Koe no Katachi (2016)

Outro filme muito esperado do ano passado.

Ola pessoas aqui é a Nat! E FINALMENTE pude assistir esse filme, eu o estava esperando loucamente junto com "Kimi no na wa" já resenhado pelo Nippon-senpai. E como fã do mangá eu não poderia deixar ele passar em branco.

Koe no Katachi começou com uma one-shot que ganhou o 80º prêmio de melhor mangaka novato da Shuunka Shounen Magazine em 2008 com aclamação da crítica, porém foi preciso um longo processo judicial para conseguir ser publicado em revista por causa de seu tema sócio-crítico. Finalmente na edição de fevereiro da revista Bessatsu Shounen Magazine (Kodansha) em 2011 foi finalmente publicado, onde obteve o primeiro lugar nos questionários. O one-shot foi republicado na 12ª edição da revista Shuunkan Shounen Magazine (Kodansha) de 2013.

É um mangá de autoria de Ooima Yoshitoki, com 7 volumes e já finalizado. Ganhou o 19º Prêmio Osamu Tezuka de Novo Artista em 2015 e o Prêmio Ogaki City Cultural Alliance (Divisão de Cultura de Estilo de Vida) e foi nomeado para a categoria "Melhor Edição de Material Internacional" nos Prêmios Eisner 2016. Foi traduzido em inglês pelo Crunchyroll e em publicação nacional pela New Pop.

Nishimiya Shouko é uma estudante do primário que é surda desde nascença. Ela é transferida para uma nova escola, onde acaba sofrendo bullying por seus colegas. Ishida Shouya, é o responsável pelo inicio da intimidação, quando Shouko tentava ao máximo se enturmar, mas não durou muito para que ela mudasse de escola por conta da situação. Como resultado dos atos contra Shouko, as autoridades escolares tomam medidas sobre o assunto, e Shouya acaba sendo excluído de sua classe e por seus melhores amigos. Anos depois, Ishida tenta reparar seus erros, para redimir-se com Nishimiya.

Acho que o fato de eu conhecer a obra original afete bastante minha opinião crítica. O filme não é perfeito, até porque é um trabalho árduo de adaptação mostrar em 2 horas de tela, 7 volumes de história. Acho que os únicos fatores que impediram que esse filme escalonasse de maneira absurda tal como "Kimi no na wa" foi a progressão de enredo e desenvolvimento de personagem.

Eu acho que as decisões tomadas pela direção souberam colocar o essencial em tela para se compreender o peso das decisões de cada personagem, mas ao mesmo tempo não teve tempo de desenvolver nada além dos dois protagonistas, se você pensar que o importante era a relação Shouya x Shouko, eu acho que o drama foi bastante acentuado.

A questão é mais que meu ponto de vista é totalmente influenciado pelo mangá, eu sei toda a história por trás, eu sei os detalhes de cada um dos personagens e seus desenvolvimentos, eu sei como eles cresceram bem mais do que o que foi mostrado, talvez isso me dê essa sensação de plenitude de que o que foi mostrado era o suficiente.

Os que estão vendo como primeira mídia vão perceber que existem muitos personagens secundários que estão diretamente ligados a trama principal, ao qual não tem tempo de mostrar seus medos e inseguranças, e como eles conseguem se agrupar no enredo futuro. Porém, mesmo superficiais certamente ainda reforçaram o filme como um todo. Algo que poderia ter sido feito para fazer espaço para esses personagens laterais seria uma melhoria da progressão do enredo, sendo que eu como fã, não faço ideia do que a direção poderia tirar para dar espaço a esse crescimento.

Na trama existem dois tempo, a infância e a adolescência dos personagens. Na escola em que Shouko é introduzida, no começo todas as crianças tentam ser legais com ela. Mas isso é temporário, crianças são impacientes, eles não sabiam lidar com o fato de, por exemplo, ter que repetir o que dizem mais de uma vez para a Shouko entender, ou anotar no caderno. Houve a proposta da professora assistente da turma de se aprender linguagem de sinais nos intervalos das aulas para facilitar a comunicação, mas não foi bem aceito. A única que aceitou, foi hostilizada e acabou fugindo. E aos poucos, Shouko que não tinha nenhum amigo de verdade, foi sendo mal falada na classe, e o Shouya foi apenas aquele que tomou as dores do todo e resolveu radicalizar, iniciando o bullying.

Acho que é um ponto forte de se falar é que o Shouya só começou com o bullying depois de observar seu amigos desgostosos com toda a situação. Como criança, acho que ele só queria aparecer, ser o ponto de união do grupo, e fazer o que os outros não tinham coragem de fazer, sendo a válvula de escape do estresse da turma, não é algo que ele decidiu sozinho, ainda assim, é completamente errado.

Shouko tenta com todas suas forças fazer amizade com Shouya, por ser surda ela demorou bem mais para compreender a situação que estava, mas prontamente tenta conversar direto com os causadores, ela é realmente uma garota forte. Todas as cenas que envolvem os dois na infância são bastante significativas, principalmente porque a Shouko impressiona o Shouya com suas reações de várias formas diferentes, e isso desenvolve o caráter deles nos anos a seguintes. Foram várias tentativas falhas, mas Shouko não sente raiva, ou pelo menos não aparenta. Diversas vezes ela é mostrada no ponto de vista dos que provocavam o bullying como estúpida, e a situação começa a piorar.

Shouya acabou intensificando o bullying, e ao mesmo tempo foi apunhalado pelas costas pelos próprios amigos que o apoiavam, virando o bode expiatório da turma, e tudo que estava sendo direcionado a Shouko se voltou para ele. Até chegar no clímax do estresse.

Os anos foram se passando e o Shouya se arrepende demais do que fez, a ponto de se tornar um rapaz sem sonhos ou amigos, mesmo que seu temperamento tenha mudado muito. Mas a vida resolveu lhe dar uma nova chance, quando ele reencontra Shouko durante o ensino médio.

Koe no Katachi é uma critica social, que fala da incompreensão das pessoas pelo diferente, a não-aceitação pessoal, auto-estima, agredir ao outro para proteger a si mesmo, de uma face obscura que a sociedade escolhe não ver e ao mesmo tempo é uma história de perseverança, amor, amizade, virtude e redenção, o passado não pode ser mudado, todos nós sabemos disso, mas o futuro ainda temos escolha.

Agora quem vai nesse filme esperando romance, desculpa... Muita coisa fica implícita, mas nada é de fato desenvolvido, no mangá ocorre a mesma coisa, seria uma questão de tempo dentro da história isso ocorrer, mas não espere isso ao ver o filme. Enquanto isso, talvez seja melhor analisar o que o "amor" que é mostrado de várias formas diferentes ao longo da animação move dentro de todo o contexto, muitos personagens tem suas personalidades definidas pelo amor que sentem.

Koe no Katachi é um filme que é bem calmo na maior parte do tempo, mas para quem vê as críticas sugeridas, é algo pesado que nem todas pessoas possam acabar apreciando, várias vezes me peguei chorando e sentindo raiva do que via, e olha que eu já vi tudo aquilo no mangá faz tempo. É uma grande montanha russa de emoções onde você pode facilmente simpatizar ou até mesmo se relacionar com os problemas dos personagens.

Destaque para os Seyuus dos protagonistas, principalmente a da Shouko, Hayami Saori (Shirayuki de Akagami no Shirayuki-hime, Yukinoshita Yukino de Yahari Ore no Seishun Love Comedy wa Machigatteiru) que fez um ótimo trabalho atuando com a dificuldade que as pessoas surdas tem de falar. E o do Shouya, Irino Miyu (Yadomi Jinta de Ano Hi Mita Hana no Namae wo Bokutachi wa Mada Shiranai. e Sugawara Koushi em Haikyuu!!) que é o narrador e em boa parte das cenas a emoção vem de suas palavras principalmente pelo fato da Shouko não falar muito, e ele traduzir o que ela diz em linguagem de sinais.

A animação é maravilhosa, afinal Kyoto Animation é o estúdio, não poderia esperar menos deles. A direção está nas mãos de Yamada Naoko (K-On!, Tamako Market) e a equipe ainda é composta por Ishida Naomi como Design de cores, Character Design de Nishiya Futoshi, Direção de arte de Shinohara Mutsuo, e de fotografia de Takao Kazuya, Tsuruoka Youta como Diretor de som e musica por Ushio Kensuke. Como pode ter sido visto nos trailers o character design é bastante próximo ao original, a coloração é impecável e as musicas são muito memoráveis e criativas.

Embora não seja perfeito, é uma obra de arte muito bem produzida e agradável, e recomendo imensamente, principalmente por causa das mensagens e alertas que ele deixa para trás.