domingo, 17 de junho de 2012

Fate/Stay Night: Guilty Pleasure! Diversão Com Moderação!


Desde o grande sucesso de público Fate/Stay Night, a Type-Moon nunca esteve tão em alta, nem mesmo com Kara no Kyoukai, outro inegável sucesso, tanto de crítica, como comercialmente – Porém as Fate/séries tem um atrativo a mais para o grande público, que vai desde o fato de ser um conteúdo inidentificável para o público infanto-juvenil [não é atoa que a trama não apenas se passa num ambiente escolar, como se concentra nisso], passando pela atraente história de heróis do passado convocados para lutarem uma guerra ~santa~ repleta de intrigas, até o toque de battle shounen. Costuma se dizer que para apreciar completamente toda a estrutura narrativa das Fate/séries, é preciso fechar os olhos pra muitos recursos ali inseridos, mas acaba que este “absurdo” e algumas “discrepâncias”, seja justamente o charme da franquia, que consegue puxar consigo mesmo um material mais maduro [e mais sério] como Fate/Zero – Se colocando além do igualmente maduro [mais pela narrativa, do que pela violência] e um tanto quanto pseudo-cult, Kara no Kyoukai, ou até mesmo o igualmente jovial e refrescante Tsukihime.

Fate/Stay Night que nasceu como uma história totalmente diferente, com uma versão masculina e bishounen daSaber, uma versão feminina e meganede Shirou e um roteiro sutilmente diferente, do qual podemos ver o vislumbre no OVA Fate Prototype de 12 minutos incluso no volume final do comemorativo Carnival Phantasm (em comemoração aos 10 anos de Type-Moon). Obviamente, não há planos de transformar o projeto em uma série, por mais interessante que seja, é perceptível o conceito distribuído nas diversas sequelas de Fate/Stay Night.


A marca “Fate” é forte e sua rápida popularização muito se deve a sua versão anime pelo estúdio DEEN em meados de 2006, dois anos após o lançamento da visual novel escrita pelo fundador da Type-Moon; Kinoko Nasu e ilustrada pelo seu parceiro Takashi Takeuchi. Com 24 episódios e um filme na bagagem [Unlimited Blade Works], a série dirigida de forma terrivelmente irregular por Yuji Yamaguchi, conseguiu cativar uma audiência bem ampla na época, com sua história leve e romântica, onde temos uma garota poderosa, um protagonista fraco e pacifista, que deseja a todo custo protege-la e boas doses de ação. Notou uma semelhança com Shakugan no Shana? Da execução do enredo, às cenas de ação, tudo parece soar retrógado. Isso levando em conta que é uma série do recente ano de 2006. Suzumiya Harui, da mesma época, é bem mais feliz e se adapta completamente ao padrão atual de animação, que consiste em mais dinamismo audiovisual, quando se trata de uma história com ambiente escolar.

 Ainda que mesmo os valores de produção de Fate/Stay Night estão bem na média do padrão atual, que vive de uma paleta de cores desbotada e altos e baixos numa animação sem brilho. E acaba se destacando entre as produções típicas do estúdio DEEN, com um bom orçamento. A efeito de comparação, Higurashi no Naku Koro ni, produção do mesmo estúdio e da mesma época, tecnicamente é beeeem inferior a Fate/Stay Night, com uma animação toda inconsistente. A iluminação é boa, a animação suave, cenários bem desenhados e o character designer é consistente. As cenas estáticas normalmente são boas, o problema é quando parte para ação, onde a falta de um storyboard mais inspirado, angulação e melhores técnicas de tirar o melhor do orçamento, acaba fazendo falta aqui.  Ironicamente, os aspectos mais criticados na adaptação atualmente, são justamente o que o tornaram algo mais popular que o igualmente criticado Tsukihime.


Sendo o material original um típico harém, Fate/Stay Night acaba se destacando mais pelo seu instigante roteiro e diálogos truncados, porém sua adaptação acaba dando um foco maior nas interações de Shirou com as garotas na primeira metade e na sua escolhida [Saber] na metade final, onde o enredo acaba servindo de pano fundo para o teimoso Shirou e a geniosa Saber. Não importa como se olhe, é uma autêntica comédia romântica colegial, com um enredo mais interessante do que a maioria que se vê por ai. E apesar de descaracterizar quase que completamente o material original, funciona até certo ponto. Afinal, por mais questionável que tenha sido essa decisão, a DEEN ofereceu o que o público queria ver; Uma história que valesse mais por ser divertida e um belo conto romântico, do que pelo seu roteiro.

E convenhamos que a comédia é funcional, com um humor sob medida que sabe tirar o melhor dos trejeitos de seus personagens: Seja a Taiga e o seu senso de proteção, ou a Saber, com todo o seu moemoe, apetite fora do comum e aquele típico ar de cabeça de vento, comum nas heroínas principais. Sei de quem morra de suspirar ao ver Saber e Shirou cozinhando juntos (e é realmente bonitinho) e toda a sequência censurada. Shirou faz o que se espera de um protagonista padrão, ao interagir e se preocupar com as outras garotas, estando sempre presente. O romance é até bonito olhando de uma forma racional [embora particularmente eu ache meio “ugh”, justamente por ser o Shirou ali – É... não gosto dele nem no material original]; Como um típico admirador do gênero não vai se encantar com ele todo envergonhado ao ver a Saber, nua? Com os dois em seu primeiro encontro? Que, aliás, foi um encontro para criar memorias que conseguiram atingir em cheio o objetivo. O encontro romântico, acaba sendo divertidíssimo! Shirou e seus poucos momentos com IIya e o elo fraternal que eles desenvolvem, suas conversas com Rin e as ótima tiradas da personagem. Rin é sem sombra de dúvidas umas das melhores e mais simpáticas tsunderes já criadas. Todo o culto que a personagem conseguiu através de suas multidões de fã é altamente justificável. 

Shirou pensando: "Eu vi, eu vi, eu vi. Quero ver mais, OHMYGOD!"

Mas o melhor aqui é sem dúvida Saber X Shiro. Seja saber com o olhar distante, quando sentada na varanda ou depois de ter aquela briga na ponte com Shirou, onde permaneceu até que este retornasse para busca-la. Quando enfim Saber se descobre apaixonada por ele. Okay, chega. Fate/Stay Night é inegavelmente uma série divertida. O ponto é que temos uma história, que consegue se utilizar de forma extremamente eficaz dos aspectos que tornaram esses personagens tão queridos [ou odiados] pelo público. É bem obvio a intenção da produção, embora o anime sofra a todo o instante de uma crise palpável de identidade onde tudo leva ao romance e a suposta guerra que acontece paralelamente a tudo isso, nada mais parece que um recurso para colocar isso ainda mais em evidência.

Sinceramente, eu não vejo problema nessa abordagem. Os episódios iniciais não são tão bem executados, mas com o tempo, a trama ganha ritmo e consegue ser eficaz no que se propõe a ser. Está longe de ser um material brilhante, mas consegue agradar ao fã casual, que está à procura de diversão barata e descontraída depois de um dia estressante.  E mesmo com todas as incoerências e falta de estrutura do roteiro, Fate/Stay Night agrada a este público exatamente por isso. Como entretenimento, conseguiu [com uma dormidinha aqui, um sorriso ali e um ranger de dentes acolá – Algo perfeitamente normal] me entreter, mas estruturalmente é uma série medíocre por sua falta de coerência e lógica que desrespeita tópicos impostos pela própria (!!) versão animada.

Largue o osso, Shirou

A súbita mudança de personalidade de Saber já na metade do anime, para que o romance acontecesse – Este que por sua vez, soa, além de forçado, completamente fora do lugar se levarmos em questão o atual momento em que o enredo estava. Não é tangível pensarmos que Arturia Pendragon, Rei de Grã-Bretanha, simplesmente se demoveu da ideia fixa que carregara durante toda a série, depois de uma briga romântica com Shiro. Mais inverossímil ainda, ela se começar a agir como uma garotinha virgem depois que Shirou adentra em seu interior (hahaha olha o duplo sentido). É um problema pelo fato de que Yuji Yamaguchi não faz uma boa transição do roteiro, que originalmente é repleto de nuances. Essas sutilezas são perdidas na adaptação onde o roteiro é simplesmente pavoroso, salve algumas linhas de diálogos. 

Shirou: Isso é errado. Não se pode simplesmente mudar o passado!
Saber: Mas eu preciso, eu vivi por isso até hoje.
Shirou: Tá errado, eu não aceito isso!
Saber: Por quê?
Shirou: Por que eu te amo. Eu quero que você fique comigo.
Saber: Você tá certo... eu acho, porque fiquei aqui pensando meia hora em uma solução e não encontrei a resposta...
Shirou: É porque você é loira kkkk

Mas eu acredito que, o que tiram completamente a relevância da guerra, acaba sendo a brigas de casais entre os dois no meio das batalhas. Chega a ser cômico. É até divertido esse feeling Eduardo & Mônica. Não seria um problema se não fosse o tom adotado, onde a trama quer se levar a sério. Os diálogos são por vezes, irritantes ou superficiais, onde Shirou quer ser o cavaleiro que irá salvar a Saber, mesmo não tendo o mínimo de preparo e ela sendo um cavaleiro treinado e inimaginavelmente mais hábil. As atitudes de Shirou não são corajosas, mas sim idiotas (!). O enredo é extremamente ingênuo, com os estereótipos tipicamente shounen e um trivial romance adolescente em uma história que supostamente quer emular uma sensação de gravidade e perigo de uma guerra trágica – Quer ser algo maduro e filosófico, mas sem abrir mão do roteiro estilo malhação. O que estruturalmente, é insustentável.

Encontro emocionante

Yuji Yamaguchi tenta misturar vários elementos [das três rotas da visual novel] e acaba se perdendo completamente. O conflito de Shirou com Archer é bem vago e soando como uma preparação climática para o filme. O conflito de Sakura e Rin, IIya e Shirou – Algo estimulado ao máximo, mas que acaba ficando com as pontas soltas, com essas tramas sendo praticamente esquecidas na parte final. Os personagens secundários não possuem o mínimo de desenvolvimento, com suas ações soando vazias e sem muito propósito, que não, levar Shirou à previsível vitória. Afinal, tentar levar o espectador a acreditar que com alguns dias de treino a Saber e suas espadas de madeira, ele seria capaz de vencer um servo como Gilgamesh, é risível e uma saída fácil para a falta de técnica da direção. É ainda mais absurdo que a ingenuidade de Raki na versão animada de Claymore, que pra todos os efeitos, ainda é uma criança.

Com personagens secundários jogados na trama e que aparecem e desaparecem convenientemente do nada, onde até mesmo Rin é subdesenvolvida, uma Saber que é apenas uma casca vazia. Shiriu, um protagonista mal desenvolvido – Fate/Stay Night em termos de plausibilidade com o que se propõe, é ridículo. Funciona apenas para adeptos do “desligue o cérebro para poder curtir”, mas algo difícil de engolir para quem curte ter o cérebro massageado e ter uma experiência completa de audiovisual.


 "Você é uma mulher vil, você me desafia até o fim? Ainda assim, eu vou te perdoar. Algumas coisas se tornam ainda mais lindas quando não podem ser alcançadas."

Eu morri toda, confesso.


Fate/Stay Night tem um problema em ilustrar e diferenciar ideologia filosófica com burrice humana. O problema não é ser diferente ou não ser uma boa adaptação do original, mas o fato de não fazendo sentido nem com o que se propõe. Hourou Musuko e Usagi Drop são adaptações condensadas, que perdem o timing do original, mas que funcionam maravilhosamente como histórias próprias, independentes de muletas (sair à procura de informações pra se entender o enredo). Claro, tem o mérito de saber ser divertido, mas não é um bom sinal quando a sequência mais lógica do anime é justamente o seu prólogo final. E justiça seja feito, foi um belo final.

Mas afinal, o público atual está mais exigente que o de anos atrás ou Fate/Stay Night que envelheceu muito mal? Qualquer seja a resposta, aqueles que forem assisti-lo depois de Fate/Zero, provavelmente ficarão decepcionados. Ao menos, aqueles que pensam com a lógica e não com o coração. Afinal, além dos problemas estruturais, não é uma adaptação louvável.

P.: Presentinho meu pra quem quer conhecer a história original, sem precisar baixar a visual novel (textos em inglês).

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