sexta-feira, 18 de maio de 2018

Kokkoku (2018)


Saudações do Crítico Nippon!

Esse é um anime relativamente raro, com uma trama ágil, em um espaço de tempo extremamente curto (talvez a trama no espaço de tempo mais curto que eu já vi), diversos núcleos de personagens interagindo entre si e um universo aparentemente simples, embora com muito potencial para explorar.

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A trama foca na família de Juri Yukawa, principalmente nas figuras dela, do pai, do avô, do irmão e seu sobrinho. Quando os dois últimos são sequestrados sob pena de um resgate em dinheiro, o avô congela o tempo com a ajuda de uma misteriosa pedra mágica. Assim, com o mundo congelado naquele instante, eles partem em direção ao covil dos sequestradores para buscar seus familiares. Porém, descobrem que não são os únicos que podem se mover naquela dobra temporal.


Desenvolvendo os personagens no desenrolar daquela situação e dos obstáculos que enfrentam, acompanhamos personagens adultos agindo como adultos. Juri descobre sua própria força e se transforma em uma personagem completamente diferente daquela estabanada que conhecíamos no início. Ela e o avô, aliás, ganham diversos momentos tocantes, precisando tomar decisões rápidas que geram reviravoltas deliciosamente inesperadas. 


Revelando regras daquele universo (a)temporal aos poucos (como o fato de não poderem machucar as pessoas paralisadas, a presença dos arautos, os poderes diferentes entre si...), o anime sabe jogar com as peças que tem. Os perigos, aliás, são bastante reais nas figuras dos vilões que, mesmo não sendo dos mais complexos, tampouco são unidimensionais. E por colocarem adversários inteligentes em ambos os lados, a história permanece sempre cambiante até o último instante. Percebam, por exemplo, a rapidez com que o vilão principal ataca seu subordinado ao perceber que perdeu valor para ele e, portanto, seu capanga inevitavelmente passará para o lado dos heróis.



Com sequências de ação tensas e empolgantes, esperem até a luta em que todos utilizam seus poderes simultaneamente. É preciso uma direção muito segura nessas horas. A dimensão espacial é sempre impecável, sabendo para onde cada um daqueles personagens está se deslocando. E gosto como o roteiro coloca situações aparentemente simples, porém bastante improváveis em obras cujo tempo não está congelado na cidade. Por exemplo, personagens no alto de um prédio conversando com outros que estão na rua; ou personagens gritando para outros do outro lado da quadra, afinal, tudo é um silêncio absoluto. 


O fato do tempo ter parado ao final da tarde, deixa o anime banhado pelo pôr do sol, o que ajuda a fotografia a escolher momentos iluminados e/ou mergulhados em sombra, dependendo do clima emocional de seus personagens. É uma escolha inteligente que ainda traz um ar mais sobrenatural àquele mundo. Deste modo, Kokkoku também é inteligente ao escolher uma trilha sonora pontual (embora, muitas vezes, inexistente), salientando aquele vazio e congelamento, sem chamar atenção para si mesma.


Corajoso ao transformar o último episódio em uma longa sequência contemplativa, que é ao mesmo tempo bela, agridoce e melancólica, mas que se encaminhava há tempos para aquela situação. É preciso muita confiança em seu público para deixar uma sequência dessas para o final. Dito isso, gostaria muito de assistir mais animes como este, em que a trama parece se passar em algumas poucas horas (mesmo que o tempo esteja congelado). Sem maiores distrações, com os dois lados igualmente fortes, Kokkoku tem tudo na medida certa e equilibrada, revelando-se uma das melhores surpresas deste ano.


(Para mais dos meus textos, só ir no menu "Crítico Nippon" lá em cima)

Twitter: @PedroSEkman
 

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