Queridinho do público e constantemente criticado por uma
pequena parcela do fandom hardcore, Steins;Gate para muitos já é o melhor anime
do ano, desbancando inclusive, figurões como Madoka Mágica e Ano Hana. Steins
não é o tipo de anime em que “você ama ou odeia”, mas é o tipo de série
supervalorizada, olhando sobre certo ponto de vista. Mas isso é ruim? Sim e não. Primeiro porque coloca a série num
patamar altíssimo, que consequentemente não virá a satisfazer a todos que
começarem a assistir pelo hype, como bem mencionado nesse tweet aqui. Segundo,
é um hype que a série fez por merecer e nada mais justo que ela colha os bons
frutos de uma ótima adaptação, fato que vem revertendo nas boas vendas de
Blu-Ray/DVD.
Como ficção cientifica, Steins;Gate é um belo morango em cima do bolo. Se ele
“falha” de um lado, do outro, ele dá exatamente o que o público quer: bom
entretenimento. Teoria da relatividade? Distorções no espaço-tempo? Universos
paralelos? Linhas do mundo? Tudo isso é bem vindo e dá um charme todo especial
ao anime, mas desde que mantenha certa distância. A prova de que teorias sci-fi
e papos super cabeças não dessem goela abaixo do grande público, é o fato de
principalmente os 10 primeiros episódios do anime não terem uma porcentagem tão
exacerbada de aprovação, apesar de ter se mantido sempre bem comentada. O fato
é que o termo, ficção cientifica, acaba assustando muita gente. Vamos lá,
levante a mão ai, os que assistem e gostam de The Big Bang Theory.
Mas Steins Gate é um sci-fi bem light, bem do jeito que o
povo gosta como séries do tipo O Exterminador do Futuro (não é atoa que o mais
conhecido e aclamado é o segundo filme da franquia), que usa bem esse elemento como plano de fundo pra uma história de ação desenfreada. Brincar de
ficção cientifica é muito legal, desde que não seja muito complexo, certo? Com
isso, Steins;Gate, depois do grande PLOT TWIST, ou em bom português, logo após
sua sensacional reviravolta no enredo, já em sua segunda metade, alcançou
definitivamente o clamor popular. E nesse aspecto, ele se sai muito bem. Acaba
sendo uma grande aventura de suspense e sci-fi, que usa de forma
fantástica como pano de fundo, teorias e conspirações reais.
Steins;Gate é uma adaptação homônima de uma visual novel
direcionada ao público +15, em uma parceria feliz entre as empresas 5pb. e
Nitroplus, que possuem um projeto conjunto, iniciado em Chaos;Head e que logo
deverá se tornar uma trilogia, com o lançamento de Robotics;Notes. O que ambos
tem em comum? Aventuras utilizando como plano de fundo o universo sci-fi pelo ponto de vista otaku. Essa é a verdade e
assim sendo, o anime de Steins;Gate se mantém fiel ao original, não abusando de
fanservice bobos (calcinhas, poses ginecológicas, protagonista sem
personalidade, todas querendo e ele fugindo/ou comendo, etc), mas como não
poderia deixar de ser em uma obra direcionada especialmente para esse publico
consumidor, o que há de referências e fetiches, não está escrito nas estrelas! Maid
cafés, cosplay, trap (It's a trap), mikos (as famosas sacerdotisas), nekomimi, AQUEELA
personagem ingênua e uma tsundere. Mas da mesma forma que a Kurisu está longe
de ser a tsundere que todos estão acostumados a ver, todo o moe da série se faz
presente em versão conta gotas, já tendo visto de reclamações de que é bem
fraco. De fato, mesmo em sua versão original, todas essas otakices nunca tomou
o foco da narrativa – mas todos nós gostamos de ver a Kurisu ruborizada e a
Mayuri com seu tutturu.
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Imagem da versão original - O máximo do fanservice, ecchi que acaba não se repetindo novamente |
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Versão anime é mais comportada. Chorem. |
Ficção cientifica, mais basicamente tramas que abordam
viagens no tempo, é assunto sério. Sem uma edição bem feita, sem emoção, não é
garantia de bom entretenimento. Uma produção que não se esmere no capricho e
consequentemente venha a cometer deslizes, acaba não sendo bem vista pelo
espectador, que julgará a série mesmo ela tendo algo a oferecer. Este é o caso
de Steins;Gate, que encontrou alguns problemas em seu ritmo e abordagem, mas
que conseguiu se sobressair com uma direção que soube encontrar as medidas
certas para cativar o publico de massa. Com a história entrando definitivamente
em sua rota central, mais pessoas se sentiram atraídas pelo anime e se você não
faz parte desse grupo, sempre é tempo de rever certas decisões. Certamente é
diversão garantida, se você se permitir a isso.
O tema usado não é novo e sempre surge alguma história nova
sobre viagens no tempo. É como histórias com zumbis e vampiros, sempre acaba
atraindo a atenção do público, se esta tiver uma abordagem popular. É aquela
coisa, quem nunca quis entrar numa máquina do tempo, poder voltar ao passado e
corrigir vários erros cometidos?
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"Eu sou o mad cientist Hououin Kyouma" |
A história de Steins;Gate se passa em Tóquio, mais precisamente em Akihabara, que você deve saber muito bem, que se trata praticamente de um parque de diversões para otakus. Akihabara tem um peso enorme no contexto da história e na primeira metade do anime, toda a trama se desenvolve quase que completamente dentro de um laboratório apertado, que é a base “secreta” dos d’Os gadgets do futuro. Um grupo de amigos nada convencionais, liderados pela mente louca e insana daquele se que autodenomina como cientista louco, Okabe Rintarou, o nosso Houoin Kyouma. Ainda há Mayuri Shiina, a parcela moe e ingênua do anime, o tipo de personagem que pouca acrescenta, mas que acaba sendo a base do protagonista. Hashida Itaru, o nerd otaku do grupo, estereotipado até a alma e responsável juntamente com Mayuri, pelo alivio cômico. Mais a frente, ainda se junta ao grupo, Makise Kurisu, uma brilhante especialista em ciência neural e aquela responsável indiretamente por acender o pavio de pólvora da história.
Steins;Gate tem um time de personagens fechado, estes
são os principais e com mais tempo de tela. Os
Gadgets do Futuro é um "laboratório" de desenvolvimento de
dispositivos futurísticos, que apesar da pampa no nome, não dão uma dentro e
não conseguem inventar nada de relevante. Mas em uma “cagada” muito grande,
eles descobrem que personalizando o micro-ondas, conseguem transforma-lo num
dispositivo que transmite mensagens para o passado. Toda a primeira parte se
resume basicamente a isso, com eles realizando diversos testes e experiências
que acabam envolvendo cada vez mais pessoas. Como uma organização chamada SERN
que tem pesquisado sobre as viagens no tempo, que ronda o grupo de amigos,
alastrando a situação de suspense durante toda a primeira parte. O começo é bem
introdutório e um pouco complexo. O ritmo é extremamente cadenciado até que a
história comece a despontar, fica se a impressão de que tudo aquilo leva a
lugar nenhum e que mais nada de interessante vai ocorrer no desenvolvimento.
Dependendo do ponto de vista, este pode ser um ponto falho,
mas particularmente, curti bastante o clima de tensão no ar e todas as teorias
discutidas entre Okabe e Kurisu, fora os bons momentos de humor com Mayuri e
Hashida. A meu ver, foram excelentes momentos, onde o clima de paranoia pairava
no ar, onde o desconhecido era o principal mistério do enredo. Mas entendo que
do ponto de vista comercial, um pouco mais de movimentação e tensão, poderia
ter feito mais a cabeça de quem não é acostumado com tramas arrastadas e com
pouco desenvolvimento.
Mas não demora muito e Steins;Gate esbanja todo seu
potencial, deixando seu espectador surtado com reviravoltas espetaculares ou
quebrando a cabeça pra conseguir entender a logica narrativa da história, que
usa de complexidade, para ocultar respostas simples. Mas oras, não é ai que
está toda a jogada de mestre de uma grande história? No fim, todas elas ou são
extremamente simples e apenas você não conseguiu decifra-la/criar teorias a
altura, ou elas tem uma dimensão metafisica de difícil digestão. Confesse que
você se sente frustrado por não conseguir deduzir o desfecho dessa história ou
por ela a cada virada, conseguir bater todos os seus azes. Mas há as situações bem clichês e obvias, mas a emoção continua a mesma. E não
preciso esperar nem pelo último episódio pra dizer que a trama de Steins;Gate é
genial.
Obviamente, a direção de Hiroshi Hamasaki e Takuya Sato
patina bestamente na adaptação de alguns fatos e a forma como isso é
transmitido ao espectador mais atento, o que dá margem a algumas críticas mais
do que válidas. Como erro de continuísmo, informações que ou são jogadas na tela
ou simplesmente passam quase que despercebidamente. Fico imaginando a pessoa
que não leu spoilers, tendo que voltar várias vezes ao ponto anterior ou ter
que pesquisar no google, porque no episódio tal informação não é
suficientemente clara. Mas são bobagenzinhas, acredite e que de nada compromete
o resultado final. Como por exemplo, a ausência do lado mais obscuro e
perturbador da trama original. Mas só quem tem acesso a spoilers sabe disso,
quem passa longe do que se trata o original, se mostra feliz com o resultado,
logo é só uma reação à percepção.
O que funciona muito bem no anime são os personagens,
especialmente Okabe, Kurisu e Hashida, que possuem uma sintonia perfeita. As
intervenções nerds ou até mesmo perguntas repletas de duplo sentidos de Hashida
são mais do que bem vindas, não se poderia esperar menos de alguém com um grau
de otakice tão grande. Melhor ainda, a interação entre Okabe e Kurisu, os dois
são nitroglicerina pura e suas discussões variam da mais alta nerdicesse, até o
ato mais infantil. Não posso deixar de citar também, Moeka e Suzuha, duas personagens
secundarias, mas que são executadas de forma brilhante. Mesmo com algumas
embromações e pequenos contratempos que comprometem a dinâmica de um ou outro
episódio, o roteiro é bem adaptado de um modo geral. Talvez uma direção mais
experiente, pudesse ter contornado facilmente esses pequenos deslizes, que
apesarem de bobos, faz com que, tecnicamente, Steins;Gate seja incapaz de
competir com a excelente direção e execução de Madoka Mágica. Sério, por mais divertido,
impactante e emocionante que o anime seja e que pra você, são motivos
suficientes pra celebra-lo como melhor do ano, não dá pra comparar com a
excelente execução que Madoka teve, isso partindo do pressuposto que ambas as
séries possuem excelentes ideias. Aliás, em questão de ideia, Steins;Gate é sim
superior a Madoka, que não seria o que é, sem a excelente execução que teve.
O estúdio White Fox não cometeu os mesmos erros que a
Madhouse com a série antecessora, Chaos;Head, pelo menos, não no que diz
respeito a parte técnica, dando ao anime o numero de episódios que precisaria
para desenvolver bem suas excelentes ideias, mantendo no anime os seiyuus que
deram vozes aos personagens na Visual Novel e mantendo a OST. O investimento
poderia ser maior, mas a coberta deu pra cobrir a cabeça, sem descobrir os pés.
Uma pena é o fato deles não terem a mesma capacidade de um estúdio como o
Shaft, por exemplo, capaz de fazer muito, com bem pouco.
Steins;Gate utiliza de forma bem inteligente bastante
informações para compor uma teoria de conspiração incrível. As diversas teorias
envolvendo a CERN real, que na série é SERN, o jurássico IBM-5100, que passa a
ser IBN-5100, são várias parodias relacionadas a empresas e produtos
existentes, com o 2Chan, que no anime é @Channel, com diversas piadinhas incompreensíveis
para quem não está interligado a esse universo. Mas tudo gira em torno mesmo, é
da figura lendária de Jonh Titor e suas teorias envolvendo desde conceitos de
viagens no tempo, á previsões futurísticas e semi-apocalípticas.
A consistência de todas as abordagens ao longo da história é
fascinante, com cada personagens, subtramas, interagindo e se entrelaçando uns
aos outros, dando a cada reviravolta e mudança súbita, a sensação de uma
montanha russa emocional. O resultado pode ser visto recentemente com toda a
história chegando ao seu desfecho final, prendendo a atenção de todas que
acompanham a tensão final e ainda chamando a atenção de quem ainda não
acompanhava. Os criadores originais amarraram de forma GENIAL (sim, isso
precisa ser escrito em caixa alta, pra que fique ainda mais em ênfase a
genialidade como tudo foi tecido) toda história, não sobrando sequer nenhuma
ponta solta. E em uma história com viagens no tempo e teorias de Albert
Einstein inseridas no roteiro, não é sempre que vemos tudo ser amarrado
perfeitamente, sempre sobram paradoxos ou loops infinitos que são um verdadeiro
mindfuk, mas em Steins;Gate isso tudo é pensado. Claro, indo pouco mais a fundo
na discussão nerd, pode se questionar os métodos usados. Em qualquer obra de
ficção científica, o que sobra são questionamentos e é ai que está o maior
barato, pois ela também te induz a pensar e questionar.
É interessante ver que, muitos que não sentiram nada por
Madoka Mágica, ou que não se renderam para a trama novelesca de Ano Hana e
muito menos querem saber de anime sobre jogos ou parodiando super heróis,
conseguiram encontrar uma opção em Steins;Gate. Um mérito do anime, que
conseguiu cativar esse publico, por isso, perfeitamente compressível e natural
que muitos o coloquem como o melhor anime do ano. Particularmente, ainda fico
com Madoka Mágica, que conseguiu manter uma regularidade maior (vai saber como
se sairia em 24 episódios), mas a forma como o anime mexeu comigo, vai lhe
garantir ao menos entre os meus cinco melhores do ano.
Steins;Gate poderia ter o melhor personagem do ano, Okabe
Rintarou, se tivesse um pouco mais de ousadia, mas sem dúvidas possui a
personagem feminina capaz de brigar pelo pódio, Kurisu. A dublagem, como de praxe
no Japão, está muito boa, mas nesse caso especifico, todo o elenco brilhou e
conseguiu elevar o patamar além do simplesmente bom. Destaque para Mamoru
Miyano e Asami Imai, respectivamente, Okabe e Kurisu, eles conseguem habilmente
transmitir emoção e sinceridade durante todo o percurso.
Se você estiver procurando mais do que apenas uma boa
história, Steins;Gate é uma excelente opção. Tem uma temática mais séria e sóbria,
ideal para o publico mais maduro, mesmo sendo um harém e com tantas otakices, propõe
ideias realmente interessantes. Peca um pouco aqui e ali no que diz respeito a sua
execução, o que é realmente uma pena, pois acaba comprometendo a nota final, a
não ser que você se esqueça disso completamente. Essa foi eu, racional falando,
a eu fangirl tá discordando aqui e dizendo que Steins;Gate merece um 10 com
louvor! Enfim, são personagens que vão demorar um pouco pra esquecer, a
história não é um romance, mas é romanceada, se é que me entendem. E isso é
muito bom, para todos os públicos e gostos. Tem como fio condutor, um mistério
mirabolante e muito bem bolado. Novamente eu digo: GENIAL o desenvolvimento
disso. Conspiração, paranoia, dramas, teorias. Com certeza os prós são muito
mais convidativos que os contras.
**Este post foi um oferecimento: Dr. Pepper - Quem assistiu, vai entender**