Saudações
do Crítico Nippon!
Em
uma noite chuvosa e sombria, somos apresentados a um grupo em um ônibus, em que
todos buscam encontrar o Vilarejo Nanaki. Um lugar que supostamente ninguém
sabe onde fica (?!?!) e todos buscam uma vida nova lá. Contando com uma
montanha de personagens que, a princípio, pode assustar alguns espectadores, o
anime abraça seu ar de Expresso do Oriente, Lost e Senhor das Moscas. E alguns
pontos dão muito certo. E outros muito errados.
Podendo
ser dividido em duas metades, o anime tem a primeira delas feita de forma
promissora. É óbvio que não iremos decorar o nome de todos e os motivos que os
levaram até ali. O que importa são as relações diversas que eles mantêm ao
longo da viagem e dos percalços. Felizmente as “panelinhas” demoram a serem
criadas, o que dá oportunidade de todos interagirem entre si.
Inteligente
ao criar expectativa e tensão mesmo que não saibamos exatamente o que está nos
deixando apreensivos. É um misto de expectativa com o vilarejo e desconfiança
daqueles personagens todos. As teorias em torno do local contribuem para
isso, alguns dizendo que é uma projeção fantasma, outros que ele vive em
constante mudança, etc. Além de descobrirmos regras daquela viagem aos poucos,
como a carta de suicídio que tiveram que trazer. O que não impede os
personagens de cantarem a alegre canção do hipopótamo, seguros de que estão ali
por vontade própria. Mesmo que não saibam exatamente o que esperar.
Com
uma animação e cores que mantém a qualidade do início ao fim, a ambientação e
fotografia contribuem para ficarmos incomodados durante toda primeira metade do
anime. O ônibus, por exemplo, é focado sempre em planos fechados, sem vermos
maiores detalhes da estrada. Seus vidros são escuros e embaçados. E a névoa das
noites seguintes contribui para o tom de pesadelo fundamental daquela história
(afinal, tudo é possível. Talvez estejam todos mortos no final, não sei). Deste
modo, percebam como a fotografia os coloca em quadros apertados, sempre no canto,
ou em estradas com as árvores praticamente engolindo-os.
Após
chegarem ao Vilarejo Nanaki, a atmosfera vai ficando cada vez mais
conspiratória entre todos. O anime é inteligente em não escancarar ameaças na
cara do espectador, segurando as rédeas no suspense. Primeiro ouvimos sons
estranhos na floresta aos arredores; aí uma personagem diz que viu um gigante
em uma caverna (não mostra); aparecem marcas de garras nas árvores; um corpo
passa boiando pelo riacho ao longe. E assim por diante.
É
então que chegamos na segunda metade e, bem, quanto mais o anime
revela, pior fica. Muitas obras acabam caindo nesta armadilha, sobrevivendo
melhor quando nossa imaginação completava as lacunas. E The Lost Village é uma
dessas obras. Nesse sentido, se parece muito com Ghost Hound, acrescentando
seres bobinhos demais, querendo até mesmo que nos simpatizemos por eles.
Ainda
que seja uma das forças do anime manter o suspense em andamento com o simples
dialogar dos personagens, muitas vezes eles soam irregulares demais. Quando
alguém vê uma menina na floresta, por exemplo, temos um “É minha filha... morta
há 10 anos!”. Podiam ter colocado trovões e zooms nos rostos dos personagens e
abraçar de vez essas babaquices todas. Há também algumas de personalidade
incrivelmente destoante dos demais, como a Lovepon gritando “Executar!” o tempo
inteiro (deve ser parente do Mikami de Death Note. Só que 80 vezes pior). E um
dos flashbacks dos personagens começa com um dramalhão em que (não riam) o pai
obrigava o filho de 6 anos a pescar junto com ele. Pois é. Tadinho.
Por
outro lado, o anime aproveita a qualidade de sua produção de forma inteligente.
Constantemente mostrando na tela o grande grupo inteiro, ou grupinhos de 4,
evitando as malditas cabeças flutuantes individualmente. As lanternas frias
trazem um ar ainda mais sombrio aos ambientes, tanto internos como externos. Há
um único momento em que são usadas tochas, em uma caça às bruxas, trazendo um
tom escarlate e perigoso a todos. O que é inteligente, visto que o opaco azul
destoaria completamente da situação em questão.
Percebam a comparação entre três outras cenas e a escolha da iluminação. Em uma
delas, Mitsumune está conversando com seu interesse romântico. Um dos raros
momentos em que o ambiente parece caloroso, aconchegante, quente. Em outra
cena, no mesmo ambiente e com a chaleira igualmente acesa, ele está conversando
com outra menina. Mais sombria e enigmática, e a luz azulada da lanterna ofusca
o calor do fogo, trazendo um ar opressor a cena. Outro raro momento em que um
ambiente parece caloroso é na reconciliação entre Valkana e Koharu, acertando
suas diferenças. Percebam que propositalmente não utilizaram as lanternas azuis
ali (sério, elas são usadas o tempo inteirinho). São decisões inteligentes
assim que agregam à história.
Com
reviravoltas pouco imaginativas e personagens forçando a barra em diversas
situações, The Lost Village não sabe se quer se concentrar nos jovens ou no
sobrenatural. E acaba fazendo as duas coisas de forma falha. O vilarejo em si é
pouco imaginativo e não cumpre a imensa expectativa. Entre muitos outros furos
e comentarei alguns spoilers insignificantes a seguir, aos mais sensíveis
sugiro que pulem pro próximo parágrafo: é absolutamente surpreendente (pra não
dizer broxante) que nenhum desses desgraçados morram. Uma história de terror
com dezenas de personagem sem coragem de matar um? Chega a ser uma ofensa. E
aquelas marcas de garras nas árvores são do quê? Dos Nanakis? A maioria deles
eram gigantes. Só a filha criança do motorista não era e acho que não foi ela
que fez. E os sons da floresta, eram Nanakis também? Mas todos ouviam ao mesmo tempo, porém não os enxergavam ao mesmo tempo. E por que
Masaki diz para eles não irem ao túnel? Nem ela sabe responder.
Em
suma, Mayoiga tinha um potencial gigantesco para ser memorável e muito mais
assustador do que se tornou. O gosto amargo que deixa ao final é realmente lamentável
tamanha qualidade da produção. Já nem lembro mais da trama que vomitam da
segunda metade em diante. Embora ainda lembre com carinho do suspense inicial.
(Quer conhecer uma
história de jovens que se perdem em uma cidade fantasma que REALMENTE vale a
pena? SEUS PROBLEMAS ACABARAM.)
(Agora você pode votar no que quer que a gente escreva;
receber fotos dos bastidores; e ainda incentivar o nosso trabalho! Saiba como
ser um padrinho ou madrinha: AQUI)
(Para mais dos meus textos, só ir no menu "Crítico
Nippon" lá em cima)
Twitter: @PedroSEkman
Twitter: @PedroSEkman
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Os comentários deste blog são moderados, então pode demorar alguns minutos até serem aprovados. Deixe seu comentário, ele é um importante feedback.