sexta-feira, 20 de abril de 2012

Survival of the Dead Na Visão De Katsuhisa Kigitsu

ZUMBIS! ZUMBIS! ZUMBIS! @@@@@ Tem coisa melhor do que zumbis? Sim, George Romero fazendo filmes sobre Zumbis! Quer dizer, teoricamente, já que as duas últimas investidas do mestre foram bem questionáveis. Hoje o post será pra poucos. Na verdade, apenas uma curiosidade, que é uma oneshot desenhada por Katsuhisa Kigitsu (Franken Fran) para a Champion Red, da editora Akita Shoten; Survival of the Dead. Isso mesmo é uma história sobre o filme homônimo de George Romero, que estreou em 2010 nos cinemas americanos.

Essa oneshot é basicamente um teaser promocional, para o filme que seria lançado também no Japão, funcionando como um prólogo, onde somos apresentados à família Muldoon e como os netos de Seamus Muldoon (Richard Fitzpatrick) se transformam em zumbis, o que dá inicio ao culto da família sobre a convivência pacifica entre zumbis, acreditando que um dia virá à cura para a epidemia. Plum Island é uma ilha distante da costa, onde duas famílias descendentes de Irlandeses dividem o espaço, com muita rivalidade. Esse evento acaba culminando na quebra da virtual trégua existente entre as duas famílias que já perdurava há bastante tempo, já que a família O’Flynn, liderada pelo patriarca Patrick (Kenneth Welsh), é  a favor da destruição de todos os zumbis para proteger os vivos e a coisa esquenta quando descobrem que os neto de Seamus se transformaram em mortos-vivos.

Para quem assistiu ao filme, ler essa oneshot é uma experiência curiosa, já que ele começa exatamente do ponto onde a história desenhada por Katsuhisa Kigitsu termina. Aliás, uma excelente aquisição terem colocado ele pra desenhar o prólogo da história e sinceramente, gostaria de ler uma continuação, do ponto de vista dele. Katsuhisa Kigitsu tem um estilo que segundo ele mesmo e os japoneses, é bem cartunesco e seu traço, é perceptível em qualquer história. Franken Fran pode ser definido como uma sátira social e Helen ESP, um espetáculo bonito de humor negro, que poucos irão entender. E agora, estou lendo uma outra série do autor; Arthur Pyuty wa Yoru no Majo, que é uma de fantasia histórica, sobre infecção da humanidade por bactérias desconhecidas, com a presença de uma bruxa e um zumbie, ou seja, Survival of the Dead tem tudo que faz parte do universo criativo do mangaká.


Lançado aqui no Brasil como “A Ilha Dos Mortos”, esse é até então, último filme da saga dos mortos-vivos lançado por Romero, que foi um fracasso de crítica e de público. Na minha visão, Survival of the Dead só tem um problema realmente sério: Ter sido escrito por George A. Romero. As pessoas não conceberam muito bem a proposta do mestre, de deixar o horror sério e claustrofóbico, repleto de drama, de lado, para fazer algo nos moldes do cinema B, que é pura avacalhação. A clássica quadrilogia “…of the dead”, do autor/diretor/roteirista, que inspirou um mundo inteiro, ganhou um novo capítulo completamente destoante dos anteriores; Dessa vez muito trash, humor negro no talo e para lá de comédia. Nesse ponto, eu considero este filme muito superior ao seriozinho e chatinho; Diary of the dead (Diário Dos Mortos).

No filme, há uma cena onde o militar desertor Crocket joga uma granada contra um casebre onde estão vários homens atirando nele, que derruba a parede e quando a fumaça se esvai, aparece os homens completamente expostos e sem reação, onde um diz: "Meu Deus do céu, que porra foi isso?" – Olha, eu ri pra caralho dessa cena, tanto que nunca me esqueci dela. Eu também vivo achando graças das críticas do Critico Nippon ao seriado The Walking Dead, onde entre tantas coisas, ele diz que os zumbis dali têm incríveis habilidades em subir paredes (!), então fico imaginando o que ele acharia dos zumbis desse filme, onde entre tantas coisas, eles; Sabem nadar, sim, aqui temos zumbis em toda a orla da ilha e não estão boiando não, eles nadam (!!!). Temos zumbis que continuam praticando atividades que lhe eram comuns quando estavam vivos, como entregar cartas (Putz, eu ri demais dessa cena), andar a cavalo, cortar lenha, dirigir carro, cozinhar e etc.

É toscão, cara! É rir pra não chorar e eu assimilei bem a ideia do mesmo, apesar de ser difícil distinguir se o Romero está se levando a sério ou não. Eu acredito que não. O filme termina deixando o espectador com a pulga atrás da orelha: Afinal, quem estava certo era O’Flynn, pregando o extermínio dos mortos-vivos, ou Muldoon, que pretendia domesticá-los e reintegrá-los à sociedade? A história não apresenta nenhuma explicação e, por favor, quando foi que precisou, não é mesmo!? Apenas se foca na ilha e em como as pessoas tentam resolver os problemas locais. E obviamente nada dá certo, e como sempre Romero faz uma crítica à sociedade, em especial a americana, que pode ser percebido na forma belicista de encarar a vida.  E vai mais distante ainda, ao imaginar a situação dos detentos presos em penitenciaria e aqueles que pregam a pena de morte a eles, sem que estes tenham direito a ser reintegrados a sociedade. O final do filme é sensacional e trás a tona todo o tom jocoso e sarcástico que fez durante toda a exibição: Brincando com velhos conceitos, como é o caso do western e zumbis desempenhando habilidades humanas. Chorei de rir, mas o filme é realmente ruim e é cinema B em todos os sentidos.


Bem ,a efeito de curiosidade, o filme não faz parte da quadrilogia oficial, intitulada “...of the Dead”, mas é uma continuação direta de Diary of the Dead, se passando 6 dias depois dos fatos ocorridos neste filme. E são dois filmes praticamente independentes e com orçamentos baixíssimos. Parece que comentei mais sobre o filme do que a história do mangá, mas faz sentido, uma vez que as duas se complementam e é a mesma coisa. E a arte de Katsuhisa Kigitsu é fidelíssima aos personagens do filme, ainda que tenha mantido toda sua identidade naquele traço. Facilmente, essa oneshot poderia ser confundida com qualquer história episódica de Franken Fran. E já que eu estou comentando sobre fazer humor, a partir da narrativa do horror trash e doentio, o mangaka cita como sua grande inspiração, o clássico mangá de Gegege no Kitaro, de autoria de Shigeru Mizuki e que é um dos propulsores não apenas das histórias em quadrinhos de horror, mas da narrativa com youkais que influenciou grandes artistas como a Rumiko Takahashi-sensei. Representa bem aquele vértice do horror feito pra divertir e não pra ser assustador e sério. No caso, o podre e fedorento, com humor questionável, Gyo! de Junji Ito, segue bem esse padrão de horror que não se leva a sério, que há muito se perdeu para a narrativa de horror sanguinolento. Mas essa é uma outra história, que espero comentar melhor em uma outra oportunidade, aqui no ELBR.

Ano: 2010
Autor: Katsuhisa Kigitsu
Editora: Akita Shoten
Revista: Champion Red
Demográfico: Shounen
Capítulos: 01
Onde achar: Aqui