sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Death Note - 2017 (Netflix)

Saudações do Crítico Nippon!


Não poderia haver série mais saturada. Está muito pior que os remakes de Homem-Aranha em míseros 10 anos. Após o mangá ter virado anime (e em seguida, versões do diretor), surgiram duas ótimas adaptações cinematográficas japonesas, que seguiam fielmente a história com mudanças raras que até exploravam novas possibilidades interessantes. Em seguida, L Change the World surgiu como um desastre absoluto, tornando o detetive quase um herói de ação. Em 2015, aparece uma mini série pavorosa para TV que eu sequer consegui terminar. Em 2016 surge uma continuação dos longas japoneses, no filme Death Note – Light Up the New World. E agora temos esta versão da Netflix. Talvez o problema não seja a quantidade (embora ajude), mas que cada nova versão consiga a proeza de ser mais ofensiva que a anterior.



Escrito por três roteiristas que não saberiam sequer escrever uma receita de arroz, o material original é usado meramente como argumento. Entendo a necessidade de se modificar a história, caso contrário, teríamos um milhão de adaptações contando exatamente a mesma trama que já conhecemos (talvez incluam até a morte do tio Ben). O problema é quando os roteiristas parecem que odeiam a obra com todas as forças e querem fazer de tudo para destruí-la. É o que acontece nesta que, até o momento, é a pior adaptação de todas.

É engraçado analisar as pistas que o filme coloca no início tentando indicar que Light Turner (Wolff) é inteligente, mostrando que ele resolve os deveres de casa de vários colegas. Em seguida, ele tem a brilhante ideia de contar para a desconhecida Mia (Qualley) sobre o caderno da morte. A moça, líder de torcida, namorada do jogador de futebol, e que o deixou ser pego pela direção da escola e colocado em  detenção. Quem NÃO contaria sobre o caderno pra essa moça? Qualquer um com metade de um cérebro. 



O objetivo do roteiro é juntar Kira e Segundo Kira em um único caderno. E toda e qualquer modificação da mitologia original é um tremendo fiasco. As mortes não ocorrem por ataque cardíaco, mas sim de forma extravagante como um filme da série Premonição. Desta forma, L (Stanfield) não tem como deduzir a coincidência da causa mortis ser sempre a mesma. Então Light, em mais uma brilhante ideia, resolve fazer os criminosos escreverem nas celas que existe alguém por trás dos assassinatos (?!?!). E mais. É possível matar Ryuk escrevendo seu nome no caderno. Bem como anular mortes queimando páginas do caderno. Ah, e escrever só o primeiro nome de alguém funciona. E Watari é um nome verdadeiro. É um festival de absurdos além da nossa compreensão.

Sabotando absolutamente todos os personagens, Light não é calmo e calculista, contrastando com seu violento alterego Kira. Não, ele é emburrado e com olhares de baixo pra cima desde o início. Embora não use seus poderes para matar os policiais e agentes do FBI que o perseguem. O que já o torna, hum, “menos mal” que sua versão original e mais fácil para o público dar “carta branca” aos seus julgamentos. Também o torna menos inteligente (do ponto de vista de estratégias) e com menos pistas para o L trabalhar. O que culmina no momento sensacional em que o detetive simplesmente vomita “Light Turner é Kira”, sem mais nem menos. Ele só acorda um dia e pensa nisso. Isso não é dedução, isso é varinha mágica com foda-se.


O diretor Adam Wingard, tão excelente em The Guest (2014) e tão medíocre em Bruxa de Blair (2016), faz jus ao material abominável que tinha em mãos. Tentando trazer um ar sobrenatural e suspense artificial ao longa, percebam o amadorismo de trovões e luzes se apagando quando Ryuk surge. A última vez que tal recurso se mostrou eficiente foi em Nosferatu em 1922. Sem conseguir sequer criar uma lógica para banhar os personagens em um eterno azul com leves pitadas de vermelho. Provavelmente tirado do anime em que Light ficava em tons escarlates e L em azul, mas que aqui não encontra qualquer significado ou coerência. 


O elenco se mostra determinado a seguir os passos dos roteiristas e diretor, e destruir qualquer simpatia que algum dia tivemos por Death Note. Nat Wolff varia entre o covarde e o caricato (notem seus gritinhos com Ryuk); Margaret Qualley parece determinada a interpretar somente garotas desprezíveis (vide Dois Caras Legais e a série The Leftovers); Keith Standfield, um ator versátil que gosto muito, está preso a um L de mil facetas, uma pior que a outra. É bacana seu olhar levemente triste e modos ríspidos (a cena “Hello. Nice to meet you. Leave.” só funciona graças a ele). Infelizmente, o detetive enlouquece completamente, persegue Kira a pé, armado, parece que vai até usar o Death Note... Céus. Já um ator mais experiente como Shea Whigham sempre proporciona momentos de respiro e sanidade. E Willem Dafoe ganhou o pagamento mais fácil de toda sua vida.


Os Olhos de Shinigami jamais são mencionados, em compensação a história adentra no dispensável passado de L no orfanato, transformando-os quase em super soldados. Porém, admito que gostei do caderno vir com anotações de seus donos anteriores, o que nos faz imaginar o que aconteceram com eles. E a frase “Não confie em Ryuk” traz um suspense agradável (que jamais se concretiza). Trazendo poderes infinitos ao caderno, é possível controlar as pessoas como zumbis-servos-pessoais ao bel prazer do proprietário. Não só isso, como é possível até mesmo escrever que uma roda gigante vai cair e ela, bem, se despedaça e cai. Ou seja, esta versão do death note tem o poder de... matar objetos. Assim, quando Ryuk diz que ele não deveria nem pensar em hipóteses absurdas como “um tubarão atacando alguém na banheira”, o espectador chega ao final do filme achando que não é uma possibilidade tão absurda assim.

Ao lado de Transformers The Last Knight, este Death Note é o pior filme de 2017 e de toda minha vida. E confesso ter ficado muito mais interessado em acompanhar a história daqueles outros portadores do caderno que deixaram observações e dicas nas primeiras páginas. Fiquei pensando neles o filme todo.


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