terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Comentários: Death Parade #02 – Reverse

[Reverso] Reverter algo, por ao contrário, revogar, inverter. É a premissa surpreendente e divisora de águas do segundo episódio de Death Parade. 
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Uuhh....bem, vamos lá. A proposta de mostrar os eventos do primeiro episódio sob nova perspectiva enquanto desbravamos aquele universo é realmente engenhosa e criativa, mas a forma como apresentam para o expectador diversas respostas, que eram obvias, através de diálogos expositivos é simplesmente medíocre, covarde e algo que subestima a inteligência de quem está do outro lado. Explicar a mecânica do mundo e do funcionamento do jogo é uma coisa, agora traduzir para nós as reações, o que cada personagem está sentindo e suas motivações, é deplorável e desanimador de tão idiota. Se você não é capaz de compreender o medo primitivo que o marido de Machiko e a própria Machiko sentiam naquele momento, eu acho que você vive em um estado vegetativo. É isso que o roteiro pensa do expectador ao conduzir o argumento de modo tão tolo, traduzindo pra nós o que deveria ser obvio ou que deveria ficar em caráter subjetivo. Afinal, emoção é algo subjetiva.

Claro que eu gostei da explanação acerca da mecânica do mundo, especialmente começando com o "despertar" da hostess, partindo para a observação do jogo, como funciona e etc, mas realmente precisavam fazer disto um manual para o expectador burro incapaz de pegar o significado de o marido ter errado o dardo? Oh, desculpe, mas vocês sabem. Otakus que só sabem se masturbar para personagens pre-puberes e realmente não são capazes de decifrar coisas tão completas, urr durrrr.
Eu queria que vocês pudessem ver meus olhos se revirando quando triunfantemente cheguei aos 10 minutos de episódio. Já estava praticamente tendo uma sincope. O que é curioso, pois a direção imprime um ritmo delicioso, mas o roteiro até então estava sendo um cocô.

A parte em que fica claro o momento e o porquê as memorias estão retornando é uma coisa boa, por exemplo, deixa claro que eles estão manipulando a situação para que saia algum resultado dali e o conflito alcance seu clímax. Ou seja, o resultado é indefinido e decidido através do conflito, sendo o jogo um meio para que possam alcançar um veredicto final, embora o resultado do jogo não influa na decisão dos juízes. Isto foi realmente interessante e um ponto que deveria se tornar claro ao decidirem expandir o universo; de outra forma, só vejo isto funcionando bem sem gerar mal entendidos em um caráter mais episódico.

Mas, é impressionante que mesmo cometendo  deslizes, o roteiro ainda demonstre folego para uma parte final bem construída e surpreendente na forma como desenvolve seus personagens, amplia o mundo e acrescenta mais substância ao caso anterior, convergindo em um final capaz de suscitar deslumbre e empolgação do outro lado da tela. Depois disto, como não querer mais deste mundo? De seus personagens? Em pouco tempo percebemos o quanto a falhar em seu julgamento pesa sobre Decim (Tomoaki Maeno) e de como a sua visão sobre a emoção humana é binária e simplista, enquanto que a hostess nomeada apenas como Black-haired Woman (Asami Seto) possui uma abrangência maior na questão emocional, embora ingênua. É fácil perceber qual a função de cada um e o quanto eles devem se complementar para chegar ao melhor resultado possível de julgamento, mas é possível que o roteiro vá além e dê as estes personagens conflitos próprios, o que será ótimo.

A Nona (Rumi Ookubo), por exemplo, é dona das melhores feições deste episódio e tem uma personalidade encantadora, transmitindo segurança e autoridade seja através de um sorriso ou um olhar enfadado e enigmático – vai dizer que não? É uma personagem que realmente convence no seu papel naquela história. O Decim, por outro lado, foi uma surpresa para mim. Sua postura e personalidade sempre o fizeram soar como aquele de hierarquia superior e com um julgamento balanceado, sem qualquer fraqueza. No entanto, neste episódio, vemos que embora seguro e analítico, ele não é completo, mas notadamente limitado e com certas inseguranças internas.
Por isso, eu diria que sim, apesar dos equívocos, este ainda consegue ser um episódio bastante decente e que demonstra muito potencial para o futuro. O roteiro erra por algumas escolhas que tira muito do brilho de algo que poderia ser excelente, mas tecnicamente possui uma bela estrutura na condução dos eventos e a direção continua com uma visão afiada.  O layout possui muita vivacidade e a camerawork é movimentada com inteligência, imprimindo um ritmo solto que visualmente explora todos os cantos do cenário e se integra ao dinamismo da história, sempre oferecendo uma nova luz para os olhos. Particularmente, o ponto que mais gostei no desenho e animação é a elasticidade e o ar despojado que dão aos movimentos de Nona. Enquanto nossa hostess e o querido Decim se mantêm com uma expressão mais dura, há também uma captura alternada em suas feições, que é também bonito.

Agora, em relação a história, mostrar o que ficou escuro no episódio sobre as motivações de Takashi e Machiko foi realmente algo fabuloso. Claro que se perde algo no processo de desmitificar o enigma, mas a vida é feita de decisões, e a cada decisão, você ganha e perde algo no processo. Ganhamos uma pungente melancolia e reflexão acerca do caráter humano. Machiko traiu, mas amava seu marido. Obviamente, fora impulsionada por ele próprio e sua fraqueza. Nada de mais, Machiko e Takashi poderia ser qualquer um em qualquer parte do mundo, isto está sempre acontecendo. Mas, principalmente, ambos falharam e se conectar um ao outro, e o episódio aponta para a problemática da falta de diálogos e entendimento dentro de um relacionamento. Ambos foram francos e se deixaram tragar pelo lodo corrosivo de todo e qualquer relacionamento. Ainda assim, devo dizer que me sinto mais próxima de Machiko por compreender o quão complicado é estar com alguém que levanta uma parede invisível em um relacionamento, impossibilitando qualquer aproximação ou compreensão, afinal, o silêncio é expansivo e corta mais que folha chamex. Mas, principalmente, eu me solidarizo mais com Machiko por toda a questão cultural que envolve o relacionamento entre um homem e uma mulher numa cultura como aquela, na questão da submissão da parte feminina, frente a incapacidade de propor um relacionamento aberto ao diálogo, o que faz com que muitas das mulheres casadas se sintam abandonadas, machucadas e então, procurem em um caso extraconjugal uma distração, vingança ou um pouco de carinho.
Enfim, essa é a minha visão sobre Machiko e Takashi. Realmente não consigo dividir o peso da responsabilidade entre ambos, sabendo do papel que ele teve nisto tudo (falo isso tendo a clara convicção de ser totalmente contra a traição, ainda que eu já tenha me relacionado com gente comprometida, eu não perdoaria caso a traição fosse comigo, e tampouco trairia meu parceiro) foi definitivo para o relacionamento; mas também não consigo e nem posso culpa-lo, por ser algo extremamente humano e natural em que quase todos caem em algum momento. E, eu gosto ainda mais de Machiko, ao ver o quanto ela se sente culpada e vinha se martirizando, encontrando na confissão, a sua redenção – e ainda, a cena em que ela confronta aquele Takashi miserável e completamente arruinado no chão com o Takashi que ela realmente amava e então é tomada por uma avalanche de sentimentos é absolutamente fascinante – se este episódio não mostra isto por uma nova ótica, certamente perderíamos este momento frente a diversas incertezas propositalmente plantadas pelo roteiro em seu enigma humana. É complicado lidar com questões humanas, pois o que parece nem sempre é, mas às vezes é. É algo que exige conhecimento/experiência e malícia, que mesmo assim se torna facilmente algo que induz a um mal julgamento. Ser humano é ser complexo. Infelizmente, ou felizmente, nossos padrões de julgamento são visuais, julgamos pelo que vemos, sentimos e ouvimos, não pelo que há dentro daquela pessoa, pois seria impossível predizer o que cada um está sentimento exatamente. O máximo que podemos alcançar é a superfície. E este é um episódio que levanta todas estas questões maravilhosas.

Claro que acaba perdendo em longevidade e complexidade ao desmitificar o aspecto subjetivo dos personagens e elucidar todo o universo – Dom Casmurro teria a sobrevida que tem se o autor não tivesse deixado vago se Capitu traiu ou não? Há anos vemos analises cientificas defendendo e acusando, mas todas param no aspecto subjetivo da analise humana. Mas, como expandir um universo sem abrir o leque? Somente o futuro dirá que as decisões criativas tomadas neste episódio foram as mais acertadas ou não. Ainda assim havia exposições desnecessárias, como já mencionado, e por enquanto mesmo com toda essa promessa e vigor mostrados neste episódio, Death Billiards permanece memorável em sua peça justamente pela sutileza e abstração. Algumas coisas só são mais belas porque permanecem despertando nosso fascínio em todo seu mistério.

Em relação a reencarnação e vazio, só gostaria de acrescentar que Machiko fez muito por Takashi, já que se ele reencarnasse com este forte sentimento de culpa, a próxima vida dele teria sido ainda mais atribulada. Ela também faz muito por ela mesmo, ao se redimir, confessando seus pecados e declarando o seu amor. O roteiro faz parecer que Machiko obteve uma punição, mas não é bem assim, o vazio não é punição, e sim libertação – porém, é possível que a história crie sua própria mitologia a partir dos preceitos do budismo, isto não é nem um pouco incomum de acontecer em obras japonesas. A liberdade poética está ai pra isso e a cultura religiosa do Japão é bem abrangente e capaz de se misturar perfeitamente bem com as demais. Portanto, é possível que na lei daquele universo, isto seja diferente. Acredito que nos próximos episódios isto deva ficar mais claro.
Nota de rodapé: será que o Decim foi se queixar com a Nona com o comportamento expansivo da hostess? HEHUEHUEHUEHUEHUEHUEHUE. Fiquei com a impressão que os 3 meses se referia a ela.... curiosa aqui.

Avaliação:  ★★★★ ★
Staff do Episódio
Roteiro: Yuzuru Tachikawa
Storyboard: Yuuzou Satou
Direção do Episódio: Yousuke Hatta
Diretor Chefe de Animação: Shinichi Kurita
Direção: Yuzuru Tachikawa

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