilha, Hakaze lança um
feitiço através de um boneco de magia negra, que alcança Mahiro, e ambos fazem
um pacto de se ajudarem. No meio do caminho, Mahiro se encontra com seu único e
melhor amigo, Yoshino Takigawa (Kouki Uchiyama), e ambos partem em busca de desvendar o assassinato cruel de
Aika (porque neste ponto, ninguém chora
mais as mortes dos pais) e resgatarem Hakaze para acabar com a festinha dos
Kusaribe. Nisto, Mahiro nem sonha que sua casta imouto tivera um romance
secreto e proibido com seu amigo Yoshino. Tem inicio aqui uma trama de
vingança, ódio, dúvidas, traições, jogos psicológicos, e... citações a Shakespeare.
Zetsuen no Tempest é
um anime da temporada de Outono de 2012, e fora um dos animes mais instigantes
daquele ano. Quando fiz o texto de primeiras impressões, eu estava
impressionada e cativada com sua teatralidade elisabetana e efervescência
poética, trazendo a tona as características do teatro elisabetano e suas tramas
mescladas entre o cômico, o trágico, e o tom novelesco dado pelos autores às
suas obras. Aqui, cabe abrir um rápido parêntese: o teatro elisabetano tem esse
nome por grande parte de sua existência ter se dado no reinado da rainha
Elisabete I (de 1558 a 1603), um
período de efervescência artística e essa mistureba, resumidamente, se dá
porque os autores tinham que satisfazer diversos gostos do público inglês, de
príncipes a camponeses humildes. Como se pode notar, era de grande popularidade
por suas tramas de amplo alcance e preços de entrada acessível a toda
população. Vale citar que o dramaturgo inglês William Shakespeare [o homem que
inspirou Zetsuen no Tempest e grande tema deste texto] é um dos principais
representantes do teatro elisabetano.
Agora, fechando parênteses. Eu estava deveras empolgada, eu
adoro essa veia teatral e dramática, mas muitas coisas aconteceram e não pude
voltar para comentar o final da série (o
que é paradoxal, tendo em vista que continuei blogando). Zetsuen no Tempest
é um amálgama, uma mistura de elementos diversos. Battle shounen com longas
retoricas e monólogos, ação e poesia, magia versus lógica, vingança versus
perdão, tragédia e esperança. Podemos supor então que o autor do manga no qual
este anime se baseia, Kyo Shirodaira, propõe um jogo de retórica com seu
leitor/espectador, utilizando meios psicológicos e argumentativos que o fazem
adentrar num jogo de palavras tendo como base a indução. Pensa bem, a principal
linha narrativa da série é sobre um mistério que parece cada vez mais
insolúvel: quem matou Aika Fuwa? Quanto mais se descobre ao tomarmos
conhecimentos de outras tramas que se interligam numa teia de relações
complexa, mais emaranhada essa novelesca trama fica, e mais se interligam com a
trama central da morte de Aika. A dedução é simples, mas o autor faz
propositalmente para confundir o espectador, introduzindo muitas evidências
falsas. O ápice se dá em torno dos episódios 08 e 12, que fecham o instigante
primeiro cour da série, que em seu segundo ato retornaria com uma nova
proposta. O autor utiliza a magia como Language
of Truth (comum em tramas
detetivescas que utilizam magia) para alcançar o pensamento lógico de
dedução e indução, duas palavrinhas comuns no universo detetivesco, onde uma
trama para ser desvendada necessita de vários argumentos (indução), que se encadeiam uns aos outros, até chegar a uma
conclusão lógica (dedução). É este
furioso embate que vemos entre Mahiro Fuwa, Yoshino Takigawa, Hakaze Kusaribe e
Samon Kusaribe neste grandioso ápice.
Uma metodologia científica dedutiva num mundo onde a magia é
a única verdade irrefutável. Uou! Mas se a magia é tão eficaz, porque a certa
altura do segundo cour os personagens não veem a hora de se livrarem desse
universo mágico e retornarem à sua vida mundana e cotidiana? A resposta está no
mesmo segundo cour, que como já disse, difere substancialmente do primeiro. As
respostas nele são mais obvias, o enredo deixa de ser detetivesco e trágico e
passa a ser aventuresco, cotidiano, mais cômico. O autor pega diversos
fundamentos e reconfigura em sua narrativa de maneira provocadora, é difícil
dizer onde começa ‘A Tempestade’ e onde termina ‘Hamlet’, e é disso que Zetsuen
no Tempest se trata, começando por seu próprio título. Devemos concordar que,
se por um lado sua execução não é genial, o jogo indutivo e dedutivo que propõe
tendo como base duas das obras mais emblemáticas de Shakespeare, é bastante
engenhoso. A Tempestade e Hamlet são duas obras que se contrapõe, se completam,
se assemelham narrativamente (a vingança,
o homem em sua jornada individual lutando contra o destino imposto pelo
universo) e se distinguem na sua moral (isso
reflete em diversos pormenores da narrativa, como por exemplo, em Hamlet o
universo mágico é gótico, enquanto que em A Tempestade é fantástico), com
ambos terminando com um modo distinto de encarar a vida. Um é trágico, o outro
é esperançoso. Enquanto em um tudo tende ao caos e desequilíbrio, no outro as
desavenças são superadas rumo a um futuro otimista. Em Hamlet, a amargura e o
ódio desencadeiam eventos irreversivelmente trágicos, em A Tempestade é amar e
perdoar. No fim, a única dúvida que resta é qual dessas duas perspectivas o
autor escolherá para sua obra. Quando estamos assistindo não sacamos, mas
depois fica fácil: a adrenalina e a carga dramática diminuem porque o autor já
havia feito a sua escolha, cabendo agora endireitar os dois gonzos e voltar o
mundo à sua normalidade. Sem saber, quando escolheu defender Hakaze de Samon,
Yoshino havia definido definitivamente o destino daquele mundo, afinal, Hakaze
é o estopim de tudo (eu disse: tudo! Da
investida de Samon contra ela, a prendendo numa ilha, à defesa de Yoshino que
tenta lhe salvar daquele local).
Bom, para fechar meu pensamento acerca de Zetsuen no Tempest
e seu paralelismo com A Tempestade e Hamlet, vamos precisar cavar mais fundo,
vem comigo?
A Tempestade representou na sua época uma transição para a
modernidade. A crença em um apocalipse eminente era comum durante a vida de
Shakespeare, e no período do reinado de Elizabeth desenvolveu-se um consenso
geral de que o papa era o Anticristo e que o fim do mundo estava próximo, e pra
completar, a derrota da Armada Espanhola em 1588 que alimentou ainda mais a
rivalidade entre os dois países, também alimentou a crença no apocalíptico. A
Inglaterra sofreu com o que é chamado de “grande fome” com a quebra das safras,
aí veio a depressão econômica, a pobreza generalizada e alta mortalidade de
peste e fome. As expectativas apocalípticas se confirmaram, embora não fosse da
maneira que se esperava. LOOOL. A Reforma Protestante trouxe mesmo o fim da
ordem medieval, mas ao invés de ser o estopim para o julgamento final de Cristo
sobre a terra, o resultado foi o surgimento da Modernidade. Há! O drama de Shakespeare
é profundamente afetado pelo desaparecimento da ordem feudal com o nascimento
de algo inimaginável. Shakespeare não viveu para presenciar a revolução
inglesa, mas em sua ultima peça escrita, A Tempestade, ele retrata o mágico
Próspero, que renuncia a sua magia ou arte, na última parte do
jogo. Em Zetsuen, Hakaze é tida como Próspero, traída e abandonada numa ilha
deserta para morrer por seus servos, mas é impossível traçar um perfil exato
dos personagens do anime com os dois livros uma vez que tudo se mistura; este
não é um ponto, e sim o espirito da mensagem. Assim como Próspero, não apenas
Hakaze, mas todos os personagens renunciam à magia.
A Tempestade antecipa a aposentadoria de Shakespeare, e
neste ultimo trabalho ele tece uma reflexão artística sobre a cada vez mais
problemática hierarquia da pré-Renascença: Próspero por meio de um acordo,
manipulava Ariel e Caliban a fim de alcançar seus objetivos, algo similar a
relação entre Hakaze e Mahiro no primeiro ato do anime, de Hakaze que se via
presa como um princesa imaculada no clã Kusarabe e era a mais alta no posto
hierárquico. O período pré-renascentista é caracterizado pela hierarquia
sacrificial, que trazia consigo a semente da destruição: o cristianismo. A
hierarquia divina é em si sacrificial, e o anime retrata isto muito bem em
torno das princesas da Arvore de Gênesis e a Arvore de Êxodo, ambas tiveram que
se sacrificar para que o mundo pudesse voltar ao seu equilíbrio. A Arvore de
Gênesis como sendo a origem, a civilização, requer o sacrifício de bens
físicos, metálicos; enquanto que a Êxodos, surge em oposição brotando em enormes
raízes pelo mundo afora, também exigindo um sacrifício alto por meio da Síndrome
do Aço Negro. E isto culmina em dois eventos interessantíssimos. O despertar da
Arvore de Êxodo em oposição a de Gênesis em suas raízes e frutos demoníacos
cria a eminência de um apocalipse para aquele mundo, a violência diminui drasticamente
– contrastando com os países em guerras ao se posicionarem cada qual como
defensor de uma das arvores – e as pessoas passam a formarem cultos de adoração
para ambas, as vendo como entidades místicas e lhes rendendo sacrifícios.
Voltando ao pano de fundo histórico, quando a ordem medieval
é desestabilizada, surge o desenvolvimento da modernidade renascentista. Shakespeare
reconhece em A Tempestade que o cosmos que manipulava o destino das pessoas, a
natureza e todas as suas criaturas submetidas à ordem divina e os desígnios de
Deus, tudo isto estava chegando ao fim. E que o tipo de arte que ele produzia,
também estava chegando ao fim, pelas mesmas razões. Em Zetsuen, inicialmente as
relações se dão principalmente por meio de acordos mútuos, um contrato, e ao
fim, assim como acontecerá com Próspero, eles renunciam à figura de autoridade (a magia) e abraçam a vulnerabilidade
de um destino que eles mesmo terão que criar com as próprias mãos. Uma das
características do Renascentismo é a individualização do ser, onde cada um é responsável
pela condução da própria vida. Em A Tempestade, há um problema real de
autoridade, há uma tensão significativa, introduzido pelo individualismo. Miranda
quer ter e terá sua própria história que é mais atraente para ela do que
qualquer um dos devaneios de seu pai. Caliban quer ser senhor de si mesmo em
sua própria ilha, Ariel anseia pelo fim do contrato que o prende à Próspero e
gozar de sua liberdade. Isso tudo também é notável em Zetsuen com diversos protestos
à servidão, que tal um exemplo? A figura de autoridade de Mahiro sobre Aiko
sendo quebrada ao descobrir que ela rompeu um acordo imposto por ele de não
namorar ninguém, ao se envolver com seu melhor amigo e ser dona da sua própria
história até os últimos instantes de sua vida.
O argumento de Shakespeare é de que não há base para
autoridade na natureza que não seja inerente aos próprios relacionamentos. A autoridade mais eficaz depende da igualdade,
movido por um acordo mutualmente benéfico. Na sociedade atual, as autoridades das
democracias tem um poder consentido em um jogo de interesses mútuos não
impostos. Um serviçal se permite servir para em troca ter uma recompensa,
diferente da autoridade imposta. A relação de Próspero com Caliban é escravocrata,
já com Ariel, é por meio de interesses mútuos. Paralelamente, Hakaze e Mahiro
mantinham um acordo que beneficiavam ambos, diferente do jogo de Mahiro com Aika;
este queria ser senhor de sua vida e o acordo era benéfico somente para um dos
lados. Ser dono do próprio destino, esta é a máxima de Zetsuen no Tempest, que
durante grande parte de seus episódios, colidiu seus personagens frente a um
destino pré-moldado por magia e deuses mitológicos, um mundo fora dos eixos,
fora de qualquer lógica ou razão, que impedia os personagens de guiar suas
próprias vidas. Todos foram invariavelmente presos pelas teias dessa aranha
venenosa e tiveram seus destinos modificados. A Arvore da Origem concedia à
Hakaze toda a sorte do mundo, tudo pendia a seu favor, e como consequência,
todos foram afetados quando Samon resolve colocar a sua vida em risco numa ilha
isolada.
A Arvore da Origem mexeu seus pauzinhos, mas e quanto a de
Êxodos? Este é o jogo malicioso do título da série. É difícil definir o título
da série com exatidão uma vez que ele é puramente conceitual e alude a uma
ideia. Seria algo como... ‘A Tempestade e a Expulsão do Jardim’. Zetsuen do
kanji 絶alude à ruptura, corte, descontinuação. Basicamente,
a Êxodos interrompe o processo de reset ao planeta iniciado pela arvore de
Gênesis (há algumas traduções que chamam
de Arvore do Inicio ou da Origem. Originalmente é hajimari no ki) que
pleneja recriar o mundo extinguindo o antigo (conceito bem mitológico). Êxodo (originalmente zetsuen no ki) significa saída, retirada
estratégica, aludindo à ideia do abandono ao Jardim eclesiástico. Você sente
isto na trama quando depois do extermínio da Arvore de Gênesis, onde o mundo
volta à sua logica, à sua normalidade, os crimes aumentam assustadoramente e as
pessoas voltam a ser menos religiosas. É o processo natural das coisas, no
individualismo humanista há um atrito conflituoso inevitável, afinal, não há um
ser superior para se temer, regurgitando assim uma ideia de pureza idílica. Em
The Music of Marie, os personagens optam pela natureza eclesiástica, ainda que
para alcançar a paz de espirito que tanto almejam, tivessem que sacrificar sua
liberdade, se tornando pássaros engaiolados. Em Zetsuen no Tempest, eles
aceitam o mundano e todas as suas incertezas em troca de poderem governar o
próprio destino. Claro, não dá pra ter certeza se é isto que o autor pensou ao
escolher o título, mas fica a linha de pensamento. Para descomplicar, o título
no ocidente é mais simples; Blast of Tempest: The Civilization Blaster.
Não podemos nos esquecer de Hamlet. Nesta obra predomina o espírito
cristão da cristandade europeia que de certo modo, fez da vida uma
impossibilidade de se atingir seu fim que não fosse no além. Hamlet não sabe
que está sendo usado pelo destino; sua vida sofre as dores do mundo, mas não
tem meios de redenção senão na morte. Sua morte, juntamente com as dos outros
personagens, apenas formam a trama da história, ele é apenas um fantoche, assim
como Mahiro e Yoshino que são envolvidos nessa trama orquestrada pela Arvore de
Gênesis, sem controle de seus destinos. No entanto, já é perceptível fragmentos
do homem pré-renascentista em Hamlet, em que a individualidade começa a eclodir
de dentro para fora, porque a única coisa que lhe interessa é confirmar é a si
mesmo, não atendo o apelo nem de pessoas queridas para ele como sua mãe e
Ophelia. Tudo que é exterior não passa de algo que se esvai juntamente de seu
reinado. Fazemos essa leitura também quanto a Mahiro, que depois da morte de
Aika, auto anulou tudo o que era exterior a fim de confirmar suas próprias
convicções. Sua busca é a de um homem fragmentado que sente a dor da perda de
si. O curioso é que Hamlet também é uma narrativa repleta de personagens fortes
e mutáveis, o Hamlet do final da história não é o mesmo do começo, mas a
historia não pertence mais a ele. Dessa forma, mesmo que ele a certa altura
tenha desistido da vingança, seus atos anteriores desencadeiam uma série de
eventos que o envolvem até o trágico desfecho tramado pelo cosmos. Ou seria
karma? Sabemos que ações negativas desencadeiam restrições punitivas criando
uma cadeia de ódio sem fim; isso segundo as leis do universo. No Ato V, Hamlet
recobra sua identidade perdida, mas seu destino já não lhe pertencia. Cruel,
não?
Os três paragrafos a
seguir contém spoilers. Leia por conta e risco.
Mahiro tem mais sorte, ao perdoar Yoshino e aceitar o
individualismo de Aika, ele retoma o controle de sua existência, ele se
encontra. Os personagens de Zetsuen no Tempest são todos assim também,
mutáveis, com exceção de Aika, por motivos óbvios. Zetsuen no Tempest tem seus
méritos por sua engenhosidade envolvente; a trilha sonora overdramática dá
sentido à teatralidade do enredo, uma personagem morta como a Aika se torna a
melhor personagem da história em complexidade e sua presença é sentida a cada
episódio através de memórias que se entrelaçam em detalhes com o tempo atual do
enredo, e a história em si cobre todo o mangá e não possui furos. Todas as
linhas do enredo são amarradas e as motivações dos personagens são
justificadas. Sem esquecer a ótima dinâmica entre Mashiro e Yoshino, o companheirismo dos dois convence e é empático. As cenas de animação do BONES foram decentes e sólidas para o padrão tv, e tudo isso contribui para a experiência de se assistir o anime possa ser bem mais emocionante que acompanhar o mangá. O autor mescla a narrativa dos dois livros de Shakespeare com a
urgência da mídia contemporânea, se mantendo fiel à ideia do autor. Se ele está
seguindo o raciocínio lógico de Shakespeare, obviamente a tendência é que A
Tempestade supere Hamlet na moral final do enredo, já que um reflete o outro. Porém,
a obviedade do grande mistério da trama no segundo cour, tira parte da urgência
do enredo de Zetsuen no Tempest.
Kyo Shirodaira ainda tenta inserir elementos que possam confundir o espectador/leitor para que ele continue numa postura ativa, na figura do mago suplente Megumu Hanemura (Yuki Kaji), mas este se torna uma peça sem sentido no tabuleiro e isto se sente gravemente no desfecho, que soa forçado, e de um modo geral, com um anticlímax decepcionante. A decisão de Aika em se sacrificar, só é válida pelo ponto de vista da excentricidade e egoísmo da personagem, uma vez que não havia qualquer implicação que a impedisse de reformular o destino e destruir com as próprias mãos a Arvore da Origem; ela era poderosíssima afinal de contas. Contudo devemos exaltar a decisão do autor em não recorrer a um artificio como a volta no tempo para salvar Aika. Sua morte é necessária para a solidez do enredo e sua mensagem, a personagem até o fim, por mais mesquinha e egocêntrica que fosse, fez exatamente o que quis, sendo seu sacrifício muito mais sua vontade de salvar e se imortalizar em Mahiro e Yoshino, do que para obedecer a uma ordem natural das coisas.
Kyo Shirodaira ainda tenta inserir elementos que possam confundir o espectador/leitor para que ele continue numa postura ativa, na figura do mago suplente Megumu Hanemura (Yuki Kaji), mas este se torna uma peça sem sentido no tabuleiro e isto se sente gravemente no desfecho, que soa forçado, e de um modo geral, com um anticlímax decepcionante. A decisão de Aika em se sacrificar, só é válida pelo ponto de vista da excentricidade e egoísmo da personagem, uma vez que não havia qualquer implicação que a impedisse de reformular o destino e destruir com as próprias mãos a Arvore da Origem; ela era poderosíssima afinal de contas. Contudo devemos exaltar a decisão do autor em não recorrer a um artificio como a volta no tempo para salvar Aika. Sua morte é necessária para a solidez do enredo e sua mensagem, a personagem até o fim, por mais mesquinha e egocêntrica que fosse, fez exatamente o que quis, sendo seu sacrifício muito mais sua vontade de salvar e se imortalizar em Mahiro e Yoshino, do que para obedecer a uma ordem natural das coisas.
Há também o inevitável isolacionismo de tudo o que não se
faz importante no palco principal, como a morte dos pais de Mahiro e Aika (que foram assassinados por ela) e todo
questionamento embutido ai na mesquinharia da garota, ou a letargia de Mahiro
que não conseguiu enxergar o que estava bem diante dos seus olhos; o autor
ainda se dispõe a brincar com isso a todo o momento, com diversas sacadas
cômicas, já que aparentemente só o garoto ainda não havia sacado que seu amigo
tava pegando sua irmã na moita. E que
tal Hakaze, Yoshino e Mahiro planejando o futuro de boas depois de tramar
contra diversos países e sequestrar seus oficiais? Pode decepcionar alguns, mas
é dinamicamente funcional e atende à logica teatral de só se fazer presente no
palco o que realmente importa para o pensamento da obra e entendimento do
leitor. Para mim fora extremamente satisfatório, ainda que com um clímax
decepcionante, o desfecho em si me agrada e floresce meu coração no sentido de
cada personagem conseguir dar um passo adiante, superando as tragédias que o
envolveram. É o que Shakespeare concluiu ao abandonar a cena prematuramente, o
homem agora é responsável por sua própria história, não cabe a ninguém
escrevê-la.
Nota: 08/10
Ano: 2012
Estúdio: BONES
Episódios: 24
Tipo: TV
Diretor: Masahiro Ando
Roteiro: Mari Okada, Hiroshi Yamaguchi, Keigo Koyanagi, Shinsuke
Onishi
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