domingo, 18 de maio de 2014

Harmonie – Anime Mirai 2014

Amores adolescentes: mas amores por acaso têm idade. Certamente não, mas há diversas formas de amor e sentir amor que são associados a diversas camadas de idade. O de Harmonie é o descobrir novos mares, tão típico de uma certa idade.
Yasuhiro Yoshiura, diretor do elogiado Eve no Jikan, parece nutrir uma paixão especial por temáticas que dialoguem intrinsecamente com a estética ambiente das historias que conta, como parte complementar para se entendê-la. Claro que cenários são componentes complementares de qualquer história e eles dizem muito sobre o que está sendo contado, no entanto, há produções em que esta característica se torna fundamental para degustação e compreensão do que se vê. É assim que O Jardim das Palavras (Kotonoha no Niwa) se torna tão provocante, onde as palavras são quase que inexistentes e tudo que é fundamental se mostra apenas de modo implícito através de imagens mudas. Aquatic Language e Pale Cocoon, por exemplo, são dois curtas do Yoshiura com desfechos não conclusivos, mas com as respostas implícitas em sua estética narrativa.

Harmonie começa com um monologo interno de Akio Honjo (Yoshitsugu Matsuoka) que daria o tom de todo o curta: “Todos tem seu próprio mundo dentro de si. Eu acho que os mundos do Yoshida e do Watanabe são muito parecidos com o meu. Por isso nos damos tão bem. Mas Juri Makina é diferente. Eu duvido que possa entrar no mundo dela.” – enquanto ele reflete, podemos ver ao fundo folhas de desenhos sendo manuseadas por ele, que mostram algo muito íntimo de alguém, para então cortar para todos os 34 alunos da turma 2-1 antes da entrada do professor, cada um deles imersos em seu próprio mundinho, formado por uma rodinha/panelinha de 3 ou 5 alunos, onde cada grupo discute um assunto de interesse comum.

Akio faz parte de um grupo não muito popular em uma zona de interesses que diverge da grande maioria. Eles gostam de discutir sobre coisas como a adaptação do seu mangá ou light novel para animes, comparando ambas as versões, discutindo a dublagem, trilha sonora, etc. É um grupo nerd que se reuniu porque possuem interesses e assuntos em comum. Akio é apaixonado em segredo pela popular Juri Makina (Reina Ueda), com uma curiosidade latente de como é o seu mundo, o mundo de uma garota popular sempre sorridente e rodeada de amigos. O que ele não suspeita é que o mundo de Juri e o seu próprio, são muito mais parecidos do que pode imaginar. 
Não é preciso muito para compreender do que Harmonie se trata, principalmente numa época onde as redes sociais cumprem o papel de unir interesses comum de pessoas que moram tão distantes uma da outra, mas que se identificam de alguma forma, formando um circulo que talvez não fosse possível formar com mais ninguém caso não fosse o advento da internet. Essa é um dos modos de vários mundos se encontrarem. A sociedade está repleta desses grupinhos particulares com mundos semelhantes ao outro, fazendo com que às vezes muitos que estão de fora se sintam excluídos.  

Harmonie vai além, construindo uma relação intimista com a música, ritmos e sonhos; elementos tão íntimos e particulares intrínsecos em cada ser, onde para se entrar em contato com este mundo, se faz necessário estar em harmonia com ele. Como na teoria musical: uma combinação de notas simultâneas tocados de uma só vez ritmicamente. Ou no consenso popular, onde a harmonia é uma relação de plena união e mutua compreensão.

A narrativa trabalha com duas tramas simultâneas (o mundo de Akio e o de Juri) que em determinado momento não irão convergir em uma só, como se espera – fato que eleva mais ainda a beleza desse curta de 25 minutos. Por mais harmônicos que possam ser dois corpos, eles nunca se tornarão apenas um, ao contrário do que diz os poetas e o senso romântico. Mas eles irão se reconhecer e o mundo de um se tornará mais e mais instigante aos olhos do outro. Seu universo interior é algo apenas seu, sendo que o máximo que um outro consegue entrar em contato é através dos fragmentos que você proporciona a ele. Como Juri que indiretamente conta os sonhos que tem todas as noites para Akio, sendo esta a única forma com que ele consegue visualizar seu mundo interior; porque ela lhe disse, não porque são almas gêmeas capazes de destrinchar um interior de alguém apenas com um olhar ou contato íntimo. No entanto, como uma linda alegoria para a adolescência e suas paixões – assim como a necessidade dessa faixa etária de se apaixonar e desbravar outros mundos que parecem tão distantes e diferentes dos seus – Harmonie permite à ambiguidade típica, em que Juri acaba confundindo e achando que Akio é a pessoa predestinada no qual ela sempre esteve à espera. Tudo bem, a história deles está apenas começando e possui um longo caminho pela frente.

O que Harmonie quer mostrar não é o desenvolvimento dessa relação, mas o estreitamento, aquele momento mágico onde se conhece alguém e ambos descobrem uma infinidade de interesses similares, sendo esta a ponta que propicia o nascimento de um possível relacionamento. Às vezes, da nossa confortável zona de conforto, nos atraímos por um mundo tão distante do nosso, e temos receio de tentar uma aproximação por acharmos que são mundos completamente diferentes. É necessário um primeiro contato para mostrar que talvez não seja assim tão diferente quanto imaginávamos a principio. Harmonie é isto, uma linda história adolescente sobre descobertas. Nesse sentido, a história em narrativa de videoclipe contada simultaneamente diz bastante sem uma única palavra: o momento que nos mostramos intimamente para o outro, a necessidade de encontrar alguém que nos preencha com as mesmas cores.
Juri sentia essa necessidade se mostrar como ela realmente era por dentro, algo que ela aprendeu a reprimir dentro de si devido à incompreensão dos outros. Por isso, fica implícito sua mudança a partir de determinado momento, omitindo seu mundo: fato que a deixa desconcertada quando uma de suas amigas coloca uma canção em seu celular que a faz se recordar dessa época e ser novamente motivo de risos de toda a turma. Harmonie não poupa recursos para contar sua história, empregando rimas visuais que deixam até um aspecto poético no ar. Veja como os celulares e reprodutores de mp3 se mostram presentes justamente numa história que é sobre se conectar, comunicar; a necessidade de conversar com um outro alguém. Dessa forma, a estética é muito mais impressionante pelo seu teor conceitual (universo alado, o mundo escolar multifacetado destacado pelos planos de câmera, os celulares, a música) do que gráfico.

Essa melodia cantada por Kokia é tão amor, preciso dela em versão full!
O character designer pode se mostrar inconstante em diversos momentos e nem tão refinado como a história merecia, além de um pouco de exagero nas ações de Juri que às vezes soam um pouquinho fora do tom e deixam uma impressão de artificialidade (apesar que animes e mangás são conhecidos justamente por seus exageros para denotar expressividade). Mas, tudo isso são questões pequenas frente a história bonitinha que está sendo contada. Para quem gostou, saiu legendas do mais novo trabalho de Yasuhiro Yoshiura: Sakasama no Patema (pôster abaixo).

Nota: 08/10
Direção: Yasuhiro Yoshiura
História e roteiro: Yasuhiro Yoshiura
Estúdio: Ultra Super Pictures
Tipo: Curta-metragem/tv
Episódios: 01
Duração: 25 min.
Perfis: ANN, MAL, Anilist

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