Gugure! Kokkuri-san (2014) - 1 Garota e 3 Marmanjos

Como três criaturas sobrenaturais se juntam em torno de uma boneca que não sente.

"humanos são frágeis. Eles morrem num instante. Deve ser assustador ter que se despedir de novo. Nossas vidas são lentas demais para vivermos com humanos e longas demais para vivermos sozinhos."

lentas demais para vivermos com humanos e longas demais para vivermos sozinhos. Adaptado do mangá de tirinhas (4-koma) homônimo, Gugure! Kokkuri-san é um daqueles animes que de tão comuns passam quase despercebidos, mesmo provocando grande empatia naqueles que o assistem. Afinal, alguém se lembra de Gingitsune? De certo há pessoas que sim, mas não se vê comentários por ai. São histórias que fazem tudo certinho, cativam e são agradáveis naquele momento, mas não são marcantes em longo prazo. Não que isso seja um problema, de fato. Apenas é algo que acontece. Simplesmente. Na vida, tem pessoas que nasceram para brilhar, outras passam despercebidas.

Digo isto, pois assistir os 12 episódios de Gugure! Kokkuri-san foi uma experiência agradabilíssima. É um anime com boa direção de arte, bgm e uma animação econômica mas consistente e repleta de momentos de vislumbrantes, em que a arte ganha contornos evasivamente elásticos, refletindo a natureza nonsense da história – os backgrounds produzidos em desenhos manuais pelo estúdio Triple A, a bela composição da fotografia com a paleta de cores, tudo isso dá um tom muito homogêneo ao visual e atmosfera do anime. É uma experiência visual bonita, embora simples.

A historia de Gugure! Kokkuri-san é sobre uma garotinha solitária e inexpressiva chamada Kohina Ichimatsu (Ryo Hirohashi) que se autoproclama uma boneca e não come nada que não seja macarrão instantâneo. Um dia, quando ela vai jogar o jogo Kokkuri (joguinho de adivinhação, baseado no ocidental “Mesas girantes”, que por sua vez é uma versão do popular “Jogo do copo”), ela convoca a mitologica raposa Kokkuri-san (Daisuke Ono, versão feminina: Ryoko Shiraishi), capaz de responder quaisquer perguntas. Infelizmente, estes dias são passados para a milenar raposa, que agora vive dias de decadência e só consegue responder perguntas pesquisando no google – para sua lástima, ele é péssimo em digitar. Inicialmente ele tem a intenção de assustar e possuir Kohina, mas acaba se sentindo tocado pela solidão da garota, resolvendo ficar ao lado dela. Com o passar dos episódios, outras criaturas do folclore japonês também se sentem atraídos por Kohina e terminam por viverem ao lado dela: o depressivo cão fantasma Inugami (Takahiro Sakurai, versão feminina: Chiwa Saito) que se sente apaixonado por ela e o tanuki mulherengo, malandro e alcoólatra Shigaraki (Joji Nakata).

Acompanhamos o cotidiano desta estranha família que se formou e as estranhas criaturas e casos que encontram pelo caminho.

Desde o inicio eu me senti cativada por Gugure! Kokkuri-san. Era algo que me fazia gargalhar de tanto rir na mesma proporção que me deixava com o coração na mão. A série tem este mérito de conseguir fazer rir e também fazer com que sintamos pelos conflitos dramáticos dos personagens, sem nunca perder a leveza do seu humor. Claro, não há um grande aprofundamento, e a beleza ao meu ver é como a série sugere esta melancolia, sem que para isso precise abraça-la. Isto cria empatia com os personagens. Por exemplo, o fato de Kohina se ver como uma boneca e tentar acreditar nisto é mais do que suficiente para compreendermos os conflitos que aflige aquele pequeno ser e como ela criou uma barreira de proteção emocional em torno de si através deste estratagema, já que bonecas são sentem nem se perturbam por nada. Igualmente sedutor é quando ocasionalmente ela inconsciente trai sua fantasia. Há algo de humor negro no humor de situações de Gugure! Kokkuri-san que é brilhante, pois a série faz isso de uma forma que a sua candura continua intacta, e assim o riso que estas situações provocam são destituídos de sentimentos de culpa – e olha que a série brinca com situações realmente perigosas como lolicons, bullying e assédios. É bom observar que todos os personagens que formam este laço fraternal em torno de Kohina possuem algo quebrado dentro de si. Eles são derrotados, egoístas e vivem à margem da sociedade, mas juntos eles constroem uma relação genuína e que com o tempo, se tornam como uma família de fato, que se gosta, apesar das nítidas diferenças entre cada um que sempre provoca conflitos.

Claro, como é adaptação de uma série em andamento, o sentimento de conclusão não é completo, muitos dos personagens que surgem não recebem um bom tempo para se desenvolverem melhor e mostrarem a que veio. Ainda assim, há alguns casos episódios que são realmente acima da média, como os dois últimos que giram em torno do etéreo e sua natureza volátil. Nestes momentos, você se pega pensando como o folclore japonês tem um charme distinto. Ao fim, o sentimento mais forte deixado por Gugure! Kokkuri-san é o de querer abraçar Kohina até ela estalar. É talvez a personagem inexpressiva mais emocional e apaixonante que já vi em um anime.

Em uma nota de rodapé, deixo sublinhado o ótimo desempenho da narração em off de Yukari Tamura, como figura onisciente e onipresente.

Trivia:

- Gugure! Kokkuri-san sai na revista Gangan Joker desde 2011 e tem atualmente 10 volumes. Gangan Joker é uma revista do demográfico shounen, que publica/pubicou séries como Akame ga Kill!, Corpse Party: Blood Covered, Inu x Boku SS, Natsu no Arashi!, Seto no Hanayome, Tasogare Otome X Amnesia, Umineko no Naku Koro ni e Isshuukan Friends - tenho certeza que são séries bem conhecidas entre vocês.

Nota: 07/10

Adaptação: mangá

Diretor, roteirista: Yoshimasa Hiraike

Estúdio: TMS Entertainment

Música: Hajime Hyakkoku

Diretor chefe de animação: Miwa Oshima

Páginas: ANN,

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