Já pensou como seriam os clichês românticos aplicados na vida real?
Este é anime é para mim a surpresa positiva da temporada de
Verão, surgiu como um autêntico underdog (uma
surpresa inesperada) e já no seu primeiro episódio conquistou muita gente
com seu humor bem construído e fluido, assim como uma produção competente ao traduzir
as emoções dos personagens, em um timing acertado. Como se nota a animação não
é virtuosa, mas a composição visual é bem caprichosa e orgânico, especialmente
em relação ao cenário.
Gekkan Shoujo Nozaki-kun (O Mangá Mensal Para Garotas de
Nozaki ou O Shoujo Mensal de Nozaki)
não é exatamente o que parece ao primeiro olhar, algo como um shoujo colegial de romance. É adaptação
de um mangá de tirinhas de humor gag, e embora seja da demografia shounen (para garotos) feito por uma autora
conhecida por seus mangás shoujos (para
garotas) e estruturado como uma sátira às convenções do mangá shoujo, um
dos seus méritos é ter uma linguagem sóbria que pode ser absorvida por qualquer
pessoa independente de gêneros ou larga experiência com mangás ou animes. Sua
linguagem é simples, se beneficiando da repetição no gênero romance, e ao invés
de referências segmentadas, a autora parodia situações; estereótipos e elementos
típicos dos mangás de romance voltados para o publico feminino. Eu diria até
que a autora extrapola neste sentido, porque é perceptível o quanto brinca com elementos
de romances de séries em geral. Então, mesmo se você não lê mangás shoujos e só
assiste a animes, irá perceber a intenção a intenção da obra.
"Nossa relação não progrediu nem um pouco, mas eu continuo-o amando cada vez mais, Nozaki-kun" - SAKURA, Chiyo (esse quote resume o anime Gekkan Shoujo)
A história é sobre Chiyo Sakura (Ari Ozawa) que confessa sua paixão para o alto, bonito e misterioso Umetaro Nozaki (Yuichi Nakamura),
que a convida para sua casa. Ela obviamente cria muitas ilusões a respeito
deste convite, mas a verdade é que Nozaki interpretou sua declaração como a
declaração de qualquer fã ao seu ídolo – acontece que Nozaki é um mangaká sob o
pseudônimo de Sakiko Yumeno – e lhe dá um autografo, além de tê-la convidado
sem nenhum interesse oculto, para a depressão de Sakura que já fantasiava safadamente
como seria sua primeira vez com um homem e se devia aceitar de primeira ou não
o convite dele para fazer sexo. Mas ao invés disto, Nozaki a convida para ser
sua assistente, desenhando os fundos do seu mangá mensal.
Como é de se esperar de uma série que alude às convenções do
shoujo mangá, os personagens masculinos com apelo romântico-sexuais são todos
bishounens, enquanto as garotas não tem tanto apelo neste aspecto. Temos a
Sakura, uma típica protagonista de aparência frágil, doce, meiga e sonhadora. E
Yuzuki Seo (interpretada por Miyuki Sawashiro, perita em personagens tomboys) que é o completo oposto, fazendo
o estilo de personagens similares à Misaki de Kaichou Wa Maid-Sama, muito
hiperativa, pouca romântica e um tanto bruta [ou “masculinizada”] em seus
modos. Já a terceira heroína, Yuu Kashima (Mai Nakahara), é o tipo garota príncipe
comuns em shoujos colegiais e yuris/shoujo-ai (mangás de romance lésbico), que atraem fascínio e adoração de
outras garotas. A Kashima soa como uma personagem saída do teatro Takarazuka,
em que mulheres interpretam personagens do gênero oposto, o que provavelmente é
uma influência na caracterização da personagem, que é integrante de um clube de
teatro.
Os personagens seguem esta caracterização, como a já citada
Sakura ou o Nozaki, que faz o tipo estoico incapaz de perceber o interesse romântico
mesmo que seja algo evidente para todo mundo à sua volta. O conhecimento e a
forma como a autora estrutura sua formula é tão boa que pode até enganar fazendo
com que a série soe como algum tipo de desconstrução ou subversão, em relação a
determinado modo de agir de um personagem. Como Mikoto Mikoshiba (Nobuhiko Okamoto), o personagem muito
galante conquistador e ególatra, atraente sexualmente e de trejeitos femininos,
alusivo ao gênero yaoi ou harém reverso, mas que na real esconde uma pessoa
insegura e tímida, que aprendeu a ter uma postura firme enganadora jogando
eroges (jogos com elementos
pornográficos) e dating sims (simuladores
de namoro). O segredo por trás desta trope de personagem é exatamente a
carência e meiguice escondida por trás da máscara, o que lhe dá um aspecto moe.
Podemos citar também a ídolo Kashima, que apesar de ser
alta, interpretar personagens masculinos e usar roupas neutras, além de ter um
harém feminino aos seus pés, não é masculinizada e a pessoa que ela mais quer
atenção lhe ignora completamente. Ela quer [mesmo que não perceba] é atrair a
atenção do seu interesse romântico senpai tsundere, Masayuki Hori – mas tudo o
que consegue é irritá-lo profundamente. Claro, as ações dos personagens são levadas
a situações extremas por motivos óbvios, mas o que há de mais comuns em alguns estereótipos
é exatamente a quebra da expectativa na sua caracterização.
Hori e Kashima é uma espécie de inversão daquele casal tradicional,
do cara popular e com estigma de príncipe do colégio e completamente sem noção
em seu modo de agir, embora tenha as melhores intenções, enquanto Hori seria a
garota tsundere que espanca o mocinho do mangá e se vê irritada com suas aproximações
ou com seu sexy appeal nas outras garotas, mas que bem no fundinho esconde uma
afeição. A autora é muito competente em misturar e brincar com tantos elementos
e estereótipos clássicos de narrativa, mas não se trata de nada particularmente
original, e sim de uma obra conduzida com segurança e competência, que se
destaca em uma adaptação assertiva do estúdio Dogakobo. Gosto muito da inversão
de papeis de gênero propostos aqui, como a do casal Seo e Hirotaka Wakamatsu (Ryohei Kimura), cabendo a ele o papel
do romântico e delicado da relação, enquanto Seo é hilariamente “moleque” e
indiferente, mas mesmo ela esconde algo “inesperado”, afinal, quem poderia
esperar que Seo tivesse a voz mais encantadora do colégio, um legítimo espirito
artístico?
Gekkan Shoujo como uma série de humor gag, não se leva tão a
sério, nem mesmo os conflitos ou o relacionamento que se dá entre os
personagens, mas há construção e desenvolvimento na relação que mantém entre si
(por exemplo, o flashback que Sakura tem
sobre o dia em que se apaixonou por Nozaki, simplesmente porque ele a ajudou em
um momento complicado e devolveu a tranquilidade ao seu coração – outro elemento
comum de shoujo mangá ou série de romance em geral; lembra-se como a heroína de
CLANNAD se apaixona pelo herói no primeiro encontro do futuro casal?), mas
é o suficiente para dar veracidade às suas motivações e emoções, assim como a
certeza do carinho que há entre eles na forma como se relacionam, mesmo que
isto não seja dito, se nota por seus comportamentos. A série não se levar a
seriedade a sério não é um problema, o fundamental é que sua autora leva sua
história a sério, e isto é evidente. O
que torna divertido é que estes personagens nunca se encontram em sintonia um
com o outro, então mesmo quando um está sendo mais gentil e meigo, com as
melhores intenções, o outro se mostra indiferente ou suspeita de suas reais intenções.
Os personagens de Gekkan Shoujo podem ser construções de estereótipos,
mas ganharam vida e vontade própria na obra, e isto é um feito admirável. Se
desenvolvendo em torno da serialização do mangá shoujo do personagem título
Nozaki, o que se vê é uma aventura divertidamente descontrolada onde cada um
destes personagens irá influenciar no andamento da sua obra, ou melhor dizendo,
da própria série em si.
Nota: 08/10
Direção: Mitsue Yamazaki
Roteiro: Yoshiko Nakamura
Episódios: 12
Estúdio: Dogakobo
Página: ANN
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