[Reverso] Reverter algo, por ao contrário, revogar, inverter. É a premissa surpreendente e divisora de águas do segundo episódio de Death Parade.
Comentário Anterior; Death Parade #01 – Seven Darts
Comentário Posterior: Death Parade #03 – Rolling Ballade
Uuhh....bem, vamos lá. A proposta de mostrar os eventos do
primeiro episódio sob nova perspectiva enquanto desbravamos aquele universo é
realmente engenhosa e criativa, mas a forma como apresentam para o expectador
diversas respostas, que eram obvias, através de diálogos expositivos é
simplesmente medíocre, covarde e algo que subestima a inteligência de quem está
do outro lado. Explicar a mecânica do mundo e do funcionamento do jogo é uma
coisa, agora traduzir para nós as reações, o que cada personagem está sentindo
e suas motivações, é deplorável e desanimador de tão idiota. Se você não é
capaz de compreender o medo primitivo que o marido de Machiko e a própria
Machiko sentiam naquele momento, eu acho que você vive em um estado vegetativo.
É isso que o roteiro pensa do expectador ao conduzir o argumento de modo tão
tolo, traduzindo pra nós o que deveria ser obvio ou que deveria ficar em caráter
subjetivo. Afinal, emoção é algo subjetiva.
Comentário Posterior: Death Parade #03 – Rolling Ballade
Claro que eu gostei da explanação acerca da mecânica do
mundo, especialmente começando com o "despertar" da hostess, partindo
para a observação do jogo, como funciona e etc, mas realmente precisavam fazer
disto um manual para o expectador burro incapaz de pegar o significado de o
marido ter errado o dardo? Oh, desculpe, mas vocês sabem. Otakus que só sabem
se masturbar para personagens pre-puberes e realmente não são capazes de
decifrar coisas tão completas, urr durrrr.
Eu queria que vocês pudessem ver meus olhos se revirando
quando triunfantemente cheguei aos 10 minutos de episódio. Já estava
praticamente tendo uma sincope. O que é curioso, pois a direção imprime um ritmo
delicioso, mas o roteiro até então estava sendo um cocô.
A parte em que fica claro o momento e o porquê as memorias
estão retornando é uma coisa boa, por exemplo, deixa claro que eles estão
manipulando a situação para que saia algum resultado dali e o conflito alcance
seu clímax. Ou seja, o resultado é indefinido e decidido através do conflito,
sendo o jogo um meio para que possam alcançar um veredicto final, embora o
resultado do jogo não influa na decisão dos juízes. Isto foi realmente
interessante e um ponto que deveria se tornar claro ao decidirem expandir o
universo; de outra forma, só vejo isto funcionando bem sem gerar mal entendidos
em um caráter mais episódico.
Mas, é impressionante que mesmo cometendo deslizes, o roteiro ainda demonstre folego
para uma parte final bem construída e surpreendente na forma como desenvolve
seus personagens, amplia o mundo e acrescenta mais substância ao caso anterior,
convergindo em um final capaz de suscitar deslumbre e empolgação do outro lado
da tela. Depois disto, como não querer mais deste mundo? De seus personagens? Em
pouco tempo percebemos o quanto a falhar em seu julgamento pesa sobre Decim (Tomoaki Maeno) e
de como a sua visão sobre a emoção humana é binária e simplista, enquanto que a
hostess nomeada apenas como Black-haired Woman (Asami Seto) possui uma abrangência maior na
questão emocional, embora ingênua. É fácil perceber qual a função de cada um e
o quanto eles devem se complementar para chegar ao melhor resultado possível de
julgamento, mas é possível que o roteiro vá além e dê as estes personagens
conflitos próprios, o que será ótimo.
A Nona (Rumi Ookubo), por exemplo, é dona das melhores feições deste
episódio e tem uma personalidade encantadora, transmitindo segurança e
autoridade seja através de um sorriso ou um olhar enfadado e enigmático – vai dizer
que não? É uma personagem que realmente convence no seu papel naquela história.
O Decim, por outro lado, foi uma surpresa para mim. Sua postura e personalidade
sempre o fizeram soar como aquele de hierarquia superior e com um julgamento
balanceado, sem qualquer fraqueza. No entanto, neste episódio, vemos que embora
seguro e analítico, ele não é completo, mas notadamente limitado e com certas
inseguranças internas.
Por isso, eu diria que sim, apesar dos equívocos, este ainda
consegue ser um episódio bastante decente e que demonstra muito potencial para
o futuro. O roteiro erra por algumas escolhas que tira muito do brilho de algo
que poderia ser excelente, mas tecnicamente possui uma bela estrutura na
condução dos eventos e a direção continua com uma visão afiada. O layout possui muita vivacidade e a camerawork
é movimentada com inteligência, imprimindo um ritmo solto que visualmente
explora todos os cantos do cenário e se integra ao dinamismo da história,
sempre oferecendo uma nova luz para os olhos. Particularmente, o ponto que mais
gostei no desenho e animação é a elasticidade e o ar despojado que dão aos
movimentos de Nona. Enquanto nossa hostess e o querido Decim se mantêm com uma
expressão mais dura, há também uma captura alternada em suas feições, que é
também bonito.
Agora, em relação a história, mostrar o que ficou escuro no
episódio sobre as motivações de Takashi e Machiko foi realmente algo fabuloso. Claro
que se perde algo no processo de desmitificar o enigma, mas a vida é feita de
decisões, e a cada decisão, você ganha e perde algo no processo. Ganhamos uma
pungente melancolia e reflexão acerca do caráter humano. Machiko traiu, mas amava
seu marido. Obviamente, fora impulsionada por ele próprio e sua fraqueza. Nada
de mais, Machiko e Takashi poderia ser qualquer um em qualquer parte do mundo,
isto está sempre acontecendo. Mas, principalmente, ambos falharam e se conectar
um ao outro, e o episódio aponta para a problemática da falta de diálogos e
entendimento dentro de um relacionamento. Ambos foram francos e se deixaram
tragar pelo lodo corrosivo de todo e qualquer relacionamento. Ainda assim, devo
dizer que me sinto mais próxima de Machiko por compreender o quão complicado é
estar com alguém que levanta uma parede invisível em um relacionamento,
impossibilitando qualquer aproximação ou compreensão, afinal, o silêncio é expansivo
e corta mais que folha chamex. Mas, principalmente, eu me solidarizo mais com
Machiko por toda a questão cultural que envolve o relacionamento entre um homem
e uma mulher numa cultura como aquela, na questão da submissão da parte
feminina, frente a incapacidade de propor um relacionamento aberto ao diálogo,
o que faz com que muitas das mulheres casadas se sintam abandonadas, machucadas
e então, procurem em um caso extraconjugal uma distração, vingança ou um pouco
de carinho.
Enfim, essa é a minha visão sobre Machiko e Takashi.
Realmente não consigo dividir o peso da responsabilidade entre ambos, sabendo do
papel que ele teve nisto tudo (falo isso
tendo a clara convicção de ser totalmente contra a traição, ainda que eu já
tenha me relacionado com gente comprometida, eu não perdoaria caso a traição
fosse comigo, e tampouco trairia meu parceiro) foi definitivo para o
relacionamento; mas também não consigo e nem posso culpa-lo, por ser algo
extremamente humano e natural em que quase todos caem em algum momento. E, eu
gosto ainda mais de Machiko, ao ver o quanto ela se sente culpada e vinha se
martirizando, encontrando na confissão, a sua redenção – e ainda, a cena em que
ela confronta aquele Takashi miserável e completamente arruinado no chão com o
Takashi que ela realmente amava e então é tomada por uma avalanche de sentimentos
é absolutamente fascinante – se este episódio não mostra isto por uma nova
ótica, certamente perderíamos este momento frente a diversas incertezas
propositalmente plantadas pelo roteiro em seu enigma humana. É complicado lidar
com questões humanas, pois o que parece nem sempre é, mas às vezes é. É algo
que exige conhecimento/experiência e malícia, que mesmo assim se torna
facilmente algo que induz a um mal julgamento. Ser humano é ser complexo. Infelizmente,
ou felizmente, nossos padrões de julgamento são visuais, julgamos pelo que
vemos, sentimos e ouvimos, não pelo que há dentro daquela pessoa, pois seria
impossível predizer o que cada um está sentimento exatamente. O máximo que
podemos alcançar é a superfície. E este é um episódio que levanta todas estas
questões maravilhosas.
Claro que acaba perdendo em longevidade e complexidade ao
desmitificar o aspecto subjetivo dos personagens e elucidar todo o universo – Dom
Casmurro teria a sobrevida que tem se o autor não tivesse deixado vago se
Capitu traiu ou não? Há anos vemos analises cientificas defendendo e acusando,
mas todas param no aspecto subjetivo da analise humana. Mas, como expandir um
universo sem abrir o leque? Somente o futuro dirá que as decisões criativas tomadas
neste episódio foram as mais acertadas ou não. Ainda assim havia exposições
desnecessárias, como já mencionado, e por enquanto mesmo com toda essa promessa
e vigor mostrados neste episódio, Death Billiards permanece memorável em sua
peça justamente pela sutileza e abstração. Algumas coisas só são mais belas
porque permanecem despertando nosso fascínio em todo seu mistério.
Em relação a reencarnação e vazio, só gostaria de
acrescentar que Machiko fez muito por Takashi, já que se ele reencarnasse com
este forte sentimento de culpa, a próxima vida dele teria sido ainda mais
atribulada. Ela também faz muito por ela mesmo, ao se redimir, confessando seus
pecados e declarando o seu amor. O roteiro faz parecer que Machiko obteve uma
punição, mas não é bem assim, o vazio não é punição, e sim libertação – porém,
é possível que a história crie sua própria mitologia a partir dos preceitos do
budismo, isto não é nem um pouco incomum de acontecer em obras japonesas. A
liberdade poética está ai pra isso e a cultura religiosa do Japão é bem abrangente
e capaz de se misturar perfeitamente bem com as demais. Portanto, é possível
que na lei daquele universo, isto seja diferente. Acredito que nos próximos episódios
isto deva ficar mais claro.
Nota de rodapé: será que o Decim foi se queixar com a Nona com o comportamento expansivo da hostess? HEHUEHUEHUEHUEHUEHUEHUE. Fiquei com a impressão que os 3 meses se referia a ela.... curiosa aqui.
Avaliação: ★★★★ ★
Staff do Episódio
Roteiro: Yuzuru Tachikawa
Storyboard: Yuuzou Satou
Direção do Episódio: Yousuke Hatta
Diretor Chefe de Animação: Shinichi Kurita
Direção: Yuzuru Tachikawa
Avaliação: ★★★★ ★
Staff do Episódio
Roteiro: Yuzuru Tachikawa
Storyboard: Yuuzou Satou
Direção do Episódio: Yousuke Hatta
Diretor Chefe de Animação: Shinichi Kurita
Direção: Yuzuru Tachikawa
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