Jormungand é um daqueles animes com a proposta de 2 cours
independente de fatores externos, separados por um espaço de tempo médio de 3
meses, de uma temporada para outra. Encontramos exemplos recentes em produções
como Fate/Zero e Medaka Box, que já nasceram planejados para split-cour – Com o
aumento da demanda de animes a partir dos anos 2000, essa prática passou a se
tornar muito mais comum do que antes, a fim de manter a mesma equipe de
produção sem precisar recorrer a serviços terceirizados, e claro, vendas dos
discos de Blu-Ray/BD.
Resumo:Koko Hekmatyar é uma jovem vendedora de armas da companhia internacional HCLI; uma das grandes empresas traficantes de armas na ativa, que vende para todo o mundo. Com este trabalho de alta periculosidade, ela precisa constantemente fugir da lei e diversos oficiais que estão em seu encalço – Ela é tida com a criminosa mais perigosa e procurada do FBI. Com isso, ela conta com uma equipe bem diversa, formada de ex-oficiais militares à bandidos. A sua última aquisição é Jonah, um garoto habilidoso com armas, não muito expressivo, que mesmo odiando armas por seus pais terem sido mortos num conflito com bandidos utilizando armas ilegais, aceita integrar a equipe de Koko.
Todo mundo carrega o seu vocabulário de classificações chinfrim;
as series assistidas podem ser de “de ecchi”, “de detetive”, “de luta”, “de
violência”, e tem muita gente que classifica Jormungand como um “anime de tiro”
– E eu vou um pouco mais além o classificando como o anime “de uma maluca
carismática”. A bem da verdade, o que não falta em Jormungand, assim como na
maioria dessas séries de anime e mangá envolvendo armas e criminosos, são
personagens malucos querendo dançar ao som do trik-trak boom.
Adaptações para animes de séries como Jormungand – adaptado
com certa fidelidade do mangá já finalizado de 11 volumes de Keitaro Takahashi
– para animes é algo que, convenhamos, não acontece com muita frequência. A
consagrada formula criminosos & armas
que desafiam a suspensão de descrença é algo que faz a cabeça do público casual
aqui no ocidente, já acostumados com a carga explosiva hollywoodiana. Então não
demorou para que Jormungand “estourasse”, e inclusive a sua protagonista (Koko) virou meme com a faixa “Her
name is Koko! She is loco! I said oh, no!”.
A blogsfera torceu o nariz, em parte por sua pegada de filme
B de ação, e a parcela do público que continuou acompanhando a série,
assistiu-a em silêncio. Mas por que, se nos primeiros episódios era o assunto
do momento? Jormungand possui todos os ingredientes manjados que marcaram
época, como anti-heróis “bad asses”, com o poder de não serem atingidos por nenhuma
bala em tiroteios; antagonistas malvadões de semblante facilmente esquecíveis
que existem somente para serem mortos; missões com tiroteios na selva, vilarejos
distantes, cidades movimentadas; armas de todos os tipos e calibres. E, o mais
importante: tiros e explosões.
No episódio 03, por exemplo, Jonah corre em linha reta em
direção à um casal de assassinos habilidosos sem nenhuma cobertura. Ambos os
lados em fogo cruzado, e ainda assim todos saem ilesos. Alguns segundos depois,
este mesmo casal de assassino estão com snipers de prontidão em cima do
telhado. A linha de ação de Jormungand é descerebrada. Agrada principalmente
quem adora a velha formula de pipoquinha
crocante. Narrativa divida em arcos fragmentados com pouca ou nenhuma
relação entre si, com Koko fazendo suas operações de sempre. Missões que
falham. Emboscadas. Uma frágil linha de drama barato. Personagens Badass. Isto
poderia ser apenas uma desculpa para tiros, explosões, diálogos sarcásticos e
engraçadinhos, tiros, explosões, Koko e seus planos malucos, e claro, tiros e
explosões.
Mas, se por um lado Jormungand constrói uma lógica própria
com relação à linha de ação, as operações de Koko se mostram muito
estratégicas. Isso é o que dá para se perceber na primeira parte da série. É
perceptível, porém não é explorado sabiamente. As sequências de ação vão se
tornando cada vez mais esparsas, e a narrativa não se sustenta porque ao
contrário de Black Lagoon, os personagens aqui não são interessantes o
suficiente, os eventos vão se tornando repetitivos. Falta tensão e senso real
de perigo (algo que Highschool of the Dead sabia construir muito bem, a despeito da execução um tanto quanto intencionalmente
nosense). Embora Koko continue esbanjando carisma, Jonah se sente perdido
na história com monólogos em off que nada acrescentam. Nada.
O primeiro cour de Jormungand é facilmente esquecível,
apesar dos seus momentos divertidos, a narrativa não é desenvolvida de uma
forma que estruture melhor a segunda parte, e fora Koko e Valmet que se
destacam pelo carisma, todos os personagens passam batidos. Já nos momentos
finais, a história volta a esquentar com a subtrama de Valmet, que possui certa
densidade, tornando a ação muito mais atrativa pelo contexto ao qual se insere.
E pela primeira vez na série, temos uma tensão psicológica nunca antes vistas,
numa sequência incrível envolvendo Valmert e Jonah ao som de uma trilha sonora
brasileira; “Meu Mundo Amor”, que fecha o cour com uma melancolia acentuada que
faz uma simetria perfeita com o que se vê no vídeo. Foi bonito, e até mesmo tocante.
O estúdio WHITE FOX repete o mesmo feito anteriormente em
Steins;Gate, e nos brinda com um character designer que fica muito, muito
aquém do original, que é belíssimo. Em Jormungand os personagens são quadrados
ou delineados em linhas retas. O traçado é simples e fácil de desenhar,
evidenciando o baixo orçamento da série que possui paletas de cores apagadas,
péssima iluminação e um CG horripilante que salta às vistas. Há momentos em que
isso beira ao bizarro, mas este ar meio trash se assimila bem à história de
fundo. É divertido. Talvez o único porém seja o fato do autor original desenhar
personagens que se assemelham muito uns aos outros, só alterando o cabelo ou físico.
Nota: 05/10
Direção: Keitaro Motonaga
Roteiro: Yousuke Kuroda
Estudio: WHITE FOX
Ano: 2012
Episódios: 12
*a partir daqui, pode haver spoilers*
Jormungand: Perfect Order
Superior ao primeiro cour, onde os arcos são amarrados numa
narrativa contínua. A densidade aumenta e a natureza geopolítica da série ganha
contornos mais sérios. Diversas subtramas politicas vão se formando ao fundo,
com intrigas e articulações de tirar o fôlego. Com isso, a ação ganha mais impacto,
embora tenha deixado de lado toda aquela pirotecnia, as operações se tornam
mais estratégicas e refinadas – Claro que ainda dentro da lógica da série. O
que foi uma pena, levando em conta a intensidade da narrativa, o drama deveria
ganhar mais peso dentro do contexto, com perdas inevitáveis, porém o autor não
parece estar interessado em abrir mãos dos personagens no momento em que a
situação exige. E quando isso acontece,
e somente uma vez, podemos ver um pouco mais da verdadeira Koko. Só é uma pena
que este lado dela não tenha recebido um desenvolvimento melhor. Os personagens
de fundo também tiveram uma evolução e seus conflitos se mostram muito mais
interessantes e envolventes.
Jormungand mostrou nessa segunda parte que não se precisa de
explosões a torto e a direita pra fazer o nosso sangue ferver. Os esquemas
táticos, a tensão, os diálogos, que ao contrário da primeira parte, aqui fazem
o enredo ir pra frente – E claro que houve ação, que ficou muito mais empolgante
com um bakground melhor estruturado e uma tensão cada vez mais crescente por
não sabermos exatamente qual o objetivo final da Koko.
E por fim, o título faz sentido. Isso é bom e é ruim. Por um
lado, isso mostra que o autor não soube estruturar bem o enredo. Sinceramente?
Jormungand se parece com uma história construída de baixo para cima, e não de
cima para baixo. Claro que, pelo título, é evidente que ele sabia qual o ponto
queria alcançar, porém ele parece não saber como chegar a este ponto, e faz uma
primeira metade completamente distinta da segunda, com eventos aleatórios e
tramas que não andam pra frente, não fazem os personagens se desenvolverem, e
nem trabalha temas que serão importantes para o clímax final. Por outro lado,
mostra que a história foi pensada antes mesmo de ir para o papel, apesar de mal
estruturada.
Quando o fogo e o gelo se encontram as consequências podem
ser nefastas. Eu gosto deste simbolismo pairando no ar, entre a frieza gelada
de Koko (e sua aparência de alguém
oriundo de um país nórdico. Ela é como se posta ao mesmo tempo como uma serpente,
e como um lobo branco), e o fogo das armas que vende que parece arder no
interior de todos ali.
Loki, deus do fogo casou com a deusa Angrboda. Da união com
Angrboda nasceram; Fenrir, um lobo gigantesco com força extraordinária;
Jormungand (ou Jormungandr), uma
serpente gigante e Hel, a rainha do Inferno. Odin, o pai dos deuses, os pegou e
levou para sua fortaleza, temeroso do que eles pudessem fazer. Decidiu ele
atirar Jormungand (que significa
serpente lobo) em Midgard, ou seja, a Terra. Caindo no oceano, lá ela
ficou, sem que ninguém ousasse incomodá-la… Cresceu cada vez mais, tanto que
seu corpo dá a volta ao mundo… Os marinheiros a chamaram de serpente de
Midgard; a serpente que mora na Terra, o local entre a morada dos deuses e a
terra dos mortos.
Vocês percebem em como a figura de Koko se mistura à de
Jormungand? Ela abomina a guerra; dede pequena fora jogada junto a seu irmão
neste mundo por seu próprio pai, dono da companhia HCLI (sic... uma pena isso não ter sido tratado da forma que merecia. Tinha tudo
para ser um conflito FODA). Segundo o poema escandinavo Edda, quando chegar
o Apocalipse (Ragnarok) ela vai ser
cuspida do mar de volta à terra, onde vai envenenar os céus. Assim nasce o
plano Jormungand, que já estava em
execução desde o inicio da história, embora não há a mínima pista sobre isso. O
projeto secreto desenvolvido entre Koko Hekmatyar e Amanda Minami envolve o uso
de uma rede de satélites restringindo a tecnologia, e assim acabando com a
guerra e trazendo a paz ao mundo.
Não vou entrar nos aspectos técnicos do plano, porque ele é
coerente. Eu vou dizer o que não é coerente: O que Koko espera alcançar com
este plano. É infantil e estúpido, digno de algo saído da mente de uma “princesinha”,
como ela é chamada. Porém, nós sabemos muito bem que Koko, apesar de louca, não
é burra. Ela é inteligente e estrategista. O plano ser infantil e estúpido, não
seria um problema se a postura de Koko fosse outra. Assim, fica evidente que
mesmo a série centralizando em sua personagem, ela é tão subdesenvolvida que
este argumento se mostra ofensivo.
Koko odeia o comercial de armas, o que faz com que se alie à
Jonah, e assim a série amarra as poucas pontas soltas que tem. Ela é
extremamente lógica. Suas ações são precisas. Sabe que precisa agir não importando
quantos serão sacrificados no processo. É preciso, ainda que saibamos que ela
abomina envolver inocentes desnecessariamente. Aí está o problema. Ela traça
planos com objetivos concretos (é assim
que a vemos, durante todos os episódios). Koko não é ideológica como a mensagem
final deixa subtender. Ela não é ingênua, embora se esconda atrás de uma
mascara, é pratica. Os seus momentos de fraqueza emocional, como na morte de R,
e quando Lehm a diz o obvio; que não é bom deixar transparecer o seu carinho
por seus homens – Isso a torna humana, ao contrário da primeira metade, aqui
ela se mostra uma personagem muito mais complexa.
Isso soa incoerente com sua decisão final, onde seria muito
mais palpável se ela fosse uma personagem mais plana e menos madura,
autenticamente uma “princesinha”. Quando ela revelou o seu plano, eu pensei
comigo “essa não é a minha Koko”. Como já sabemos, guerras trazem consigo grandes
mudanças, e aquele mundo chegou num ponto irreversível, necessitando realmente
de um impacto para trazer uma nova perspectiva. Este enredo, delineado em torno
da “Perfeita Ordem” (uma clara
referência à “velha” e a “nova” ordem mundial) por este aspecto é incrível,
principalmente por trazer à tona conceitos verossímeis (a citação à Julian Assange referenciando o controle absoluto de
informações por Koko e o atentado terrorista às torres gêmeas americanas foram
um excelente adendo), como o ressurgimento de uma nova guerra fria, a logística
por trás do tráfico internacional, a supremacia americana em choque com os países
pobres em extrema pobreza e o ponto mais incrível; o ressurgimento da URSS.
Aliás, aquele símbolo socialista ao lado das três cadeiras que representam o
surgimento de uma nova ordem, no episódio final, me fez vibrar na cadeira.
O conceito do autor é maravilhoso, e ele soube amarrar isso
ao seu enredo com um toque incrível (vale
é um post só para isso). Não há nada de errado com o plano. O problema está
na Koko e como ela foi moldada até então. O autor dá uma justificativa que
ofende qualquer ser pensante, quando o objetivo de sua personagem se resume há
uma ideia muito vaga de paz, do qual nem ela mesma tem certeza. Seria mais plausível,
se sua motivação fosse a de trazer uma nova perspectiva para o mundo, e não a
extinção da guerra. E bem, Kasper (irmão
de Koko) se mostrou um bom personagem, e sua frase final foi impactante (ele a tratando como uma tola me doeu um
pouco, mas suas palavras representam o obvio. E gostei dela ter sentido essas
palavras). Jonah, por outro lado, foi decepcionante em todos os sentidos.
Um personagem que não mostrou a que veio. Poderia ter morrido na primeira
parte, e sua ausência não seria sentida.
Nota: 06/10
Direção: Keitaro Motonaga
Roteiro: Yousuke Kuroda
Estudio: WHITE FOX
Ano: 2012
Episódios: 12
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> Destaque para a trilha sonora fantástica da série composta pelo igualmente fantástico Taku Iwasaki ([C], Jojo, Katanagatari, Gurren Lagann). Vale baixar toda a trilha sonora da série, e conferir o seu ótimo trabalho. Algumas peças são excelentes para quem curte aqueles instrumentais mais instrospectivos. E claro, a música "Meu mundo amor", interpretada pelo brasileiro Silvio Anastacio se destaca em meio às baladas explosivas de Mami Kawada e Maon Kurosaki. Temos aqui, uma das melhores trilhas sonoras de animes, em 2012.
> Não entrei no mérito, mas a relação entre Koko e seus
homens, a sua convicção de nunca envolver inocentes a não ser que fosse
preciso, e todas as tretas pelo qual passaram junto, foi algo divertidíssimo de
se acompanhar.A relação entre Koko e Kasper também foi sensacional. Não precisou de muito, para que ficasse evidente e conecção afetiva entre os dois irmãos. Sei que estou sendo sentimental, mas se me perguntarem se valeu apena assistir Jormungand, eu direi que sim. Foi divertidíssimo no fim das contas.
> A direção de Keitaro Motonaga, que dirigiu Katanagatari e o esquecido Phantom the Animation (outro anime de tiros), não está tão afiada, mas desempenha bem o esperado. Só gostaria que ele tivesse tomado certas liberdades na produção. A composição e roteiro de Yousuke Kuroda não compromete, mas em alguns momentos alguns diálogos soam mais carregados e complexos do que deveria. No mais, estúdio White Fox fez relativamente mais uma boa adaptação. O meu problema é com o texto original.
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