terça-feira, 28 de agosto de 2012

Hoshi wo Ou Kodomo - Makoto Shinkai

Saudações do Crítico Nippon!


Se em meu texto de “5 Centímetros porSegundo” disse que o simples fato da excelência das cores de Makoto Shinkai era digno de se ver todos os seus filmes feitos até então, percebo que era literalmente só “até então”. Até aquele momento eram filmes curtos e com uma alma pura e leve, remetendo ao tema sempre recorrente como a “saudades” e a “distância”. Mesmo transportando os protagonistas para um futuro distante como em “Voices of a Distant Star” e “The place promised in our early days”, eram tudo metáforas para expressar suas clássicas ideias e sentimentos. Agora temos um longo filme de 2 horas – praticamente o dobro dos anteriores - que deixa para trás suas raízes, rejuvenescendo ainda mais sua protagonista daquela dos seus filmes anteriores. Desta forma, Hoshi wo Ou Kodomo (ou Children who Chase Lost Voices from Deep Below) aposta em uma homenagem e/ou cópia mau feita do estúdio Ghibli e Hayo Miyazaki. Não há mais a alma de Makoto que víamos em todos os seus trabalhos anteriores. Passamos o tempo todo em uma obra sem energia que nunca chegará aos pés daquelas do gigante que parece tanto tentar imitar.



Em meu já citado texto escrevi que É como ver o nosso próprio mundo, prosaico e cotidiano, mas com outros olhos. “, aqui Makoto se rende ao fanatismo, abandonando o nosso conhecido mundo e mergulhando os personagens em ambientes e criaturas diferentes. Assim, surge a oportunidade para que jogue na tela tudo que puder. E se essa riqueza geralmente é feita com delicadeza por Miyazaki, Makoto segue um rumo bem diferente. O cineasta parece não perceber que seu forte não era na fantasia e magia literais, mas em transformar o nosso velho, sujo e comum mundo em algo novo, bonito e mágico à sua maneira.

Shinkai até fez a fórmula completa do estúdio Ghibli, com a famosa jovem menina (Asuna) que descobre um mundo de fantasia, e seu jovem príncipe (Shun) que saiu diretamente deste mundo (A Viagem de Chihiro, alguém?). Temos até um animalzinho que a acompanha, o gato Mimi. É tudo conforme o manual. É quando Shun subitamente morre e seu irmão gêmeo Shin (conveniente, não?) surge e se junta à protagonista sem motivo aparente. Cruzando seu caminho com Morisaki, com um currículo que varia entre professor do fundamental-investigador-soldado-arqueólogo (juro! Seria ele Indiana Jones?) que acredita poder reviver sua esposa em Agartha, o submundo de onde Shun e Shin vieram.




E o problema já começa com a introdução daquele que fará o papel motivacional da protagonista na história inteira: Shun. Ouvimos duas ou três palavras de sua boca, e ele morre. E isso ao longo de incríveis 20 minutos. O filme não foi capaz de fazer com que nos importássemos com ele, e devemos acreditar que a - extremamente jovem - protagonista conseguiu... se apaixonar perdidamente? Aliás, mesmo que ele tivesse mais tempo em tela, quem ficaria ofuscada seria a Asuna. E mesmo que ele morresse mais tarde, isso só faria com que adiasse ainda mais a imersão dos protagonistas em Agartha. Então seja lá qual fosse a decisão, ficaria falho. E ficou.

Querendo fazer um filme de aventura, Makoto falha completamente como diretor. A primeira cena de ação é aquela contra o “urso” na ponte, e é rápida e burocrática demais para que nos empolgue. Dali em diante, teremos outra rápida só com meia hora de filme passado, quando estes estão entrando no submundo. Nesse intervalo todo é sempre arrastado e sem maiores trilhas sonoras para nos acordar. Desta forma, a única ação que desperta minimamente algo no público, é com uma hora de filme, naquela perseguição com os seres das sombras Izoku. Claro que muitas coisas não fazem sentido, como: por que os seres arrastaram Asuna a noite inteira e a soltaram ao invés de imediatamente “tomar seu sangue impuro” como explica o Shin? E como diabos Shin encontrou ela naquelas ruínas? E a perseguição simplesmente anda em círculos, pois ainda que Asuna tenha sido seqüestrada silenciosamente para longe do professor Morisaki, eles logo o encontram de novo. 




Prejudicado também pela falta de reações de Asuna à tudo que está acontecendo e ao que lhe é dito, ela é impassível demais e aceita tudo com muita facilidade - ora, Chihiro passou toda sua viagem deslumbrada com tudo que a cercava, do início ao fim. E já que estou comparando, pela primeira vez em um filme do Shinkai temos sangue estourando na tela e gosma de monstros escorrendo e se acumulando, algo muito recorrente na filmografia de Miyazaki, e ainda assim a qualidade neste exemplar é pior.

Também é no mínimo absurdo e pouco imaginativo que um lugar como o “submundo” tenha um céu azul exatamente igual ao da “superfície”. Com uma falta de lógica absurda ao fazer Asuna se proteger dos Izokus no rio – pois eles não gostam de água – e ao invés de ficar parada e esperar amanhecer, corre até chegar numa parte seca do rio e ser capturada (juro!). Pior ainda seria se apostassem no clichê de colocar uma criancinha menor e kawaii para a protagonista cuidar, ou então um velho e “sábio” ancião bondoso de algum vilarejo... oh, espere, temos estes dois exemplos no filme!



Porém, os problemas começaram ainda mais cedo, quando chegamos em Argatha, ouvimos o diálogo “Alguma coisa pode estar lá. Algo que estamos procurando”, o que comprova que nem Makoto sabia o que estava fazendo. Subestimando a inteligência do público ao colocar também diálogos expositivos que dói os ouvidos como “Professor, é como se você fosse o meu pai!”; e outros momentos mais embaraçosos do diretor como o sonho em que Asuna arranca o braço de Shun, que não condiz em absolutamente nada com o clima da história e seu público alvo.

E como já dito, ele sempre se saiu melhor embelezando nosso mundo e nos mostrando-o com outros olhos, assim, quando resolve nos apresentar a paisagens fantasiosas, por incrível que pareça, soam extremamente pobres. Por exemplo, a entrada do submundo é apenas pedra e musgo, as ruínas na “aqua vita” são borradas e desinteressantes, e no geral as paisagens são desertas e sem graça nenhuma. Aliás, em nenhum momento alcançam a beleza da estação de trem daquela obra anterior, ou das paisagens abertas na cidade grande. Assim, os elogios acabam indo, obviamente, para quando a história ainda está no “mundo real” (a superfície), e logo no início do filme acompanhamos Asuna correndo nos trilhos e o reflexo do sol nas barras de aço acompanhando, com um efeito deslumbrante. E os ambientes internos são mais ricos e interessantes de se observar que qualquer paisagem de Agartha.

Aaaaahhhh!!!
Owwwn








Owwwnn

Aaaaaahhh!!!















Com personagens difíceis de se identificar, não temos maiores sentimentos por ninguém além da protagonista – e mesmo Asuna se mostra fraca, é só constar os acontecimentos finais e perceber que não sentimos nada muito forte. Com o professor Morisaki variando entre o calmo, frio, arrogante, passando por bondoso e mudando drasticamente para o puramente maníaco assassino, ele é um espelho do filme em si: confuso e sem saber que rumo tomar. Revelando-se uma jornada sem pé nem cabeça, é incrível estar na metade do filme ainda se perguntando para onde estão indo ou o que pretendem fazer ou qual a moral de tudo. Resta esperar que Makoto Shinkai aprenda com este erro e deixe as fantasias e aventuras e mundos mágicos para o estúdio Ghibli. Dele nós queremos paisagens de tirar o fôlego e sensações profundas e significativas. E Hoshi wo Ou Kodomo não tem nada disso.



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@PedroSEkman







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