Hoje não é dia de Maria¹, hoje é dia de comentar pela
primeira vez aqui no blog, sobre o mestre Go Nagai, aquele que segundo o blog
Mangas Cult, é o "Quentin Tarantino Japonês". Bom, os fãs de Nagai
são meio fanáticos, já eu não sou uma grande admiradora do trabalho dele e confesso
que só recentemente comecei a conhecer mais intimamente suas obras, já que por
alto eu já conheço. Apesar do acentuado tom misógino em suas obras, Nagai
artisticamente é tão fantástico como controverso. A trindade “ficção cientifica, horror e erotismo”,
são sem dúvidas, sua marca registrada e qualquer série dele que você chegar a
ler, encontrará esses gêneros, em menor ou grande escala.
A série escolhida é Devil Lady, não porque eu amei o anime,
mas sim porque estou fascinada pelo mangá e também indignada pelo fato de que,
dos 17 volumes que a série tem, apenas 01 tem tradução gringa. E apesar das
críticas um tanto quanto negativas aos volumes restantes da série, ainda estou
com uma enorme vontade de ver com os meus próprios olhos. Devil Lady é um mangá
seinen que foi serializado entre janeiro de 1997 e julho de 2000 na revista Weekly
Morning (da editora Kodansha). Se
trata de um spin-off de um dos mangás mais famosos de Nagai, Devilman, que por sua vez se utiliza de
vários conceitos de sua obra anterior a esta: Demon Lord Dante. Esse é o Nagai, se reciclando e autoplagiando,
ele é praticamente o CLAMP, do
universo sombrio.
Anime
O anime centra-se em Jun Fudo, uma badalada e adorada modelo
fotográfica. A premissa não é nada que você já não tenha visto antes em uma
série apocalíptica. Jun tem um segredo que não pode contar a ninguém e que
transforma sua vida pacata em um verdadeiro show de horrores, ela é portadora dos
genes que serão os responsáveis pela próxima etapa da evolução humana – um vírus
chamado "Síndrome da Besta Demoníaca". Ou seja, a doce e talentosa
Jun, na verdade é um besta demoníaca sanguinária e acaba por descobrir que não é
muito diferente dos outros monstros que andam atacando pessoas e aterrorizando
a cidade. Mas Jun é especial, ela consegue ter um autocontrole e manter uma
tênue ligação com seu lado humano, ao contrário de outras bestas que sucumbem
ao desejo de matar e comer carne humana.
Esse lado adormecido em Jun, é acordado por Asuka Lan, funcionaria
do alto escalão do governo e comandante da “Aliança Humana”, uma subdivisão
militar responsável por caçar e eliminar as pessoas que desenvolvem a estranha
doença, ou ao menos é isso que aparenta inicialmente. Asuka obriga Jun a
enfrentar seu lado desconhecido, colocando-a frente a frente com uma besta. Tendo
que confronta-lo, a Devil Lady acaba
despertando em Jun, que consegue retornar a forma humana logo após conseguir
elimina-lo. Agora, ela é alvo de Asuka, que lhe dá duas opções: Se juntar a ela
como uma caçadora ou ser caçada até a morte. Inicia-se ai o esqueminha de “monstro
da semana”, com o plot central se desenvolvendo lentamente ao fundo.
Opinião
Apesar de ser um clichê, a premissa de Devil Lady é bem
parecida com a de Elfen Lied, quem
teve a oportunidade de ler o mangá, vai notar que além do tema “bem vs mal”, “humanos vs criaturas” e o conflito das protagonistas com o seu lado
“animal”, ao final do anime podemos notar os mesmos rumos tomados na trama
criada por Lynn Okamoto – eu até diria que o Okamoto se inspirou em Devil Lady,
se eu tivesse lido todo o mangá, mas não dá pra afirmar isso tendo em vista que
o mangá e sua versão anime divergem bastante.
Devil Lady tem um clima gótico, introspectivo e melancólico,
que vai desde sua abertura, ao encerramento com os créditos. De longe, o que
mais chama a atenção no anime, é a total falta de humor, é tudo muito sério com
uma narrativa adulta e o conceito meio que, parecido com o da série “Vampire Princess Miyu”, é bem intencionado
e interessante, porém botam tudo a perder com um anime onde a melhor definição
é: TÉDIO. É chato e pra completar, o esquema “monstro da semana” também não
contribui. Assistir um anime de 13 episódios com esse esquema, onde 8/13 dos
episódios é basicamente isso e sem grande desenvolvimento do plot central é uma
coisa, agora imagine ver 23/26 episódios que se consiste nisso. O plot só foi
revelado e rapidamente trabalhado nos 3 últimos episódios da série animada e
fora isso, uma grande perda de tempo.
Como um todo, o anime é ruim, mas há coisas bem
interessantes ali e alguns episódios incrivelmente muito bons. O problema é que
se eu for soma-los, cabem todos em uma mão e ainda sobra dois dedos pra enfiar
na latinha de leite condensado. E eu adorei a Jun-chan, uma heroína nada convencional, mulher madura e que age
como tal. Chegou a me surpreender em diversos momentos. Ela possui uma forte
ligação com Kazumi Takiura, a “moçinha
indefesa” da série e que é a versão romântica de Miki Makimura, amiga de
Akira Fudo em o Devilman. Em Devil Lady não há insinuação lésbica, o que há é
um verdadeiro romance lésbico e confesso que minha única motivação em assistir
esses episódios, era essas duas personagens –sim, eu amo Yuri.
Como não poderia deixar de ser em se tratando em uma série inspirada
em um mangá de Nagai, espere por violência, sangue e nudez, apesar que todos
esses termos, estão muito suavizados no anime, mesmo o nú se dá de forma
indireta e o sangue e violência não é tão gráfico. Mas AINDA é Nagai e
curiosamente, os episódios que mais gostei, possuem o feeling dele presente,
mesmo que de forma velada:
- O episódio em que a casa de Kazumi é atacada por
devilmans, aquilo sim é um verdadeiro terror psicológico e intenso. Episódio
muito bom, com um terror impactante, suspense e drama.
- O episódio em que estudantes são raptadas por um
monstrengo com tentáculos (ah, os tentáculos...
Juntamente com robôs/personagens em forma gigante, sempre estão presentes nas
obras de Nagai – um verdadeiro pervertido)em forma de línguas, que começam
a lamber e adentrar em certas regiões do corpo feminino. Tudo implícito, claro,
mas era obvio o que estava acontecendo e eu imaginando, “hentai?”, o monstro da
semana é um pervertido que gostava de praticas BDSM (Bondage e Disciplina –BD. Dominação e Submissão –DS). Não contive o
riso quando vi a Jun, como Devil Lady, lutando com a “serpente” do monstrengo. É!
Realmente é uma obra do Nagai.
-E já nos últimos episódios, uma cena de estupro (Ah, Nagai...), mas que surpreendentemente
não é chocante, mas sim surpreendente! Alias, a essa altura do campeonato, a
trama já era outra completamente diferente do que se viu nos episódios
anteriores – mas se eu falar mais, será spoiler gravíssimo.
Manga X Anime
Como eu disse anteriormente, não foi o anime que me levou a
escrever esse post e sim o mangá, mas comentar apenas um volume dele seria
sacanagem. Há um universo de diferença entre o mangá e o anime. O mangá é muito
bem desenhado e sua história bem desenvolvida, porém com bastante sexo visual,
violência e gore. No anime, tudo isso é suavizado, apesar de ainda ser uma
história sombria. No mangá, Jun é uma professora, que cuida de seu irmão mais
novo, enquanto seus pais estão ausentes, nos EUA. A progressão para a síndrome da
besta, também se dá de forma diferente. Aqui acontece de forma gradual, com a
Jun tendo pesadelos incomuns e constantes. A introdução para o seu lado
sombrio, se dá quando ela juntamente com algumas alunas, é atacada por um grupo
de demônios, que tenta estupra-la e ai acontece de seu lado “lobisomem” despertar.
E já tocando no assunto, enquanto no anime, os demônios apenas
matam as pessoas ou as devoram, no mangá eles saem estuprando as mulheres. Bom,
Devil Lady apenas pelo volume 01, já mostra o porque dele ser um mangá tido
como, tendo um apelo sexual extremamente forte e violento. Complicado manter
isso em uma versão animada, porém, o resultado de todos os cortes feitos da
versão original é extremamente doloroso de se ver. Talvez, nesse caso seria
melhor nem ter havido uma “adaptação”. Os monstros do anime, brotam do nada e
para lugar nenhum, abusam do estereotipo e como resultado, temos um grande
filler de 26 episódios, onde da versão original, apenas as personagens Jun e
Asuka, foram aproveitadas, o resto só existe no anime, assim como Kazumi.
O lado mais revoltante, nem é as personagens em alguns
momentos não terem mamilos, o que a fazem parecer bonecas, mas sim o fato de
terem desaparecidos com corpo peludo da Devil Lady, já que no anime as marcas
em seu corpo, se parecem mais com tatuagens que pelos. A aparência de Jun,
também se torna muito mais comum, enquanto no mangá a arte de Nagai não é “bonita”,
mas tem contornos artísticos incríveis, fora que denota toda a personalidade da
Jun a tornando única. Comercialmente pode não ser atraente, mas o traço do
Nagai é belíssimo e bem característico.
Conclusão
Conteúdo original a parte, o anime chega a ser em vários
momentos, tenebroso e obscuro. A animação é ruim, se tratando de um anime
produzido em 1998, ao vê-lo, tive a impressão de estar assistindo um anime de
horror da década de 80. A OST é boa, apesar de ser basicamente orquestral. Os
personagens, em sua maioria são esquecíveis, mas a Jun e a Asuka são legais. A
história, como não poderia deixar de ser, é triste. Num contexto geral, um
anime muito mal dirigido, ao qual teve sua produção pelo estúdio TMS. Fosse 13
episódios, funcionaria melhor. E eu quero ler o volume 02 do mangá.
Ano: 1998/1999
Tipo: TV
Diretor: Toshiki Hirano
Estúdio: TMS
Episódios: 26
Gênero: Ação, Horror, Sobrenatural, Drama