domingo, 11 de setembro de 2011

Analisando e abrindo os portões da STEINS;GATE


Queridinho do público e constantemente criticado por uma pequena parcela do fandom hardcore, Steins;Gate para muitos já é o melhor anime do ano, desbancando inclusive, figurões como Madoka Mágica e Ano Hana. Steins não é o tipo de anime em que “você ama ou odeia”, mas é o tipo de série supervalorizada, olhando sobre certo ponto de vista. Mas isso é ruim? Sim e não. Primeiro porque coloca a série num patamar altíssimo, que consequentemente não virá a satisfazer a todos que começarem a assistir pelo hype, como bem mencionado nesse tweet aqui. Segundo, é um hype que a série fez por merecer e nada mais justo que ela colha os bons frutos de uma ótima adaptação, fato que vem revertendo nas boas vendas de Blu-Ray/DVD.


Imagens da versão original - Os principais personagens

Como ficção cientifica, Steins;Gate é um belo morango em cima do bolo. Se ele “falha” de um lado, do outro, ele dá exatamente o que o público quer: bom entretenimento. Teoria da relatividade? Distorções no espaço-tempo? Universos paralelos? Linhas do mundo? Tudo isso é bem vindo e dá um charme todo especial ao anime, mas desde que mantenha certa distância. A prova de que teorias sci-fi e papos super cabeças não dessem goela abaixo do grande público, é o fato de principalmente os 10 primeiros episódios do anime não terem uma porcentagem tão exacerbada de aprovação, apesar de ter se mantido sempre bem comentada. O fato é que o termo, ficção cientifica, acaba assustando muita gente. Vamos lá, levante a mão ai, os que assistem e gostam de The Big Bang Theory.

O espaço-tempo representado pelo buraco negro

Mas Steins Gate é um sci-fi bem light, bem do jeito que o povo gosta como séries do tipo O Exterminador do Futuro (não é atoa que o mais conhecido e aclamado é o segundo filme da franquia), que usa bem esse elemento como plano de fundo pra uma história de ação desenfreada. Brincar de ficção cientifica é muito legal, desde que não seja muito complexo, certo? Com isso, Steins;Gate, depois do grande PLOT TWIST, ou em bom português, logo após sua sensacional reviravolta no enredo, já em sua segunda metade, alcançou definitivamente o clamor popular. E nesse aspecto, ele se sai muito bem. Acaba sendo uma grande aventura de suspense e sci-fi, que usa de forma fantástica como pano de fundo, teorias e conspirações reais.

Experiências bizarras envolvendo bananas

Steins;Gate é uma adaptação homônima de uma visual novel direcionada ao público +15, em uma parceria feliz entre as empresas 5pb. e Nitroplus, que possuem um projeto conjunto, iniciado em Chaos;Head e que logo deverá se tornar uma trilogia, com o lançamento de Robotics;Notes. O que ambos tem em comum? Aventuras utilizando como plano de fundo o universo sci-fi pelo ponto de vista otaku. Essa é a verdade e assim sendo, o anime de Steins;Gate se mantém fiel ao original, não abusando de fanservice bobos (calcinhas, poses ginecológicas, protagonista sem personalidade, todas querendo e ele fugindo/ou comendo, etc), mas como não poderia deixar de ser em uma obra direcionada especialmente para esse publico consumidor, o que há de referências e fetiches, não está escrito nas estrelas! Maid cafés, cosplay, trap (It's a trap), mikos (as famosas sacerdotisas), nekomimi, AQUEELA personagem ingênua e uma tsundere. Mas da mesma forma que a Kurisu está longe de ser a tsundere que todos estão acostumados a ver, todo o moe da série se faz presente em versão conta gotas, já tendo visto de reclamações de que é bem fraco. De fato, mesmo em sua versão original, todas essas otakices nunca tomou o foco da narrativa – mas todos nós gostamos de ver a Kurisu ruborizada e a Mayuri com seu tutturu.

Imagem da versão original - O máximo do fanservice, ecchi que acaba não se repetindo novamente
Versão anime é mais comportada. Chorem.

Ficção cientifica, mais basicamente tramas que abordam viagens no tempo, é assunto sério. Sem uma edição bem feita, sem emoção, não é garantia de bom entretenimento. Uma produção que não se esmere no capricho e consequentemente venha a cometer deslizes, acaba não sendo bem vista pelo espectador, que julgará a série mesmo ela tendo algo a oferecer. Este é o caso de Steins;Gate, que encontrou alguns problemas em seu ritmo e abordagem, mas que conseguiu se sobressair com uma direção que soube encontrar as medidas certas para cativar o publico de massa. Com a história entrando definitivamente em sua rota central, mais pessoas se sentiram atraídas pelo anime e se você não faz parte desse grupo, sempre é tempo de rever certas decisões. Certamente é diversão garantida, se você se permitir a isso.


O tema usado não é novo e sempre surge alguma história nova sobre viagens no tempo. É como histórias com zumbis e vampiros, sempre acaba atraindo a atenção do público, se esta tiver uma abordagem popular. É aquela coisa, quem nunca quis entrar numa máquina do tempo, poder voltar ao passado e corrigir vários erros cometidos?

"Eu sou o mad cientist Hououin Kyouma" 

A história de Steins;Gate se passa em Tóquio, mais precisamente em Akihabara, que você deve saber muito bem, que se trata praticamente de um parque de diversões para otakus. Akihabara tem um peso enorme no contexto da história e na primeira metade do anime, toda a trama se desenvolve quase que completamente dentro de um laboratório apertado, que é a base “secreta” dos d’Os gadgets do futuro. Um grupo de amigos nada convencionais, liderados pela mente louca e insana daquele se que autodenomina como cientista louco, Okabe Rintarou, o nosso Houoin Kyouma. Ainda há Mayuri Shiina, a parcela moe e ingênua do anime, o tipo de personagem que pouca acrescenta, mas que acaba sendo a base do  protagonista. Hashida Itaru, o nerd otaku do grupo, estereotipado até a alma e responsável juntamente com Mayuri, pelo alivio cômico. Mais a frente, ainda se junta ao grupo, Makise Kurisu, uma brilhante especialista em ciência neural e aquela responsável indiretamente por acender o pavio de pólvora da história.

Momento de aflição no anime

Steins;Gate tem um time de personagens fechado, estes são os principais e com mais tempo de tela. Os  Gadgets do Futuro é um "laboratório" de desenvolvimento de dispositivos futurísticos, que apesar da pampa no nome, não dão uma dentro e não conseguem inventar nada de relevante. Mas em uma “cagada” muito grande, eles descobrem que personalizando o micro-ondas, conseguem transforma-lo num dispositivo que transmite mensagens para o passado. Toda a primeira parte se resume basicamente a isso, com eles realizando diversos testes e experiências que acabam envolvendo cada vez mais pessoas. Como uma organização chamada SERN que tem pesquisado sobre as viagens no tempo, que ronda o grupo de amigos, alastrando a situação de suspense durante toda a primeira parte. O começo é bem introdutório e um pouco complexo. O ritmo é extremamente cadenciado até que a história comece a despontar, fica se a impressão de que tudo aquilo leva a lugar nenhum e que mais nada de interessante vai ocorrer no desenvolvimento.

Caos e mortes, presentes na trama

Dependendo do ponto de vista, este pode ser um ponto falho, mas particularmente, curti bastante o clima de tensão no ar e todas as teorias discutidas entre Okabe e Kurisu, fora os bons momentos de humor com Mayuri e Hashida. A meu ver, foram excelentes momentos, onde o clima de paranoia pairava no ar, onde o desconhecido era o principal mistério do enredo. Mas entendo que do ponto de vista comercial, um pouco mais de movimentação e tensão, poderia ter feito mais a cabeça de quem não é acostumado com tramas arrastadas e com pouco desenvolvimento.

Steins;Gate se sustenta em um grande mistério e sua surpreendente descoberta

Mas não demora muito e Steins;Gate esbanja todo seu potencial, deixando seu espectador surtado com reviravoltas espetaculares ou quebrando a cabeça pra conseguir entender a logica narrativa da história, que usa de complexidade, para ocultar respostas simples. Mas oras, não é ai que está toda a jogada de mestre de uma grande história? No fim, todas elas ou são extremamente simples e apenas você não conseguiu decifra-la/criar teorias a altura, ou elas tem uma dimensão metafisica de difícil digestão. Confesse que você se sente frustrado por não conseguir deduzir o desfecho dessa história ou por ela a cada virada, conseguir bater todos os seus azes. Mas há as situações bem clichês e obvias, mas a emoção continua a mesma. E não preciso esperar nem pelo último episódio pra dizer que a trama de Steins;Gate é genial.

A misteriosa Moeka

Obviamente, a direção de Hiroshi Hamasaki e Takuya Sato patina bestamente na adaptação de alguns fatos e a forma como isso é transmitido ao espectador mais atento, o que dá margem a algumas críticas mais do que válidas. Como erro de continuísmo, informações que ou são jogadas na tela ou simplesmente passam quase que despercebidamente. Fico imaginando a pessoa que não leu spoilers, tendo que voltar várias vezes ao ponto anterior ou ter que pesquisar no google, porque no episódio tal informação não é suficientemente clara. Mas são bobagenzinhas, acredite e que de nada compromete o resultado final. Como por exemplo, a ausência do lado mais obscuro e perturbador da trama original. Mas só quem tem acesso a spoilers sabe disso, quem passa longe do que se trata o original, se mostra feliz com o resultado, logo é só uma reação à percepção.


O que funciona muito bem no anime são os personagens, especialmente Okabe, Kurisu e Hashida, que possuem uma sintonia perfeita. As intervenções nerds ou até mesmo perguntas repletas de duplo sentidos de Hashida são mais do que bem vindas, não se poderia esperar menos de alguém com um grau de otakice tão grande. Melhor ainda, a interação entre Okabe e Kurisu, os dois são nitroglicerina pura e suas discussões variam da mais alta nerdicesse, até o ato mais infantil. Não posso deixar de citar também, Moeka e Suzuha, duas personagens secundarias, mas que são executadas de forma brilhante. Mesmo com algumas embromações e pequenos contratempos que comprometem a dinâmica de um ou outro episódio, o roteiro é bem adaptado de um modo geral. Talvez uma direção mais experiente, pudesse ter contornado facilmente esses pequenos deslizes, que apesarem de bobos, faz com que, tecnicamente, Steins;Gate seja incapaz de competir com a excelente direção e execução de Madoka Mágica. Sério, por mais divertido, impactante e emocionante que o anime seja e que pra você, são motivos suficientes pra celebra-lo como melhor do ano, não dá pra comparar com a excelente execução que Madoka teve, isso partindo do pressuposto que ambas as séries possuem excelentes ideias. Aliás, em questão de ideia, Steins;Gate é sim superior a Madoka, que não seria o que é, sem a excelente execução que teve.



O estúdio White Fox não cometeu os mesmos erros que a Madhouse com a série antecessora, Chaos;Head, pelo menos, não no que diz respeito a parte técnica, dando ao anime o numero de episódios que precisaria para desenvolver bem suas excelentes ideias, mantendo no anime os seiyuus que deram vozes aos personagens na Visual Novel e mantendo a OST. O investimento poderia ser maior, mas a coberta deu pra cobrir a cabeça, sem descobrir os pés. Uma pena é o fato deles não terem a mesma capacidade de um estúdio como o Shaft, por exemplo, capaz de fazer muito, com bem pouco.

Kurisu em uma palestra

Steins;Gate utiliza de forma bem inteligente bastante informações para compor uma teoria de conspiração incrível. As diversas teorias envolvendo a CERN real, que na série é SERN, o jurássico IBM-5100, que passa a ser IBN-5100, são várias parodias relacionadas a empresas e produtos existentes, com o 2Chan, que no anime é @Channel, com diversas piadinhas incompreensíveis para quem não está interligado a esse universo. Mas tudo gira em torno mesmo, é da figura lendária de Jonh Titor e suas teorias envolvendo desde conceitos de viagens no tempo, á previsões futurísticas e semi-apocalípticas.


A consistência de todas as abordagens ao longo da história é fascinante, com cada personagens, subtramas, interagindo e se entrelaçando uns aos outros, dando a cada reviravolta e mudança súbita, a sensação de uma montanha russa emocional. O resultado pode ser visto recentemente com toda a história chegando ao seu desfecho final, prendendo a atenção de todas que acompanham a tensão final e ainda chamando a atenção de quem ainda não acompanhava. Os criadores originais amarraram de forma GENIAL (sim, isso precisa ser escrito em caixa alta, pra que fique ainda mais em ênfase a genialidade como tudo foi tecido) toda história, não sobrando sequer nenhuma ponta solta. E em uma história com viagens no tempo e teorias de Albert Einstein inseridas no roteiro, não é sempre que vemos tudo ser amarrado perfeitamente, sempre sobram paradoxos ou loops infinitos que são um verdadeiro mindfuk, mas em Steins;Gate isso tudo é pensado. Claro, indo pouco mais a fundo na discussão nerd, pode se questionar os métodos usados. Em qualquer obra de ficção científica, o que sobra são questionamentos e é ai que está o maior barato, pois ela também te induz a pensar e questionar.

Montagem partindo da versão original

É interessante ver que, muitos que não sentiram nada por Madoka Mágica, ou que não se renderam para a trama novelesca de Ano Hana e muito menos querem saber de anime sobre jogos ou parodiando super heróis, conseguiram encontrar uma opção em Steins;Gate. Um mérito do anime, que conseguiu cativar esse publico, por isso, perfeitamente compressível e natural que muitos o coloquem como o melhor anime do ano. Particularmente, ainda fico com Madoka Mágica, que conseguiu manter uma regularidade maior (vai saber como se sairia em 24 episódios), mas a forma como o anime mexeu comigo, vai lhe garantir ao menos entre os meus cinco melhores do ano.

Suzuha e Nae

Steins;Gate poderia ter o melhor personagem do ano, Okabe Rintarou, se tivesse um pouco mais de ousadia, mas sem dúvidas possui a personagem feminina capaz de brigar pelo pódio, Kurisu. A dublagem, como de praxe no Japão, está muito boa, mas nesse caso especifico, todo o elenco brilhou e conseguiu elevar o patamar além do simplesmente bom. Destaque para Mamoru Miyano e Asami Imai, respectivamente, Okabe e Kurisu, eles conseguem habilmente transmitir emoção e sinceridade durante todo o percurso.

Imagem da versão original - Pedalar é saudável

Se você estiver procurando mais do que apenas uma boa história, Steins;Gate é uma excelente opção. Tem uma temática mais séria e sóbria, ideal para o publico mais maduro, mesmo sendo um harém e com tantas otakices, propõe ideias realmente interessantes. Peca um pouco aqui e ali no que diz respeito a sua execução, o que é realmente uma pena, pois acaba comprometendo a nota final, a não ser que você se esqueça disso completamente. Essa foi eu, racional falando, a eu fangirl tá discordando aqui e dizendo que Steins;Gate merece um 10 com louvor! Enfim, são personagens que vão demorar um pouco pra esquecer, a história não é um romance, mas é romanceada, se é que me entendem. E isso é muito bom, para todos os públicos e gostos. Tem como fio condutor, um mistério mirabolante e muito bem bolado. Novamente eu digo: GENIAL o desenvolvimento disso. Conspiração, paranoia, dramas, teorias. Com certeza os prós são muito mais convidativos que os contras. 

**Este post foi um oferecimento: Dr. Pepper - Quem assistiu, vai entender**