Saudações
do Crítico Nippon!
Esse
é um anime relativamente raro, com uma trama ágil, em um espaço de tempo
extremamente curto (talvez a trama no espaço de tempo mais curto que eu já vi), diversos núcleos de personagens interagindo entre si e um
universo aparentemente simples, embora com muito potencial para explorar.
(mais
um texto que só existe graças aos Padrims. Quer votar também? Corre lá)
A trama
foca na família de Juri Yukawa, principalmente nas figuras dela, do pai, do avô,
do irmão e seu sobrinho. Quando os dois últimos são sequestrados sob pena de um
resgate em dinheiro, o avô congela o tempo com a ajuda de uma misteriosa pedra
mágica. Assim, com o mundo congelado naquele instante, eles partem em direção
ao covil dos sequestradores para buscar seus familiares. Porém, descobrem que
não são os únicos que podem se mover naquela dobra temporal.
Desenvolvendo
os personagens no desenrolar daquela situação e dos obstáculos que enfrentam,
acompanhamos personagens adultos agindo como adultos. Juri descobre sua própria
força e se transforma em uma personagem completamente diferente daquela
estabanada que conhecíamos no início. Ela e o avô, aliás, ganham diversos
momentos tocantes, precisando tomar decisões rápidas que geram reviravoltas
deliciosamente inesperadas.
Revelando
regras daquele universo (a)temporal aos poucos (como o fato de não poderem machucar as pessoas paralisadas, a presença dos arautos, os poderes diferentes
entre si...), o anime sabe jogar com as peças que tem. Os perigos, aliás, são
bastante reais nas figuras dos vilões que, mesmo não sendo dos mais complexos,
tampouco são unidimensionais. E por colocarem adversários inteligentes em ambos
os lados, a história permanece sempre cambiante até o último instante.
Percebam, por exemplo, a rapidez com que o vilão principal ataca seu
subordinado ao perceber que perdeu valor para ele e, portanto, seu capanga
inevitavelmente passará para o lado dos heróis.
Com
sequências de ação tensas e empolgantes, esperem até a luta em que todos
utilizam seus poderes simultaneamente. É preciso uma direção muito segura
nessas horas. A dimensão espacial é sempre impecável, sabendo para onde cada um
daqueles personagens está se deslocando. E gosto como o roteiro coloca
situações aparentemente simples, porém bastante improváveis em obras cujo tempo
não está congelado na cidade. Por exemplo, personagens no alto de um prédio
conversando com outros que estão na rua; ou personagens gritando para outros do
outro lado da quadra, afinal, tudo é um silêncio absoluto.
O
fato do tempo ter parado ao final da tarde, deixa o anime banhado pelo pôr do
sol, o que ajuda a fotografia a escolher momentos iluminados e/ou mergulhados
em sombra, dependendo do clima emocional de seus personagens. É uma escolha
inteligente que ainda traz um ar mais sobrenatural àquele mundo. Deste modo,
Kokkoku também é inteligente ao escolher uma trilha sonora pontual (embora,
muitas vezes, inexistente), salientando aquele vazio e congelamento, sem chamar
atenção para si mesma.
Corajoso
ao transformar o último episódio em uma longa sequência contemplativa, que é ao
mesmo tempo bela, agridoce e melancólica, mas que se encaminhava há tempos para
aquela situação. É preciso muita confiança em seu público para deixar uma
sequência dessas para o final. Dito isso, gostaria muito de assistir mais
animes como este, em que a trama parece se passar em algumas poucas horas
(mesmo que o tempo esteja congelado). Sem maiores distrações, com os dois lados
igualmente fortes, Kokkoku tem tudo na medida certa e equilibrada, revelando-se
uma das melhores surpresas deste ano.
(Para mais dos meus textos, só ir no menu "Crítico Nippon" lá em cima)
Twitter: @PedroSEkman
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