Atenção turminha do Elfen Lied Brasil, hoje a tia Carol vai
conversar mais intimamente com vocês. Nada de atirar bolinhas de papeis
enquanto eu falo, okay? Há muito tempo atrás eu fiz um post com o nome “Nana to Kaoru: E garotas que adoramcomédias eróticas” um título calculadamente planejado pra ser chamativo,
mas lendo o texto, nota-se que a abordagem é outra, apesar do “garotas que adoram comédias eróticas”,
estar bem representado por mim. Então, surgiu a ideia de reutilizar o titulo,
aproveitando a deixa de um anime que assisti recentemente; Euphoria. Sim, um hentai. E como não há muito o que se comentar a
respeito (rs), é uma ótima
oportunidade pra fazer uma abordagem ampla da situação.
Um pequeno monólogo
Curiosamente, um pouco antes de assistir Euphoria, me
perguntaram no meu Formspring se eu
já havia assistido algum hentai. Com um termo que é sinônimo de pornografia, é
bem normal para uma garota que não assuma abertamente que já assistiu. Muito
embora, a resposta seja obvio, quando esta já escreveu sobre Kite, sobre guro e assistiu Yousoga no Sora. Claro que não são
genuinamente “hentais”, ao menos da forma como nosso subconsciente os vê. Vou
associar como qualquer filme que contenha em algum momento da narrativa, uma
cena de sexo, explicita ou não, ou apenas sugestionado. Embora a mostra dos
órgãos sexuais apareça para induzir à atividade masturbatória, são series com
uma linha narrativa solida, ainda que suas qualidades sejam passiveis de
questionamentos.
Como muitas palavras japonesas, o Hentai ganhou outro
significado aqui no ocidente (lá é
encarado como ofensa grave, significando perversão sexual e nunca relações
sexuais “normais” – Quando utilizado como gíria, expressa o ato sexual em
condições extremas ou bizarras) e entendo como “hentai”, aquilo que a
pessoa para fins de masturbação, com a história (isso é quando há alguma) sendo desenvolvida com foco estritamente
nesse impulso tão humano, que é gerar um prazer onanista. Com Hentai tendo uma
conotação negativa, esses materiais acabam ganhando classificação +18 (18-kin “proibido para menores de 18”),
sendo definidos como “etchi” (pronúncia
japonesa da letra H) e ero (erótico).
Materiais cujo conteúdo é simplesmente sexual.
Pensando por esse lado, eu estou em um nível bem além que
muitos de vocês, já que ero-guros e todas essas parafilias que costumo ler
estão muito além do que se pode considerar “normal”, muito embora estes são
considerados como arte, com fins mais contemplativos e contestadores. O
critério da exposição ou não dos órgãos sexuais não me parece bom para
distinguir o que é o erótico e o que é o pornográfico. Como já diria o filosofo
Arthur Danto: “No mundo contemporâneo a
beleza foi para um lado, a arte para o outro. Não é pelo que é ‘belo’, com
consenso ou não, que se diz que algo é arte após Warhol e Duchamp”.
Filosofias de lado, eu sempre ouço falar de Bible Black, talvez, apenas talvez, o
mais clássico dos hentais, conhecido por suas cenas de sexo sadomasoquista,
futanari e tortura. Nunca assisti, mas já vi uma garota dizer que morreu de rir
assistindo. Não posso opinar sobre, mas imagino que deva ser um hentai mais
hardcore que o normal. E coisas hardcores, realmente fazem brotar um sorriso
quase que involuntário na face. Aliás, não precisa ser tão hardcore, basta ter
aquelas personagens com expressões faciais e gemidos simplesmente
bizarríssimos, que de tão caricato, beira a tosquice. Claro que homens e
mulheres são diferentes e possuem percepções que os diferem um do outro, mas
realmente não consigo entender como se excitar com algo assim. Posso não
entender, mas eu compreendo e essa é justamente a graça do fetiche.
Sobrevivendo à
Euphoria
Dia desses eu assisti Euphoria, por recomendação (do amigo @PowerOtaku), e acabei me vendo
seduzida ao ver a boa abertura do game ao qual o anime teria se baseado.
Realmente é uma game que chama a atenção já na sua abertura, mas senti um frio
percorrendo pela minha espinha quando olhei a capa do DVD do anime que eu iria
baixar. Parecia ser só anime de penetração para otakinho (e algumas otakinhas?) exercer a arte do fap. Mas me disseram que
havia cenas grotescas de tortura, fiquei curiosa e uma das personagens lembra
bastante o character designer original da beatrice de Umineko. E foi como eu imaginei. Mais um hentai de péssima
qualidade e bastante vulgar. Mesmo as cenas de tortura e sadismo, não foi lá um
grande atrativo.
O plot até tem potencial e lembra Saw (Jogos Mortais). Sete adolescentes acordam no meio de um quarto
branco e não fazem a menor ideia de como foram parar ali e tudo que veem, é um
computador com vários vídeos para diversos quartos isolados. O protagonista é Takato
Keisuke, aparentemente um garoto normal, mas ele esconde uma face sádica e
perturbadora, vivendo em um conflito interno entre a moralidade o fato de se
excitar com assassinatos e abusos. Ele encontra em Manaka Nemu, a parceira
ideal. Ela é mais uma das garotas que se vê forçada na história, a obedecer às
regras do jogo, mas ao contrário das outras, ela não reage com horror, nem
desespero. Ela se diverte e sente prazer, tanto em se submeter àquele jogo,
como ver o sofrimento na face das outras garotas. Ainda há mais cinco garotas,
todas colegas de classe de Keisuke, que devem ter seu momento focado em cada
uma, assim como nesse primeiro episódio de Euphoria, o destaque foi Nemu.
Eles acordam e ficam confusos e não sabem ao certo como
foram parar ali, quando ouvem uma voz misteriosa, que lhes dá detalhes sobre o
jogo:
Basicamente, Keisuke é a “chave”, e as garotas são as
“fechaduras”. Ele precisa enfiar sua “chave” na “fechadura” (hahahaha) de cada garota e leva-las ao
clímax e assim, passarem para o próximo nível. Caso falhem ou se recusem, serão
punidos. Beeem, não há o que se comentar sobre esse “complexo” enredo. Mas
posso falar da parte técnica desde OVA; a animação não é tão fluida, e a
dublagem deixa bastante a desejar nos momentos de sexo (!!!). O principal problema talvez seja a falta de feeling. No
entanto, lendo a resenha do game original no site The 1000th Summer, pude perceber que este sim, parece ser mais
interessante, sendo hardcore ao extremo, se utilizando de tortura, depravação,
humilhação, chicotadas, afogamento, eletrochoques, urinas, vômitos e estupro
consentido. Enfim, um legítimo hentai pra saciar até mesmo o fetiche mais
bizarro. Claro que requer estômago. Originalmente, Euphoria é uma visual novel
do estilo Nukige, que ao contrário dos eroges, se foca mais na pornografia em
si do que na história. Há relatos de que há poucas nukiges que contenham uma
história realmente convincente, mas pela repercução, parece que Euphoria
consegue ser diferente, com algumas reviravoltas em seu roteiro. Bom, eu assisti
somente ao primeiro OVA (a série ainda está
em lançamento e sabe se lá quando irá surgir o episódio 2 – Não que eu esteja
tão interessada), então basicamente, nem mostrou a que veio ainda.
Pornografia
generalizada
Eu acredito que pornografia é algo bem típico do ser humano,
independente de gêneros. Acontece que, depois de tantos anos sendo colocadas de
lado pela sociedade, parece ser algo incomum que uma garota possa assistir e
até mesmo gostar de tais coisas. Hoje se vê mais garotas comentando e abrindo o
jogo abertamente sobre isso, mas ainda não é algo tão comum e talvez por isso,
ainda gere surpresas em alguns garotos. Naturalmente, há as meninas que
simplesmente não gostam mesmo, assim como há os meninos que também não veem
nada em especial em pornô. Mas em alguns casos, não passa de uma questão de
adequação e procura. Afinal, aquele tipo de pornografia em especifico não te
atrai, mas há diversos outros estilos que talvez se encaixe em suas fantasias.
Sentir nojinho, repulsa ou tédio, ao invés de uma excitação
ao assistir algum hentai, é algo bem comum entre as garotas. Eu mesma já sentia
isso antes mesmo de assistir algum. E a ciência explica esse fenômeno (?) – Vamos responsabilizar os Neurônios-espelho
que nos permitem simular internamente as ações dos outros e nos colocar em seus
lugares. Os neurônios-espelho revelam como as crianças aprendem, por que as
pessoas gostam de determinados tipos de esporte, dança, música e arte, por que
assistir a cenas de violência na mídia pode ser danoso (ou te fazer se sentir atraído por isso) e por que há quem goste de
pornografia. Os neurônios espelho têm essa função especial. Eles permitem que
nós identifiquemos o sentimento de outras pessoas. São eles que nos fazem
chorar em cenas tristes, ou sentir medo, quando assistimos a um filme de
suspense. Eles funcionam como verdadeiros radares, facilitando a comunicação
com o mundo ao nosso redor.
Assistindo ou lendo qualquer coisa pornográfica, assim como
acontece quando você se vê em contato com qualquer obra de ficção, irá acabar
se colocando naquela situação, e provavelmente se excitando (chegando ou não às vias de fato). Acaba
que nós mulheres somos bem mais exigentes que os homens quanto a isso, já que
estes, independente da fantasia erótica de cada um, são público alvo e as
mulheres apenas peças, objetos que estão sempre dispostos a saciar o desejo de
algum personagem sem rosto, que é a representação do público ao qual esse
material se destina. E não estou fazendo uma crítica e nem levantando a
bandeira do feminismo. É apenas uma constatação. Como somos tão diferentes dos
homens, não é comum apreciarmos o mesmo tipo de pornografia que eles curtem.
Claro que há casos de hentais voltados ao público masculino que conseguem nos
instigar, ou caso contrário, não haveria tantas garotas que assistiram Bible Black (embora talvez eu entenda o
motivo).
Nesse sentido, talvez as fujoshis estejam um passo à frente,
onde não há figura feminina, apenas dois homens bonitos em um romance
envolvente. É bonitinho, é envolvente, é moe. Me lembro de quando comentei com
um amigo que havia achado Shoujo Sect, apesar de hentai, é muito fofo e com uma
história bem romântica. Ele sorriu e disse que também havia gostado, mas por
motivos diferentes. No fim das contas, é complicado gostar de algo que só tem
um monte de fluidos voando pra todos os lados. Acredito que boa parte das
garotas, assim como eu, ainda prefira coisas mais delicadas. Para as fangirls,
alguns doujinshis costumam ser bem mais atraentes. Como por exemplo, alguns de
Kaichou wa Maid-Sama que andei lendo, por recomendação de uma amiga. Não é
degenerado ao ponto de causar repulsa, pelo contrário, é verossímil o
suficiente para que eu não notasse que aquele Usui (personagem da série) ali, não era o original. Por esse ponto de
vista, o erótico ainda seduz mais, onde um Velvet Kiss consegue ser mais
envolvente, por não ser tão exagerado e ter uma linha narrativa mais
consistente, não sendo tão “mecânico” e ritmado (fapfapfapfap).
Contudo, se trata apenas de uma visão particular sob meu
ponto de vista, onde relaciono o sexo erótico com o amor, pureza,
espontaneidade, sutileza, sugestão sem mostrar tudo, sensibilidade, fantasias.
Enquanto o sexo pornográfico é algo explícito, público, sem espaço para a
imaginação, banal, baixaria, falta de classe, aberração. Talvez a diferença
entre erotismo e pornografia não seja tão grande quanto parece à primeira
vista. O erotismo é aceito. A pornografia é condenada, mas não podemos nos esquecer
de que o erotismo de hoje é a pornografia de ontem. Quem melhor define toda
essa questão, é Alain Robbe-Grillet: "A pornografia é o erotismo dos
outros".
Screenshots de Euphoria:
Clique no "spoiler" se quiser visualizar o material.
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