Retornando ao submundo de Bubblegum!
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Quando escrevi sobre Bubblegum Crisis 2032, comentei em
como aquele universo era expansivo e criativamente rico, embora ache que não
foi exatamente com estas palavras. Mas bem, Parasite Dolls mostra o quão longe
pode ir este universo. Concebido originalmente como uma série de OVAs em 3
volumes, Paraiste Dolls foi um extra contido em edições de outra série oriunda
do universo Bubblegum: AD Police. Posteriormente, houve uma reedição, dando
origem a uma versão longa-metragem, exibida em diversos festivais. São animes
assim que ajudaram a fomentar o boom do anime&mangá no ocidente nos findos
dos anos 1990 e inicio dos 2000. Não por mero acaso, a franquia Bubblegum possui
um culto por estas bandas, e que olhando só por aqui, faz parecer que se trata
de séries cultuadas no Japão. O que não é bem o caso.
O ano é 2034, na MegaTokyo, a Branch é uma divisão especial e
quase secreta da AD Police, algo similar ao FBI, só que mais pobre. Bem mais
pobre. E se você não sabe essas unidades especiais só entram em casos em que determinados
eventos possuam conexões com gente poderosa, grande interesse do governo, ou
qualquer outra coisa que esteja além da policia normal. O enredo possui três
linhas de tempo e três tramas (que
corresponde aos 3 OVAs da versão original) interligadas, mas cada um com
sua própria resolução.
A primeira história, ‘A Faint Voice’, acompanha o agente Buzz
(Kazuhiko Inoue) de 32 anos e seu
parceiro boomer chamado Kimball (Soumei Uchida), que investigam a origem da causa misteriosa que está
enlouquecendo boomers em todos os cantos da cidade, fazendo-os sair de controle
e colocar a vida da população em risco.
No segundo, ‘Dreamer’, acompanhamos de perto o cotidiano da
agente Michaelson (Akemi Okamura) de
22 anos e sua relação com Buzz e Kimball; ambos investigam o assassinato de
diversas prostitutas, que coincidentemente ou não, são boomers. Em determinado
momento, Michaelson que investigava uma boomer especial, diferente de qualquer
outra já produzida, acaba desenvolvendo uma estranha relação com ela.
E no último, ‘Knights of a roundtable’, fecham com chave de
ouro, amarrando todas as tramas e subtramas, além de aprofundar melhor o seu
protagonista, Buzz, que investiga o desaparecimento do chefe da Blanch, Takahashi
(Masaru Ikeda). Este sumiço revela
uma cortina de fumaça que envolve todos os personagens e lhe dão uma nova
perspectiva sobre a vida e sobre os boomers.
Parasite Doll foi uma agradável surpresa que encontrei
perdido aqui em meu HD e uma lufada de ar fresco que me deu uma motivação em ir
atrás de mais séries do universo Bubblegum. Este OVA resgata os conceitos
originais da série Bubblegum Crisis 2032; conflitos entre humanos e máquinas (boomers), corrupção do estado, conspirações
tecnológicas, dilemas existenciais. Só que desta vez o roteiro está mais polido
e com boas linhas de diálogos. Cortesia do lendário Chiaki J. Konaka (Malice@Doll, Digimon Tamers, Serial
Experiments Lain), que tece um roteiro conciso e REALMENTE bem escrito (percebam o entusiasmo com que escrevi
isto), embora já manjados.
A direção de Kazuto Nakazawa (Moondrive) e Naoyuki Yoshinaga (Maison Ikkoku) também é boa, principalmente nas cenas de ação.
Elas possuem impacto dramático, que é aquela sensação climática de se envolver
completamente numa sequência com ações do clímax. E em Parasite Dolls, é
notável o amadurecimento entre áudio e visual, algo que muitas das produções
menores até meados dos anos 90, com relação a anime, falham miseravelmente. Sim,
falo particularmente dos OVAs. Aqui, a trilha sonora e a imagem fazem um casamento
agradável e uníssono. Mesmo as batidas eletrônicas, já não se perdem mais em um
fundo de ecos sintetizados. São os anos 2000!
Ainda assim, mesmo com episódios que conseguem desenvolver
uma boa progressão e entregar um clímax compactado, amarrando seus núcleos
abertos, a direção e roteiro ficam muito na superfície do tema. Os envolvidos
não esboçam qualquer reação em explorar qualquer coisa além para sair da
superficialidade. Isto causa a sensação de um mais do mesmo que por mais legal
que seja, é um mais do mesmo que não só fica aquém dos diferenciados, como também
é tanto fez e tanto faz.
Mas devo dizer que os personagens de Parasite Dolls e seus
conflitos internos me conquistaram pra valer. São sem duvidas o ponto alto da
narrativa e o elemento satisfação no ponto de chegada. Buzz não é tão
desenvolvido assim, mas sua expressão vaga convence e as suas motivações vão se
tornando gradativamente empáticas. Boomers, apesar de ser o elemento
catalizador, não exercem papel de protagonistas. No entanto, o pano de fundo
envolvendo os boomers e o impacto que provocaram naquela sociedade é expandido.
Eles são parte da sociedade, estão integrados no sistema de modo aparentemente
irreversível, ocupando funções outrora que só poderiam ser exercidas
exclusivamente por seres humanos. Alguns ainda possuem autonomia. Com este
panorama, as pessoas se sentem ameaçadas com estes androides que aos poucos vão
assumindo suas funções e ocupando cada vez mais espaços, o que gera certos preconceitos,
principalmente com os boomers do sexo feminino que trabalham como garotas de
programa.
A série toca novamente na questão da autoconsciência da
máquina; poderia os boomers desenvolver sentimentos? Emoções próprias? Sonhar?
Tudo isto é apresentado em pequenas pinceladas ao decorrer dos episódios e a
resposta para a questão é evidente em casa caso. Uma boomer chamada Eve (a que ilustra o pôster e que talvez faça
alguma alusão à Eva) que co-protagoniza o segundo OVA, é o destaque deste
pensamento conflituoso da evolução da máquina ao ponto de não se diferenciarem
mais de pessoas comuns. Ela é uma boomer evoluída, capaz de sonhar, sentir-se
como uma mulher de verdade, que necessita inclusive de preliminares, para deixa-la
mais relaxada para desempenhar suas funções. Mas não é isso que torna Eve tão
humana, e essa analogia com Eva que vivia feliz enquanto ainda não conhecia a
verdade, mas se perde ao se corromper, dá asas à imaginação; talvez por isso a
história de fundo da personagem, sua origem e etc, tenha se mantido aberta à
interpretação.
Eu diria que é sua capacidade de ter medo, carência e baixa-estima,
que a leva a perder o domínio sobre seus atos. Uma característica comum em
obras escritas por Chiaki Konata são transtornos psicológicos que fazem as
personagens misturarem realidade com fantasia e enxergarem seus duplos, suas
personas, transcendendo o corpo físico. Malice@Doll e Parasite Doll são duas de
suas séries que possuem essa característica em comum. Em Parasite Doll, Eve
começa a ter alucinações de uma garotinha de capuz vermelho, com uma bola.
Tanto aqui, quanto em Malice, essas visões surgem de um extremo estresse
emocional e da insatisfação pela dor causada ao adquirirem autoconsciência de
sua existência. A solução então é transcender a matéria a partir do momento que
resolvem seguir estas visões.
Paradoxal. A tecnologia evolui, por mãos humanas, ao ponto
de sufocar a existência humana, trazendo consigo paradoxos complexos. Mas a
ironia está no fato de que, ao experimentar a humanidade, tais máquinas se
mostram incapazes de lidar com tamanha complexidade. Podemos interpretar pela
ótica critica do autor, de que máquinas nunca chegarão, por mais evoluídas que sejam
a possuírem a natureza humana. Ou por uma perspectiva mais romântica: o
pensamento budista alude para a efemeridade cíclica da vida, e eu li certa vez
que o inferno seria a própria vida, a própria vida terrena. É natural pensar
então que a libertação só pode vir com a transcendência da alma.
Enfim, não posso encerrar o texto sem comentar da personagem
mais fodástica chutadora de bundas da história: a sargento Reiko Michaelson.
Apaixonada por Buzz, que não lhe dá a menor bola, Michaelson tem traços
masculinizados, já flagrantes na sua postura tomboy. Com baixa estima por não
se sentir feminina e atrativa para o sexo masculino, mas também não fazendo
nenhum esforço prático para se adequar a este padrão além de namorar esse estilo pela vitrine, acompanhar a trajetória dela foi
para mim extremamente prazeroso, principalmente por ela permanecer o que é. Ela, mesmo
com seus 22 anos, ainda possui certa ingenuidade, extravasando a suas
frustrações com as questões de gênero nos apetrechos eletrônicos, onde ela
parece se sentir completamente à vontade. Especialista em armas e veículos da divisão
Branch, em uma determina sequência onde um grupo de filhinhos de papais está
controlando um bloomer remotamente através de um projetor cerebral, como se
fosse um game, ela sai destruindo tudo e visivelmente se sente excitada com
isto, como se aquilo também fosse um game de tiro de primeira pessoa. Deu
vontade de dizer: AMIGA!
A interação entre Michaelson e Eve é bem bacana, apesar
desta ainda ter uma visão bastante tradicional com relação gêneros, a repentina
e breve amizade/camaradagem contrastante entre duas mulheres tão distintas, faz
com que Michaelson olhe para dentro de si mesma e começar a se questionar.
Gosto particularmente de quando Eve lhe diz que ela precisa parar de enxergar
os homens como se fossem seus inimigos. Acredito que a pressão familiar e
social pelo modo de se vestir e comportar de Michaelson, a tenha feito erguer
um enorme escudo de proteção em torno de si, o que também justifica sua paixão
por Buzz; maduro, e que não lhe julga, embora pareça lhe ver mais como uma
criança do que como mulher. O que a deixa ainda mais conflitiva. Ainda há um
logo caminho a percorrer para ela. Tudo o que precisa, é aprender a se aceitar,
porque foda a bichinha é!
Deu pra ver o tamanho de minha afeição, não é? Há ainda os
personagens secundários, que servem para estabelecerem melhor os principais,
tornando estas inter-relações algo interessante no decorrer da história. Bom, Parasite
Doll é um OVA bacana. Tem algumas inconsistências na animação, em maior grau no
que diz respeito ao character design que está sempre se mostrando
desproporcional, mas com algumas sequências de ação divertidas, ainda que com
animação mediana, e certo experimentalismo, que soa até datado para os dias
atuais. Mas não reclamo, há até um certo charme trash nisto tudo.
Ah, não é preciso ter assistido nenhum outro da franquia para entender o que se passa em Parasite Doll.
Ah, não é preciso ter assistido nenhum outro da franquia para entender o que se passa em Parasite Doll.
Nota: 06/10
Direção: Kazuto Nakazawa, Naoyuki Yoshinaga, Yasuhiro Geshi (ep. 3)
Roteiro: Chiaki J. Konata
Estúdio: AIC
Tipo: OVA
Duração: 1h 25 min (3 episódios)
MAL: http://goo.gl/Ymxf5x
ANN: http://goo.gl/6bbjDS
Direção: Kazuto Nakazawa, Naoyuki Yoshinaga, Yasuhiro Geshi (ep. 3)
Roteiro: Chiaki J. Konata
Estúdio: AIC
Tipo: OVA
Duração: 1h 25 min (3 episódios)
MAL: http://goo.gl/Ymxf5x
ANN: http://goo.gl/6bbjDS
-O Mundo Cinzento de Bubblegum Crisis 2032
-009 Re:Cyborg – Contra o Capitalismo Selvagem?
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