Um terror B de vez em quando vai muito bem.
Senno Knife começou sua carreira na década de 80 e desde
então a manteve segmentada entre o terror, o torture porn e gags. Apesar de
contar com uma vasta produção, seu nome não é lembrado, nem suas obras
cultuadas popularmente ou artisticamente. Curiosamente, durante o boom dos
mangás nos EUA, Knife teve um vasto material lançado por lá, a maioria ainda se
encontra bem acessível, batendo nomes como Junji Ito e Kanako Inuki em numero
de publicações. Ele chegou também no Brasil através da Conrad, com os títulos
Sade e Tempest [duas adaptações de obras históricas, uma especialização do
autor, que resgata clássicos, para um universo de perversões].
Mantis Woman é um dos seus trabalhos mais recentes e traz consigo as características mais
marcantes do autor: uma pegada toda vanilla mesmo quando o teor é violento,
arte chamativa e protagonista com expressões sempre meigas. Seu traço tem
refinamento, mas não tem precisão anatômica, e se torna uma característica que
seduz. Além de contornos e estilo típico dos shoujos, mas com uma assinatura
própria capaz de distingui-lo. Com o passar dos anos, Knife pouco mudou em seu
estilo artístico, mas devo dizer que é sua imprecisão; fazendo sua arte sentir
uma falta de carpintaria nos adornos e curvas dos personagens, que dá a sua
arte certo charme. Certamente se adéqua bastante a eu estilo vanilla.
A ode à criatividade de Junji Ito se dá muito por ele fugir
do usual da maioria dos artistas que se metem a desenhar quadrinhos de terror
no Japão. A grande maioria se baseiam em lendas urbanas e muitas vezes eventos
curiosos testemunhados por eles na infância. Knife segue a cartilha à risca e
tece em Matis Woman
5 histórias com a mesma protagonista se envolvendo com manifestações
sobrenaturais, além de uma 6ª história com outra personagem, mas que
francamente parece uma versão adulta da anterior. A fórmula é sempre a mesma,
só muda levemente a situação. Chiaki é uma péssima voyeur, pois vê estranhos
eventos acontecendo e acaba enfiando o pescoço aonde não deve e acaba em
grandes apuros. Claro que ela se safa sempre. Há somente uma história, ‘O Koala
está vindo’, onde ela passa de voyeur a vitima direta de ataques: uma história
sinistra de um loser que se suicidou por ser sempre rejeitado pelas garotas que
visava; com seu espírito indo parar no corpo de um koala de pelúcia bizarrícimo
que ele ofertava para as garotas. Agora, este koala sai atrás de belas
garotinhas à procura de amor. É uma história que faz muito uso da visão histórica
de espíritos que possuem objetos, com direito à clássica cena da mão saindo de
dentro de uma boca. LOL
A primeira história se chama Mantis Woman, que dá título ao
mangá. ‘Mantis Woman’ é uma mulher sinistra que sai punindo a todo que cometem
alguma infração. Chiaki que sofre bullying continuamente e acaba cruzando com
essa figura, desde então todos aqueles que a maltratavam começam a ter um
destino cruel. É fácil perceber a intenção desse nome: Mantis são insetos
predadores que se alimentam de outros insetos vivos ou até mesmo os de sua
espécie.
Não há nada de marcante ou que se destaque neste trabalho,
além de arte, mas é divertido e com uma atmosfera evolvente, eu me diverti.
Como envolvente? Knife tem uma técnica exemplar de enquadramento, retículas e
uso de espaços negativos. Quando Chiaki fita, é como se estivesse olhando
diretamente para nossos olhos, soa muito verdadeiro o seu terror (os enquadramentos fechados nos olhos é o
que mais chama a atenção, os olhos dela são belos, e ficam ainda mais belos
quando estão assustados por trazerem a superfície a ingenuidade e fragilidade da personagem. Eles despertam um sentimento meio canibal por ela
parecer tão desprotegida), embora não sejam histórias densas, pelo
contrário; tem um tom aventuresco, de criança quando quer saber demais e quando
percebe, está em apuros.
Como se pode notar, as obras de Senno Knife acabaram
definindo o nome do autor no intermediário de artistas que ficam à sombra, que
pra enxergar é preciso ir um pouco além. No ocidente, aconteceu de alguém o
pegar e trazer em meio a tantos outros. De qualquer forma, é um nome não
convencional que pode se tornar uma boa alternativa pra fugir da rotina.
Ano: 1998
Autor: Senno Knife
Volumes: 01
Demográfico: Josei
Revista: Horror M (Bunkasha)
Artigos Relacionados:
-Mimi no Kaidan e os Contos Sobrenaturais
-Hideout: Um Thriller à lá Stephen King de Masasumi Kakizaki
-Goth
-Hideout: Um Thriller à lá Stephen King de Masasumi Kakizaki
-Goth
***