sábado, 5 de maio de 2012

Gyo: De Junji Ito a Steven Spielberg e Lovecraft!


Eu já falei de Junji Ito algumas vezes aqui no blog, sendo ele um prolífico mangaka que ficou conhecido principalmente na década de 90 e que atualmente, é uma leitura essencial para amantes de terror e não apenas isso, para quem realmente gosta de boas histórias. Eu sempre digo que os quadrinhos de Ito, não são um terror pra assustar, mas divertir, te envolver. É normal que durante a leitura de algumas de suas obras, você se pegue sorrindo, seja pelos motivos mais errados que exista. Suas histórias te provocam uma mistura de sentimentos, um mixed feeling que vai da inquietude, a um humor sagaz onde a proposta não é te fazer gargalhar, mas achar graça naquela ironia presente ali. Suas histórias definitivamente não são assustadoras, não se utiliza de várias ferramentas comuns no meio, como explorar gratuitamente o gore, a misoginia ou a violência. Suas histórias são tranquilas e na maioria das vezes, “limpas”, que podem ou não te fazer embrulhar o estômago, dependendo de sua sensibilidade.

Junji Ito, HP Lovecraft, Divindades, Tomie, Uzumaki e Gyo!

Ao contrário de muitos autores e histórias de terror asiáticas de um modo geral, os quadrinhos de Junji Ito acabam diferindo bastante das demais, e isso se deve ao fato de suas várias influências ocidentais – Que tornam seu trabalho muito arraigado nos cânones da literatura de horror. E claro, não dá pra falar muito a fundo de Junji Ito, sem mencionar HP Lovecraft, escritor norte-americano e importante nome da literatura fantástica e horror.

"O mundo é deveras cômico, mas a piada está na raça humana".

Ou

Live After Death - Iron Maiden
"Não está morto o que eternamente jaz inanimado, e em estranhas realidades até a morte pode morrer."

Citação de H. P. Lovecraft contido no disco da banda Iron Maiden, escrita na lápide da sepultura de Eddie.

E Junji Ito entende bem tudo que está sublinhado no trabalho de Lovecraft e se utiliza dessa influência em diversas histórias, pra não dizer todas, uma vez que a ideia básica de suas histórias em quadrinhos está contida nessas duas citações ali em cima. O resultado disso tudo, é incrivelmente sensacional, com arcos, argumentos e desfechos surreais. A importância de Lovecraft, entre outras coisas, está em sua contribuição para as histórias de “Ficção Fantástica”, uma vez que muito do gênero de horror como conhecemos hoje, vem do fascínio dele por literatura sobrenatural e do “movimento” gótico-romântico, contido no trabalho de autores anteriores a ele. Azathoth e Cthulhu são divindades explicadas como seres alienígenas que muitas vezes são falsamente interpretadas como demoníacas ou de forma não corpórea. Exemplo disso pode ser encontrado no artigo Envolvimento de bandas com ocultismo esatanismo, onde se encontra a referência da banda Iron Maiden e Lovercraft.

Tomie
Se entende que Lovecraft cai muito mais para o lado do horror do que da ficção cientifica, ainda que muito do que está ali presente pode ser interpretado como pseudocientífico. E Junji Ito consegue aplicar isso em suas obras de uma forma às vezes, muito melhor que grande parte dos discípulos americanos de Lovecraft. Ficando somente no exemplo de suas três principais séries: Tomie, Uzumaki e Gyo.  Vemos aqui o boom de Ito, não apenas como mangaká, mas com relação às influências de Lovecraft. Tomie é sobre uma garota que provoca um extremo fascínio em todos os homens à sua volta, que quando veem que não podem tê-la somente para eles, matam-na. Só que Tomie não fica morta e sempre volta. Apesar da variedade de formas violentas que ela é morta, normalmente isso se dá por esquartejamento. Dai as partes de seu corpo vão se juntando novamente, até formarem uma “nova” Tomie, linda e exuberante, arrancando suspiro dos homens e inveja das mulheres.  Dessas três séries, é a mais violenta e explicita e que apresenta um teor irônico de misoginia, que não cabe nesse artigo (fica para quando eu comentar Tomie).

“Mutilados, comprimidos, torcidos, a maioria deles decapitados. A maneira como a cabeça em forma de estrela do mar era arrancada de seus corpos evidenciava um prazer mórbido, animalesco, cruel… o sangue escuro da raça ancestral corria pelas ruas das cidades abandonadas“.

A citação acima, de “The Call of Cthulhu”, define bem Tomie, que me lembra do Nyarlathotep, um dos deuses do “Deuses Exteriores”, um dos vários livros “Cthulhu Mythos”. Inteligente e de humor mórbido, consegue adotar várias formas, sendo o único a manter contato com os homens. Já em Uzumaki – A Espiral do Horror, essa influência é bastante diluída, ainda que presente. O último capítulo de Uzumaki é simplesmente GENIAL e tem os Mitos de Cthulhu em sua mais pura essência. Já Gyo, tem bastante influência, a começar pelo argumento da história, até o seu desenvolvimento.

Uzumaki

Dessa vez, a divindade é Azathoth, o “juiz” dos Deuses Exteriores. Fisicamente, ele é uma massa gigantesca e amorfa de caos nuclear, com enorme força bruta e desprovida de inteligência. Um deus cego da loucura, um monstruoso caos nuclear, onde na maior parte de suas aparições estão relacionadas com catástrofes gigantescas. Um exemplo disto é o fato dele ter destruído o quinto planeta do Sistema Solar, que atualmente é tido como a cintura de asteroides. Claro, dentro da mitologia proposta.

Os Peixes Andantes de Gyo!

Gyo é um conto apocalíptico onde todos os peixes do mar, do nada, começam a “desenvolver” pernas e andar sob a superfície da terra, causando o caos total. O conceito é cientifico, onde uma arma biológica desenvolvida pelo governo japonês se desenvolve de forma consciente e acaba se fundindo com outra arma militar, que depois de décadas no fundo do mar, acaba oferecendo mobilidade aos peixes. Eventualmente, com o desenrolar da história, vemos a conversão dessa arma à raça humana. É similar aos filmes de zumbie de George Romero, que também tem sua influência na Literatura Lovecraftiana. O vírus se espalha pela população, trazida do fundo do mar pelos diversos peixes, deixando os infectados em uma forma horrível e semiconsciente. O ápice dessa trama absurda, é quando esses seres humanos começam a se fundir com a arma militar. Ainda que seja uma pseudociência, ao contrário dos filmes de zumbie, Junji Ito nos trás explicações pseudocientíficas realmente muito criativas.

Obviamente, tendo uma forte influencia Lovecraftiana, Gyo tem aspectos muito sobrenaturais que não podem ser simplesmente explicadas pela ótica humana. Novamente citando Lovecraft, que era um ateu convicto e crítico com relação ao comportamento humano. Segundo ele, o ser humano é despreparado para lidar com a realidade cruel, fria, desprovida de qualquer piedade e sentimentos. Sendo que a realidade do universo é, segundo ele, o caos, de uma forma inifinita, aonde o único sentido é tentar sobreviver o máximo possível. Suas ideias de que a humanidade não passa de uma concha de sanidade mental imersa num universo completamente alienado e povoado por estranhas criaturas poderosas, pode ser sentido em Gyo em todos os aspectos. Diante uma catástrofe apocalíptica como que aconteceu na história, às leis criadas pelos homens divergem da lei natural, que é predatória e se tornam nulas. Qualquer ser humano exposto a essa realidade, terá uma tendência de enlouquecer pouco a pouco e é isso que vemos principalmente na personagem Kaori. Ela é chata, começa a desenvolver uma síndrome com relação ao olfato e se torna bem insuportável. Mas apesar da personagem ser a típica garota mimada, ela é interessante e tem a personalidade bem construída. Não é uma personagem agradável, assim como a Haruhi (de Suzumiya Haruhi no Yuuutsu), mas são personas importantes para o desenvolver da história que fazem parte e muitas pessoas tendem a confundir bons personagens com personagens maleáveis. Nem sempre o bom personagem, será agradável.

E com o desenrolar do primeiro volume, o que vemos é o estado do progressivo enlouquecimento de Kaori diante a todo aquele horror. E não apenas dela, ao fundo, podemos ver a humanidade reagindo das mais diversas maneiras àquele horror biológico. A sanidade mental pode ser vista como uma cortina que nos protege da realidade e permitindo que a sociedade humana subsista da forma com conhecemos, completamente alheias à estranheza do universo que as rodeia. No segundo volume de Gyo, quando os eventos começam a ficar mais aleatórios e perde um pouco do teor dramático do primeiro volume, vemos o circo dos horrores, simplesmente um dos melhores momentos de Gyo, onde as pessoas começam a usar os humanos infeccionados, em um espetáculo bizarro tenso e paranoico. Destaque para as criaturas que se formam no ar através da fumaça, como se fossem as almas dos infeccionados, em continuo desespero. Em uma visão mais subjetiva, você vê ali, os Mythos Lovecrafianos. Outro momento similar, é quando o protagonista Tadashi, cai num oceano de peixes e logo acima, estranhas formas se distinguem daquele céu poluído e enfumaçado. Entre os rostos de almas em profunda agonia que se formou, se encontra o de Kaori, sua namorada que havia sido infeccionada e não aguentando o tamanho desespero, acabara por cometer suicídio. Ito deixa vago, se aquilo foi uma visão real ou era Tadashi delirando. Afinal, aqui não precisamos de exatidão.

Clique para ampliar:

Os humanos infectados pelo vírus e que se juntam formando um único ser. A humanidade completamente sucumbida àquele apocalipse. A figura de Tadashi passa atônito por todos esses cenários, entre outros, completamente abolhado e sem saber o que fazer. Perdido. Tadashi é representado como a figura do leitor. Suas reações, inquietações, indagações, é tipicamente a reação que qualquer leitor teria se estivesse em seu lugar.  No mundo dos Mythos conhecimento não é poder, conhecimento é aniquilação. E isso é o que de uma forma geral, a história de Gyo passa para o leitor. Durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses viviam um viés não muito favorável, o que fez com que eles acabassem buscando meios alternativos que o fizessem ganhar dos americanos. Com a corda no pescoço, deixaram o orgulho de lado e aceitaram o projeto de um cientista que planejou uma arma biológica, que os fizessem vencer através do odor.


A infecção pelo germe produzido trazia um grande mau cheiro de gás a partir do tecido do corpo. E uma vez que a infecção matou todos os animais que serviam de cobaias, teve-se a ideia de construir as máquinas, para que mesmo com o corpo atrofiado, a carcaça dos animais pudesse ir mais além e alcançar as tropas inimigas, adoecendo-os. Mas os caças aéreos afundaram navio que transportava os protótipos para as máquinas.  Até aqui, completamente plausível. O inexplicável vem a partir do ponto onde essas máquinas praticamente ganham consciência e se conectam aos peixes e por seguinte, aos seres humanos – Além de que, elas praticamente se multiplicam. Junji Ito inclusive brinca com isso [acho que] no segundo volume, com um dos personagens dizendo que é como se elas se multiplicassem mutualmente. Da pequena ilha de Okinawa, os nefastos seres rastejantes chegam à Tokyo, e em pouco tempo, já dominam todo o planeta.

Uma das caraterísticas de Lovecraft, é que nem ele mesmo buscava responder todas as perguntas. Assim como seus personagens, envolvidos com acontecimentos inacreditáveis, o próprio autor não ousava oferecer uma explicação racional ou coerente. No volume final, o que vemos é exatamente isso; Um Tadashi completamente absorto, contemplando ao lado do esqueleto de Kaori, o mundo devastado. E como não poderia deixar de ser em uma obra que segue o estilo da “Literatura Lovecraftiana”, os desfechos das histórias de Ito, de um modo geral, são bem assim; pessimistas e com um olhar bem cínico sobre a humanidade.

Clique pra ampliar: Ilustração de Lovecraft, feita por Junji Ito
                                                  

Um Pouco Mais Sobre Gyo

“Gyo” (do katakana ギョ, que significa “peixe” em japonês), em uma banda desenhada, onde o visual é o maior recurso narrativo dessa mídia, mesmo isento de recursos sonoros e olfativos, consegue impressionar qualquer leitor com o odor putrefato daquelas criaturas. Esse cheiro – nefasto e pestilento – é ao mesmo tempo a grande premissa e também o grande desafio desse mangá. E Junji Ito consegue transpor tudo isso com sua técnica apurada, que também o difere da grande maioria de seus colegas. Seu traço é bonito e ele consegue desenhar uma infinidade de efeitos que dão um tom sensacional às suas histórias e não é diferente com Gyo. Apelando para recursos de sinestesia, focando nas motivações e conflitos dos personagens, como a obsessão de Kaori com o odor e inserindo alguns elementos de humor não convencional, ele te dá um entretenimento de primeira, mesmo se utilizando de diversos elementos trash.

Eu já disse que o traço de Junji Ito é impressionante pra algo do gênero? E não é apenas isso, os enquadramentos passam o feeling correto da “ação”, a linha narrativa é apurada. Os contrastes e grandes borrões, closes nas faces das personagens e até mesmo panoramas impressionantes, ricos em detalhes e dotados de um fotorrealismo perturbador. Gyo costuma dividir opiniões, com alguns colocando a série como a obra prima de Junji Ito e outros, o classificam como o seu mangá mais fraco. A despeito disso, Gyo é o trabalho mais rico conceitualmente, de Ito. Aqui nós temos um amálgama de elementos do gênero como os clássicos góticos e o trash americano, mas ainda assim, sem perder aquele elemento de “estranheza” tão comum no terror japonês. Tem a característica de Junji Ito.


Gyo em seus dois volumes, conta uma história intrigante e inquietante, com diversos elementos puramente trashs, como aquelas máquinas serem movidos a gases humanos, com aqueles peidos assustadores e nojentos. É muito mais absurdo e hilário, do que assustador (!). Tubarão invadindo casas, as carcaças com cheiro de cadáveres espalhando o vírus mortal, Kaori naquela forma extremamente bizarra e mesmo depois de, teoricamente, morta, ainda continuar sofrendo com fortes impulsos de possessividade. Contudo, Gyo consegue ser, das três principais obras de Junji Ito, a mais leve se tratando de violência.

Tem o sentimento de putrefação, aquela vibe de “nojo” bem típico de séries mais trashs e verdade seja dita, Gyo a primeira vista se parece muito mais uma clássico do cinema B americano, do que uma série asiática. Enquanto relia rapidamente o primeiro volume, para este artigo, não pude deixar de notar que mesmo estando lendo pela segunda vez, a sensação de suspense pareciam saltar das páginas e acertar em cheio o meu subconsciente. Gyo me lembra bastante “Tubarão”, grande clássico norte-americano de 1975 do velho e competente Steven Spielberg, mas sem aquela perturbadora trilha sonora icônica composta por John Williams. Então, mais um ponto para Ito, que conseguiu capturar bem a essência do suspense, magistralmente capturou a essência do medo na forma de um tubarão em páginas preto e branco. O primeiro volume é incrível no que diz respeito à atmosfera, desde a primeira página com Tadashi no fundo do oceano, aonde Junji Ito vai provocando a curiosidade mórbida do leitor, até a excelente cena da Kaori no chuveiro, onde ela começa a ter o pressentimento de que algo estranho está acontecendo. Os quadros dessa página dão sentindo a expressão “linguagem cinematográfica” que os mangás possuem, mas que nem todos os autores conseguem aproveitar o máximo. As sequências são excelentes, com o sentimento de apreensão crescente com Kaori sentindo cada vez mais aquele odor fétido e cada vez mais peixes aparecendo.

Clique pra ampliar:
Assim como Tubarão, Gyo também gira em torno do animal, mas também tem como foco as personagens. Aliás, assim como os clássicos filmes do Romero, a história são basicamente sobre os seres humanos, e não sobre a besta. Eu acredito que certamente, Ito também pegou a ideia básica deste clássico do cinema: Tudo começa numa ilha movimentada por turistas, há o retardo em mostrar o tubarão branco e mesmo que saibamos do que se trata, ainda não o vemos de imediato. Claro que é um recurso dos mais manjados para criar uma forte tensão e que sempre dá certo, pois o ser humano é muito mais disposto a sentir receio, do que não pode ver. As sequências da página 64 é praticamente uma homenagem de Ito. No caso de Gyo, ridículo é um adjetivo que cai como um elogio. Quando um grande tubarão branco começa a perseguir o Tadashi e a Kaori dentro da casa, escalando escadas, passando por esguios corredores a procura de sua refeição, você não consegue achar outro adjetivo que não seja ridicularmente absurdo algo como aquilo (Ainda que se trate de terror. Ainda que se trate de ficção). Mas funciona e a concepção disso tudo é fantástica. Você também pode interpretar toda essa situação do tubarão branco e sua perseguição ao casal da história como um cinismo de Ito com relação aos japoneses e sua relação predatória com a vida no oceano.
              


Mas Gyo cai drasticamente de qualidade a partir do segundo volume, ainda que numa média geral continue bom, você perde o suspense e sente como se Ito estivesse esticando a história em alguns momentos, para que pudesse cumprir o planejamento de 2 volumes do mangá, com certas situações claramente arrastadas. Mas tem o seu valor, principalmente por conta dos desfechos de alguns conflitos, a excelente sequência de Tadashi e Kaori no circo das aberrações e o cenário desolador, que se vislumbra na página final.

Gyo, conta ainda com duas histórias extras, completamente distintas da principal. The Sad Tale of the Principal Post (O triste conto do pilar principal), que é um conto onde um chefe de família se encontra, de alguma forma inexplicável, embaixo do pilar central de sua casa. Não faz sentido e nem há explicação, mas este não é um ponto já que se trata de uma metáfora sobre os sacrifícios que um homem faz pela sua família. A segunda história, The Enigma of Amigara Fault (O enigma da fenda de amiga) é sensacional e executada de uma forma até mais competente que Gyo. Trata-se de um estranho fenômeno que vem acontecendo em certa parte do mundo, onde numa montanha começam a surgir buracos em forma humana com uma incrível perfeição. Cada buraco representa a uma pessoa, que se encaixa perfeitamente nele. Esses buracos exercem uma estranha fixação nas pessoas que vão até lá conferir os seus “buracos” em forma humana, fazendo os adentrarem ali e nunca mais serem vistos. O ritmo é perfeito e o suspense cresce a cada quadro e a sensação de claustrofobia que aquelas fendas causam no leitor, é simplesmente genial. Sem dúvidas, é uma leitura obrigatória e novamente trás a tona o fascínio humano pelo desconhecido. Assim como as personagens da história sentem um impulso incontrolável para adentrarem naquelas fendas, nos leitores nos sentimentos morbidamente atraídos por histórias assim. Brilhante, Ito.


A Versão Animada

Em 2012, Gyo ganhou uma versão animada, um OVA de pouco mais de 1 hora. Esta foi a primeira adaptação de uma das obras de Ito, em animação, mas o resultado acabou não sendo nada mais que um entretenimento medíocre de média qualidade. Apesar do excessivo uso de CGI, que acaba deixando um tom superficialidade, a produção é razoavelmente boa, porém com uma direção errante e escolhas equivocadas. A versão animada de Gyo, nada mais é que um completo vazio, onde as personagens ali presentes são a metáfora perfeita para a falta de personalidade, originalidade e sentimento dessa adaptação. Alguns vão dizer que vale pela diversão descerebral e realmente, uma vez que diversão não é sinônimo de qualidade. Gyo pode ser visto como apenas mais um filme catástrofe do cinema B americano, feito para locadoras, mas mesmo como uma obra isolada o entretenimento é de baixíssima qualidade.


As escolhas tomadas pelo diretor Takayuki Hirao são bastante questionáveis, ao retirar o que há de melhor no original, traçar uma nova história a partir da concepção da mesma e fazer um brinde ao vazio, onde a nova protagonista da história acaba representando o que há de pior na indústria. Claro que mesmo vazio, poderia ter sido uma produção agradável, o que não é o caso. O que é uma pena, pois o projeto do estúdio ufotable ao qual este OVA fez parte, é destinado a produções que não teriam vez em um foco comercial e dar espaço para seus funcionários “brincar”, as possibilidades de produzir algo diferente de tudo que atualmente há na indústria e com originalidade, acaba sendo desperdiçada com apenas mais um do mesmo.

Olhando para as imagens estáticas, até me soa engraçadamente bizarro (no sentido pejorativo), mas a execução acaba sendo mais séria do que deveria. Em particular, a cena do avião se chocando contra os peixes é muito bem feita. Com as screens abaixo, dá pra se ter uma ideia da adaptação. Clique nas imagens pra ampliar:


"Kazuo Umezu tem sido o meu artista de quadrinhos favorito, há bastante tempo. O seu trabalho é muito inspirador. Quando eu estou desenhando, eu sou influenciado por seu trabalho mesmo sem perceber e acredito que isso acontece com muitos outros artistas. Seus quadrinhos deixaram uma impressão duradoura devido à alta qualidade de sua arte de contar histórias convincentes. Eu não acho que qualquer outro mangaká de horror possa ultrapassa-lo no Japão. Meus quadrinhos favoritos de Umezu são Drifting Classroom, Fear, e The Grave of Butterfly.” – Junji Ito.

Gyo seja a melhor obra de Ito, ou não, definitivamente vale a pena à leitura e mostra que suas excelentes críticas, são justificáveis. Também mostra que material de qualidade pode surgir de qualquer gênero, e que mesmo uma história tão básica, pode oferecer bem mais do que apenas entretenimento barato e descartável. 

Já segue o blog no twitter? Não? Então vá no perfil e clique em seguir! @ElfenLiedBR