Saudações do Crítico Nippon!
No filme anterior, elogiei que o
diretor Keishi Ohtomo conseguia criar um clima de urgência inexistente no
primeiro. A expectativa era grande com o maior vilão da história de Rurouni
Kenshin, e os núcleos diversos contribuíam para a imprevisibilidade da trama. O
que não ocorre em absolutamente momento algum neste capítulo final da trilogia.
Revelando uma auto-indulgência que acaba comprometendo a obra, o diretor coloca
diversas passagens, cenas e trechos que mereciam aparecer somente nos extras de
algum DVD. Revelando-se um filme muito mais longo que o ideal e, quando paramos
pra pensar, quase nada aconteceu realmente.
Começando
exatamente de onde o anterior parou, com Kenshin sendo encontrado na praia e
treinado pelo seu mestre, Hiko Seijuro, para aprender uma técnica final contra
Shishio. Enquanto isso, os vilões usam seu imenso navio de guerra para ameaçar
o governo a cumprirem com suas exigências. Simultaneamente, Sanosuke, Yahiko e
Kaoru passam nada menos que 1 hora de filme no hospital, sentados, admirando a
praia, fazendo nada.
Contando com inúmeras coincidências
como seu capítulo antecessor, os personagens se encontram com uma facilidade
imensa. Kenshin é encontrado completamente por acaso por seu mestre; bem como o
avô do Oniwabanshu encontra Aoshi na estrada caído do céu; Sano e Yahiko
encontram Kaoru na praia; e assim por diante. E mesmo com essa facilidade toda
de encontrarem uns aos outros, o filme consegue estender um fiapo de história
por mais de duas horas. Os monólogos são arrastados e sem informação nenhuma
além da reflexão burocrática. Frases extremamente batidas e desinteressantes
são gritadas o filme inteiro incontáveis vezes (“O futuro do Japão está em suas mãos!”). E outras pronunciadas com
longas pausas como se fossem repletas de significado e emoção. E simplesmente
não são.
De qualquer modo, o filme continua com
uma produção bastante eficiente, com uma direção de arte cada vez mais
ambiciosa. E o navio de guerra de Shishio é espetacular, tanto em seu design
externo quando em seu complexo interior. Dito isso, o diretor tem uma excelente
habilidade em orquestrar batalhas e voar com sua câmera através dos estreitos
espaços da embarcação sem nunca se tornar confuso ou incompreensível para o
espectador. E devido ao forte da obra original ser justamente as lutas, é um
alívio ter um diretor tão competente no quesito. E a decisão de usar efeitos
mecânicos (como aqueles em obras famosas como O Tigre e o Dragão), dublês e
atores de carne e osso, dão um peso real aos confrontos. Em momento algum temos
a impressão de estar vendo bonecos digitais ou assistindo a um quase vídeo
game. E nessa era de blockbusters de super-heróis, é realmente uma proeza digna
de aplausos a decisão de não seguir por esse caminho.
Isso não quer dizer que todos os
conflitos se justifiquem, mesmo defeito que ocorria nos dois filmes passados. E
novamente Aoshi está ali só para dizer que apareceu, pois não há peso algum em
seu personagem. E o psicológico de Misao parece extremamente afetado, mudando
de opinião sobre o assassino de seu avô em um piscar de olhos. E os pequenos
malabarismos de Kenshin contra os policiais que querem prendê-lo no dojo não
fazem o menor sentido, visto que ele simplesmente se rende alguns golpes
depois.
Assim,
as cenas de ação que realmente despertam nossa curiosidade mesmo que se arraste
por metade do filme, são aquelas com o mestre Hiko Seijuro. Revelando-se uma
figura relativamente interessante embora pareça gostar demais de ouvir o som da
própria voz. Seus ‘ensinamentos’ poderiam ser colocados em um livro de autoajuda,
mas é sempre fascinante ver o herói ser derrotado inúmeras vezes, com tanta
facilidade, e por um pedaço de pau. E os rápidos flashbacks de Kenshin criança
no decorrer do aprendizado agregam ao personagem. Infelizmente é impossível não
pensar na imensa ajuda que o mestre seria na luta contra os vilões e, diferente
da obra original, Hiko simplesmente some.
É surreal que com um filme tão
longo, os personagens continuem com pouco espaço em tela. Kaoru, Yahiko, Misao,
todos parecem completamente desperdiçados. Munetaka Aoki parece cada vez mais
um estereótipo de Sanosuke, buscando extrair o riso ao pronunciar suas falas
gritando (tão ineficiente quanto um Leandro Hassum, por exemplo). E Soujiro e
Shishio parecem terem sido guardados única e exclusivamente para suas lutas
finais. Este último em especial, esbanja uma intensidade na batalha que poderia
ter sido fartamente explorada no decorrer do filme. Mas não foi. Assim, o único
dos vilões que aparece é Sadojima Hoji, praticamente uma cópia do Beiçola visto
no primeiro filme, uma tortura total. Felizmente Takeru Sato consegue levar o
filme quase sozinho com o peso do mundo – ou Japão – nos ombros. E a
intensidade dele e de Tatsuya Fujiwara na batalha final é de arrepiar.
E o
combo de referências continua completo: poses icônicas de personagens, as
frases famosas de cada um, e golpes vistos lá no primeiro filme e reutilizados
neste. Embora falhe em proporcionar para os leigos as explicações mais básicas
para entenderem certos aspectos. Por exemplo, por que sai fogo da espada de
Shishio? Por que os pais de Kenshin e seus assassinos estão mortos, mas o
garoto não? Quais as características da técnica final do Hiten Mitsurugi (o
close na perna de Kenshin no seu golpe final contra Shishio não faz o menor
sentido para quem não leu a obra)? E em um filme com tantos diálogos isso é
imperdoável.
Pecando também pela longa ‘execução’
de Battousai na praia, quando a reviravolta do governo ocorre, ao invés de
ficarmos surpresos positivamente, a impressão que fica é que houve uma
gigantesca enrolação anterior. Assim, se Ohtomo tentou manter a estrutura de
todos os filmes semelhantes ao fazer uma pequena guerra no terceiro ato de
cada, neste capítulo ela é a pior de todas. Embora na luta final, conforme
chegam os quatro aliados para enfrentarem Shishio, torna-se gradativamente mais
empolgante e extremamente bem coreografada.
A
sensação que fica é que o filme não tem conteúdo suficiente para se sustentar.
E enxugando todas as ‘gordurinhas’ de Kyoto Inferno e The Legend Ends era
possível fazer um único longo filme com um final satisfatório. Ao invés de dois
maçantes filmes repletos de equívocos. De qualquer forma, os acertos
esporádicos vistos nessa trilogia deixam a expectativa cada vez maior para
assistir futuras adaptações de mangás. Estarei de olho.
@PedroSEkman
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