sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Durarara!! (2010)

Saudações do Crítico Nippon!

De Ryogo Narita, autor do aclamado Baccano!, este Durarara!! é um dos melhores animes de sua geração. Com uma galeria de personagens absurdamente vasta, todos complexos, o anime conta com uma linha temporal que deposita confiança total no espectador. Durarara é um exemplo raro de série disciplinada, com inúmeras características ambiciosas que se misturam harmoniosamente. É um verdadeiro presente.


(spoilers... embora não importe muito)

O anime inicia com o pacato Mikado, que se muda para o distrito Ikebukuro e reencontra o velho amigo Kida. E basicamente não há como descrever muito mais que isso, pois a trama é o de menos. O que importa mesmo são as relações entre os personagens e como cada um deles irá interagir com os outros. E quando e por que isso irá ocorrer.

Deste modo, Durarara apresenta com calma inúmeras figuras com características marcantes, jamais ofuscando uns aos outros. Pelo contrário, um complementa o outro (como falarei mais adiante). Há, por exemplo, o russo Simon que trabalha divulgando os serviços de seu estabelecimento de sushi. Constantemente ouvimos sua voz de fundo oferecendo seus produtos, mesmo que o foco seja em outros personagens. Há também a lendária Motoqueira Negra Sem Cabeça, “aterrorizando” a cidade. Embora ela viva em um apartamento com o namorado Shinra e tenha uma voz doce como sua personalidade. Ela trabalha de entregadora para o misterioso Izaiya, que parece sentir um prazer descomunal ao manipular todos ao seu redor. Este, aliás, possui um arqui inimigo chamado Shizuo. Jovem, loiro, vestido como garçom, ele é literalmente o homem mais forte do mundo, podendo arremessar qualquer objeto, de qualquer tamanho. O que ocorre praticamente sempre que ele surge. Em suma, é uma rede de conexões entre todos, um levando ao outro de forma natural, que é uma delícia acompanhar quem iremos conhecer a seguir. 


Assim, quando um personagem esbarra em outro na rua, podemos ter certeza que dentro de dois ou três episódios, iremos retornar e saber melhor sobre este desconhecido. E essa confiança no espectador de que iremos lembrar de todas as peças é realmente admirável. Aliás, o design do anime é impecável por proporcionar visuais marcantes para absolutamente todos. Seja pela cor do cabelo, da pele, acessórios como óculos, chapéus, uniformes de profissões específicas (jalecos, coletes, capacetes), até mesmo máscaras. O protagonista chega a ser o mais aborrecido com o enfadonho visual do cabelo preto em zigue-zague.


E por confiar na agilidade mental de seu público, a série utiliza recursos narrativos diversos. Como narração em off com vozes dos próprios personagens. Bem como o chat virtual que todos os personagens parecem participar, com apelidos que impossibilitam saber quem é quem entre os usuários. Embora o espectador saiba, pois é narrado com as vozes de cada um. Assim, constantemente comentam entre si os acontecimentos de Ikebukuro, guiando o espectador no que o autor quer que nos foquemos. Especialmente em relação às inúmeras gangues mencionadas pela história ocasionalmente, ficando mais frequente com o tempo, e que parecem tomar conta de toda cidade. Aliás, a sequência em que descobrimos a quantidade de Dólares através dos celulares é sensacional.


Ikebukuro, aliás, é uma presença à parte. Povoada pelas mais diversas “criaturas”, o distrito é repleto de figuras surpreendentes. E todos agem com razoável naturalidade em relação ao que os cerca. Desde motoqueiras sem cabeça; objetos gigantes atirados de um lado para outro; hordas de uma espécie de “zumbis” possuídos por uma lâmina amaldiçoada; em suma, é uma fauna que não possui limites. Inteligente também ao fazer os figurantes sempre cinzas e somente os ‘personagens da vez’ em cores vivas. Além disso, a produção consegue criar becos escuros e místicos, com luzes espectrais à noite e sombras realmente ameaçadoras em diversas ocasiões. 


Beneficiado por uma trama exponencialmente mais sombria, a produção torna os dias mais chuvosos com o passar do anime. Bem como seus personagens mais amargurados. Colocando pequenas pistas desde o início, Kida com seu cabelo loiro, detalhes na bolsa e celular amarelos. É tão sutil os sinais dele como líder dos Lenços Amarelos que não incomoda. Bem como Sonohara, a garota que se junta aos amigos formando o trio principal. Sua gravata borboleta vermelha é um reflexo de seus olhos escarlates quando possuída pela Saika. E Mikado, líder dos Dólares, fazendo jus a todo seu personagem opaco, possui a gravata mais discreta, afinal, sua gangue não possui cor. 


A maneira com que a história revela gradualmente que os líderes dos três principais “movimentos” de Ikebukuro são amigos, e não sabem nada uns sobre os outros, é brilhante. Especialmente no desenvolvimento de Kida, que fica claro em diversos episódios o quanto receia voltar a agir como líder dos Lenços Amarelos. Ele não sente qualquer prazer nisso e até procura usar sua influência passada para pedir menos violência aos membros da gangue. Vendo sucessivamente tudo desmoronar ao seu redor, ele consegue expressar que voltou ao posto de líder com apenas um olhar. Literalmente, pois Kadota afirma que ele voltou à liderança só de encará-lo.


Destaco também a força do relacionamento de Celty (a motoqueira negra) com o doutor do submundo, Shinra. É realmente bonito e visível como sentem afeto um pelo outro, mesmo em pequenos gestos ou até quando brigam. O que, consequentemente, nos leva a enxergar com olhos mais abertos o vilãozinho Izaiya, afinal Celty continua trabalhando para ele. E Shinra costumava ser seu amigo no colégio. São várias informações soltas no decorrer da série que complementam a todos. Descobrimos também que o super homem Shizuo odeia violência. E que Simon possui uma força equiparável, embora evite usá-la.


Falando em Izaiya, é um dos personagens mais fascinantes. Seus objetivos nunca ficam realmente claros, pois ele só parece divertir-se imensamente jogando com todos. Ele é como um pequeno diabo sussurrando no ouvido de todos e assistindo sua influência florescer de algum modo. Há um momento em que ele relaciona cartas de baralho com os personagens, e ao se perguntar quem seria o Coringa, ele fica em silêncio. Oras, é ele mesmo, pois sua influencia transita entre todos. E seu tabuleiro com peças de xadrez, damas e shogi, é um reflexo não somente dos Dólares-Lenços Amarelos-exército da Saika, mas do caos que enxerga o mundo e que ele contribui para isso.


Com uma trilha sonora constante que evoca ritmo à narrativa, é um trabalho sonoro belíssimo. Lembra muito o estilo daquelas de Darker Than Black, especialmente aquelas somente com piano. Assim, Durarara!! torna-se exponencialmente mais claro em sua trama e complexo nas ações de seus personagens, pois nenhum se encontra com decisões fáceis. Deixando inúmeras portas abertas para continuação (e as temporadas seguintes merecem, sim, uma conferida), é um anime completo em todos os sentidos possíveis. Deixa saudades até hoje.

(para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon' lá em cima)
Twitter: @PedroSEkman

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