Com um traçado meigo e delicado, este é um shoujo mangá de horror que ao invés de histórias idealizadamente adocicadas, nos apresenta contos com o delicioso sabor da frutinha que deixa um gosto azedo na boca.
Favor não confundir com este Gakkou de Atta Kowai Hanashi. No mundo dos mangás, obras diferentes com o mesmo título costuma ser recorrente. Este que vou comentar compartilha com a visual novel do link acima, além do título, a temática do terror. Coletânea de contos de horror psicológico e sobrenatural.
Antologias com diversas histórias curtas compiladas, de vários autores, tendem a uma irregularidade mais aguda do que seria se fossem todas do mesmo autor. Gakkou de Atta Kowai Hanashi (Schoolhouse Horror Story) por outro lado, segue uma linha bastante regular até, exceção feita a ultima história que se rende a fantasias melosas de pré-adolescentes, com uma condução e desfecho que destoam completamente do tom obscuro e cruel dos outros contos.
Quando eu peguei este mangá para ler, não busquei informações a respeito. Simplesmente vi pela frente e cliquei em download. Foi com surpresa que terminei o primeiro conto e percebi se tratar de uma antologia de várias autoras. Se eu não tivesse me atado ao nome das autoras no começo de cada um, provavelmente me deixaria enganar pensando se tratar da mesma autora. A arte de cada uma segue com diferenças muito sutis (mas estão ali), e a quadrinização; estrutura narrativa; arte e floreios visuais são tipicamente do demográfico shoujo, o que acaba por induzir ao erro diante uma leitura superficial.
Outro detalhe com que Gakkou de Atta Kowai Hanashi se sai com desenvoltura, ao menos se tratando do meu gosto particular, é que se trata de um mangá shoujo de terror que realmente se propõe a ser perturbador e assustador. Não, não me entendam equivocadamente. Não me causou sustos ou medo, mas você é capaz de sentir esta atmosfera pelas páginas, e sendo orientado para adolescentes entre 9 e 15 anos (sei disso pois foi um mangá publicado na revista Ciao), eu consigo imaginar vários olhinhos chocados.
Consegue ser mais cruel e chocante que o ótimo Zekkyou Gakkyuu, se os compararmos com leituras destinadas originalmente ao publico mais infantil. São histórias que trazem teor moralizador através de terríveis consequências de ações consideradas inapropriadas culturalmente. Mas, enquanto Gakkyuu se caracteriza por punir crianças que desobedecem as figuras de autoridades, Gakkou, que também segue esta linha, vai além ao punir garotinhas que muitas vezes são simplesmente vítimas. É normal terminar uma história com um sentimento de revolta. “Oh, que injustiça”, você pensa. O mundo é injusto, minha criança. Devemos apenas lidar com isso.
Eu gostei bastante das histórias, que são costuradas sob o manto místico do folclore japonês, trazendo muitas lendas urbanas (que lhe serão bem comuns caso você, assim como eu, leia frequentemente histórias japonesas do gênero) que aguçam a imaginação, como possessões, espíritos vingativos, karma, criaturas malignas que ganham forma diante pensamentos negativos, etc. Porém, creio, o que torna Gakkou de Atta Kowai Hanashi tão bem elaborado é a estruturação de suas histórias, que sempre trazem um desfecho surpreendente e refrescante. Apesar do deslize constrangedor do último capítulo, são histórias construídas com destreza em cima de clichês; O penúltimo capítulo, "Flauta Maldita", lembra muito o estilo de Junji Ito, aos nos guiar por uma espiral de curiosidade envolvente para depois nos tirar o chão. Não é tão brilhante como Ito saber ser, mas é um caminho também cheio de sombras.
Nota: 07/10
Autoras: Hayatsu Chisato, Imai Yasue, Komuro Eiko, Makihara Wakana, Shimizu Masumi, Sugawa Maki
Antologia: Ciao (Shougakukan)
Demografia: Shoujo
Página: MU
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