No novo anime do KyoAni, personagens folclóricos de fabulas infantis invadem o mundo real e como tudo na vida, eles não são nada parecidos com as descrições das histórinhas.
Em Amagi Brilliant Park (ou
simplesmente “Amaburi”, contração da forma vocal como os japoneses leem o
título da série: Amagi Buririanto Paku) acompanhamos as desventuras do
narcisista e egocêntrico Seiya Kanie (Koki Uchiyama), estudante do ensino médio e ex-estrela infantil que se vê coagido
por sua colega, a virulenta Isuzu Sento (Ai Kakuma), a visitar o parque que dá nome à série, hoje decadente e sem
muitos visitantes. Amagi Park não é o que parece, no entanto, é na verdade o
recinto de diversas criaturas mágicas refugiadas de Maple Land, que usam o
parque como uma forma de extrair a energia mágica de seus visitantes, emitida através
da diversão, e assim se manterem existindo no mundo humano. Mas eles estão em
sérios apuros, pois o parque recebe cada vez menos visitantes, diminuindo sua
fonte de energia, e pra complicar ainda mais estão prestes a perder a área para
uma agência imobiliária se não atingirem 250.000 visitantes dentro de três
meses. Por meio de um contrato forçado com a princesa Latifah Fleuranza (Yukiyo Fujii), Seiya acaba se
tornando o gerente incumbido de salvar o parque e seus habitantes nestes
próximos meses, mas a tarefa não será fácil.
Dirigido por Yasuhiro Takemoto (Lucky Star, Hyouka, Haruhi Suzumiya the Movie) e com roteiro
adaptado por Fumihiko Shimo de uma light novel homônima escrita por Shoji Gatoh,
Amaburi é uma série distinta do que o estúdio KyoAni tem feito ultimamente,
assim como Hyouka e Full Metal Panic! The Second Raid também o foram; verdade seja
dita, é um estúdio que ocasionalmente sempre surge com algo diferente, há pouco
tempo Free! foi uma série que quebra um paradigma e abrange uma nova faixa de
público – ainda que genuinamente seja o velho moe de sempre, só que com
personagens masculinos –, mas olhando para Amaburi, uma série com bichinhos antropomorfizados é algo que não se vê sempre
em animes, e apesar de vários personagens bonitinhas que o autor cria como
atrativo para a fanbase masculina, se nota que o que desperta seu interesse
mesmo é nas situações de humor nonsense e pastelão envolvendo aquelas criaturas
estranhas e pervertidas, que contradizem mortalmente suas fisionomias
bonitinhas e infantis.
É difícil olhar para Amaburi e ver na série potencial para uma
explosão de vendas. Seu humor é bastante subjetivo e com referências muitas vezes
obscuras, como por exemplo; Seiya Kanie ser um personagem que teve o nome
inspirado no do cantor pop Kanye West (que,
segundo dizem, é egocêntrico e narcisista, portanto, talvez as referências vão
além do nome...); Isuzu Sento no do rapper 50 Cent (será que ela ser séria, durona e agressiva é também um reflexo da
personalidade midiática de 50 Cent? Questões!); e Latifah Fleuranza na ídolo
pop Queen Latifah. Há ainda outras referências a series e personagens da cultura
pop, que passam quase despercebidas; creio que o mascote Moffle ser espelhado
no Bonta-kun de Full Metal Panic seja a coisa mais obvia na série,
principalmente pelo fato de serem obras do mesmo autor, que comenta no primeiro
volume da light novel ter reutilizado o mesmo design (com a aprovação do ilustrador anterior, Shiki Douji) por gostar
tanto de Bonta-kun, que não conseguia diferenciá-los, em sua cabeça. Uma
divertida curiosidade é o fato de Bonta-kun ter sido roubado por Sosuke (FMP) em um parque de diversões, o mesmo
ambiente de Moffle... essas coisas não instigam a imaginação?
Bom, de certo que há muitas referências que não pegamos, mas
apesar das situações de humor serem subjetivas, geralmente são facilmente perceptíveis,
pois fazem parte das próprias características dos personagens e o seu modo de
agir bem particular, como a fadinha Salama (Minami Tsuda) viciada na internet que está sempre conectada no twitter através do
seu celular, a lasciva Tirami (Ai Nonaka)
que é uma fadinha em forma de uma cãozinha rosa extremamente pervertida que
está sempre tentando tirar vantagens sobre mulheres jovens, ou o próprio Seiya
que apesar do seu egocentrismo, é na verdade um garotinho tímido e complexado,
que nunca sabe lidar com assuntos íntimos e emocionais, colocando sempre uma
mascará sobre a face para lidar com isto.
Isso é Amaburi, não há realmente uma grande história de
fundo, e sim situações cotidianas que envolvem aqueles personagens na tentativa
de manter o parque funcionando, e que claro, sempre acaba em confusão – mesmo a
trama principal que se torna a razão existencial do enredo e força motriz para
o protagonista Seiya, é só mera distração. Na light novel, o objetivo é
alcançado ao final do primeiro volume, e obviamente surgem novas situações de
conflitos em volumes seguintes, mas novamente a sua resolução não é o grande
objetivo, e sim as situações que se criam na vida diária daqueles personagens.
No anime, apesar de adaptarem capítulos que ocorrem em volumes posteriores, a
resolução do conflito só ocorre no penúltimo episódio, e o fato de o último
episódio ser mais um aleatório na vida diária do parque e seus funcionários
nada convencionais (lutadores de luta
livre mascarados, uma foca pirata e outras criaturas de comportamento
inusitados compõe o imaginário do de conto de fadas moderno do parque),
demonstra o quanto Amaburi é uma série episódica e de tramas ordinárias.
Nem tudo funcionou comigo, e nem tudo irá funcionar com
você, pois é assim que se dá este tipo de composição; há coisas que irão te
pegar de cheio e outras que não, ainda mais se tratando de humor físico e
piadinhas pré-escolares, mas de modo geral Amaburi foi uma experiência aprazível
e divertida. Principalmente pelo fato de cada episódio acabar destacando
determinado (ou determinados)
personagem e sua peculiaridade, e saber explorar com larga imaginação as estruturas
de um parque e a fantástica existência daquelas criaturas míticas na era
moderna sob a ótica cínica de uma pessoa adulta, pois há esse choque de valores
onde a caracterização típica de um conto para crianças é vista pelos olhos
adultos. Por mais incrível que pareça, o desfecho do conflito da trama
principal é um dos episódios menos surpreendentes e um dos mais fracos. Apesar
de estar revestido daquele sentimento de recompensa final, ele não é só previsível,
com também é fraco por ter uma catarse sem grande inspiração. Penso que isso
ocorre pela ausência de uma ameaça que realmente despertasse certo temor e
criasse uma situação genuína de suspense, ainda que a forma como tudo ocorreu
seja correta, carece de algo a mais.
Falando dos personagens, ver grande parte do elenco que
compõe a cena ganhando substancia e presença de cena foi grata surpresa (o episódio focado nas quatro fadinhas fora
de sintonia foi um dos meus preferidos; Salama desde então tem estado no meu
coração); a Sento não se resumir a uma personagem inexpressiva como sugeria
o primeiro episódio, mas sim uma personagem com certa consciência foi algo que
me surpreendeu um pouco, vê-la confusa sem saber lidar com os sentimentos recém-adquiridos
por Seiya é muito legal e cria diversas boas situações. Sento é um personagem
que aparentemente nunca viveu este tipo de emoção antes e, brocutu como é, não
sabe lidar com seus sentimentos e muito menos com as pessoa à sua volta, motivo
pelo qual é, dentro daquela fantasia, a personagem da guarda real. Seria bom
ver um maior aprofundamento da personagem e seus sentimentos, mas talvez fosse
pedir demais em um anime adaptado de uma obra aberta, e além do mais, tivemos
boas pinceladas disto em diversos momentos e um episódio voltado especialmente
para este seu conflito. Seiya cai no mesmo patamar. É um protagonista com mais
camadas que se poderia esperar, é agressivo e impulsivo, criou uma camada egocêntrica
para se proteger, é uma pena não vermos seu conflito explorado a fundo, mas estamos
falando de uma obra em aberto. Até mesmo a doente princesa Latifah mostrou ser
um pouco mais do que se poderia esperar, onde mesmo sendo colocada numa situação
passiva, não se furtou de também se envolver em diversas situações. Só tenho
pena dela que, perto da Sento, ela fica completamente desbotada.
Amagi Brilliant Park se destacou também por caracterizar o ero-fanservice
mais descaradamente, tendência que já vinha sendo seguida desde Chunibyo,
embora com mais sutileza, e que vem se tornando gradativo através de Tamako
Market, Free! e Kyoukai no Kanata – inclusive, Amaburi faz uma caracterização
do ero-fanservice de uma forma muito similar ao presente em Kyoukai, fazendo um
ângulo fechado em certas poses ou situações de fetiche, só que com muito mais
presença. A direção soube encaixar isso de modo que não destoasse da composição
e com um apelo sensual que sabe instigar a imaginação, e claro, se trata de um
tratamento voltado especialmente para o demográfico masculino (que se nota inclusive nas situações de
humor, que por vezes tem haver com tentar ver mais do que se é permitido da
intimidade de uma mulher).
Quanto aos valores de produção, mantém o padrão de solidez
do estúdio, mas é uma daquelas séries mais baratas e sem grandes requintes
visuais que o KyoAni as vezes entrega, facilmente perceptível nas partes de
ação em que se exigiam maior fluidez, e, no entanto, havia grande economia e
truques para compensar a ausência da mobilidade exibida. Nem se compara aos
recursos de Kyoukai no Kanata e nem a riqueza visual de Tamako Market. Ainda
assim, lindo character design, que se mantém sempre estável, e boa fluidez
quando não há cenas de ação (há diversos momentos muitos suaves nos trejeitos minimalistas dos personagens que é tão agradável), e a integração do CGI + 2D é muito boa, com várias
cenas que é impossível a olho nu distinguir efeito CGI de animação manual.
KyoAni faz um dos melhores usos desta tecnologia na indústria. O único momento
que meus olhos captaram que fica bem abaixo do padrão é numa cena rápida, de
segundos, onde uma arvore é partida pela metade no cenário escolar, é realmente
feinha e explicita.
Eu gostaria que fosse uma adaptação completa, que fechasse
tudo e abordasse os conflitos dos protagonistas com maior profundidade, e não
uma obra em aberto, mas no fim das contas, ainda foi algo que me agradou e
funciona pelo foco ser na comédia de situação e nas confusões diárias. Destaque
especial para Sento. É sempre um deslumbre para os olhos acompanhar os
trejeitos dela, além de vê-la fantasiada de pirata, em trajes sociais e com
mosquetes que surgem magicamente por baixo de suas saias, sempre com muito
perigo – ao estilo Mami de Madoka Magica. Eu não deveria comentar essas coisas
aqui, não é? Mas não posso deixar de ser honesta! A Sento é maravilhosa e isto
é um fato.
Nota: 07/10
Diretor: Yasuhiro Takemoto
Composição de Roteiro: Fumihiko Shimo
Scripts: Chika Ishikawa, Fumihiko Shimo, Maiko Nishioka, Shoji Gatoh,Yasuhiro Takemoto
Estúdio: Kyoto Animation
Episódios: 13
Fonte: Adaptação de Light Novel
Tipo: TV
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