sexta-feira, 26 de junho de 2015

Ningen Modoki (1999): Falsas Aparências, de Senno Knife

Nem tudo é o que parece ser à primeira vista... 
Os insólitos e horrorosos peixes provenientes das fossas abissais que desejam se parecer como belos humanos, e para isso, passa a consumi-los. Tampouco o grupo de amigas que após se verem sem ter para onde ir em meio a ambiente desolado, acabam se alojando em uma pousada que lhes passa uma sinistra advertência de não saírem de suas habitações ao cair da noite. E o que dizer do tenebroso trabalho escolar em equipe, que consiste na recriação do inferno? A lenda urbana de uma garota que caiu em um misterioso buraco negro em um corredor escolar e agora convida outros colegas a irem-lhe fazer companhia e, no entanto, o buraco não parece estar aonde deveria. Tudo piora quando seu pai morre e sua madrasta lhe trata como uma escrava... é difícil lutar contra o rancor que vai tomando conta do peito e dando formas a demoníacas criaturas.

Como dizem, as aparências enganam... 

Senno Knife nos apresenta através de Ningen Modoki (As Aparências Enganam) uma coleção de histórias onde elementos inquietantes do folclore popular vão se deslizando por entre o cotidiano mundano das pessoas e gradualmente tomando forma, eclodindo em situações clássicas de terror. Esta é a quarta história que leio de Knife, após Sade; Tempest (inspirados nos trabalhos de Sade – ambos lançados no Brasil pela editora Conrad) e Mantis Woman. Em relação a este último que é de 1998, Ningen Modoki (que é de 1999) apresenta uma evolução surpreendente em sua arte, com uma carpintaria mais bem definida e sem as arestas deixas por formas que oscilavam na precisão. Sua arte é belíssima e desta vez podemos apreciá-la devidamente, sem as inconsistências notadas no último. Das características do autor, que mais gosto, o formato triangular da face das personagens; seus corpos mignons e o plano fechado nos olhos das personagens em momentos de pavor e surpresa, continuam se destacando.

Ningen Modoki não mostra co-relações entre as histórias, a não ser pela temática que as une, em relação as aparências... E quando se diz que as aparências enganam, o autor trata de deixar isto bem claro para nós na resolução de cada trama. Ao contrário do comentado Mantis Woman, este trabalho aposta em tramas que lidam com o terror menos internalizado e mais visual, aproximando-o mais ao pedigree ocidental, ainda que em cenários tipicamente japoneses. Em falsas aparências, os monstros são criaturas bestiais que parecem saídos de filmes teen americanos, embora a arte se assemelhe bastante ao estilo alucinado de olhos arregalados de Junji Ito
Dama Negra e Dama Roxa apresenta outra história clássica, mas saem os monstros e entram...situações muitos comuns no terror ocidental, com direito a um desfecho emblemático em muitas obras do gênero. O Inferno do Festival Escolar é a história mais doce e surpreendente da coleção, ao apostar em um enredo e resolução que fogem do convencional, além de contar com uma personagem encantadora que te faz torcer por ela do inicio ao fim. 

Em O Buraco Antigo temos um enredo que fascina o subconsciente humano, principalmente quando este se sente culpado; a pessoa acaba enganada pelo próprio sentimento de culpa. Só que aqui, o perigo é real. E finalmente em O Demônio do Natal, nossos desejos internos ganham forma em terríveis criaturas que, muitas vezes, se nos deixamos levar, acabam nos engolindo. É uma história alucinada que parece um encontro entre Cinderela/Branca de Neve e algum thriller psicológico de perseguição. A página em que a protagonista é pendurada em uma cruz, nua, é sensacional.

Foi uma história bastante prazerosa, recheada de situações conhecidas que parecem nunca perder o frescor quando nos apresentadas do modo correto. Se situa bem na fronteira do ridículo e o aterrorizante, que é bem típico do terror, mas sem perder de vista a conexão com o leitor, o que é muito importante. Bem aquele tipo que te faz participar de um enredo já visto tantas e tantas vezes, e ainda assim capaz de empatizar. 

Nota: 07/10
Autor: Senno Knife
Ano: 1999
Volumes: 1 (encerrado)
Demográfico: Seinen

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