segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Nosso Instinto Primitivo Refletido

Eu, eu mesma e minha Irene.
Esse pôster (abaixo) é genial! Ele alude a um espelho – este que é um recurso extensamente utilizado no filme para representar a dualidade na mente da personagem de Portman. Mas assim como o espelho serve para refletir o nosso eu oculto, ele também nos causa “cegueira”. Desde A Branca de Neve em que a bruxa pergunta ao espelho quem é a mais bela daquele reino. Quando o espelho disse não, existe outra mais bela, o eu verdadeiro dela tomou forma numa obstinada busca idealista para o seu ego fraco. 
O que há de belo nesse pôster são essas rachaduras no rosto refinadamente perfeito de Natalie Portman. Está rachado porque é uma fachada. A perfeição não se mantém. É como o orgasmo. É uma fração de segundos de pura lisergia. Todos os dias as pessoas se tornam obsessivas pelos padrões de beleza impostos pela sociedade. Sua obsessão é sua identidade oculta, a ID, que aos poucos passa a tomar o controle do seu corpo. Como belissimamente ilustrado em Perfect Blue e em Cisne Negro, o custo para alcançar poucos minutos de perfeição que logo irão se desfazer como castelos na areia, é a própria sanidade. A obsessão em si é a perda de qualquer resquício de lógica.
Cisne Negro e Perfect Blue (imagem acima) apresentam duas visões que são essencialmente a mesma. A figura reprimida e sem estima que procura alcançar em outros meios, a arte, a perfeição e o reconhecimento que não possuem no âmbito social. São subjugadas pela ciranda de pedra. E para serem aceitas, aceitam entrar no jogo da ciranda de pedra. O julgamento não convém, mas a sentença é sempre a do pôster acima. No fim das contas não podemos fugir, porque o nosso maior obstáculo mora dentro de nós mesmos.
Satisfeita agora, Nadeko?
Nadeko [de Monogatari Series] quis alcançar um objetivo. Mas este estava mais distante que seus braços podiam alcançar. Ao mesmo tempo em que tenta se convencer que é melhor assim, seu subconsciente continua fantasiando com o que ela realmente quer. A projeção do seu ego fraco idealiza uma entidade sobrenatural onipotente projetado da necessidade de superar a impotência da Nadeko. Dessa forma, a Nadeko verdadeira, que é a interior, cria artifícios para contornar sua fraqueza exterior. Obviamente, chega um ponto em que duas irão entrar em conflito pela posse do corpo, até que a mais forte, sempre a interior, emerge e tome o controle.

A mente humana é tão fascinante quanto desconhecida. Pessoas amorosas que de repente são capazes de atitudes perversas e controversas, chocando a todos ao seu redor. Pessoas agressivas que de repente são capazes dos atos mais sensíveis. Vivemos num eterno conflito com nós mesmos. O que é natural. Mas quando reprimimos demais nossos impulsos, o nosso ID irá encontrar uma forma através da obsessão ou mesmo de curtos prazeres de emergir para fora.

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Triva
Nas imagens abaixo, as personagens se defrontam refletidas nos espelhos
Perfect Blue
Em Madoka Mágica, com a personagem Sayaka temos o exemplo mais extremo dos conceitos “id”, “ego” e “superego” alcunhado pelo pai da psiquiatria moderna Sigmund Freud. A mente se divide em duas partes: consciente e inconsciente. A parte consciente é tão insignificante quanto a ponta de um iceberg. Uma porção superficial e insignificante de nossas personalidades. A metade do iceberg submersa e longe do olhar é o nossa inconsciente. O id é nosso primitivo e menos acessível. O id é nossa libido e se expressa sempre que há diminuição de tensão. O ego razão e racionalidade. Como o id age cegamente, apenas para satisfazer os instintos, o ego é quem o regula, freando a busca pelo prazer com racionalidade. Um não existe sem o outro. A terceira estrutura da nossa personalidade é o superego, que se desenvolve desde o principio da vida. Ele são valores que aprendemos desde pequenos quando começamos assimilar as regras do mundo. O pensamento de que um comportamento inadequado torna se suscetível a punição é a porção do superego em nossa mente. É a moralidade, sempre em conflito com o id.
Sayaka (na imagem acima, tentando recobrar a racionalidade) possui atitudes contraditórias, age de uma forma movida pelo ego e superego, e por ter seguido um padrão moral, ter agido como uma boa menina espera receber a recompensa. Quando essa recompensa não vem, seus instintos mais obscuros vêm à tona. O id surge da repressão extrema de modo incontrolável em busca de prazer. A síntese do filme Eu, Eu Mesmo & Irene. Também de mangás aqui já comentados como Umi-chan, Mão Esquerda de Deus e Human Clock e até mesmo Le Portrait de Petite Cossette