Há algumas formulas que estão predestinadas ao insucesso,
como um Panty & Stocking with
Garterbelt ou Yondemasuyo,
Azazel-san. Mas o estúdio SHAFT por meio do seu talentoso diretor, Akiyuki
Shinbo, parece conhecer bem a receita de se produzir séries com um estilo de
humor singular, com personagens arquétipos, que ora caem no clichê comum
inerente a esse tipo de tipo de recurso, ora conseguem transpor e se tornarem
avatares de estudo e crítica – como um Sayonara,
Zetsubou-Sensei . Conseguir sucesso e simpatia da audiência se utilizando
de arquétipos de "lado negro", às vezes pode ser bem complicado, mas
que sendo bem sucedido, trás bons frutos para a obra. Personagens
estereotipados, ou seja, caricatos, metafóricos, com complexidades, baseados em
clichês, parece ser o grande desafio de um autor, para conseguir deixa-lo com
fácil identificação com o espectador. Sendo assim, Bakemonogatari é o exemplo
perfeito do bom uso de figuras arquetípicas.
Em um roteiro que parece ser sem pé, nem cabeça, sendo
essencialmente uma performance verbal com apoio visual, Bakemonogatari é um jogo de palavras, e dessa forma
ele é jogada na tela. É uma junção das palavras "bakemono" que
significa criaturas sobrenaturais e "monogatari" que significa
histórias. O autointitulado, ex-vampiro, Koyomi Araragi, é um sobrevivente de
um ataque vampiresco e deste então, ele se tornou sensitivo em reconhecer
problemas sobrenaturais e acaba se vendo a volta com diversos casos de
anomalias. A estrutura do anime se divide em arcos de pequenas histórias (Hitagi Crab, Mayoi Snail, Suruga Monkey,
Nadeko Snake e Tsubasa Cat), que se interligam de forma linear e sempre com
foco em uma garota diferente, onde nosso sarcástico protagonista deve enfrentar
entidades sobrenaturais para que elas retornarem à normalidade.
Nisio Isin é um excelente escritor de Light Novels e sua
principal característica, é o fato de suas histórias se sustentarem bastante
nos diálogos entre os personagens. Como podemos ver em Bakemonogatari, raramente
tem mais de 2 personagens no mesmo cenário, e o uso de trocadilhos com os
kanjis, em um jogo intenso de fonética e palavras. Como se faz notar, Bakemonogatari
caiu como uma luva para o estúdio SHAFT e seu principal diretor, Akiyuki Shinbo,
que adoram um nonsense, com um protagonista narrador e suas personagens
repletas de carisma e moe. Durante todo o anime, fiquei procurando sentindo em
tudo aquilo (que você só encontra
realmente, se procurar ler os livros da série Monogatari, que envolvem uma
trama muito maior, sendo que Bakemonogatari possui 2 volumes e a série no
total, chega a 10, onde Nisio Isin leva o leitor a um simbólico parque de
diversões, o fazendo experimentar diversas sensações), começos de arcos por
vezes, soavam maçantes, longas sequências de quadros praticamente estáticos,
com os personagens no centro, em uma conversa que parecia levar a lugar algum.
Os quadros com kanjis que apareciam a cada início de novo arco e desapareciam
novamente quase que na velocidade da luz, quase que imploravam para não serem
lidos (Shinbo em toda sua
excentricidade, pois, o que funciona nos livros, nem sempre tem o mesmo efeito
pratico na tela, ainda que pareça cool). A verdade é que, a certa altura,
lê-los ou não, não faz a menor diferença para o entendimento final.
O que chama mais atenção em Bakemonogatari? As colagens de
quadros em Stop-motion, o uso de cenas de live action? Certamente são os monólogos
silenciosos com quadros repletos de kanjis que passam uma sensação de
sinestesia. Mas o quanto disto, realmente é válido? Não seria apenas uma
camuflagem, com forte apelo estético, mas que no fundo é um grande vazio? O que
separa um Bakemonogatari de um Denpa
Onna (também anime da SHAFT)? São questões pertinentes para um produto, que
no fim das contas, é superestimado. Mas me disseram que Bakemonogatari é uma desconstrução
do gênero harém. Oba! Vale a pena lançar um novo olhar sobre essa obra, quase
abstrata.
Senjougahara Hitagi. Infame. Fria. Pervertida. Carismatica.
Hitagi representa o modelo de personagem de Nisio Isin, que quem só assistiu
este anime e Katanagatari, talvez desconheça. Ela também é uma antítese. Senjougahara
Hitagi é a garota que tem o peso de um papel e que em um belo dia, é flagrada
caindo do céu por “Ararararagi-kun”, que corre em seu socorro e entra em grandes
apuros com a mesma, mas que acalmados os ânimos, acaba descobrindo que seu peso
tinha sido roubado por um caranguejo (!!!).
Senjogahara Hitagi possui uma personalidade que virtualmente é igual à típica personagem
Tsundere. O quão bom é quando vemos toda essa imagem destruída por uma bola
curva? Chega a ser quase uma metalinguagem, a forma irônica ao qual ela se
intitula de "Tsundere-chan", para nosso protagonista de nome que soa
quase que um trocadilho, Araragi. Como eu disse, ela é uma antítese e pra
compreender tudo isso, você já tem que ter passado pelo menos da segunda série
da escola de otaquismo. Afinal, ela é uma personagem desprovida de tudo aquilo
que se entende como tsundere, mas ainda assim é virtualmente apresentada como
tal. Bakemonogatari é uma grande sátira, e trabalha isso de forma sútil,
afinal, vocês percebem a incoerência de Meme Oshino, um monje budista que atua
como exorcista, cobra e ainda mora em um local altamente suspeito? Podemos discorrer
sobre Suruga Kanbaru, a lésbica fujoshi, lolicon e masoquista, que tem uma tara
incontrolável por Senjogahara Hitagi ou a loli~zinha Mayoi Hachikuji, que
protagoniza momentos divertidíssimos com “Ararararagi-kun”, que acaba cruzando
a perigosa e tênue linha em alguns momentos. Mas você vai mesmo levar a sério,
entre outras coisas, o fato dele ter apalpado o peitinho dela? O tom dado à
narrativa foi simplesmente sensacional e méritos para a SHAFT que soubre
transpor com maestria.
A despeito de todo o pretenciosismo empregado a obra, a
narrativa do anime no geral, é ótima. Nem sempre os arcos começam bem, e o fato
de estrutura se sustentar nos diálogos, se estes soam desinteressantes, tudo em
volta parece extremamente maçante. Porém, o desenvolvimento é sempre de altíssimo
nível, com desfechos sempre inesperados. Até mesmo o que poderia soar como um
fanservice barato passa como algo de alto nível. Como no episódio em que Araragi
vai na casa de Hitome, que acabara de tomar banho e começa a se trocar na
frente dele. O movimento de câmera foi incrível, com um enquadramento, iluminação
e sombras, perfeitos.
A união entre SHAFT e Nisio Isin, deu um segundo fruto que
estreia daqui a alguns dias, Nisemonogatari,
a terceira parte da série Monogatari,
sendo que a segunda parte, Kizumonogatari,
onde é contada sobre o passado de Araragi, só estreia no decorrer do ano – E também
uma produção em parceria entre Aniplex e SHAFT. Ficaria faltando ai Nekomonogatari Kuro, para completar a
quadrilogia da primeira fase da série Monogatari. Todas sempre com Araragi como
narrador, ainda que nem sempre seja o foco, em teoria. Ainda ficam restando
mais 7 livros, que mostram uma certa ambiguidade de Nisio Isin, que ora, faz
obras bem lúdicas e com desfecho feliz, mas também tem um outro lado mais
obscuro, que não deixa nada a dever para um Gen Urobuchi. Em Bakemonogatari,
basicamente é Ararari as voltas com lindas garotas, formando um harém. Se
desenvolvendo como personagem e se estabilizando com Hitagi, em um
relacionamento que, sim, também é uma sátira ao gênero, onde os dois forma uma antítese
perfeita. No fim das contas, são pequenos casos sobrenaturais, que servem para
interagir aqueles personagens, com Araragi ajudando-as e salvando, que é o que
se espera de todo protagonista de harém. Certamente, faz sentido que o mais
aguardado seja Kizumonogatari, que de todas suas adaptações até aqui, é a que
estabelece uma ligação mais íntima com um lado mais agressivo e obscuro de Nisio
Isin, que se mostra também um adorador de tragédias em um prazer sádico, de
fazer o público sofrer. Como a mensagem, vem tão desfragmentada, será que há
folego para se adaptar tudo? Certamente sim. Se será ou não, é um outro caso.
Mais analisando a adaptação de Bakemonogatari de forma isolada, ela acaba,
forçosamente, por ter de se ancorar em tudo o que foi feito anteriormente, para
poder progredir. E não é assim que funciona? Mas não é algo que me comprou da
mesma forma que todos aqueles que cultuam a série. Há sim, aspectos interessantíssimos,
mas ficou a sensação em mim que também se perdeu, dentre os devaneios
semióticos, simbólicos, envoltos no pretenciosismo de Shinbo. Ficaria bem
melhor com 11 episódios e se apoiando menos em slides.
Ano:2009
Diretor:Akiyuki
Shinbo
Estúdio:Shaft
Tipo: Série de tv
Episódios:15
Gênero:Romance / Ação / Slice of Life / Sobrenatural