segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Comentários: Death Parade #05 – Death March

[Corrida da Morte] Jogo de bilhar com planetas, uma metáfora visual da mítica ascendência daqueles personagens, que observam tudo de cima e manipulam o destino das pessoas que caem naquele jogo.
Comentário Anterior; Death Parade #04 – Death Arcade

A direção de Yuzuru Tachikawa tem mantido um ímpeto extraordinário, onde mesmo quando sai da tradicional formula episódica, mantém a estrutura de sempre com uma desenvoltura ímpar – com um certo suspense impregnado na atmosfera seguido de uma reviravolta surpreendente. O mesmo caso de um episódio anterior apresentado por uma nova ótica no seguinte (episódios 1 e 2), que altera definitivamente a percepção de todos em relação aquele caso; o desfecho inesperado do terceiro episódio (Rolling Ballade) em que ambos são enviados a um mesmo destino; o abraço afetuoso de Decim no episódio quatro (Death Arcade); e o próprio episódio cinco. São todas abordagens que se reinventam de alguma forma, mesmo mantendo a mesma estrutura narrativa. Para uma série episódica, Tachikawa mantém um estilo de direção forte e faz um bom trabalho em despertar um elo entre o espectador e a história, no sentido de este querer ver o próximo e desbravar mais daquele universo. 

Tudo isso pra dizer que eu realmente gostei muito deste episódio 5 e da forma como ele é conduzido, onde mesmo sendo um episódio de introdução ao universo, expandindo-o ainda mais, isto é feito com muito mais eficácia e desenvoltura que no episódio 2. Inequivocamente, você termina o episódio sentindo que ainda há tantas pontas soltas não resolvidas, e uma trama paralela que de alguma forma irá se entrelaçar àquele universo e o afetar drasticamente. Mas o que? É deste feeling que falo no paragrafo acima. Neste momento, a história daquele mundo parece ter muito mais a dizer do que poderíamos supor inicialmente, mas o que é realmente uma agradável surpresa é que apesar do expansivo universo, são os personagens os maiores destaques da narrativa, preenchendo completamente o sentido de sua existência. Eu creio que isto se alinha bem com sua proposta narrativa sobre o que move as pessoas e sua razão de existir.
No campo especulativo, eu gostaria muito de saber qual a relação entre o livro de Chavvot, os sonhos de Kurokami e como isto se entrelaçará ao Decim e possíveis demais personagens. Afinal, a este ponto, é obvio que todos estes elementos não estão ali por acaso, uma vez que podemos notar os mosaicos que retém as memórias; as ilustrações de Jimmy e Chavvot (e até mesmo os bonecos nas mãos de Kurokami que lembram Jimmy e Chavvot); a patinação no gelo seco por parte de Kurokami [aludindo ao que vemos em seu sonho]; todas estas coisas representadas em diversos frames da abertura. Além disso, a existência daquele mundo parece estar intrinsecamente relacionada a uma provável ausência de Deus, isto tornaria para mim os julgamentos ambíguos aplicados no Queendencim mais aceitáveis, segundo os preceitos divinos. Além disso, sente-se que a linha dura da diva maravilhosa Nona e o modo que reage ao ver Decim falhar no teste surpresa está relacionado a uma possível ameaça exterior. Será possível? Se de fato as pessoas não devem reter memórias de suas vidas anteriores antes da reencarnação ou saberem o que é aquele lugar, por que Nona se preocuparia tanto com algo assim? Suas ações tem um ar de urgência que se mistura ao restante do tom misterioso adotado na narrativa, onde podemos perceber que segue um ritmo em elipse. 

De qualquer forma, eu realmente achei que este seria um episódio em que veríamos um caso de personagens que se recusam a jogar, depois pensei que seria um caso excepcional de alguém que manteve fragmentos de memórias de uma vida anterior à reencarnação e que este alguém já estivera ali. Mas, fui surpreendida triplamente: afinal, Kurokami não só se mantém humana, como também está com um julgamento em suspensão. Não sei se estes personagens dentro daquele universo são nomeados como Shinigamis, mas pelo folclore japonês, eles se assemelham a estas criaturas místicas, e como em algumas obras shinigamis podem ter tido um passado humano e então ascendido à imortalidade, eu acreditava que todos ali tivessem sido humanos em algum momento e que o mesmo ocorreria com Kurokami. Mas pelo visto, não é bem assim.
os bonecos são os corpos das pessoas, que são enviados ao Queendencim, afinal, se eles reencarnam ou são enviados ao vazio, são seus espíritos, e não seus corpos, que sofrem esta sentença
kakeras, geralmente são fragmentos usados para representar realidades paralelas ou fragmentações de memórias, que aqui é alusivo à conversa sobre uma pessoa manter memórias retidas de sua vida no plano terreno, mesmo que num estado inconsciente
Este episódio mostra o quão exóticos e curiosos são os personagens que preenchem aquele mundo, uma pena que com o número estimado de episódios (12), será impossível que todos venham a ser aprofundados. Ainda assim, é muito agradável o apelo que, especialmente Decim e Kurokami, estes personagens conseguem despertar. E a já afetuosa relação entre Decim e Kurokami, como opostos que se complementam, continua em evidente ascensão – já dá pra aguardar por uma season finale atípica. Neste aspecto, é muito bom como o roteiro deixa subtendido através das reações de Nona e Ginti (Yoshimasa Hosoya) o quanto Decim têm sido afetado por Kurokami, ao ponto de começar a agir anormalmente ao padrão. Neste sentido, mesmo que o conto de Jimmy e Chavvot não venha a ter um grande papel na cadeia de relações daquele universo, ele já é significativo o suficiente para a relação entre Decim e Kurokami. Ou seja, o conto que ouvimos é de certa forma uma metáfora de como a presença dela influenciou o comportamento dele; a história de como um frio e inumano bartender de outro mundo foi enfeitiçado pelo calor humano de uma estranha mulher. Essa afeição e fascínio que ela desperta nele, é o mesmo que vemos nos olhos de Jimmy por Chavvot. 

Em tempo: a roupa de bailarina do gelo de Kurokami presente em seu armário, meio que alude à patinação à seco, assim como também à história de Chavvot – e não pode ser só coincidência que na abertura ela apareça patinando com patins de performance no gelo seco. Ansiosa desde já para as novas surpresas que Death Parade nos reserva. 

Avaliação:  ★★★★
Staff do Episódio
Roteiro: Yuzuru Tachikawa
Storyboard: Yuzuru Tachikawa
Direção do Episódio: migmi 
Diretor Chefe de Animação: Shinichi Kurita
Diretor de Animação: Eiko Mishima, Haruhito Takada, Shinichi Kurita, Shinichi Miyamae
Direção: Yuzuru Tachikawa
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-A animação deste episódio no confronto de Ginti com Decim estava sensacional, mas não só pela sua fluidez, mas pelo desenho do storyboard e a forma como o layout da ação soa dinâmico e insano.


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