sábado, 11 de agosto de 2018

Berserk: trilogia Golden Age


Saudações do Crítico Nippon!

Esta trilogia de filmes é o meu primeiro e único contato com Berserk. Acho que tem algum valor por eu não estar “infectado” com o anime de 97 ou o mangá, poderei julgar facilmente e exclusivamente esta série de remakes que abrange o arco da Era de Ouro. Contando com altos e baixos, alguns muito altos e outros extremamente baixos, a maior parte dos méritos é do estúdio 4ºC, que compreendeu a magnitude da obra que havia em mãos. Mesmo que se atrapalhe muito em alguns momentos.
(A Beta Roberta comentou dois deles aqui e aqui)
(Esse texto só existe graças à votação do Padrim. Participe também!)



No primeiro deles, acompanhamos Guts (cujo nome já revela muito), um guerreiro que se encontra numa Guerra de 100 Anos e derrota poderosos adversários em troca de dinheiro. Ele tem aquela personalidade de Manji (Blade of the Immortal), exatamente como um brutamonte arrogante, refletindo em sua espada pesada e bruta. É quando ele chama atenção do líder do Bando do Falcão, Griffith, e se vê preso nas ambições deste até que, quem sabe, um dia, seja libertado.

E é aí que começa uma fascinante história de amor entre esses dois. Eu tentei encarar como qualquer outra, em que um adversário poderoso chama atenção de outro adversário poderoso. Porém, esses dois revelam desejos claros um pelo outro. E como já discuti fartamente em meu texto A Crítica, Interpretação, Opinião se os sinais estão na tela, abertos à interpretação, o argumento é válido. Qualquer obra só se complementa com o observador. E essa é a maneira que eu escolhi completá-la e que considero, sim, ser a mais coerente.

Griffith e Guts são completos opostos, que se complementam. A aparência do líder Falcão é branca, elegante, com uma espada pequena e leve e longos cabelos cumpridos. Seu ar é enigmático e nunca sabemos exatamente o que se passa pela sua cabeça. Diferente do explosivo Guts, cabelo curto, trajes escuros, arma pesada e sempre sabemos o que está pensando. Além do mais, Caska claramente se vê dividida entre os rapazes, que sequer parecem notá-la.


Aliás, os melhores momentos do primeiro filme são as conversas e batalhas entre eles dois. As demais relações soam vazias e inexistentes. E a relação de Griffith com a princesa soa meramente como uma vantagem política do que qualquer outra coisa. O que será comprovado no filme seguinte, diga-se de passagem. 


Este capítulo de Berserk soa relativamente frágil e episódico, incluindo um “episódio” para enfrentarem o balrog (?!) Zodd que, claramente mais forte que todos eles, foge ao ver o “Ovo do Supremo Rei” no pescoço de Griffith. Que jamais é explicado, exceto por uma frase dizendo que ganhou de um ambulante e a imagem mostrando o óbvio. Nada mais. O que é aquele colar? O que ele faz?

Com sons diegéticos eficientes, notem o raspar da espada de Guts sendo tirada das costas. E movimentos de câmera que se beneficiam da natureza digital do filme, voando por entre exércitos e batalhas absurdamente brutais. A animação, aliás, é fascinante, mesclando o CG com o 2D de forma mais interessante que obras como Ajin, por exemplo. Sim, há movimentos duros aqui e ali, mas nem se compara com essas produções novas. As guerras são de tirar o fôlego, especialmente a de abertura do filme, deixando claro tudo que está acontecendo.

A seguir, comentarei o 2º filme, The Battle for Doldrey, e discutirei mais sobre a relação amorosa entre Griffith e Guts.



Muito mais fluído que seu antecessor e com sequências de ação absolutamente espetaculares, esse segundo filme é de tirar o fôlego do início ao fim. Aqui temos em primeira mão o auge absoluto do Bando do Falcão.


Iniciando de forma relativamente problemática, com um dos inimigos querendo humilhar Caska simplesmente por ser mulher... aí Guts aparece para salvá-la. Espera, ãn?! Bom, então a moral da história, é que, de fato, ela é uma fraca que não sabe se proteger sozinha, isso? Como se não bastasse, mesmo ambos caindo do penhasco, quem lutou por mais tempo foi Guts. Quem levou uma flechada na barriga foi Guts. E adivinha quem está inconsciente ardendo em febre? Isso mesmo, a donzela indefesa. É surreal. E claro que, alguns minutos depois, quando Guts está lutando contra um exército de 100 homens e outros tantos saem atrás de Caska... é Griffith quem aparece para salvá-la. Em meia hora de filme, a mulher guerreira é salva duas vezes pelos machos. Que bela maneira de enfraquecer completamente uma personagem. 




Aliás, essa sequência inicial, por mais formidável que seja tecnicamente, não desempenha o papel que eu suponho que deveria desempenhar: aproximar Guts e Caska. Ela reclama dele como sempre em um mísero diálogo e só, o resto do tempo está inconsciente. Nenhum dos dois cresce aos nossos olhos. E é aí que entram mais pistas da homossexualidade latente de Guts. Ele tira as roupas de sua colega e a manuseia sem qualquer receio ou vergonha. É como se segurasse uma boneca. Não há qualquer desejo ou tensão sexual. Radicalmente diferente dos momentos que divide com Griffith, repleto de peso e emoções conflitantes e embaraço de um para outro.


Deste modo, se Griffith passa a maior parte do tempo soando enigmático, seu semblante muda completamente ao se ver diante da perda do amado, Guts. Como se o véu de falsidade caísse e ele não conseguisse manter a máscara. Seu sentimento de posse para com o companheiro é a emoção mais forte que veremos em todos os filmes. Não há qualquer envolvimento de Caska com Guts, muito menos dela com Griffith, que soam mais distantes que nunca nesse filme.


Culminando na fabulosa cena de sexo entre Griffith e Charlotte, que além de ser embalada por uma trilha sonora formidável e uma direção e animação excepcionais, ainda serve para martelar mais ainda o coração partido dele. Griffith não está ali para obter prazer, dedicando-se a agradar apenas a parceira. Enquanto isso, vemos flashbacks de Guts o tempo inteiro, revelando claramente o que lhe deixa excitado. Ele está ali para disfarçar seu sofrimento e descontar sua derrota (na luta e no amor). Terminando a sequência em posição fetal e às lágrimas, pois não há nada que possa consolá-lo sem o seu amor verdadeiro.


Inserindo detalhes valiosos, como os calos na mão de Guts; ou os cavaleiros do Bando do Falcão trocando pequenos diálogos assustados antes da batalha, tornando-os mais humanos; e reservando uma longa sequência de festa no castelo, aproximando os personagens e fazendo-os colher os frutos por aquilo que lutaram tanto. Não há a sensação de uma história episódica, como no primeiro, fluindo de um acontecimento para outro com naturalidade.


É uma pena, portanto, que tenhamos passado de algo tão maravilhoso para aquele terceiro filme absolutamente abominável.



Iniciando o filme praticamente da mesma maneira que o anterior, com Caska fazendo o que faz de melhor, isso mesmo, sendo salva pelos machos. Até o loirinho, até então absolutamente insignificante, conseguiu seu momento para salvá-la. Baita personagem essa guerreira. É natural que uma obra que opte com frequência por decisões absurdas como essa, seja a mesma que fez Guts abandonar o grupo da noite pro dia e, bem, retornar ao grupo da noite pro dia. Não há explicação na sua separação (no filme anterior) nem na sua volta.

 “Quando ele lhe viu, não havia mais espaço pra mim na sua vida.”, Caska refletindo sobre Griffith e Guts, percebendo como ela jamais troca meia palavra com o último. É então que ela ameaça se matar e Guts não vê outra escolha senão ter relações sexuais com ela. Veja bem, podemos encarar como se ele estivesse salvando-a mais uma vez. Tendo que apelar até para o sexo. Provavelmente ela seja uma recordação dos tempos com o seu verdadeiro companheiro.



É quando os dois homens finalmente se reencontram, choram e finalmente temos alguma emoção na tela. Ao invés de bonecos que não falam uma palavra um com o outro nem expressam nada (cof Caska cof). É tocante também ver o incômodo de Griffith com Caska indo trocar suas bandagens, quando claramente queria brincar de enfermeiro e paciente com o moreno alto, lindo e sensual.





E acho que só consigo comentar até aqui. O resto é a maior bagunça que eu já assisti em toda minha vida. Incluindo um eclipse que dá vida a gigantes, zumbis, uma espécie de medusa, alguns demônios, e monstros. Eu não estou brincando, isso tudo começa a acontecer em um piscar de olhos. Até então o único ser sobrenatural da história foi aquele Zodd, do primeiro filme, parecendo um filler mau colocado. Mas agora metade do filme envolve as bruxarias mais variadas.

Praticamente tudo ocorre sem maiores diálogos, e quando alguém fala, são aqueles papos de anime filosofia de boteco. Qual o sentido da vida, da morte, de onde viemos, pra onde vamos, a felicidade, o amor, a morte... Vocês conhecem esses monólogos, não conhecem? Mas mesmo que escolhemos ignorar completamente essas falas vazias, como fazemos com todos os animes do mundo, não dá sequer pra se concentrar na ação. O que exatamente precisa ser feito nesse caos? Tem que matar quem? Por quê? Como mata? É um sonho? É outra dimensão? Como? O que diabos? Céus.


Ainda que encontre tempo para salientar o amor dos heróis, com Guts gritando “Ele é meu!” várias vezes. E, claro, Griffith querendo se livrar da moça que está tomando o seu homem. Mas mesmo esses pequenos momentos são completamente abomináveis tamanhos os absurdos que os acompanham.


Em suma, esta trilogia Berserk teve um gosto amargo demais. Apesar de um capítulo do meio realmente bacana, o primeiro começou apenas razoável. E este final foi absolutamente medíocre. Não há personagens memoráveis (praticamente não houve secundários e antagonistas) nem uma trama de maior complexidade. O que fica é uma leve lembrança da animação de tirar o fôlego e de sua trilha sonora delicada e magistral. De resto, eu espero esquecer o mais depressa possível. 

(Para mais dos meus textos, é só ir no menu "Crítico Nippon")
Twitter: @PedroSEkman

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Os comentários deste blog são moderados, então pode demorar alguns minutos até serem aprovados. Deixe seu comentário, ele é um importante feedback.