Saudações do Crítico Nippon!
Como introdução, sugiro que leiam meus textos sobre Dragon Ball Z: Saga do Freeza - a melhor; Comédia obrigatória - DBZ Abridged + RAPs do Flick; Crítico Nippon no CabulosoCast #2. Tem também especiais para o facebook aqui e aqui. O
anime mais popular de todos os tempos tem inúmeros filmes. Desde a série
Dragon Ball, passando pelo Z e GT, incluindo especiais e OVAs. Assim, não é de
se espantar que muita coisa ruim tenha saído disso. Não foram feitos pelo
mestre Akira, portanto, não há do que culpá-lo (Ah sim, confesso que não gosto
dos filmes de Cavaleiros do Zodíaco ou mesmo Naruto, e gosto muito desses dois
animes). Contudo, os últimos dois filmes (A Batalha dos Deuses e O Renascimento
de F) me fizeram perceber que naquela época não estávamos tão ruim quanto
pensávamos. E arrisco dizer que praticamente todas as lutas dos 13 filmes da
série “Z” eram mais inspiradas que as dos dois atuais. Não gosto do Cooler, dos
novos Andróides ou mesmo de Broly, mas é inegável a qualidade de animação e
coreografias de batalha. Sendo assim, esta crítica irá abordar quatro filmes no
total: os dois mais atuais (que servem de ponte para o futuro novo anime Dragon
Ball Super) e os dois antigos que eu mais gosto: O Golpe do Dragão e o especial
O Futuro de Trunks (esse sim, autoria de Akira).
A
Batalha dos Deuses se passa após o final de Majin Boo, com o despertar do deus
Bills, o destruidor. A trama parece investir no clima de comédia mais do que
seus antecessores, e não sabe criar suspense e urgência mesmo com Goku Super Saiyajin
3 sendo derrotado no primeiro ato. É impossível sentir a gravidade da situação
se os demais personagens não sentem, e esse é o erro mais grave desses filmes
atuais. Vegeta chega a dançar para entreter Bills. Oh céus. Goten e Trunks
sequer fazem a fusão nível 3. Nada de Gohan. Em todos os filmes passados víamos os
esforços de cada um, seguindo a lógica do próprio anime, cujos vilões sempre
precisaram do esforço de todos para serem derrotados.
Nunca
tememos pelos heróis em Batalha dos Deuses, como temíamos, por exemplo, com a
Nº 18 ao encarar Broly. A derrota de Goku 3 foi rápida demais, e não houve
nenhuma alternativa plausível para virar o jogo (exceto uma nova transformação,
que só serviu para um filme, algo que jamais ocorreu nos antigos). Sabíamos que
Cell era mais forte que os guerreiros Z, por exemplo, mas isso nunca nos
impediu de achar que Goku teria uma carta na manga ou estratégia e deixar a
luta acirrada. O mesmo com Majin Boo, que já havia derrotado Gohan e, assim
mesmo, torcíamos e vibrávamos inocentemente quando Vegeta lutou contra sua
versão gorda. E essa proeza o filme jamais alcança. Nem mesmo a transformação
nova e absurdamente desinteressante (não mudou quase nada) melhora as
coisas. Bills continua um vilão inocente e ninguém parece estar correndo real
risco de vida. A direção do combate é amadora e sem qualquer tipo de
coreografia. E o fato da Terra continuar intacta é simplesmente ridículo e
contribui para minimizar a gravidade de tudo.
E O
Renascimento de Freeza é ainda pior. Com um design de produção extremamente
desinteressante, nada se destaca em termos de cores ou de desenho. Não há
ambientação ou clima de tensão, e se levarmos em conta que Freeza era mais
fraco que um SSJ, definitivamente ele estava precisando de uma ajudinha nesse
sentido. A trama é, hum, renascem Freeza, ele luta contra Goku com três
transformações avançadas e, bem, morre. Desculpa pelo spoiler, mas parece até
uma piada. E esse é o primeiro filme que achei que os diálogos estavam
ultrapassados. Cada pausa do filme era infestada deles, tão bobos e inúteis.
Diferente do anime em que muitas pausas exploravam o ambiente, o clima e a
trilha sonora fenomenal. Neste filme, não. Muitos falam que Dragon Ball Z tem
lutas infinitas e diálogos idem, o que é uma grande besteira que só quem nunca
assistiu ou quem assistiu só com 10 anos de idade poderia dizer. Além do mais,
esquecem dos Narutos pulando em galhos infinitamente, e dos Cavaleiros subindo
as 12 Casas em sabe-se lá quantos episódios, que se passam em poucas horas. O
importante é explorar isso bem feito, algo que todos esses animes conseguem.
Os
combates novamente são absurdamente fracos e sem coreografia, deixando de fora
inúmeros guerreiros Z. Apostando em Bulma e Jaco (e Tenshinhan! Cof) que são
extremamente aborrecidos. Nenhuma batalha funciona, nem o treino de Vegeta e
Goku com Whis, nem os heróis contra centenas de capangas do Freeza, e nem a
luta final que sequer pareceu difícil. Apostando em mais uma transformação
exclusiva de filme (!!!!!!!!!!!!!), O Renascimento de F peca por não conseguir
nos fazer compreender, hum, nada. A força do Freeza equivale quanto? SSJ 2? SSJ
3? E a nova versão do Super Saiyajin Deus (não usar a versão do Batalha dos
Deuses é imperdoável) vale quanto? É mais forte que o Super Saiyajin 3? Quer
dizer que Vegeta já alcançou essa transformação? E por que ainda dizem que ele está
abaixo de Goku então? E por que eles não ficam mais SSJ loiros? Aconteceu algo
parecido com Gohan na saga Boo devido ao treino com o Supremo Kaioh, mas
eventualmente ficou claro que ele era praticamente um nível 3. E agora, esse
monte de transformação nova equivale ao quê? Goku de cabelo preto equivale ao
Gohan de cabelo preto no Boo, é assim? Não? Tudo isso jamais fica claro, o que
é um absurdo.
Assim,
passamos agora para a dupla de filmes antecessores. Começarei com o Futuro de
Trunks, que inicia com... a morte de praticamente todos os guerreiros Z,
incluindo Goku (agora vai tentar explicar isso pros eternos “Goku sempre vence
todos! Lutas duram pra sempre! É só risquinhos!”, tsc, tsc). E só com essa
introdução o filme já se difere completamente dos dois anteriores que comentei.
A Terra enfrenta uma verdadeira crise com os Andróides 17 e 18, e Gohan e
Trunks não conseguem ficar mais fortes. A Corporação Cápsula está decaindo e
claramente sentimos o clima melancólico e apocalíptico do filme. O perigo é
sério, real, e isso reflete em nossas expectativas.
E
como todas as boas de lutas de Dragon Ball Z, mesmo sabendo que os vilões são
mais fortes, sempre temos a esperança de que os heróis consigam algo (mesmo que
raramente consigam). Assim, a primeira batalha no parque de diversões é interessante
e urgente. Diferente de Batalha dos Deuses, por exemplo, sabemos que a luta
precisará ter um resultado para um dos lados, e que os inimigos não ficarão
sentados esperando, como Bills. Assim, Gohan perde o braço, adicionando mais um
item pra lista de clima e ambientação sem esperança. E por quase terem morrido,
Gohan deixa Trunks inconsciente em sua segunda tentativa solitária. Que o
levará a morte e fará Trunks ficar irado e se transformar em SSJ pela primeira
vez (o que é brilhante). Que o levará a treinar por meses e ter uma última
tentativa e luta final com os androides. Ou seja, percebam que o filme tem uma
narrativa, uma coisa leva a outra naturalmente, uma trama com ligação entre os
acontecimentos e consequências. Essa é a beleza deste filme.
A
animação é impecável, explorando o pôr do sol diversas vezes e a chuva na morte
de Gohan, criando quadros belíssimos. Não há um único momento em que os
personagens lutam como risquinhos ao fundo (mostra isso lá pro seu amigo que
parece uma vitrola quebrada com esse mantra)! Destaque para a transformação de
Trunks na chuva e Gohan sem braço colocando a semente dos deuses na boca de seu
aprendiz.
E
finalmente chegamos àquele que, arrisco dizer, é o mais belo em termos de
desenho e cores. Iniciando com uma perseguição policial, como se tornou comum
na série, ela por si só já é anos luz melhor que a do Renascimento de Freeza. Os
cortes, a riqueza nos movimentos do Grande Saiyaman, as dobras das roupas dos
personagens. A paleta de cores do filme, aliás, é soberba. Oscilando entre
cores quentes e frias, a metrópole de cenário para os ataques ganha tons de
roxo e contornos místicos. Desta maneira, a direção de arte cria contrastes
inteligentes como ao contrapor o verde da roupa de Gohan ao constante fogo
durante suas lutas. E em certo momento, vemos Gotenks com um impecável cabelo
amarelo em um céu roxo complementar, formando um belíssimo quadro. Esse jogo de
cores harmoniosas, aliás, acontecerá ao longo de todo o filme.
O
filme explora muito bem um conceito pouco explorado em Dragon Ball Z: um
monstro gigante. E por mais tolo que possa parecer, seu mérito é justamente
torná-lo genuinamente ameaçador. Os animadores, aliás, acertaram em cheio ao
fazer seus movimentos lentos e pesados, tornando-o mais plausível e soando
resistente aos golpes dos heróis. Assim, a solução que encontraram para fazê-lo
“ágil” é um quase teletransporte em que vira fumaça e reaparece (Noturno?). A
animação é um verdadeiro presente (novamente, sem nenhuma sequência de
“risquinhos lutando ao longe”. E eu ainda me prezo a repetir). Em especial, os
voos e rasantes de Gohan, no primeiro confronto com “as pernas do monstro”, são
absolutamente sensacionais. A fluidez desses movimentos deixaria grande parte
dos animes atuais no chinelo. A dimensão espacial dos combates, a câmera na
altura da visão de heróis, tudo é feito com perfeição e clareza.
O
Golpe do Dragão investe nos personagens, coisa que os dois filmes recentes
desaprenderam, pois ninguém se destaca neles. E é sensacional justificar o
interesse de Trunks por Tapion (sabemos que ele ganhará a espada eventualmente,
mas isso sequer gera interessa no garoto): “Ele
sempre me disse que tinha inveja do Goten por ter um irmão mais velho”. E
há um momento particularmente inspirado em que os dois estão no quarto
conversando e um robô de brinquedo quebra ao meio, separando o tronco das
pernas. Ali estamos vendo o crescimento de Trunks, aprendendo sobre o passado
de Tapion e temos uma referência visual (sem diálogos, Renascimento de F!!) da
preocupação que se passa na mente de Tapion. Assim como os momentos de
confraternização entre Bulma e Videl enriquecem as duas, que ganharam pontas
medíocres nas obras recentes.
E o
longa ainda nos presenteia com novas perspectivas para vermos o que já vimos
aos montes, como a fusão sendo feita no ar e com a câmera girando entre os
dois. E desfazendo-a enquanto quicam no chão derrotados. Aliás, as cenas de
ação são incomparáveis com a dos filmes recentes, pois eram feitas com cortes
inteligentes e preciosismo. Algo que saiu do próprio anime, em que havia um
padrão de mostrar certas lutas. Um plano detalhe no momento do impacto, seguido
de um plano aberto para mostrar a movimentação dos personagens, e novamente
plano detalhe de algum contra-ataque ou continuação da luta. Isso colocava
força e empolgação nas batalhas, tornando-as muito mais do que risquinhos
lutando ao fundo inifnitamente.
Desta
forma, é no mínimo preocupante que a nova fase de Dragon Ball (Super) tenha
como ponto de partida os filmes atuais, que nada tem do antigo espírito da
série. Serão usados os Super Saiyajins loiros? O SSJ ruivo? Ou o SSJ
azul-colgate-pixels? Será que poderemos olhar para trás como esses dois
exemplares sendo apenas erros isolados? Espero que inúmeras questões sejam
esclarecidas de forma coerente e simples, como sempre foi. Akira Toriyama não
merece detonar o seu legado desta maneira. Não pode. Não deve.
(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)
Twitter: @PedroSEkman
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