domingo, 11 de junho de 2017

Ajin: Demi-human

Saudações do Crítico Nippon!


Do mesmo lar de Knights of Sidonia e Blame! (Polygon Pictures), este Ajin investe na mesma técnica de CG. Surpreendentemente, foi o único em que ela me incomodou. Há momentos em que os bonecos se movem tão duros quanto um The Sims, assim como suas expressões faciais um pouco lentas. Dito isso, se perde em qualidade técnica para os seus colegas, ganha disparado em qualidade de roteiro e trama.


Ajins são humanos (ou “humanos”?) que podem morrer e reviver em poucos segundos. Além disso, possuem algumas habilidades relativamente mau exploradas, como paralisar os adversários quando gritam muito alto (exceto quando não funciona. Err.). Além de materializarem seres conhecidos como “fantasmas negros” (ou MNIs), espectros que somente outros Ajins podem ver (exceto quando os humanos também. Err.). É quando o protagonista, o estudante Kei Nagai, descobre ser um deles e o governo passa a persegui-lo.

Diferente dos animes citados no primeiro parágrafo, o protagonista passa por um arco dramático realmente interessante. Kei Nagai transita de um jovem completamente apavorado e frágil para um garoto frio e calculista com suas habilidades e para com aqueles que cruzam seu caminho. Embora não como um Light Yagami ou um Lelouch, de um episódio pro outro logo que consegue suas habilidades (o caderno e o geass), mas bastante gradual e plausível.


Os personagens secundários são apenas corretos. Tosaki e Izumi não ganham profundidade alguma, mas soam ameaçadores o suficiente em suas buscas pelo herói. Já o amigo do protagonista, Kaito, simplesmente some da trama sem mais nem menos, e suas ações são absurdas demais. Aliás, o autor parece tentar corrigir isso na figura de Nakano, outro Ajin, que ganha um desenvolvimento igualmente gradual e interessante. E, claro, Sato, que quase conseguiu um desenvolvimento tridimensional ao escolher não usar a força em Kei... até o momento em que simplesmente muda de ideia e vira só um vilão megalomaníaco. Lembrando vagamente um Magneto por defender os perseguidos Ajins, ao menos ele sempre se torna um adversário imprevisível, gerando tensão em todas suas aparições. 

Embora tenha seus defeitos, há inúmeros detalhes que se salvam na animação. O cuidados das ranhuras em armas e roupas permanece fascinante. Bem como constantemente vermos os personagens de corpo inteiro ao invés de cabeças flutuantes, caso fosse feito da maneira convencional 2D. E apesar de “duros”, os personagens ainda fazem gestos incrivelmente naturais, como por exemplo, Tosaki passando a mão em uma cadeira antes de sentar. 


Pecando pontualmente nas sequências envolvendo os fantasmas negros lutando entre si. São quase fumaças pretas se dando socos, ou seja, é quase impossível distingui-los quando estão engalfinhados uns nos outros. E a câmera se movendo não ajuda em nada. De qualquer modo, o anime se sai incrivelmente melhor em outras sequências. Como as inteligentes lutas entre Ajins. Apesar de serem imortais, o corpo fica ferido e debilitado, regenerando-se apenas quando recebem um golpe mortal. É divertido demais o cuidado deles para não se matarem, apenas se ferirem gravemente e imobilizarem. Merecendo aplausos também a sequência do penúltimo episódio, com um exército de elite versus um exército de Ajins. É desenvolvida com calma, e entendemos perfeitamente onde todos os núcleos adversários estão e o que irão fazer a seguir. Exponencialmente tensa e imprevisível para os dois lados, é o melhor momento do anime.


Ajin é quase um “road anime” com os personagens em constante movimento. Os episódios são recheados de acontecimentos e não parece parar por um segundo para encher linguiça ou fazer gracinhas. Falarei a seguir sobre a segunda temporada e aí será inevitável alguns spoilers.


2ª temporada

O que mais chamou atenção nesta continuação foi o fato de terem mudado a dinâmica completamente. Abandonando o “road anime” e unindo dois grupos até então inimigos (Kei Nagai e Tosaki). É fascinante por natureza observar os adversários de uma temporada inteira tendo que formarem uma aliança.

Chegando até mesmo corrigir erros da primeira, como ao desenvolver muito melhor as figuras de Tosaki e Izumi. O primeiro, com sua esposa no hospital que precisa de dinheiro para o tratamento. E a segunda pelo passado trágico, até culminar na união com Tosaki. E é inteligente o paralelo que o anime faz com uma dupla semelhante vinda dos Estados Unidos, que se trata somente na base de ameaças e violência. Funciona tão bem que não demora muito para torcermos por Tosaki e Izumi tanto quanto Kei Nagai e o amigo Nakano.


Intercalando com inteligência o treinamento dos garotos na base com as ações de Sato eliminando a lista que prometeu na TV, trata-se de uma temporada totalmente nova no melhor sentido da palavra. O próprio dr. Ogura torna-se um personagem fascinante, quando antes só era chato. E até mesmo os aliados do vilão ganham um mínimo grau de profundidade, ao menos questionando as ações cada vez mais extremas de seu líder.

Mantendo o grau de violência moderado e condizente com a trama, as cenas de ação continuam empolgantes. E toda vez que Sato luta fisicamente com algum adversário armado, soa minimamente plausível para o espectador. Em grande parte pela animação soberba que mostra os movimentos com clareza.


O que, infelizmente, nos traz às rachaduras desta temporada. É impossível continuar ignorando certos acontecimentos. Sato divulga na TV a lista de todas as pessoas que pretende matar. Ou seja, todos podem se posicionar dezenas de passos a frente dele. E mesmo assim não conseguem. Não conseguem esconder sequer o Primeiro Ministro! Os locais invadidos pela equipe de Sato não soam tão bem guardados quanto deveriam. Não há maiores estratégias para detê-los, só a luta frente a frente e tiroteio.

Não usam bazucas ou granadas explosivas, apenas balas (e uma ou duas vezes umas granadas sônicas que são esquecidas). Estão lutando contra imortais e fantasmas negros com balas normais (sequer os escudos que usaram na primeira temporada). É absurdo demais. A dificuldade em capturar/imobilizar um único homem como Sato fica cada vez mais difícil de engolir. Aliás, Sato piora tanto que no último episódio chega a proferir os famosos monólogos de vilão sobre seus planos futuros, ao invés de matar o protagonista. 


Os fantasmas, aliás, são uma incógnita. Às vezes eles funcionam e outras não. Às vezes os vilões se protegem de balas com eles, às vezes não. O fantasma de um Ajin vence vários outros Ajins porque eles não invocaram os fantasmas deles (?!?!). E esses espectros não poderiam livrar Sato do plano “enterrado vivo”? Eles parecem bem fortes. E mais! O que dizer do antigo amigo do protagonista, Kaito, completamente perdido na história? Tiveram até que trazer de volta a irmã de Kei para Kaito ter algo pra fazer.


Em suma, esta segunda temporada termina com o espectador farto dos planos mirabolantes de Sato. Só posso torcer para que uma possível terceira mude completamente sua estrutura como essa teve coragem de fazer. O que, por si só, já é digno de chegarmos até aqui e arriscarmos seguir adiante.


(Para mais dos meus textos, é só ir no menu "Crítico Nippon" lá em cima)
Twitter: @PedroSEkman

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