Breakfast at Tiffany's, é tido como o filme mais elegante de
todos os tempos pela grande crítica, está completando 50 anos essa semana e por
mais que, “Bonequinha de Luxo”, não seja um dos meus filmes preferidos, tem uma
das atrizes mais fotogênicas e que soube como ninguém, chamar todos os holofotes
pra si quando estava em cena, falo de Audrey Hepburn. Bonequinha de Luxo
representa em toda sua autocensura, o surgimento da mulher moderna, e por mais
que o filme teve que ser suavizado (se
trata de uma adaptação do romance de Truman Capote – Critico ferrenho da
sociedade americana e tido como a língua mais ferina de Nova York, na época),
devido à sociedade conservadora e o medo de Hollywood em confronta-la, ainda dá
pra perceber a essência fundamental da obra original, afinal, a personagem de
Audrey ainda é uma prostituta. Isso por mais que o escritor, Capote, sempre
brincasse dizendo que a personagem, Holly, não era uma prostituta, mas sim uma
gueixa a maneira japonesa.
Poderia ficar aqui falando da forma crua e cínica que
Bonequinha de Luxo confronta uma sociedade a beira da ruina, mas o objetivo não
é esse. Muitos artistas ocidentais brilham tanto que causam admiração em todo o
globo. Fico feliz em ver que vários artistas que eu curto acabaram ganhando alguma
referência no Japão, como por exemplo, é o caso de da minha “ídola”, a rainha dos
mistérios, Agatha Christie e a adaptação em anime de suas obras mais famosas, em
“Agatha Christie no Meitantei Poirot to
Marple”. Outro exemplo é REC, mangá seinen de autoria de Hanamizawa Q-Tarou,
onde uma personagem que é aspirante a seiyuu, é apaixonada pelos trabalhos de Audrey
Hepburn. Então temos ai diversos filmes da diva americana, inserida no contexto
da história, da forma mais charmosa possível.
A história
REC é um daqueles poucos animes de curta duração que valem a
pena ser assistidos. Animes assim são bem comuns. Porém, dá pra contar nos
dedos de uma mão os que realmente se justificam – na minha curta experiência
como otaka, eu só sei mencionar este e Candy
Boy. Produzido pela Shaft, em uma é época em que o hoje prestigiado estúdio
de animação ainda não era a SHAFT que todos conhecemos, o anime tem 9
episódios, com duração média de 12 minutos.
Fumihiko Matsumaru é um salaryman de 26 anos, que trabalha
no departamento de marketing da empresa Snack. Nesse dia em especial, ele havia
marcando um encontro no cinema com a mulher dos seus sonhos, que por um acaso,
era sua colega de trabalho. Mas Matsumaru tem pinta de perdedor, não é nada do
que você já não tenha visto em outros animes, como em Chobits e seu
protagonista sem sorte e virgem, que acaba batendo de frente com seu grande
amor. Apesar de que tenho dúvidas se Matsumaru era realmente virgem, o velho
clichê dos encontros inesperados acontece. Não, ele realmente levou o “bolo” da
colega de trabalho, porém já todo desiludido, quando ia jogar os ingressos
fora, uma garota se aproxima e começa a dar voz aos bilhetes: "Não, não me jogue (...). Se você fizer
isso, ficará atraído por mim".
Essa é Aka Onda, uma aspirante a seiyuu, com seus 20 anos e
com o grande sonho de ser uma dubladora de sucesso, tendo como atriz favorita,
Audrey Hepburn. Por um acaso, o filme que Matsumaru iria assistir, era
estrelado por Audrey: Roman Holiday.
Os dois acabam indo assistir ao filme juntos e ao perceber que a garota estava
lendo a legendas em voz alta, fica curioso. Ela lhe diz que quer ser Audrey
Hepburn (!). O encontro termina com
os dois descobrindo que moram no mesmo bairro, mas durante a madrugada o
apartamento de Aka pega fogo, queimando todos os pertences da garota.
Não temos ai uma grande cena, pois o tempo é curto e o
importante é fazer com que a história se inicie ainda no primeiro episódio.
Assim, Matsumaru assistindo o estado da garota, que estava com o psicológico abalado
e sem lugar nenhum para ir, a deixa passar a noite em sua casa. Aqui, já
começamos a ver o quão diferente e adulto que qualquer outro anime do gênero REC se propõe a ser: Na primeira noite dos dois
sobre o mesmo teto, eles acabam fazendo amor. Mas no dia seguinte, Matsumaru ao
acordar, percebe que a garota havia desaparecido. Mas acabam se cruzando
novamente, quando a empresa de Matsumaru faz uma audição com vários estúdios de
dublagens, para escolher a voz para seu novo produto. Ele a vê no meio das
concorrentes, vestida com a sua roupa. Mas ela não lhe dá a mínima atenção.
Comentários
Na volta para casa, ele encontra Aka a sua espera e inicia-se ai, uma comedia romântica, sobre um casal que para viver juntos terão que
superar todos os obstáculos comuns de uma relação a dois. Além do romance, que
é o fio condutor da história, vemos outras duas subtramas, que envolvem a
carreira profissional de ambos os personagens e que, a meu ver, é sem dúvidas o
que há de mais interessante no anime. REC apesar de reafirmar todos os estereótipos
comuns em uma obra do gênero, ainda consegue em toda a sua despretensiosidade
fugir do convencional, retratando temas comuns em um relacionamento adulto de
forma sutil e sensível.
Temas complicados como, quando a mulher começa a ganhar e
ter mais sucesso profissional que a homem e toda a carga emocional que aflige
aquele que, teoricamente, é o responsável por ser a referência no casal. E como
não é retratado de uma forma maniqueísta, você entende tanto ele quanto ela. É
interessante ver como o relacionamento deles vai se deteriorando a cada
episódio e como é mostrado de um jeito sutil que isso vai acontecendo aos poucos: O
momento em que ele está estressado, por causa do bloqueio criativo no trabalho,
e ela se afasta sutilmente para lhe dar espaço, mas ao mesmo tempo se
mostrando presente. Só que, ela também tem seus problemas com a carreira que
resolveu seguir e sendo cada vez mais ignorada, inevitavelmente há uma ruptura
no relacionamento. É bem legal reparar todas essas nuances, como ouço bastante “mimimis”
das amigas casadas de minha mãe, vejo como situações extremamente verossímeis e
tornou a experiência em se assistir o anime bem mais satisfatória. Como quando
da forma mais delicada possível, é retratado o momento da primeira agressão física
de um homem sem alto estima, para cima de sua mulher e o famoso orgulho,
destruidor de relacionamentos.
Mas nem tudo é drama, afinal, é uma comédia romântica. Como
os vários momentos íntimos entre os dois, como conversarem juntos sobre Audrey Hepburn,
seus sonhos e o futuro. Fazer compras juntos, já faz parte da rotina. O
complicado é quando cada um deles precisa de sua “privacidade” na hora da higiene
íntima. Muito complicado e é aquilo que eu digo, intimidade é uma merda e
sempre será, espero que esse tipo de coisa não aconteça perto de mim, como meu
marido querer fazer o número dois enquanto eu tomo banho. Seria o fim do mundo.
E a Aka é bem compreensiva, o Matsumaru faz coisas terríveis perto dela e ela
nem se abala. Fiquei chocada quando ele soltou um arrotão enquanto os dois
faziam comida e ela não falou nada.
E por falar na Aka, gostei bastante da personagem e não
apenas por ela ser fã da Audrey, mas pela forma despojada, simpática e
acalorada que ela trata o Matsumaru desde o primeiro encontro. Me lembrou
bastante a Alice de “Closed – Perto Demais”,
e todo o inicio do filme, que é meteórico na introdução e tem uma Alice deixando
todas as formalidades de lado e conversando com um ilustre desconhecido como se
já se conhecessem ha tempos. E assim como Alice, Aka tem uma personalidade
forte e decidida, apesar de toda a simpatia e de as vezes parecer “estar dando
mole”. Já na segunda noite morando com Matsumaru, ela já avisa logo que sexo
não vai rolar de forma alguma e que na noite anterior ela só estava
fragilizada.
E já que tocamos no assunto, outra coisa que gostei
bastante foi o fato de uma mesma situação ser vista de forma completamente
diferente por cada um do casal. Ilustrando bem as diferentes perspectivas de cada um; enquanto
ele só pensa naquilo e em uma forma de conseguir o que quer, ela está pensando
em algo completamente diferente, algo sempre ligado aos sentimentos, como o
fato dela estar precisando da ajuda dele com o trabalho de dublagem dela com o
filme pornô, mas não ter coragem o suficiente pra pedir isso.
Resumindo
O enredo é simples e depende bastante do seu casal de
personagens, mas para quem procura algo bem próximo da realidade, REC pode se
tornar altamente satisfatório, apesar de sua extrema simplicidade, desde a parte
técnica, ao roteiro. Não há segredo ali. Também não há ecchi, nem apelo visual.
Então ver esse anime, esperando closes apimentados, é uma grande burrada. É o
tipo de anime que, ou se assiste somente pela história, ou nada feito. E talvez
seja esse o mistério do sucesso de REC, mais entre pessoas não iniciadas no
universo otaku, do que dentro do próprio fandom ao qual ele é destinado. Eu
mesma quando fui assistir ainda não era uma otaka como sou hoje, estava
começando a engatinhar nesse mundo subversivo.
Sobre a Audrey Hepburn, além das referências e comentários
dentro dos episódios, na abertura e conceito da história, temos cada episódio
com o titulo de alguns filmes estrelados pela mulher que separou o que é ser
charmoso do que é ser vulgar.
Roman Holiday (A Princesa e o Plebeu - 1953),
Sabrina Fair (Sabrina - 1954),
Wait Until Dark (Um Clarão nas Trevas - 1967),
Breakfast at Tiffany's (Bonequinha de Luxo - 1961),
Love in the Afternoon (Um Amor na Tarde - 1957),
The Children's Hour (Infâmia - 1961),
War and Peace (Guerra e Paz - 1956),
My Fair Lady (Minha Bela Dama - 1964) e
Two for the Road (Um Caminho para Dois - 1967).
E pode ser que seja redundante dizer isso, mas em todos os
episódios tem todo o conceito do filme que dá titulo a cada um deles. Como por
exemplo, a independência feminina, idealização em uma indústria competitiva,
fato explicito nas profissões dos personagens e pela forma como o roteiro
desenvolve o tema. Não vou entrar nos aspectos técnicos, basta dizer que é tudo
muito simples, mas cumpre bem o objetivo. REC não é genial, muito menos se
trata daquele titulo “obrigatório”. Poderia ter sido muito melhor, se tivesse
um tempo maior de exibição e o modo acelerado como tudo acontece também não
contribui para uma melhor apreciação da premissa e exploração das boas ideias. REC significa “gravação”, e
somando todos os episódios, dá praticamente um longa animado. Boa opção para os
dias chuvosos e para se assistir a dois.
Ano: 2006
Tipo: TV
Diretor: Ryutaro Nakamura
Estúdio: SHAFT
Episódios: 09
Duração: 12 min
Gênero: Comédia Romântica/ Drama / Romance
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resenha, crítica, análise, anime, romance, review, drama, adulto,
12 comentários :
Eu achei que o post Seria sobre a quadrologia [REC]
Não há ecchi? Nãao creio! Por algum motivo não me interessou... Só passei aqui pra desabafar.
@Junior
HUEHUEUHEUHE really... talvez engane alguns desavisados. Btw, os filmes de REC, são os meus preferidos atualmente, quando se trata de terror.
Saudações
Roberta, não consegui ver os seus movimentos! Como pôde antecipar uma das três reviews que eu faria este mês?
hehe...
Brincadeira, tá?
Mais um ótimo post seu. E REC é um anime par ver de forma descompromissada, com calma, sutileza e até uma certa alegria...
Até mais!
@Carlírio
WAAHHH, eu fico é contente em saber que irá comentar REC. Quero ler o seu post ein =)
kkkkkkkkkkkkkkkk a roberta é incrivel, deixa todo mundo na vibe com o halloween, vem e posta um anime de romance açucarado. Por essas e outras que gosto desse blog. Gostei dos seus comentários e vou por na lista pra assistir. O problema é eu conseguir uma namorada pra ver comigo
Eu também gosto muito dos filmes da Audrey Hepburn. Esse anime não é lá grandes coisas mas é agradavel de se assistir e melhor ainda pelas referências a Audrey, foi o que me levou a gostar dele.
Esse anime precisa de uma v2 urgente... pena que os DVDs não são grande coisa, logo só quando (se) sair BD.
É até triste notar que o anime é tão velho que foi feito usando coisas completamente ultrapassadas como marca d'água de fansub. Se bem que até que gostei do anime, por isso o traduzi.
Bons tempos quando SHATF também fazia animes Shaft.
REC é uma pequena pérola, muito bom.
O relacionamento dos dois é bem convincente.
Vale mencionar que a abertura e encerramento são bons, e a abertura muda uns detalhes a cada episódio.
Tá ai mais um bom anime que assisti com tua indicação!! kkkk
Depois que li o posto já baixei e vi todos!
*--*
Mt fofa...podia ter mais epis e ser menos corrido..pois é uma historia legal que da para ser bem desenvolvida!
É um anime bonitinho, assisti a muito e muito tempo atrás, quase nem lembro. Só lembro que terminei e me sentir muito bem em ter assistido. E adorei o post.
Rec é um anime bem legal e gostoso de assistir apesar de ser bem curtinho.
Uma coisa que não foi mencionada foi o manga que apesar de ser um pouco diferente(Ele é um pouco ecchi)tabem é legal e prosegue com a estoria não terminando onde o anime acaba.
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