Saudações do Crítico
Nippon!
Sucesso absoluto em 2016 e
2017, este é o shonen da vez. Inspirado (leia-se: com todos os clichês
possíveis) em diversas obras do gênero, Boku no Hero cativa pela energia (na
média), pelo universo (de Músculo Total, One Punch Man, Railgun), pelas
batalhas (bem esquecíveis) e pelos carismáticos personagens (mas não muito).
(esse texto só existe
graças a votação que nossos Padrim’s participaram. MESMO.)
(spoilers... mas não
importa muito)
Em
um mundo em que 80% da população possui poderes, os Super-Heróis viraram
literalmente uma profissão. É neste
contexto que conhecemos o protagonista Midoriya, um humano que nunca despertou
individualidade alguma. Obviamente isso é resolvido imediatamente ao conhecer
All Might, o maior herói que já existiu. Sua individualidade (como chamam os
poderes) é a super força, e ele transfere uma semente dela ao garoto, que
começa a evoluir aos poucos. Após o ensino fundamental, as crianças podem
embarcar na U.A., a academia título de heróis. E lá conhecemos os demais
genins.
Talvez
o maior pecadilho sejam os personagens. Começando pelo protagonista. Ele é
aquele cara normalzinho que em outros animes costuma ter o cabelo zigue zague
preto e camisa branca. Não chega aos pés do carisma de um Goku, Naruto, Luffy,
Natsu, Ash, Ichigo, Sakuragi, enfim. Mesmo protagonistas mais calmos podem ser
igualmente inesquecíveis, como Kenshin ou Yoh Asakura.
Midoriya
tem uma faceta interessante que é estudar e anotar em um caderninho tudo que
pode sobre as individualidades que cruzam seu caminho. Porém, essas anotações
nunca revelam grandes planos na hora da ação. Nada que qualquer outro
protagonista não pensaria sem anotação alguma. Interessante também a limitação
de sua super força, em que pra cada golpe, ele quebra braços, pernas, dedos.
Isso obriga o protagonista a pensar com calma o que irá fazer. De qualquer
forma, é difícil realmente dizer que se gosta de um sem sal como ele.
Os
demais personagens não se saem melhor. Kacchan é o rival obrigatório do herói,
embora seja incrivelmente desagradável e irritante. Dava para entender o
orgulho ferido de Vegeta, bem como Sasuke querendo se vingar do fulano que matou
toda sua família. Kacchan é só uma diarreia de gritos perdida ali no meio. Há o
Todoroki que só será desenvolvido na 2ª temporada, provavelmente porque
gostaram de seu visual e a Shonen Jump fez uma votação de favoritos e os
leitores votaram nele por isso. E eu sinceramente não sei mais nem quem
destacar. Tem o quatro-olhos que é sério, tem a envergonhada que gosta do
herói, acho que tem uma invisível, tem um com cabeça de galinha. Todos são
extremamente rasos e sem maiores personalidades. Não há tantos episódios como
os shonens mais famosos citados anteriormente, e os poucos que tem precisam
focar no desenvolvimento do protagonista. Portanto, é inquestionável o quanto
eles, de fato, mal são desenvolvidos.
Outro
problema grave são os poderes pouco imaginativos. O autor deveria ter se
inspirado mais nos X-men. O poder de Kacchan e Todoroki são parecidos demais.
Midoriya e All Might partilham da super força. Um garoto tem o poder de
endurecer. Não, dois têm. Não, digo, três têm. Outro tem um rabo absolutamente
abominável que parece um gêmeo siamês. O outro lança bolinhas grudentas do
cabelo (não perguntem). Uma tem língua de sapo. E aí, citei alguém interessante
até agora? Porque não tem. Um dos melhores, que copia as individualidades dos
outros, aparece por uns 2 episódios.
Desta
forma, sequer os vilões se salvam. E o clímax da 1ª temporada é frustrante
justamente por isso. Não há sensação de perigo realmente. Em um momento ou
outro, brevemente, talvez. A vitória do All Might contra o minion de super
força é desinteressante por envolver somente... uma troca de socos burocrática.
Qualquer luta no torneio da 2ª temporada supera essa facilmente. O peso dos
vilões não chega perto sequer de uma Medusa, de Soul Eater. Além do mais, não
há fatalidades em nenhuma das temporadas. Nem mesmo no suspense absurdo que
fazem com o irmão do quatro-olhos atacado no beco. Deviam ter dado o poder de
morrer pra alguém.
E
aproveitando que mencionei Soul Eater, o universo do Halloween daquele anime é
absurdamente mais interessante que este de heróis. Que basicamente é o nosso
mundo normal... dominado por super heróis. O problema é que, como diria
Sindrome d'Os Incríveis “Quando todos forem super, ninguém mais será”. Mudanças
interessantes poderiam ser exploradas na paisagem. Kill La Kill tinha um mundo
estilizado bem bacana. Railgun S desenvolvia seu mundo maravilhosamente bem com
aquelas heroínas e seu dia a dia e perigos plausíveis. Só o nome “Liga dos
Vilões” em Boku no Hero já está implorando para darmos risada. Parece algo
saído das Meninas Super Poderosas. Somando o fato que ninguém morre...
Definitivamente parece algo feito pra criancinhas.
Os
professores se destacam tanto quanto os de Shingeki no Kyojin, isso mesmo, não
se destacam. O que me lembra novamente dos maravilhosos adultos de Soul Eater.
All Might ganha facetas interessantes com sua real identidade como um magrelo
com problemas de saúde, mas sua pose de American Hero (notem as cores do traje)
oferece um carisma que não nos toca realmente. Parece só uma caricatura. Mr.Satan supera muito. Há também o antigo mestre de All Might que passa a treinar
Midoriya. Ele obviamente é pequeno e velho e muito mais forte do que parece.
Embora sua individualidade jamais fique realmente clara. É ágil, saltitante e
forte, basicamente como qualquer personagem genérico de qualquer anime de luta.
Não soa como se realmente houvesse um poder misterioso e impressionante ali.
De
qualquer modo, o anime melhora bastante na 2ª temporada. Já começamos em um
pseudo Exame Chuunin, com mais lutas desinteressantes do que interessantes. A
segunda melhor batalha certamente é da garota que tira gravidade dos objetos,
usando criatividade e esforço. Ironicamente, o autor despreza completamente as
moças no restante do tempo (nada novo, como já ocorria em Naruto e derivados).
O
grande momento do anime inteiro certamente é a batalha entre Midoriya e
Todoroki, que é uma aula de como fazer tudo que Boku no Hero não fez. O dinheiro da animação foi todo nela, creio eu. A luta
inicia com ambos utilizando suas técnicas máximas, o que nos faz imaginar como
poderá ficar melhor. E fica. O episódio 10 é todo intercalado com flashbacks da
mãe de Todoroki, responsável por marcar o rosto do filho para sempre. Ou seja,
temos uma batalha interna e externa acontecendo. O garoto também já tem sérios
problemas com o pai, lembrando muito relações familiares como as de Tao Ren e o
próprio Zuko. Com uma contagem regressiva eficiente em sua tensão, Midoriya tem
um limite para usar sua super força, pois a cada golpe seu corpo quebra um
pedaço. Desvantagem que o adversário não possui, além de Todoroki estar usando
somente metade de seu poder (literalmente). Frustrado por estar lutando com
alguém que está se segurando, Midoriya ajuda Todoroki a se livrar de suas
amarras psicológicas. E quando o garoto libera sua individualidade completa,
ficamos maravilhados não pelo espetáculo, mas pelo seu crescimento e evolução
durante a luta. Ficamos felizes e empolgados pelos personagens, não porque tem
um poder piscando na tela. Há muito mais acontecendo internamente do que dois
caras se batendo. Isso faz toda diferença do mundo. E a trilha sonora neste
momento chave é do All Might na 1ª temporada, surpreendentemente embalando
Todoroki, não o protagonista Midoriya. É um momento heroico realmente
inesquecível.
Com
uma animação apenas correta e cores acertadamente vibrantes, Boku no Hero
Academia carece de coreografias elaboradas e estratégias bem menos inteligentes
do que acredita ter. A imprevisibilidade da batalha em equipes para roubarem as
faixas um do outro é fascinante, onde todos usam suas individualidades para
alavancar a do outro. Assim, mesmo que nenhuma tenha muita graça, em conjunto
elas criam uma situação empolgante. Em suma, é um anime que carece de tudo que
uma obra de super-heróis deveria ter: bons vilões, bons heróis e boas lutas. E
com todos estes itens frágeis e medianos, torna-se uma série morna, previsível
e sem maiores tensões.
Twitter: @PedroSEkman
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