Apesar de considerar os live actions de Gantz, Battle Royale e L Change the World terríveis, confesso que gosto muito dos dois primeiros de Death Note. Seguindo o roteiro à risca e fazendo as mesmas reviravoltas, não faz o menor sentido aqueles que dizem que o caderno da morte ficou uma porcaria (Apesar da direção do filme ser abominável, sim, dando a impressão de que é mais lento. Mas só). Desta maneira, percebi o óbvio: a adaptação tem que se focar no forte. Em Death Note, na trama policial; em Samurai X, na ação. E bastou uma olhada nos trailers para que eu ficasse extremamente curioso com as manobras de nosso protagonista rurouni através de cabos de aço e alguns efeitos mecânicos (e não digitais, como costumam confundir). Funciona, sim, no quesito. Porém, peca pela longevidade e excesso de material. Assim, tudo que o filme construiu em sua primeira metade mais simples, vai ruindo aos poucos com a chegada dos outros intermináveis 50% de entulho.
Começando o filme seguindo fielmente o original de Nobuhiro Watsuki, temos o protagonista, conhecido como o assassino Battousai, no final do regime Tokugawa, largando a espada (não exatamente, ele só inverte a lâmina) para os futuros tempos de paz da era Meiji. A partir daí, saltamos 10 anos no tempo para encontrá-lo novamente como um andarilho de semblante pacífico, e a história segue a partir daí...
O diretor Keishi Ohtomo
acerta no ritmo da narrativa, a princípio, e desenvolve Kenshin e Kaoru com
cuidado e atenção (tanto que só ouviremos o verdadeiro nome do protagonista com
40 minutos de filme). Vivido por Takeru Sato com sensibilidade e segurança,
Kenshin é um personagem constantemente calmo com sorrisos sempre serenos, quase
calculados. Contrastando esse lado ao ficar nervoso em certas batalhas, o ator
demonstra conhecer completamente as emoções que se passam dentro de seu
rurouni. Do outro lado, Emi Takei nunca se deixa ofuscar por ele. Dando vida a
Kaoru de forma energética e fiel à original, porém delicada em sua devoção pelo
dojo e filosofia de que a espada não é para matar. Assim, quando já estamos
envolvidos com esses dois, é bonito ver Kenshin tentando segurar os impulsos da
garota de lutar contra o falso Battousai para defender seu estilo, não por
desmerecer a visão dela, mas por temer pela vida da mesma. E os fãs ficarão
satisfeitos com alguns detalhes recorrentes da série, como as incansáveis
lavagens do chão do dojo.
Tecnicamente
eficiente, Rurouni Kenshin faz uma boa reconstituição de época, ainda que com
locações visivelmente limitadas. Acertando nos figurinos e na composição dos
personagens para que remetam fielmente aos originais do mangá (e não há nada
que deixe a desejar, incluindo a adaptação da gigantesca espada de Sanosuke). A
breve sequência em que Kenshin se veste com o kimono vermelho característico é
cuidadosa e embalada pela belíssima trilha sonora, sem soar exageradamente
chamativa. Com uma direção de fotografia inteligente por Takuro Ishizaka, usa
uma paleta de cores frias para momentos opressivos, como o passado de Battousai
ou a prisão que Kenshin é mandado, e cores bem mais calorosas no “presente”
remetendo a aparente paz.
Com decisões perfeitas para enxugar a história, Yahiko já começa apresentado como um aluno de rua que Kaoru mantém. Bem como o falso Battousai que é fundido no vilão Udo Jin (no original eram dois personagens distintos). Contando com seqüências de ação que remetem à agilidade dos espadachins no mangá, Kenshin se move em uma velocidade incrível já na seqüência de abertura, ao derrubar uma série de oponentes, algo que se repetirá muitas vezes no filme (e mesmo que haja sangue, sim, é visivelmente contido para não gerar uma classificação muito elevada nos cinemas). E aí temos o pacote completo, com as acrobacias no ar, chutes que jogam adversários longe, e por aí vai. O filme ainda encontra espaço para divertidos momentos, como quando Sanosuke (Munetaka Aoki, divertido) e seu adversário final param no meio de uma luta na cozinha para comer o que espalharam e descansar, voltando ao confronto logo em seguida. Mesmo assim, acrescenta algumas batalhas totalmente desnecessárias, como aquelas de Kenshin contra Saito e contra Sanosuke, embora isso seja esperado para agradar os fãs (mas prejudica o filme, sim).
É
uma pena, portanto, que a obra se perca após sua primeira bela hora, adentrando
na trama do ópio, situações forçadas e vilões sem peso algum. Se na primeira
metade Ohtomo acerta como diretor, sua decisão de colocar uma música
“engraçadinha” toda vez que o vilão chefe aparece é ridícula, impossível de
levá-lo a sério justamente por imposição da trilha. Com um visual que remete ao
Anton de Onde os Fracos Não tem Vez ou ao Beiçola de A Grande Família; passando
por Hanya vestido de Conde Drácula; e aquele que luta contra Sanosuke no final
que duvido ter um nome. Por outro lado, Yosuke Eguchi faz milagres com seu
Saito em seus poucos momentos de tela, surgindo como uma figura de peso e um
samurai orgulhoso. Desta forma, o único que realmente se destaca na vilanice é
Udo Jin, com sua voz grave e seu Sharingan no olho, revela-se um páreo a ser
temido pelo super homem Kenshin.
Pra
piorar, o filme se entrega totalmente ao caos em determinados momentos. Desde
Megumi indo morar com os heróis sem absolutamente nenhuma conversa e sem
ninguém se impor. E por que os vizinhos de Kaoru trazem as crianças envenenadas
para o dojo?! Existe um lugar que as pessoas normais vão quando estão doentes, e esse lugar se chama... não é dojo! E a última meia hora de filme segue completamente os padrões de
um anime, tendo que passar por diversos vilões até chegar no grand finale. Encaixando
ainda o clichê total de mocinho-salvando-a-mocinha, primeiro Megumi e
terminando com Kaoru (com direito a carregá-la no colo em direção à câmera e
tudo). Não sei se reclamo do Kenshin se defendendo de algumas balas do Hanya
Drácula, tendo ele já saltado e voado tanto, mas digo que a luta entre eles
parece uma apresentação de cosplay em um evento.
Se
por um lado o filme irrita imensamente com o nome “Battousai” proferido quase
que uma vez a cada mudança de cena, por outro tirará orgasmos dos fãs ao
incluir a famosa “Ken wa kyouki. Kenjutsu
wa satsujinjutsu” (Uma espada é uma arma. Kenjutsu é uma técnica de
assassinato). E é bonito ver alguns cuidados sutis, ao incluir Kaoru retirando
os sapatos rapidamente em meio ao caos, para entrar no seu dojo e defendê-lo de
vândalos (ação repetida em seguida por Kenshin); ou observar os policiais de
fundo em uma cena do crime, sem faixas amarelas, tendo que conter a população com
os próprios corpos.
De
qualquer forma, o diretor mostra respeito pelo material, e sabe estar tratando
com “ícones” para seu público alvo, apresentando cada personagem com seu devido
close na tela. Fazendo Kenshin
assumir diversas poses saídas diretamente das páginas; colocando até o
Shinsengumi (com armas de fogo!); e a famosa pose de ataque de Saito.
Esforçando-se para tornar Rurouni Kenshin uma obra fechada e para os leigos, o
que temos é um resultado mediano que tentou colocar referências demais na tela.
Ainda que seja um forte avanço no sentido de adaptação de mangá para as
telonas, totalmente superior, por exemplo, a baboseiras como o ocidental
Dragonball Evolution. Em suma, o filme demonstrou que há muito potencial para
futuras adaptações desse imenso mundo dos mangás.
(Para mais dos meus
textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)
@PedroSEkman
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Os comentários deste blog são moderados, então pode demorar alguns minutos até serem aprovados. Deixe seu comentário, ele é um importante feedback.