quinta-feira, 27 de março de 2014

Space Brothers: Uchuu Kyoudai (2012) – Sonhos

Chega ao fim a saga dos irmãos Nanba nos animes. Ao menos por enquanto.
Depois de quase 2 anos e quase 100 episódios de execução ininterrupta, me sinto no dever moral de vir aqui e dizer o porque de eu ter acompanhado por tanto tempo um anime que, em consequência da sua longevidade, inevitavelmente sofreu altos e baixos. Mas, de episódios mornos a episódios progressivamente lentos em que pouco ou nada acontece, Uchuu Kyoudai consegue manter um impressionante equilíbrio na maior parte de seus episódios – falo isso por se tratar de uma história sobre cotidiano, sobre personagens; de personagens vivendo um dia-a-dia mundano em que suas preocupações variam de relacionamento às dificuldades ao se tentar realizar um sonho. Mas é uma história belamente tecida com uma linearidade que conta a história de parte de uma vida de alguém.

Isso me faz questionar internamente do quão poderoso pode ser uma obra seriada de muitos capítulos/episódios ao qual você acompanha durante anos. Por mais que um anime como Mushishi com seus “apenas” 26 episódios consigam criar raízes profundas em seu emocional ou que um Sakamichi no Apollon em 12 episódios desperte calor em seu coração com a amizade cativante entre dois amigos, a relação entre publico e obra é completamente diferente quando se vê envelhecendo junto com esta obra.

E o tempo só faz bem para Uchuu Kyoudai. Se você comprou a premissa e sentiu empatia por seus personagens no inicio, e então continuou acompanhando o anime, percebeu que eles cresceram muito e que uma história simples e de resoluções previsíveis, conseguiu criar suspenses atmosfericamente dramáticos em decorrência de nos importarmos com eles. Isso é algo que foi construído gradativamente. Diversas vezes me vi pensando o quão previsível era determinado tipo de situação, como na fase de eliminação, em que já era possível ter a certeza que o grupo principal de personagens seguiria intocável. E assim foi. O que não impediu que a cada final de episódio, um gancho maldoso corroesse o meu estômago em ansiedade e tensão. Inclusive, uma dos lamentos mais corriqueiros era: oh, não, vai ficar para o próximo episódio de novo. E não era só de minha parte, mas de muitos fãs. 
Ao decorrer da série, vários personagens vão e vem; contam suas histórias; influenciam e são influenciados. Para alguns, por mais que se empenhem, seus sonhos se mostram inalcançáveis por demais; mas isso não é motivo para deixarem de sonhar. O que há de tão incrível no ser humano é essa sua capacidade de superação e de poder cultivar vários sonhos e de tornar possível a existência de vários caminhos a se seguir através de seu esforço, perseverança e esperança. Ao conseguir dar importância a estas participações – ainda que algumas bem pequenas – da ampla variedade de personagens, o autor conseguiu validar suas existências dentro do enredo. Um exemplo que eu gosto, é a de um personagem secundário que era mergulhador e obcecado por uma espécie exótica de peixe. Nos poucos momentos que aparecia, invariavelmente eram momentos em que ele estava enchendo o ouvido do protagonista Nanba Mutta (Hiroaki Hirata), que estava imerso demais em seus próprios problemas para prestar a atenção na história ou no peixe. Mas em determinado momento, procurando a resolução para um impasse com seu melhor amigo Kanji Makabe (Masayuki Katou), Mutta encontra a inspiração que resolveria todos os seus problemas através da história que esse mergulhador ficava falando ao seu ouvido. O desfecho se dá numa cena emocional com os dois amigos resolvendo seu impasse.

Se Uchuu Kyoudai traça uma história motivadora sobre a vida, é natural que os caminhos que se cruzam e as ações tomadas se tornem relevantes num futuro próximo, mesmo que as vezes imperceptível, como a cabeçada que Mutta dá em seu chefe por este ter ofendido seu irmão, o levando não apenas a uma sumária demissão por justa causa, mas também a um currículo manchado que lhe fechou todas as portas. Agora, Mutta, um homem trintão e bom profissional na área de engenharia automotiva, se vê desnorteado sem conseguir encontrar emprego e com um futuro indefinido. Mas se não fosse por este ato impulsivo, ele não teria sido demitido, ficado perdido e por fim, seu irmão Nanba Hibito (Kenn), não teria enviado uma mensagem convidando-o a se inscrever nos testes para astronauta da Nasa. As vezes a vida tem dessas coisas mesmo, onde uma série de infortúnios acabam por nos proporcionar experiências surpreendentes. Diz-se que o Homem só cresce e amadurece como individuo através dos obstáculos e eu creio bastante nisso. É como o intelecto humano: se faz necessário expô-lo continuamente a novas informações para que possa se desenvolver, é através da problemática que se torna apto para lidar com adversidades cada vez maiores. E é exatamente por isso que pessoas que são hiperprotegidas na infância e adolescência em uma concha enfrentam sérias complexidades quando atingem a idade adulta e precisam sair para o mundo.

Claro, seja você uma pessoa experiente ou não, os medos e complexos internos atingem indistintamente. É o que acontece com Mutta, que ao ingressar nos testes preliminares, além de ter de lidar com a avançada idade e com a alta expectativa de todos por ele ser o irmão mais velho do famoso astronauta Hibito – que se tornou lenda ao ser o astronauta mais novo e o primeiro japonês a pisar na lua – precisa lidar com sua latente baixa alto-estima. Mutta cresceu eclipsado pelo irmão mais novo, e complexado seguiu uma carreira sólida, mas distante do sonho de criança de um dia pisar na lua ao lado de seu irmão. Uchuu Kyoudai trata da ascensão de Mutta e seu amadurecimento: é surpreendente comparar o Mutta dos primeiros episódios com o dos últimos, este mais centrado e menos complexado, ainda que sua personalidade atrapalhada e às vezes fazendo as coisas mais inacreditáveis do mundo por não saber o que dizer, seja algo que irá lhe acompanhar por toda vida.
Uchuu Kyoudai trata desse tema universal que são os sonhos e a esperança. Este é o segredo do seu sucesso. Algo que eu acho muito terno em sua narrativa é a insistência em salientar que não importa quando ou a idade que se tenha, você pode sempre recomeçar e nascer de novo. Mutta que redescobriu seu grande sonho depois dos 30. Hibito que viu seu mundo perfeito desmoronar por uma crise de pânico e que por mais que tenha perseverado para dar a volta por cima, às circunstâncias da vida não permitiu uma reconciliação entre ele e seu sonho, no entanto, ele entendeu que poderia recomeçar, em outro lugar, e que este sonho ainda poderia continuar sendo possível, ainda que de uma forma bem diferente de antes. Às vezes não é possível se alcançar algo por um caminho nem da forma que se sonhou, então é necessário que se percorra outras direções para se alcançar esse objetivo. Foi o que ocorreu com Sharon (Masako Ikeda), a madrinha de Mutta e Hibito, que devido a algo que acontece, foi impedida de continuar seu projeto com os próprios punhos, tendo que recorrer à ajuda de demais para vê-lo completo. Dessas histórias, uma das que mais me tocou foi a da pequena Olga Tolstoy (Mariya Ise), que depois do primeiro tombo, abandou sua grande paixão [o balé], só vindo a retomá-lo mais de 1 ano depois. Essa que é uma história que se correlaciona diretamente com a de Hibito, mostra como pode ser difícil se levantar ou mesmo querer continuar seguindo naquela direção depois de um grande tombo. Queremos nos fechar e fugir por medo de nos ferirmos novamente, de voltar a sentir a mesma dor. É um sentimento tão humano e que se faz presente em meio a todos, que é difícil ficar indiferente a ele.

Estudos dizem que somos a geração da insatisfação, de que somos infelizes por sermos obrigados a corresponder à pré-determinadas expectativas que não vão de encontro ao que realmente queremos para nossas vidas. Em muitos casos, uma consequência em achar que tudo vem naturalmente sem a necessidade de esforço – talvez seja verdade alguns, mas não é realidade da maioria. Atualmente, Gin no Saji (Silver Spoon - Escolhas & Expectativas), é um mangá/anime que trata com propriedade o tema sonho versus expectativas que outros possuem para nós. Solanin é um que merece destaque por imergir completamente na mente daqueles que chegam na vida adulta e se deparam diante das incertezas de seguir o sonho idealizado ou manter os pés no chão. Shakespeare dizia, “Nós somos do tecido de que são feitos os sonhos”. Ele quis dizer que a essência do ser humano são os sonhos que se tem, e que sem eles não passamos de cascas vazias. Não apenas sonhar, mas buscar realiza-los, pois no processo e na sua busca é quando crescemos e aprendemos. Através da dor ou da conquista, nós nos conhecemos e conhecemos o mundo e outras pessoas. Pode ser um conceito filosófico, mas ele não soa tão palpável?
Se o Homem não sonhasse, não teria almejado e consequentemente conquistado. Do sonho nasceu a sociedade, as armas, a tecnologia, industrialização, a descoberta do cosmos. Ele queria voar, mas não tinha asas, então inventou o avião. Foi por sonhar que o Homem pisou na lua pela primeira vez e o autor não poderia ter escolhido um objetivo melhor para os irmãos espaciais, pois, a ida do Homem à lua representa o grande sonho da humanidade. Mangás/animes shounens e/ou com temática esportiva estão sempre abrangendo o tema da necessidade de se ter um sonho, como Chihayafuru (veja a critica do Critico Nippon) onde a protagonista vivia dias vazios e despretensiosos até despertar para uma grande paixão que se tornou seu maior objetivo: as cartas do karuta. Ou Kaleido Star, em que a garotinha sai do interior para a cidade grande por pensar grande demais. Enfim, temos bons vários exemplos por ai.

O que te move a levantar da cama todos os dias, a continuar tentando? O que preenche o espaço vazio no seu peito? A resposta é a diferença entre estar vivendo ou apenas sobrevivendo. Os sonhos trazem a esperança, que por sua vez proporciona a perseverança. É o que sustenta o sentido da vida. Talvez soe piegas, mas eu gosto dessa reflexão e desse sentimento que Uchuu Kyoudai promove. Sabemos que as coisas podem não ser tão fáceis quanto a obra faz parecer às vezes, mas é justamente esse folego e pensamento positivo da narrativa que faz o coração se aquecer no peito. Uchuu Kyoudai em torno desses 2 anos me motivou a fazer várias coisas, a cada episódio que conseguia arrancar lágrimas e ao mesmo um sorriso no meu rosto, de certa forma eu ganhava um estimulo. O @estranhow comentou no Mangatologia que é por isso que as pessoas compraram a ideia, porque é algo que traz um afago para o espirito ver algo que todos têm medo de arriscar, sendo feito pelos personagens. E eu concordo. A série trabalha conflitos típicos da idade adulta, mas sem o olhar cínico que muitas obras que abrangem essa faixa etária, fazem. É uma visão mais esperançosa, e isso é bom, também é importante acreditar em coisas boas!

Trivia:

Com o mangá ainda em andamento, o anime termina em aberto, mas a staff diz ser apenas um hiato. Esperemos que retorne daqui algum tempo, e que dessa vez o mangá já tenha sido finalizado, para acompanharmos o final da trajetória dos irmãos espaciais! 

Nota: 08/10
Direção:  Ayumu Watanabe
Estúdio: A-1 Pictures
Tipo: Tv
Episódios: 99
Perfis: ANN, MAL

Temas Relacionados




Curta o Elfen Lied Brasil no Facebook e nos Siga no Twitter