Saudações do Crítico Nippon!
Do
mesmo lar de Knights of Sidonia e Blame! (Polygon Pictures), este Ajin investe na mesma técnica de
CG. Surpreendentemente, foi o único em que ela me incomodou. Há momentos em que
os bonecos se movem tão duros quanto um The Sims, assim como suas expressões
faciais um pouco lentas. Dito isso, se perde em qualidade técnica para os seus
colegas, ganha disparado em qualidade de roteiro e trama.
Ajins
são humanos (ou “humanos”?) que podem morrer e reviver em poucos segundos. Além
disso, possuem algumas habilidades relativamente mau exploradas, como paralisar
os adversários quando gritam muito alto (exceto quando não funciona. Err.).
Além de materializarem seres conhecidos como “fantasmas negros” (ou MNIs),
espectros que somente outros Ajins podem ver (exceto quando os humanos também.
Err.). É quando o protagonista, o estudante Kei Nagai, descobre ser um deles e
o governo passa a persegui-lo.
Diferente
dos animes citados no primeiro parágrafo, o protagonista passa por um arco
dramático realmente interessante. Kei Nagai transita de um jovem completamente
apavorado e frágil para um garoto frio e calculista com suas habilidades e para
com aqueles que cruzam seu caminho. Embora não como um Light Yagami ou um
Lelouch, de um episódio pro outro logo que consegue suas habilidades (o caderno
e o geass), mas bastante gradual e plausível.
Os
personagens secundários são apenas corretos. Tosaki e Izumi não ganham
profundidade alguma, mas soam ameaçadores o suficiente em suas buscas pelo
herói. Já o amigo do protagonista, Kaito, simplesmente some da trama sem mais
nem menos, e suas ações são absurdas demais. Aliás, o autor parece tentar
corrigir isso na figura de Nakano, outro Ajin, que ganha um desenvolvimento
igualmente gradual e interessante. E, claro, Sato, que quase conseguiu um
desenvolvimento tridimensional ao escolher não usar a força em Kei... até o
momento em que simplesmente muda de ideia e vira só um vilão megalomaníaco.
Lembrando vagamente um Magneto por defender os perseguidos Ajins, ao menos ele
sempre se torna um adversário imprevisível, gerando tensão em todas suas
aparições.
Embora
tenha seus defeitos, há inúmeros detalhes que se salvam na animação. O cuidados
das ranhuras em armas e roupas permanece fascinante. Bem como constantemente
vermos os personagens de corpo inteiro ao invés de cabeças flutuantes, caso
fosse feito da maneira convencional 2D. E apesar de “duros”, os personagens
ainda fazem gestos incrivelmente naturais, como por exemplo, Tosaki passando a
mão em uma cadeira antes de sentar.
Pecando
pontualmente nas sequências envolvendo os fantasmas negros lutando entre si.
São quase fumaças pretas se dando socos, ou seja, é quase impossível
distingui-los quando estão engalfinhados uns nos outros. E a câmera se movendo
não ajuda em nada. De qualquer modo, o anime se sai incrivelmente melhor em
outras sequências. Como as inteligentes lutas entre Ajins. Apesar de serem
imortais, o corpo fica ferido e debilitado, regenerando-se apenas quando recebem
um golpe mortal. É divertido demais o cuidado deles para não se matarem, apenas
se ferirem gravemente e imobilizarem. Merecendo aplausos também a sequência do
penúltimo episódio, com um exército de elite versus um exército de Ajins. É
desenvolvida com calma, e entendemos perfeitamente onde todos os núcleos adversários
estão e o que irão fazer a seguir. Exponencialmente tensa e imprevisível para
os dois lados, é o melhor momento do anime.
Ajin
é quase um “road anime” com os personagens em constante movimento. Os episódios
são recheados de acontecimentos e não parece parar por um segundo para encher linguiça
ou fazer gracinhas. Falarei a seguir sobre a segunda temporada e aí será
inevitável alguns spoilers.
2ª temporada
O
que mais chamou atenção nesta continuação foi o fato de terem mudado a dinâmica
completamente. Abandonando o “road anime” e unindo dois grupos até então
inimigos (Kei Nagai e Tosaki). É fascinante por natureza observar os adversários
de uma temporada inteira tendo que formarem uma aliança.
Chegando
até mesmo corrigir erros da primeira, como ao desenvolver muito melhor as
figuras de Tosaki e Izumi. O primeiro, com sua esposa no hospital que precisa
de dinheiro para o tratamento. E a segunda pelo passado trágico, até culminar
na união com Tosaki. E é inteligente o paralelo que o anime faz com uma dupla
semelhante vinda dos Estados Unidos, que se trata somente na base de ameaças e
violência. Funciona tão bem que não demora muito para torcermos por Tosaki e
Izumi tanto quanto Kei Nagai e o amigo Nakano.
Intercalando
com inteligência o treinamento dos garotos na base com as ações de Sato eliminando
a lista que prometeu na TV, trata-se de uma temporada totalmente nova no melhor
sentido da palavra. O próprio dr. Ogura torna-se um personagem fascinante,
quando antes só era chato. E até mesmo os aliados do vilão ganham um mínimo grau
de profundidade, ao menos questionando as ações cada vez mais extremas de seu
líder.
Mantendo
o grau de violência moderado e condizente com a trama, as cenas de ação
continuam empolgantes. E toda vez que Sato luta fisicamente com algum
adversário armado, soa minimamente plausível para o espectador. Em grande parte
pela animação soberba que mostra os movimentos com clareza.
O
que, infelizmente, nos traz às rachaduras desta temporada. É impossível
continuar ignorando certos acontecimentos. Sato divulga na TV a lista de todas
as pessoas que pretende matar. Ou seja, todos podem se posicionar dezenas de
passos a frente dele. E mesmo assim não conseguem. Não conseguem esconder
sequer o Primeiro Ministro! Os locais invadidos pela equipe de Sato não soam
tão bem guardados quanto deveriam. Não há maiores estratégias para detê-los, só
a luta frente a frente e tiroteio.
Não
usam bazucas ou granadas explosivas, apenas balas (e uma ou duas vezes umas
granadas sônicas que são esquecidas). Estão lutando contra imortais e fantasmas
negros com balas normais (sequer os escudos que usaram na primeira temporada).
É absurdo demais. A dificuldade em capturar/imobilizar um único homem como Sato
fica cada vez mais difícil de engolir. Aliás, Sato piora tanto que no último
episódio chega a proferir os famosos monólogos de vilão sobre seus planos
futuros, ao invés de matar o protagonista.
Os
fantasmas, aliás, são uma incógnita. Às vezes eles funcionam e outras não. Às
vezes os vilões se protegem de balas com eles, às vezes não. O fantasma de um
Ajin vence vários outros Ajins porque eles não invocaram os fantasmas deles
(?!?!). E esses espectros não poderiam livrar Sato do plano “enterrado vivo”?
Eles parecem bem fortes. E mais! O que dizer do antigo amigo do protagonista,
Kaito, completamente perdido na história? Tiveram até que trazer de volta a
irmã de Kei para Kaito ter algo pra fazer.
Em
suma, esta segunda temporada termina com o espectador farto dos planos
mirabolantes de Sato. Só posso torcer para que uma possível terceira mude
completamente sua estrutura como essa teve coragem de fazer. O que, por si só,
já é digno de chegarmos até aqui e arriscarmos seguir adiante.
(Para mais dos meus textos, é só ir no menu "Crítico Nippon" lá em cima)
Twitter: @PedroSEkman
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