O programa de TV francês ‘toco toco’ é uma espécie de ‘Estrelas’ (aquele programa da Angelica na Globo que passa – ou passava não sei – durante os sábados diversos artistas) com artistas japoneses, com exceção de que a única estrela realmente durante toda a entrevista/conversa, é o convidado.
No programa, Kawai introduz Kita-Shinagawa, em Tóquio, onde ele cresceu e continua vivendo – e trabalhando – até hoje. Ele fala do Santuário Shinagawa, lugar que ele admira e cresceu influenciado por seus festivais, carregando essa atmosfera para a sua música.
Kawai também nos leva a uma parte da estrada de Tokaido, a mais famosa estrada central do Japão que conecta distrito de negócios de Nihonbashi em Tóquio e Kyoto, e no fim, nos convida para entrar em seu estúdio, e comenta acerca suas diversas influências musicais.
Foi um programa bem legal. Kawaii é uma figura bem simpática, risonha e sincera. É hilário a parte em que ele comenta sobre as distrações com as mulheres durante suas aulas de música. Ele parece ser um vagal por vocação. Tem muita vocação para otaku, realmente :D
Eu queria traduzir apenas algumas partes mais interessantes para os não fluentes, mas me vi tão envolvida que o fiz em boa parte. Segue:
(...) Eu não sei de onde isso vem, mas este é um dos festivais raros que dispõe de um tambor. Os movimentos do mikoshi são guiados pelo som do tambor e uma flauta. Eu não sei exatamente como outros festivais procedem, mas na maior parte do tempo nestes festivais, os movimentos dos mikoshi são guiados por um apito ou por alguém que dá ordens.
No Santuário de Shinagawa é um tambor e flauta. Isso é muito raro.
Os sons dos tambores vivem em uma parte de mim, você pode dizer que fui impregnado com eles. Sempre achei que era muito elegante e sempre me perguntei se havia uma maneira que eu poderia usá-los no meu trabalho. No fim, acabei usando este som em Ghost in the Shell: Innocence. Tomei como referência principal para a trilha sonora do som do tambor a partir deste santuário.
"Comecei a ir a uma escola de música, mas estava cheio de meninas"
(...) A razão pela qual eu me tornei um compositor é bastante misteriosa, mesmo para mim. Originalmente, eu queria me tornar um engenheiro, ou algo parecido. Gostava de tocar guitarra durante o meu tempo livre, no entanto eu não estava indo muito bem na escola. Considerando que eu estava indo para uma escola que ensinava engenharia nuclear...
Foi muito difícil. Era difícil ficar sem investir todo o meu tempo no meu hobbie. Então eu parei e costumava passar meus dias tocando guitarra. É por isso que decidi perseguir uma carreira na música
Comecei a ir a uma escola de música, mas estava cheio de meninas e eu passei todo o meu tempo me divertindo. No fim, eu não fui um bom aluno também.
Eu realmente não sabia o que fazer.
Quando comecei a compor canções no meu violão, decidi começar uma banda com alguns amigos. Participei de um concurso e ganhei um prêmio.
Isso foi sorte de nossa. Depois disso, fomos abordados para assinar um contrato. Mas eu sai, queria fazer minhas próprias músicas.
E, aqui estou eu.
Isto é embaraçoso, mas eu sempre corri para o caminho mais fácil.
E no fim das contas me tornei um compositor.
Eu me sinto um pouco envergonhado por isto...
O cara tá mandando ver nos 'churrasquinho de gato'. Até os japas curtem essa maldade! Amo. |
(...) Quando estive na escola até o ginásio, musicas pops francesas e ocidentais, eram muito populares no Japão. Juntamente com os Beatles, obviamente. Enquanto todo mundo estava ouvindo os Beatles, eu preferiria artistas franceses, como Raymond Lefebvre, Francis Lai, etc. Também artistas americanos, Burt Bacharach, por exemplo. Além disso gosto de ouvir muitas trilhas sonoras de filmes.
Como colocar isso... Eu gosto de músicas quentes.
Quando estou ouvindo esse tipo de música, não há muito que eu tenha para falar com os outros durante aquele momento.
"no início, o diretor Oshii Mamoru me disse que queria tambores"
(...) Primeiramente penso no conceito das trilhas sonoras, conversando com o diretor ou o produtor ou pessoas que estejam trabalhando com o som. É quando pego nos instrumentos. Com Ghost in the Shell, no início, o diretor Oshii Mamoru me disse que queria tambores. Fui comprar alguns tambores indianos que eu apreciei o som.
No entanto, achei muito difícil –para mim– retratar emoções apenas com tambores. Achei muito difícil porque não há nenhuma escala com tambores, era um mundo em preto e branco para mim. Fiquei me perguntando se não seria melhor adicionar vozes
Naquele momento, as vozes búlgaras estavam começando a se tornar famosas. Eu pensei que poderia ser interessante ter essas vozes acrescentadas em ritmo com os tambores. Depois de falar com algumas pessoas de lá, me disseram que aquelas eram canções folclóricas, que não era o tipo de música que você coloca em uma partição.
Não sabia o que fazer, mas ao mesmo tempo eu estava trabalhando com “Ondo”, o canto tradicional japonês. Havia uma cantora japonesa de música foclorica, Minyo. Depois de ouvir a voz dela, eu percebi que poderíamos talvez tentar algo interessante nesse sentido.
Originalmente, Minyo só canta sozinha. Tentei montar um coral, e então nós o ouvimos com o Sr. Oshii e o resultado foi bom. Naquele tempo, nunca havia ouvido esse tipo de coisa [em outra série]. Eu e o Sr. Oshii estávamos um pouco preocupados se poderíamos usar isso. Assentimos que parecia bom, portanto seguimos nesta direção.
No entanto, no dia de triagem, ninguém conseguia dizer claramente se gostaram ou não.
Nós não sabíamos o que fazer....
Finalmente, pela primeira vez, a trilha sonora foi aclamada quando estive na França. Eu fui participar de um evento na França, onde as pessoas vieram felicitar-me pelo meu trabalho em Ghost in the Shell.
Fiquei surpreso porque foi a primeira vez, para mim, mas eu fiquei tão feliz que eu ainda me lembro até hoje disso.