Desde o grande sucesso de público Fate/Stay Night, a
Type-Moon nunca esteve tão em alta, nem mesmo com Kara no Kyoukai, outro inegável sucesso, tanto de crítica, como
comercialmente – Porém as Fate/séries tem um atrativo a mais para o grande
público, que vai desde o fato de ser um conteúdo inidentificável para o público
infanto-juvenil [não é atoa que a trama não apenas se passa num ambiente
escolar, como se concentra nisso], passando pela atraente história de heróis do
passado convocados para lutarem uma guerra ~santa~
repleta de intrigas, até o toque de battle
shounen. Costuma se dizer que para apreciar completamente toda a estrutura
narrativa das Fate/séries, é preciso fechar os olhos pra muitos recursos ali
inseridos, mas acaba que este “absurdo” e algumas “discrepâncias”, seja
justamente o charme da franquia, que consegue puxar consigo mesmo um material
mais maduro [e mais sério] como Fate/Zero
– Se colocando além do igualmente maduro [mais pela narrativa, do que pela
violência] e um tanto quanto pseudo-cult,
Kara no Kyoukai, ou até mesmo o
igualmente jovial e refrescante Tsukihime.
Fate/Stay Night que nasceu como uma história totalmente diferente,
com uma versão masculina e bishounen daSaber, uma versão feminina e meganede Shirou e um roteiro sutilmente diferente, do qual podemos ver o
vislumbre no OVA Fate Prototype de
12 minutos incluso no volume final do comemorativo Carnival Phantasm (em comemoração aos 10 anos de Type-Moon).
Obviamente, não há planos de transformar o projeto em uma série, por mais interessante que seja, é perceptível o conceito distribuído nas diversas sequelas de Fate/Stay Night.
A marca “Fate” é forte e sua rápida popularização muito se
deve a sua versão anime pelo estúdio DEEN em meados de 2006, dois anos após o
lançamento da visual novel escrita pelo fundador da Type-Moon; Kinoko Nasu e
ilustrada pelo seu parceiro Takashi Takeuchi. Com 24 episódios e um filme na
bagagem [Unlimited Blade Works], a
série dirigida de forma terrivelmente irregular por Yuji Yamaguchi, conseguiu
cativar uma audiência bem ampla na época, com sua história leve e romântica,
onde temos uma garota poderosa, um protagonista fraco e pacifista, que deseja a
todo custo protege-la e boas doses de ação. Notou uma semelhança com Shakugan no Shana? Da execução do
enredo, às cenas de ação, tudo parece soar retrógado. Isso levando em conta que
é uma série do recente ano de 2006. Suzumiya
Harui, da mesma época, é bem mais feliz e se adapta completamente ao padrão
atual de animação, que consiste em mais dinamismo audiovisual, quando se trata
de uma história com ambiente escolar.
Sendo o material original um típico harém, Fate/Stay Night
acaba se destacando mais pelo seu instigante roteiro e diálogos truncados,
porém sua adaptação acaba dando um foco maior nas interações de Shirou com as
garotas na primeira metade e na sua escolhida [Saber] na metade final, onde o
enredo acaba servindo de pano fundo para o teimoso Shirou e a geniosa Saber.
Não importa como se olhe, é uma autêntica comédia romântica colegial, com um
enredo mais interessante do que a maioria que se vê por ai. E apesar de
descaracterizar quase que completamente o material original, funciona até certo
ponto. Afinal, por mais questionável que tenha sido essa decisão, a DEEN
ofereceu o que o público queria ver; Uma história que valesse mais por ser
divertida e um belo conto romântico, do que pelo seu roteiro.
E convenhamos que a comédia é funcional, com um humor sob
medida que sabe tirar o melhor dos trejeitos de seus personagens: Seja a Taiga
e o seu senso de proteção, ou a Saber, com todo o seu moemoe, apetite fora do
comum e aquele típico ar de cabeça de vento, comum nas heroínas principais. Sei
de quem morra de suspirar ao ver Saber e Shirou cozinhando juntos (e é realmente bonitinho) e toda a
sequência censurada. Shirou faz o que se espera de um protagonista padrão, ao
interagir e se preocupar com as outras garotas, estando sempre presente. O
romance é até bonito olhando de uma forma racional [embora particularmente eu
ache meio “ugh”, justamente por ser o Shirou ali – É... não gosto dele nem no
material original]; Como um típico admirador do gênero não vai se encantar com
ele todo envergonhado ao ver a Saber, nua? Com os dois em seu primeiro
encontro? Que, aliás, foi um encontro para criar memorias que conseguiram
atingir em cheio o objetivo. O encontro romântico, acaba sendo divertidíssimo!
Shirou e seus poucos momentos com IIya e o elo fraternal que eles desenvolvem,
suas conversas com Rin e as ótima tiradas da personagem. Rin é sem sombra de
dúvidas umas das melhores e mais simpáticas tsunderes já criadas. Todo o culto
que a personagem conseguiu através de suas multidões de fã é altamente
justificável.
Shirou pensando: "Eu vi, eu vi, eu vi. Quero ver mais, OHMYGOD!" |
Mas o melhor aqui é sem dúvida Saber X Shiro. Seja saber com
o olhar distante, quando sentada na varanda ou depois de ter aquela briga na
ponte com Shirou, onde permaneceu até que este retornasse para busca-la. Quando
enfim Saber se descobre apaixonada por ele. Okay, chega. Fate/Stay Night é inegavelmente
uma série divertida. O ponto é que temos uma história, que consegue se utilizar
de forma extremamente eficaz dos aspectos que tornaram esses personagens tão
queridos [ou odiados] pelo público. É bem obvio a intenção da produção, embora
o anime sofra a todo o instante de uma crise palpável de identidade onde tudo
leva ao romance e a suposta guerra que acontece paralelamente a tudo isso, nada
mais parece que um recurso para colocar isso ainda mais em evidência.
Sinceramente, eu não vejo problema nessa abordagem. Os
episódios iniciais não são tão bem executados, mas com o tempo, a trama ganha
ritmo e consegue ser eficaz no que se propõe a ser. Está longe de ser um
material brilhante, mas consegue agradar ao fã casual, que está à procura de
diversão barata e descontraída depois de um dia estressante. E mesmo com todas as incoerências e falta de
estrutura do roteiro, Fate/Stay Night agrada a este público exatamente por
isso. Como entretenimento, conseguiu [com uma dormidinha aqui, um sorriso ali e
um ranger de dentes acolá – Algo perfeitamente normal] me entreter, mas
estruturalmente é uma série medíocre por sua falta de coerência e lógica que desrespeita
tópicos impostos pela própria (!!)
versão animada.
Largue o osso, Shirou |
A súbita mudança de personalidade de Saber já na metade do
anime, para que o romance acontecesse – Este que por sua vez, soa, além de
forçado, completamente fora do lugar se levarmos em questão o atual momento em
que o enredo estava. Não é tangível pensarmos que Arturia Pendragon, Rei de Grã-Bretanha,
simplesmente se demoveu da ideia fixa que carregara durante toda a série,
depois de uma briga romântica com Shiro. Mais inverossímil ainda, ela se
começar a agir como uma garotinha virgem depois que Shirou adentra em seu interior
(hahaha olha o duplo sentido). É um
problema pelo fato de que Yuji Yamaguchi não faz uma boa transição do roteiro,
que originalmente é repleto de nuances. Essas sutilezas são perdidas na
adaptação onde o roteiro é simplesmente pavoroso, salve algumas linhas de diálogos.
Shirou: Isso é errado. Não se pode simplesmente mudar o passado!
Saber: Mas eu preciso, eu vivi por isso até hoje.
Shirou: Tá errado, eu não aceito isso!
Saber: Por quê?
Shirou: Por que eu te amo. Eu quero que você fique comigo.
Saber: Você tá certo... eu acho, porque fiquei aqui pensando meia hora
em uma solução e não encontrei a resposta...
Shirou: É porque você é loira kkkk
Mas eu acredito que, o que tiram completamente a relevância da
guerra, acaba sendo a brigas de casais entre os dois no meio das batalhas.
Chega a ser cômico. É até divertido esse feeling Eduardo & Mônica. Não
seria um problema se não fosse o tom adotado, onde a trama quer se levar a
sério. Os diálogos são por vezes, irritantes ou superficiais, onde Shirou quer
ser o cavaleiro que irá salvar a Saber, mesmo não tendo o mínimo de preparo e
ela sendo um cavaleiro treinado e inimaginavelmente mais hábil. As atitudes de
Shirou não são corajosas, mas sim idiotas (!).
O enredo é extremamente ingênuo, com os estereótipos tipicamente shounen e um
trivial romance adolescente em uma história que supostamente quer emular uma
sensação de gravidade e perigo de uma guerra trágica – Quer ser algo maduro e filosófico,
mas sem abrir mão do roteiro estilo malhação. O que estruturalmente, é insustentável.
Encontro emocionante |
Yuji Yamaguchi tenta misturar vários elementos [das três
rotas da visual novel] e acaba se perdendo completamente. O conflito de Shirou
com Archer é bem vago e soando como uma preparação climática para o filme. O
conflito de Sakura e Rin, IIya e Shirou – Algo estimulado ao máximo, mas que
acaba ficando com as pontas soltas, com essas tramas sendo praticamente
esquecidas na parte final. Os personagens secundários não possuem o mínimo de
desenvolvimento, com suas ações soando vazias e sem muito propósito, que não, levar
Shirou à previsível vitória. Afinal, tentar levar o espectador a acreditar que
com alguns dias de treino a Saber e suas espadas de madeira, ele seria capaz de
vencer um servo como Gilgamesh, é risível e uma saída fácil para a falta de técnica
da direção. É ainda mais absurdo que a ingenuidade de Raki na versão animada de
Claymore, que pra todos os efeitos,
ainda é uma criança.
Com personagens secundários jogados na trama e que aparecem
e desaparecem convenientemente do nada, onde até mesmo Rin é subdesenvolvida,
uma Saber que é apenas uma casca vazia. Shiriu, um protagonista mal
desenvolvido – Fate/Stay Night em termos de plausibilidade com o que se propõe,
é ridículo. Funciona apenas para adeptos do “desligue o cérebro para poder
curtir”, mas algo difícil de engolir para quem curte ter o cérebro massageado e
ter uma experiência completa de audiovisual.
"Você é uma mulher vil, você me desafia até o fim? Ainda assim, eu vou te perdoar. Algumas coisas se tornam ainda mais lindas quando não podem ser alcançadas."
Eu morri toda, confesso.
Fate/Stay Night tem um problema em ilustrar e diferenciar
ideologia filosófica com burrice humana. O problema não é ser diferente ou não
ser uma boa adaptação do original, mas o fato de não fazendo sentido nem com o
que se propõe. Hourou Musuko e Usagi Drop são adaptações condensadas,
que perdem o timing do original, mas que funcionam maravilhosamente como
histórias próprias, independentes de muletas (sair à procura de informações pra se entender o enredo). Claro,
tem o mérito de saber ser divertido, mas não é um bom sinal quando a sequência
mais lógica do anime é justamente o seu prólogo final. E justiça seja feito,
foi um belo final.
Mas afinal, o público atual está mais exigente que o de anos
atrás ou Fate/Stay Night que envelheceu muito mal? Qualquer seja a resposta,
aqueles que forem assisti-lo depois de Fate/Zero, provavelmente ficarão decepcionados. Ao menos, aqueles que pensam com a lógica e não com o
coração. Afinal, além dos problemas estruturais, não é uma adaptação louvável.
P.: Presentinho meu
pra quem quer conhecer a história original, sem precisar baixar a visual novel (textos em inglês).