Em terras medievais e mitológicas, criaturas mágicas e seres humanos dão inicio a uma aventura alucinante, ou algo assim.
Shingeki no Bahamut Genesis (ou Rage of Bahamut Genesis) é uma adaptação de um super popular
cardgame para celular da Cygames. Já que o original não há muito de história e
apenas uma base conceitual com uma gama imensa de personagens, e inimaginável
de transpor para uma série de tv de 12 episódios sem que se perca no caminho,
esta adaptação pode ser considerada como uma história quase original. Levando
em conta as alterações feitas, Shingeki no Bahamut é basicamente um prologo
para o game, onde todos os núcleos que compõe a estrutura de jogabilidade estão
representados; dos humanos, passando pelos demônios e anjos, até o personagem
título Bahamut, têm suas linhas entrelaçadas de modo a reverberar numa grande
batalha pela supremacia.
Na história do anime, Mistarcia é um mundo onde deuses,
demônios e seres humanos [além de outras criaturas místicas] coexistem. No
passado, o temível dragão Bahamut quase destruiu a terra, obrigando seres
humanos, anjos e demônios a unirem forças para reter sua ira. Nos tempos atuais
em que ocorre a história, Bahamut está adormecido, a chave capaz de despertá-lo
fora divida entre deuses e demônios para que ele nunca possa ressurgir
novamente, mas uma garota metade anjo e metade demônio, Amira (Risa Shimizu), acaba roubando ambas
as chaves para realizar o desejo de reencontrar sua mãe nas míticas terras de Helheim
– para alcançar seu objetivo, ela se junta malandro caçador de recompensas Favaro
Leone (Hiroyuki Yoshino). Durante a
jornada, eles se juntam a outros personagens e aos poucos as múltiplas tramas
vão se entrelaçando e Bahamut novamente se torna uma ameaça real.
O universo mitológico de Bahamut é bastante amplo e, acima
de tudo, diversificado. Há desde dragões e divindades e a figura histórica de
Joan D’Arc (Megumi Han), a zumbis e
necromance e animais sencientes. É como pode se ver, uma alta-fantasia, mas não
é tão sério como talvez muitos fãs do gênero esperem encontrar em um cenário
assim. Mesmo durante os momentos mais intensos e dramáticos, Shingeki no
Bahamut nunca fica pesado, a atmosfera permanece trivial e com tons leves que
caracterizam a obra como, principalmente, uma aventura com pitadas de muita
ação, comédia e um tico de romance. Há até mesmo sequências de ação
imaginativas e fantasiosas em destaque na primeira parte do anime. Não há
realmente um drama substancial aqui.
Neste sentido, o único momento digno de nota é quando Joana
D’Ark é vítima de uma artinha de um demônio e, acusada de traição, vai parar na
fogueira – apesar do rei ser uma figura excêntrica e transloucada no qual não
há ponde se notar qualquer traço de seriedade em meio a tanta caricatura, a
composição do conflito interno da Joana é realmente tocante. Mas isso dura bem
pouco e logo Joana é alçada em uma direção que nada dignifica a personagem, que
possuía até então uma participação instigante, embora bem pequena, em uma trama
paralela. No entanto, esta trama não acrescenta nada à personagem e seu
desfecho é decepcionante, traindo todas as suas convicções e no fim, se transformando
numa garota fragilizada. Essa releitura da personagem histórica, porém, não é
inédita, se tratando de ficção japonesa, sua personagem tende a ser sempre
utilizada como figurante de luxo salve raras exceções.
Kaisar Lidfald (Go Inoue) é também um personagem com grandes conflitos, mas é composto com
melodramas e trejeitos caricaturais. Penso que nem a própria direção e roteiro
acreditavam na força do seu drama ou nas razões dele. Kaisar na verdade é um
alívio cômico e o seu melodrama é mais num sentido de humor do que emocional de
fato. É um personagem chato e sem substância que está sempre chorando pelos
cantos e seu senso de moral elevado não lhe contribui em nada. Ele tem sua
história e razões, mas sabemos que genuinamente sua única razão de existir se
consiste em ser o oposto de Favaro, rivais e amigos. Isso é fácil de perceber,
pois seu drama não envolve e tampouco é bem desenvolvido. O desfecho do seu
conflito é decente, mas não vejo muito de mérito nisto quando tudo o mais era
tão vazio e até mesmo a rivalidade entre ele e Favaro era sustenta
previsivelmente por uma mordaça bastante frágil. Então, olhando de perto, isto
tudo só colabora para evidenciar o quão tolo, infantil, otário e estúpido é
Kaisar. É um pouco constrangedor vê-lo gritando pela Amira do inicio ao fim,
enquanto a personagem mal sabe quem ele é e só tem olhos para Favaro.
No fim das contas, Kaisar só existe para enaltecer Favaro. O
que seria dele nesta história sem Favaro?
Nenhum personagem de Shingeki no Bahamut possui boa
caracterização, mas enquanto conjunto eles geralmente rendem boas situações.
Favaro e Amira são as forças motrizes da série, enquanto Rita é fundamental em
vários momentos. Favaro acertadamente não é um personagem profundo, sua força
está no seu carisma e composição icônica, tipo de composição muito comum na
ficção exploitation e que se vê extensivamente no cinema de gênero americano –
eu não pensei a fundo nisto, mas ele me lembra de personagens de westerns,
ainda que a forma como se expressa seja um tanto afetada demais, mas pensando
sobre isso, um nome como “Favaro Leone” não surgiu por acaso. Indo mais além, sua
profissão de caçador de recompensa, sua capacidade de lidar com situações
adversas sempre com um humor sarcástico e a sua personalidade amoral refletem
essa possível inspiração, que culmina na rivalidade com Kaisar. De qualquer
forma, Favaro se destaca em suas ações por ser um anti-heroi, tornando-o apeto
a lidar com diversos tipos de situações diferentes, como se vê no último
episódio, algo que custaria muito a um herói altruísta como Kaisar, para
Favaro, por mais que ele sinta, não é algo que hesitaria depois de tirada todas
as dúvidas nem o transformaria num cavaleiro das trevas, corroído pela culpa e
convivendo com fantasmas.
Já Amira, como toda personagem over-poderosa capaz de
resolver a situação num estalar de dedos, tem todo este poder limitado. No caso
dela, sua limitação se encontra no fato de estar sempre alternando entre uma
personalidade madura e uma infantil – há uma razão, claro, sempre há. O fato de
ela ser uma personagem que vemos bem pouco no seu estado de elevado poder em
confronto com outros adversários, não é algo que me incomoda em tudo, pois sua
composição é o clichê clássico e uma das maiores armadilhas na hora de criar um
personagem poderoso demais em comparação aos demais. Felizmente, Amira possui
um papel bem definido e sólido em toda esta questão, tornando impraticável que
ela possa em algum momento lutar de igual para igual com qualquer outro
personagem sem deixar de cumprir sua predestinação. No decorrer dos episódios
eu fui conquistada foi pela sua ternura e ingenuidade. É interessante
observamos que o seu tremendo apego e carinho à Favaro é em parte devido à sua
natureza infantil, e que apesar dos pesares, ele consegue o milagre de
conseguir despertar um aspecto protetor e fraterno num interesseiro.
Favaro e Amira foram os únicos personagens que realmente me
envolveram emocionalmente. Eles possuem boa química e a jornada no qual eles
trilham dá o tom da primeira metade da série, onde eles se metem em diversas
confusões e cruzam seus caminhos definitivamente com outros tantos personagens
– como Rita (Miyuki Sawashiro), que
não é particularmente interessante, mas que se torna uma peça valiosa nesta
intricada teia de relações que afetará o desfecho do enredo. Shingeki no
Bahamut é uma série despretensiosa e que conseguiu me agradar assim, em
episódios que exploravam mais e mais daquele universo. O diretor Keiichi Satou (Tiger & Bunny, Saint Seiya: Legend of
Sanctuary the Movie) tem o mérito de ter criado uma história praticamente
do nada, e fazê-la funcionar corretamente com todas as imposições da produtora Cygames,
como: a aparição de grande número de personagens originais e o enredo girar em
torno do despertar de Bahamut [nem mais nem menos] e a proibição de explosões.
Como fazer uma série que ilustra uma guerra e diversos
embates entre adversários poderosos sem que haja explosões? Keiichi Satou conta
em uma entrevista que para se desvencilhar deste termo, substituiu as
sequências que exigiam explosões por efeitos de luzes, poeira e magia. Eu diria
que o resultado é não é ruim, é provável que se ele não mencionasse, nem nos
atássemos a isto, mas obviamente o impacto é bem menor do que poderia ser sem
as restrições. Há muitos efeitos de luz e magia que em vários momentos sobrepõe
a animação, às vezes prejudicando sequências que poderiam ser bem mais lindas
visualmente sem todos os contrastes visuais (e infelizmente também recorrente na animação de Fate/UBW 2014). O
episódio zumbie é outro exemplo, e único dentre todos os episódios em que se vê
sangue e algo de violência, no entanto, isto se dá de modo estilizado; o alvo
são pessoas mortas já deterioradas e inumadas, e a coloração é diluída. É um
episódio que eu gosto bastante, por destoar completamente dos demais e ter uma
direção de arte que acompanha este tom, com uma composição igualmente atípica;
o próprio storyboard faz soar como se fosse um survival, com os recursos de
narrativamente geralmente utilizados neste meio.
Criando personagens originais e ainda ilustrando muitos dos
personagens do jogo, Shingeki no Bahamut é uma série que se saiu melhor do que
se poderia esperar a principio. A animação é boa, sempre bem fluída, apesar de algumas
cenas de ação contar com storyboards não tão inspirados. O character é
lindíssimo, melhor ainda por se manter sempre estável e permitir uma sem número
de variação nas expressões dos personagens, a animação neste aspecto é bastante
elástica. As múltiplas tramas na primeira parte que vão se convergindo é uma
forma dinâmica de contar história, era bastante divertido. Na segunda metade,
no entanto, a história vai caminhando para seu desfecho e as fragilidades se
tornam mais claras. O roteiro de Keiichi Hasegawa não é tão imaginativo e
suspeito que sua capacidade de criar situações sejam limitadas. O resultado é
bem insonso, assim como os demônios que representam os obstáculos. A
performance refrescante de Favaro no episódio final e sua interação com Kaiser
e Amira foram excepcionais, mas foi uma segunda metade irregular onde a série
fez uma curva decrescente.
Francamente, acredito que Keiichi Satou fez um trabalho
muito bom dentre as possibilidades que ele tinha, – que eram poucas – dentro de um gênero que
exige um tempo de duração maior do que foi apresentado, mas peca em alguns
detalhes que talvez fossem mesmo difíceis de serem contornados. Ou seja, é algo
maior que o formato estabelecido pode comportar. Séries deste tipo não são
comuns na animação japonesa e as poucas que surgem são umas porcarias como
adaptação. Shingeki no Bahamut é completamente distinto de tudo você já viu
neste gênero em termos de animação.
Futuramente é provável que se torne referência. E é certo que Keiichi Satou tem
grande participação nisto pela sua visão ampla de tentar fazer algo que se
destaque como nunca antes, mas ainda é muito aquém de algo que desperte paixão
em qualquer pessoa.
Nota: 6/10
Diretor: Keiichi Satou
Composição de Roteiro: Keiichi Hasegawa
Scripts: Akira Tanizaki, Keiichi Hasegawa, Masanao Akahoshi
Estúdio: MAPPA
Episódios: 12
Fonte: Adaptação de Cardgame
Tipo: TV
Páginas: ANN, MAL
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Nota: 6/10
Diretor: Keiichi Satou
Composição de Roteiro: Keiichi Hasegawa
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