sábado, 13 de fevereiro de 2016

Ed: A necessidade de Transcender a Matéria

Uma das características pela qual eu sou apaixonada por animação 2D é o efeito de profundidade que o cenário ganha em perspectiva panorâmica quando um objetivo é recortado e colado em cima daquele cenário desenhado em sentido lateral, fazendo com que ele ganhe uma dimensão de aprofundamento, juntamente aos jogos de luzes e efeitos aplicados por softwares (embora antigamente era tudo forjado na celulose mesmo).
Com isso, o cenário ganha uma perspectiva tridimensional, onde cada objeto integrado no ambiente se move em um tempo diferente através da ótica do trabalho de câmera (falo dos efeitos digitais empregados através de um laborioso layout).

Ed, esplêndido curta-metragem de um estudante francês chamado Taha Neyestani se rende em homenagens aos modelos vivos (modelos que posam nus para estudantes de arte), enxertando na metalinguagem cênica um mundo paralelo que só existe na perspectiva do modelo; um escape, uma fuga da realidade só possível pela projeção da mente. A quem vê-lo, fazendo poses e sem demonstrar emoções, como se fosse uma mera ferramenta, não é capaz de entender o que se passa em sua mente. Vergonha, pudor, a necessidade de esquecer a plateia e a e si próprio, um ser humano sem nome ou importância alguma se entregando ao seu Ego ao se transformar numa figura arquétipa, protagonizando sua história. Ele agora é um ator, que tal como se fosse um personagem em um filme de Satoshi Kon, nega a realidade sem sentido e se metamorfoseia em diversos arquétipos, experienciando várias vidas.

Mas o que chama atenção mesmo são os recursos empregados por Neyestani, como os sentidos de profundidade conferidos, iluminação e jogo de sombras que se agigantam pela paleta acizentada, e especialmente a tridimensionalidade do layout em diversos planos charmosíssimos.

O personagem entra se sentindo inseguro e diminuído e se transforma um soldado que se atira de peito aberto desviando de todas as balas. A primazia do trabalho de câmera acompanha o fluxo, em perfeita sincronia com a música de fundo. O que se cria é uma mise-en-scène absolvente, de integração completa. É muito mais que homenagens a modelos nus, é uma homenagem às técnicas de animação que dão vida aos nossos sonhos e nos transportam para uma nova realidade. Um simulacro em que nos sentimentos completamente à vontade e sem as inseguranças da vida real.