Amores adolescentes: mas amores por acaso têm idade.
Certamente não, mas há diversas formas de amor e sentir amor que são associados
a diversas camadas de idade. O de Harmonie é o descobrir novos mares, tão típico
de uma certa idade.
Yasuhiro Yoshiura, diretor do elogiado Eve no Jikan, parece
nutrir uma paixão especial por temáticas que dialoguem intrinsecamente com a
estética ambiente das historias que conta, como parte complementar para se
entendê-la. Claro que cenários são componentes complementares de qualquer
história e eles dizem muito sobre o que está sendo contado, no entanto, há
produções em que esta característica se torna fundamental para degustação e
compreensão do que se vê. É assim que O Jardim das Palavras (Kotonoha no Niwa) se torna tão
provocante, onde as palavras são quase que inexistentes e tudo que é
fundamental se mostra apenas de modo implícito através de imagens mudas. Aquatic
Language e Pale Cocoon, por exemplo, são dois curtas do Yoshiura com desfechos
não conclusivos, mas com as respostas implícitas em sua estética narrativa.
Harmonie começa com um monologo interno de Akio Honjo (Yoshitsugu Matsuoka) que daria o tom
de todo o curta: “Todos tem seu próprio mundo dentro de si. Eu acho que os mundos do
Yoshida e do Watanabe são muito parecidos com o meu. Por isso nos damos tão
bem. Mas Juri Makina é diferente. Eu duvido que possa entrar no mundo dela.”
– enquanto ele reflete, podemos ver ao fundo folhas de desenhos sendo manuseadas
por ele, que mostram algo muito íntimo de alguém, para então cortar para todos
os 34 alunos da turma 2-1 antes da entrada do professor, cada um deles imersos
em seu próprio mundinho, formado por uma rodinha/panelinha de 3 ou 5 alunos,
onde cada grupo discute um assunto de interesse comum.
Akio faz parte de um grupo não muito popular em uma zona de
interesses que diverge da grande maioria. Eles gostam de discutir sobre coisas
como a adaptação do seu mangá ou light novel para animes, comparando ambas as
versões, discutindo a dublagem, trilha sonora, etc. É um grupo nerd que se
reuniu porque possuem interesses e assuntos em comum. Akio é apaixonado em
segredo pela popular Juri Makina (Reina Ueda), com uma curiosidade latente de como é o seu mundo, o mundo de uma
garota popular sempre sorridente e rodeada de amigos. O que ele não suspeita é
que o mundo de Juri e o seu próprio, são muito mais parecidos do que pode
imaginar.
Não é preciso muito para compreender do que Harmonie se
trata, principalmente numa época onde as redes sociais cumprem o papel de unir
interesses comum de pessoas que moram tão distantes uma da outra, mas que se identificam
de alguma forma, formando um circulo que talvez não fosse possível formar com
mais ninguém caso não fosse o advento da internet. Essa é um dos modos de
vários mundos se encontrarem. A sociedade está repleta desses grupinhos
particulares com mundos semelhantes ao outro, fazendo com que às vezes muitos
que estão de fora se sintam excluídos.
Harmonie vai além, construindo uma relação intimista com a
música, ritmos e sonhos; elementos tão íntimos e particulares intrínsecos em
cada ser, onde para se entrar em contato com este mundo, se faz necessário estar
em harmonia com ele. Como na teoria musical: uma combinação de notas simultâneas
tocados de uma só vez ritmicamente. Ou no consenso popular, onde a harmonia é
uma relação de plena união e mutua compreensão.
A narrativa trabalha com duas tramas simultâneas (o mundo de Akio e o de Juri) que em
determinado momento não irão convergir em uma só, como se espera – fato que
eleva mais ainda a beleza desse curta de 25 minutos. Por mais harmônicos que
possam ser dois corpos, eles nunca se tornarão apenas um, ao contrário do que
diz os poetas e o senso romântico. Mas eles irão se reconhecer e o mundo de um
se tornará mais e mais instigante aos olhos do outro. Seu universo interior é
algo apenas seu, sendo que o máximo que um outro consegue entrar em contato é
através dos fragmentos que você proporciona a ele. Como Juri que indiretamente
conta os sonhos que tem todas as noites para Akio, sendo esta a única forma com
que ele consegue visualizar seu mundo interior; porque ela lhe disse, não
porque são almas gêmeas capazes de destrinchar um interior de alguém apenas com
um olhar ou contato íntimo. No entanto, como uma linda alegoria para a adolescência
e suas paixões – assim como a necessidade dessa faixa etária de se apaixonar e
desbravar outros mundos que parecem tão distantes e diferentes dos seus –
Harmonie permite à ambiguidade típica, em que Juri acaba confundindo e achando
que Akio é a pessoa predestinada no qual ela sempre esteve à espera. Tudo bem,
a história deles está apenas começando e possui um longo caminho pela frente.
O que Harmonie quer mostrar não é o desenvolvimento dessa
relação, mas o estreitamento, aquele momento mágico onde se conhece alguém e
ambos descobrem uma infinidade de interesses similares, sendo esta a ponta que
propicia o nascimento de um possível relacionamento. Às vezes, da nossa
confortável zona de conforto, nos atraímos por um mundo tão distante do nosso,
e temos receio de tentar uma aproximação por acharmos que são mundos
completamente diferentes. É necessário um primeiro contato para mostrar que
talvez não seja assim tão diferente quanto imaginávamos a principio. Harmonie é
isto, uma linda história adolescente sobre descobertas. Nesse sentido, a
história em narrativa de videoclipe contada simultaneamente diz bastante sem
uma única palavra: o momento que nos mostramos intimamente para o outro, a
necessidade de encontrar alguém que nos preencha com as mesmas cores.
Juri sentia essa necessidade se mostrar como ela realmente
era por dentro, algo que ela aprendeu a reprimir dentro de si devido à
incompreensão dos outros. Por isso, fica implícito sua mudança a partir de determinado
momento, omitindo seu mundo: fato que a deixa desconcertada quando uma de suas
amigas coloca uma canção em seu celular que a faz se recordar dessa época e ser
novamente motivo de risos de toda a turma. Harmonie não poupa recursos para
contar sua história, empregando rimas visuais que deixam até um aspecto poético
no ar. Veja como os celulares e reprodutores de mp3 se mostram presentes justamente
numa história que é sobre se conectar, comunicar; a necessidade de conversar
com um outro alguém. Dessa forma, a estética é muito mais impressionante pelo seu teor conceitual (universo alado, o mundo escolar multifacetado destacado pelos planos de câmera, os celulares, a música) do que gráfico.
Essa melodia cantada por Kokia é tão amor, preciso dela em
versão full!
O character designer pode se mostrar inconstante em diversos
momentos e nem tão refinado como a história merecia, além de um pouco de
exagero nas ações de Juri que às vezes soam um pouquinho fora do tom e deixam
uma impressão de artificialidade (apesar
que animes e mangás são conhecidos justamente por seus exageros para denotar
expressividade). Mas, tudo isso são questões pequenas frente a história
bonitinha que está sendo contada. Para quem gostou, saiu legendas do mais novo
trabalho de Yasuhiro Yoshiura: Sakasama no Patema (pôster abaixo).
Nota: 08/10
Direção: Yasuhiro Yoshiura
História e roteiro: Yasuhiro Yoshiura
Estúdio: Ultra Super Pictures
Tipo: Curta-metragem/tv
Episódios: 01
Duração: 25 min.
Perfis: ANN, MAL, Anilist
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Nota: 08/10
Direção: Yasuhiro Yoshiura
História e roteiro: Yasuhiro Yoshiura
Estúdio: Ultra Super Pictures
Tipo: Curta-metragem/tv
Episódios: 01
Duração: 25 min.
Perfis: ANN, MAL, Anilist
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