ME!ME!ME! o monstro que grita “EU! EU! EU!” dentro do peito
e nega qualquer sentido de viver coletivamente.
-Veja Mais Curtas-Metragem
Em 2014 parece que Hideaki Anno se tornou uma espécie de arroz de festa, ele está em tudo – inclusive é sua a iniciativa de um projeto bem interessante envolvendo seu estúdio de animação Khara em parceria com a gigante Dwango, para a realização de uma média de 30 curtas animados [Japan Animator Expo]. São curtas tematicamente atraentes e ousados, que provavelmente não seriam viáveis em qualquer outro formato, mas que neste seus autores podem utilizar todo o potencial de uma animação com 5 ou 7 minutos. O que mais chamou atenção de todos para o projeto foi o terceiro curta intitulado ME!ME!ME! em formato de vídeo clip que muito lembra animações como a magnifica D City Rock [Anarchy] de Panty & Stocking, o frenético Amazing Nuts!, entre outros. Engraçado foi que quando assisti a ME!ME!ME associei imediatamente à Panty & Stocking, mas o mais surpreendente é que ao que pude apurar, a única ligação direta entre as duas produções é o músico Teddyloid, que compôs a insert song D Rock City. No entanto, é inegável que em termos de composição e o design de determinada personagem, ME!ME!ME! remete bastante ao último grande trabalho do estúdio GAINAX, sob a direção de Hiroyuki Imaishi. Claro, Hideaki Anno e Imaishi foram colegas por muitos anos e co-fundadores do GAINAX, mas o envolvimento do Anno neste curta é somente de produção executiva, e até onde se sabe, sem se envolver na parte criativa. Mas bem, o character design da garota alienígena aqui também é muito similar ao conceito de arte da Queen Gauna de Sidonia no Kishi.
Em 2014 parece que Hideaki Anno se tornou uma espécie de arroz de festa, ele está em tudo – inclusive é sua a iniciativa de um projeto bem interessante envolvendo seu estúdio de animação Khara em parceria com a gigante Dwango, para a realização de uma média de 30 curtas animados [Japan Animator Expo]. São curtas tematicamente atraentes e ousados, que provavelmente não seriam viáveis em qualquer outro formato, mas que neste seus autores podem utilizar todo o potencial de uma animação com 5 ou 7 minutos. O que mais chamou atenção de todos para o projeto foi o terceiro curta intitulado ME!ME!ME! em formato de vídeo clip que muito lembra animações como a magnifica D City Rock [Anarchy] de Panty & Stocking, o frenético Amazing Nuts!, entre outros. Engraçado foi que quando assisti a ME!ME!ME associei imediatamente à Panty & Stocking, mas o mais surpreendente é que ao que pude apurar, a única ligação direta entre as duas produções é o músico Teddyloid, que compôs a insert song D Rock City. No entanto, é inegável que em termos de composição e o design de determinada personagem, ME!ME!ME! remete bastante ao último grande trabalho do estúdio GAINAX, sob a direção de Hiroyuki Imaishi. Claro, Hideaki Anno e Imaishi foram colegas por muitos anos e co-fundadores do GAINAX, mas o envolvimento do Anno neste curta é somente de produção executiva, e até onde se sabe, sem se envolver na parte criativa. Mas bem, o character design da garota alienígena aqui também é muito similar ao conceito de arte da Queen Gauna de Sidonia no Kishi.
Música: Teddyloid feat. daoko
Um cara é atacado e violado por diversas garotas 2D. Com
planejamento, direção, argumento e roteiro de Hibiki Yoshizaki, ME!ME!ME! é
suntuosamente provocativo. O som das higurashi ao fundo me deixam alerta “oh,
vem coisa tensa por ai”, pensei. Começa com o cenário em ângulo aberto, onde
podemos observar tanto pelo estado de organização do quarto quanto pela postura
do personagem deitado seu latente estado de abandono, a narrativa então segue
em elipse. Vou fazer um resuminho interpretativo sobre o que penso em relação ao que se segue:
Primeiro o mundo colorido, mágico, virtual e quente do 2D;
atraentes, virtuosas, invulgarmente sexies garotas com seus shimapans capazes
de levar qualquer otaco médio ao êxtase, é uma mistura paradoxal de pureza angelical
e libidinosidade que, na perspectiva do sujeito herbívoro, só é possível de
coexistência em garotas 2D, por sua natureza inofensiva. No entanto, a
narrativa descontrói essa certeza de ambiente seguro com o surgimento da presença
ameaçadora da garota overlord, caracterizada como de natureza alienígena, que simboliza
o desconhecido e ameaçador, sentada sobre o trono; triunfal com a mítica figura
alegoria do triangulo ao fundo simbolizando sua divindade. Então há mudança de filtros
e colorização, abandonando o colorido herbívoro [inofensivo] para cores
opressoras; cores que ganham uma tonalidade que remetem a raio X. Esse é todo
um jogo visual entre opostos iguais, um paralelogramo, como as mascaras e a
coreografia que ganham contornos mais sujos e depravadamente “vulgares” – e se
trata do mesmo mundo e personagens, porém visto por uma outra lente. Há algo nessa
nova perspectiva que remete às mulheres do mundo real, e por isso o tom
ameaçador-selvagem e enigmático na figura feminina travestida de alienígena. De
qualquer forma, é coreograficamente fantástico, a impressão é de se estar
assistindo a um clip da Lady Gaga, a duntz duntz da baladinha ao final é
enlouquecedor!
Segundo, que também podemos chamar de segundo ato, começa
com o mundo virtual; a fantasia invadindo o real. O que era apenas um sinal de
ameaça se transforma numa relação perigosa de duas faces, como uma espada de
dois lados. Fica tudo mais abstrato, com real e imaginário se misturando a tal
ponto de se tornarem indistinguíveis. O personagem é confrontado com memórias
de uma recordação feliz ao lado de uma garota real que supostamente fora sua
namorada, mas ele se distanciou, virou as costas para ela e o mundo real ao
qual ela dá significado. É o momento do clip em que a narrativa se torna mais
densa– o protagonista é devorado pela fantasia e memórias felizes transitam se
transformam em pesadelo.
O terceiro ato é o mais longo e psicologicamente acelerado,
com a luta interna do protagonista simbolizada por um game de tiro e
estratégica em um cenário sci-fi futurístico, contra a fantasia que tenta
devorá-lo, numa tentativa de se salvar e voltar à garota [vida] real que ele
abandonara. Mas para ele era muito tarde, e sucumbe. Obviamente, é tudo metafórico,
mas que reflete o estado atual daquele jovem.
É um belo retrato do processo de hikikomorismo/isolação de
uma pessoa, que devido a diversas circunstâncias, se refugia em sua
concha/mundinho interior e acaba por encontrar um mundo magnifico e colorido na
fantasia, deixando atrofiar qualquer sentido de existência exterior/longe do
quarto/do 2D ou estimulo de viver no mundo real. Depois, mesmo que se esboce
uma vontade de retorno, é muito mais difícil – é como qualquer vício. Sobre
isso, Satoshi Kon disse certa vez algo bem significativo, quando comentou
acerca de um das mensagens que ele tentou passar com Paprika: “No
Japão, não apenas crianças, mas adultos com seus 20/30 anos escolhem os animes
e mangás como um meio de fuga de suas vidas reais. Mas acho que há um perigo
nisso também. Se você entrar nesse mundo, ele é muito vivo e colorido, e
sedutor, mas há grandes armadilhas ao se adentrar nesse universo,
principalmente se você deixar o seu mundo real se deteriorar em detrimento
dele.”
Acho que para nós ocidentais, é difícil entender completamente
o significado de se isolar entre muitos japoneses, pois a intensidade com que
isto afeta muitas pessoas por lá, difere com que atinge ocidentais, sendo um
numero pequeno de pessoas que podem se dar ao luxo de viverem realmente
isolados e completamente entregues ao mundo virtual.
Eu gostei muito de ME!ME!ME!, é uma viagem psicodélica alucinógena
repleta de vórtices. O design visual do manequim das personagens é deslumbrante
(na página oficial do projeto [http://animatorexpo.com/mememe/], há
diversos concept arts encantadores da produção, além do streaming gratuito do curta), e o próprio character
desig tem o êxito de ser belo, sólido e se equilibrar tão bem em um meio termo;
nem pré-pubere nem maduro demais. E as composições visuais, tais como efeitos e
backgrounds foram tão instigantes que dá vontade de separar quadro-a-quadro para
admirar os detalhes. Também não se pode deixar de exaltar a integração do CG+2D
do estúdio Khara, que tem se destacado neste quesito nas produções dos filmes
de Rebuild Evangelion. O que se vê em ME!ME!ME! é um resquício; um pequeno
fragmento da ala “esquerda” do GAINAX, de onde surgiu loucuras audiovisuais
como FLCL ou de obras produzidas em outros estúdios, mas que segue este DNA,
como é o caso de Dead Leaves e Kick-Heart.
Ano: 2014
Estúdio: Khara
Direção, concepção, storyboard e roteiro: Hibiki Yoshizaki
Character design, diretor de animação: Shuichi Iseki
Direção de arte: Hiroshi Kato
Temas Relacionados:
-Top 05 Curtas de Animação: Ani-Kuri15
Ano: 2014
Estúdio: Khara
Direção, concepção, storyboard e roteiro: Hibiki Yoshizaki
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Direção de arte: Hiroshi Kato
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