sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Rurouni Kenshin - Live Action

Saudações do Crítico Nippon!


Apesar de considerar os live actions de Gantz, Battle Royale e L Change the World terríveis, confesso que gosto muito dos dois primeiros de Death Note. Seguindo o roteiro à risca e fazendo as mesmas reviravoltas, não faz o menor sentido aqueles que dizem que o caderno da morte ficou uma porcaria (Apesar da direção do filme ser abominável, sim, dando a impressão de que é mais lento. Mas só). Desta maneira, percebi o óbvio: a adaptação tem que se focar no forte. Em Death Note, na trama policial; em Samurai X, na ação. E bastou uma olhada nos trailers para que eu ficasse extremamente curioso com as manobras de nosso protagonista rurouni através de cabos de aço e alguns efeitos mecânicos (e não digitais, como costumam confundir). Funciona, sim, no quesito. Porém, peca pela longevidade e excesso de material. Assim, tudo que o filme construiu em sua primeira metade mais simples, vai ruindo aos poucos com a chegada dos outros intermináveis 50% de entulho. 



Começando o filme seguindo fielmente o original de Nobuhiro Watsuki, temos o protagonista, conhecido como o assassino Battousai, no final do regime Tokugawa, largando a espada (não exatamente, ele só inverte a lâmina) para os futuros tempos de paz da era Meiji. A partir daí, saltamos 10 anos no tempo para encontrá-lo novamente como um andarilho de semblante pacífico, e a história segue a partir daí...

O diretor Keishi Ohtomo acerta no ritmo da narrativa, a princípio, e desenvolve Kenshin e Kaoru com cuidado e atenção (tanto que só ouviremos o verdadeiro nome do protagonista com 40 minutos de filme). Vivido por Takeru Sato com sensibilidade e segurança, Kenshin é um personagem constantemente calmo com sorrisos sempre serenos, quase calculados. Contrastando esse lado ao ficar nervoso em certas batalhas, o ator demonstra conhecer completamente as emoções que se passam dentro de seu rurouni. Do outro lado, Emi Takei nunca se deixa ofuscar por ele. Dando vida a Kaoru de forma energética e fiel à original, porém delicada em sua devoção pelo dojo e filosofia de que a espada não é para matar. Assim, quando já estamos envolvidos com esses dois, é bonito ver Kenshin tentando segurar os impulsos da garota de lutar contra o falso Battousai para defender seu estilo, não por desmerecer a visão dela, mas por temer pela vida da mesma. E os fãs ficarão satisfeitos com alguns detalhes recorrentes da série, como as incansáveis lavagens do chão do dojo.



Tecnicamente eficiente, Rurouni Kenshin faz uma boa reconstituição de época, ainda que com locações visivelmente limitadas. Acertando nos figurinos e na composição dos personagens para que remetam fielmente aos originais do mangá (e não há nada que deixe a desejar, incluindo a adaptação da gigantesca espada de Sanosuke). A breve sequência em que Kenshin se veste com o kimono vermelho característico é cuidadosa e embalada pela belíssima trilha sonora, sem soar exageradamente chamativa. Com uma direção de fotografia inteligente por Takuro Ishizaka, usa uma paleta de cores frias para momentos opressivos, como o passado de Battousai ou a prisão que Kenshin é mandado, e cores bem mais calorosas no “presente” remetendo a aparente paz.















Com decisões perfeitas para enxugar a história, Yahiko já começa apresentado como um aluno de rua que Kaoru mantém. Bem como o falso Battousai que é fundido no vilão Udo Jin (no original eram dois personagens distintos). Contando com seqüências de ação que remetem à agilidade dos espadachins no mangá, Kenshin se move em uma velocidade incrível já na seqüência de abertura, ao derrubar uma série de oponentes, algo que se repetirá muitas vezes no filme (e mesmo que haja sangue, sim, é visivelmente contido para não gerar uma classificação muito elevada nos cinemas).  E aí temos o pacote completo, com as acrobacias no ar, chutes que jogam adversários longe, e por aí vai. O filme ainda encontra espaço para divertidos momentos, como quando Sanosuke (Munetaka Aoki, divertido) e seu adversário final param no meio de uma luta na cozinha para comer o que espalharam e descansar, voltando ao confronto logo em seguida. Mesmo assim, acrescenta algumas batalhas totalmente desnecessárias, como aquelas de Kenshin contra Saito e contra Sanosuke, embora isso seja esperado para agradar os fãs (mas prejudica o filme, sim).





É uma pena, portanto, que a obra se perca após sua primeira bela hora, adentrando na trama do ópio, situações forçadas e vilões sem peso algum. Se na primeira metade Ohtomo acerta como diretor, sua decisão de colocar uma música “engraçadinha” toda vez que o vilão chefe aparece é ridícula, impossível de levá-lo a sério justamente por imposição da trilha. Com um visual que remete ao Anton de Onde os Fracos Não tem Vez ou ao Beiçola de A Grande Família; passando por Hanya vestido de Conde Drácula; e aquele que luta contra Sanosuke no final que duvido ter um nome. Por outro lado, Yosuke Eguchi faz milagres com seu Saito em seus poucos momentos de tela, surgindo como uma figura de peso e um samurai orgulhoso. Desta forma, o único que realmente se destaca na vilanice é Udo Jin, com sua voz grave e seu Sharingan no olho, revela-se um páreo a ser temido pelo super homem Kenshin.

Pra piorar, o filme se entrega totalmente ao caos em determinados momentos. Desde Megumi indo morar com os heróis sem absolutamente nenhuma conversa e sem ninguém se impor. E por que os vizinhos de Kaoru trazem as crianças envenenadas para o dojo?! Existe um lugar que as pessoas normais vão quando estão doentes, e esse lugar se chama... não é dojo! E a última meia hora de filme segue completamente os padrões de um anime, tendo que passar por diversos vilões até chegar no grand finale. Encaixando ainda o clichê total de mocinho-salvando-a-mocinha, primeiro Megumi e terminando com Kaoru (com direito a carregá-la no colo em direção à câmera e tudo). Não sei se reclamo do Kenshin se defendendo de algumas balas do Hanya Drácula, tendo ele já saltado e voado tanto, mas digo que a luta entre eles parece uma apresentação de cosplay em um evento. 









Se por um lado o filme irrita imensamente com o nome “Battousai” proferido quase que uma vez a cada mudança de cena, por outro tirará orgasmos dos fãs ao incluir a famosa “Ken wa kyouki. Kenjutsu wa satsujinjutsu” (Uma espada é uma arma. Kenjutsu é uma técnica de assassinato). E é bonito ver alguns cuidados sutis, ao incluir Kaoru retirando os sapatos rapidamente em meio ao caos, para entrar no seu dojo e defendê-lo de vândalos (ação repetida em seguida por Kenshin); ou observar os policiais de fundo em uma cena do crime, sem faixas amarelas, tendo que conter a população com os próprios corpos.

De qualquer forma, o diretor mostra respeito pelo material, e sabe estar tratando com “ícones” para seu público alvo, apresentando cada personagem com seu devido close na tela. Fazendo Kenshin assumir diversas poses saídas diretamente das páginas; colocando até o Shinsengumi (com armas de fogo!); e a famosa pose de ataque de Saito. Esforçando-se para tornar Rurouni Kenshin uma obra fechada e para os leigos, o que temos é um resultado mediano que tentou colocar referências demais na tela. Ainda que seja um forte avanço no sentido de adaptação de mangá para as telonas, totalmente superior, por exemplo, a baboseiras como o ocidental Dragonball Evolution. Em suma, o filme demonstrou que há muito potencial para futuras adaptações desse imenso mundo dos mangás. 






















(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)
@PedroSEkman

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