terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Tonari no Kaibutsu-Kun: Meu Monstrinho!



A história de um grupo de personagens que têm dificuldade em se relacionar com outras pessoas, e que encontram na conturbada relação que constroem entre si, a receite de como não se sentirem mais sós. 

Tonari no Kaibutsu-Kun ("O monstro sentado a meu lado") se mostrou decepcionante frente ao alto potencial exalado por uma estreia polêmica, e boa execução, que repercutiu por blogs, fóruns e redes sociais internet fora. Não havia meio termo. De um lado, aqueles que consideram ultrajante uma garota ser socada em um shoujo mangá. Do outro, aqueles que se divertiram com um protagonista que pouco se vê em adaptações de animes shoujo – Os mais controversos simplesmente não recebem adaptações (Por mais que um Black Bird venda e tenha uma popularidade considerável para um shoujo, eu não vejo este mangá sendo adaptado. Podem ter certeza que a polêmica seria enorme), e os mangás adaptados simplesmente seguem a formula clássica, com pouca variação. Obviamente, Kaibutsu-Kun, que nem é tão controverso assim, virou pauta.

Eu continuo não me importando com essa frase polêmica. Faz parte do personagem de Haru, além de estar bem contextualizada com sua personalidade. Mas fechado a série, não gosto dos rumos tomados com relação a isto.

Haru é um ogro, espontâneo, e embora ingênuo; extremamente agressivo. Ele não tem os maneirismos clássicos presentes mesmo nos protagonistas mais grosseiros da velha fabula da “Bela e a Fera”. Mas Kaibutsu-Kun não é tão diferente assim dos demais, nem mesmo uma quebra, sátira, reconstrução de gênero ou etc. e tal como eu mesma cheguei a cogitar depois do primeiro episódio assistido. É a velha formula, com ingredientes alterados. Às vezes isso funciona; como foi o caso dos clássicos Ace wo Nerae! e Berusaiyu no Bara (“A Rosa de Versalhes”) que, ao lado de outros grandes, mudaram a visão da indústria. Em outros casos, isso não funciona tão bem, deixando um gostinho meio amargo na boca. É o caso de Kaibutsu-Kun, que diverte a plateia com sua comédia pastelão e romance light (daí mais um ingrediente do seu sucesso de publico entre os fãs ocidentais), mas é substancialmente vazio de sentidos e com uma narrativa errática.

Particularmente eu não me importo o quão vazia pode ser uma obra, desde que execute bem a sua proposta – E Kaibutsu-kun propõe temas [interessantíssimosque em 13 episódios, pouco saem da superficialidade. Gira, roda, rodopia espalhando penas para todos os lados, mas continua ciscando no mesmo lugar, chegando ao cumulo de só apresentar uma insinuante introdução nos episódios finais (pra ser mais exata, a partir do episódio 08).

A autora de Kaibutsu-Kun (que atende pelo pseudônimo de Robico) é tipo aquela tia de 20 e poucos anos, que tem a sua “própria” maneira de fazer doces. Essas “tias” geralmente acreditam no mito de que somente com o açúcar à gosto, atingirá o  ponto máximo da degustação. Mas é o contrário, a pitada de sal serve para realçar o sabor do doce. Ao quebrar o açúcar, se define o sabor e não fica enjoativo/sem gosto ao paladar. Robico força tanto a barra na comédia escrachada (que em alguns momentos funciona, em outros não), que o enredo se torna claudicante.
A história ganha liga e se torna mais substancial quando os personagens de fundo ganham destaque [e por que não; roubam a cena], tirando o enredo do status zero no qual se encontrava. A desajustada socialmente Natsume e o arrogante e tsundere Yamaguchi deram o mínimo de conflito REAL que a trama precisava. Em vários momentos eu me vi torcendo por Yamaguchi e Shizuku; ele além de exibir uma variedade lancinante de caracterização em seu limitado tempo de tela, foi àquele com o qual Shizuku se mostrou mais humana, começando de fato a raciocinar acerca de seus conflitos internos. Natsume, por outro lado, foi a que melhor hasteou a bandeira da série: A solidão e o anseio em fazer parte de um grupo de amigos. Natsume tem um blog, um grupo de amigos virtuais nas redes sociais, é linda, mas porque ela ainda se sente tão solitária? A resposta é obvia; uma coisa não substitui a outra. Por mais que você seja popular nas redes sociais, o sentimento de carência afetiva continua se não houver amigos para apoiar do lado de cá. E ela contorna isso ao conhecer Haru e Shizuku, cresce satisfatoriamente na medida do possível (uma pena que o desfecho pro seu conflito românico, só se houver segunda temporada). De uma forma geral, todos os personagens da tramam sofrem deste complexo, mesmo Yamagushi que aparentemente é social, mas tem dificuldade de se expressar e não passa de uma fachada ambulante.

Eu não entedia muito o porquê das comparações com Kimi niTodoke, mas olhando por este lado, ambas as séries tratam do mesmo assunto (a dificuldade de se relacionar com a pessoa ao lado. Algo que fala diretamente do cotidiano dos estudantes japoneses e suas inabilidades sociais) de maneiras antagônicas. Kimi ni é idealizado e cor de rosa. Kaibutsu-Kun é debochado e agressivo. Em comum? Ambos são extremamente enrolados.

E claro, não posso deixar de comentar sobre a tímida Chizuru, que não tem muito destaque, mas desempenha um papel importante na trama principal [que precisava sair ao menos do ponto zero], ao se apaixonar por Haru, e forçar em Shizuru diversos conflitos internos. É a partir daí que temos algo, mesmo que lentamente, realmente se desenvolvendo entre Haru e Shizuku. Não apenas isso, este conflito força em ambos um desenvolvimento de carácter, mesmo que risível.


Shizuku: "Por que eu devo ajudar? Se ela está infeliz com sua situação atual, ela devia fazer algo a respeito. Se ela não consegue, o problema é dela.”

Haru: "Que coisa maldosa de se dizer, Shizuku. Realmente odeio isso em você."

Shizuku: "É mesmo? E todo esse teatro hipócrita que vocês armaram aqui, está me deixando enjoada.”

Haru: "Ei, Shizuku. Me diga por que está me ignorando."

Shizuku: "Certo, escute. Quando estou com você, meu peito dói. Não consigo me concentrar nos estudos. Por isso, não quero ver o seu rosto."

Chizuru: "Hein, hein, heein?! Espera aí! Ela pode estar dizendo que o ama! Mas... Acho que mesmo alguém como ela pode sentir essas coisas... "

Haru: "Você não deveria ir para a enfermaria?"

Chizuru: "V-você entendeu errado! N-não foi isso que a Mizutani-san estava tentando dizer! Ela não estaria sofrendo se não se importasse com você! Por que você não entende que ela estava dizendo que está preocupada?! Por isso! É por isso que você...Você... tem bolas?!

Haru: "Eu tenho! Não tenho, Shizuku?"

Shizuku: "N-não pergunte pra mim!"

Acima nós temos, sem dúvidas, dois dos melhores momentos da série. Nos dois casos, você nota timing e feeling perfeito da narrativa ao transmitir um humor envolvente através da comédia dramática. E a direção de Hiro Kaburaki foi extremamente eficiente em transmitir o tom certo dado pela autora, e a interpretação dos dubladores, em especial a de Chizuru (Kana Hanazawa), é impecável! O segundo caso, representa o melhor do humor escrachado da série, o primeiro, é aquele onde a narrativa mais acerta na complicada balança entre comédia e drama. O falar sério, sem parecer dramático, ou cômico.

No entanto, com muitos altos e baixos, a história se perde nos primeiros episódios e só volta a se reencontrar lá na frente. Fracamente, ao escrever o post de primeiras impressões defendendo Kaibutsu-Kun, eu imaginei que a autora tivesse a exata consciência do que estava fazendo. As agressões de Haru à Shizuku [e do restante do elenco masculino, com algumas garotas da história] se repetem tanto, e sem ao menos nenhum peso significativos dentro do contexto, que se tornam banais. O que Robico faz é banalizar a violência contra essas garotas. Ela insere essas agressões num contexto onde essas atitudes soam naturais (eu perdi as contas de quantas vezes Haru acerta Shizuku *sem querer*, e da forma agressiva como, ela e, as outras garotas são tratadas pelos garotos legais. O que me lembra como crianças tratam uma à outra). Não significa nada para o enredo (e Shizuku se mostra muito indiferente a isto), a não ser gerar um humor babaca, daquele pastelão onde personagens se agridem e as crianças riem, porque crianças possuem uma ingenuidade cruel [e que muitas vezes machucam]. Faltou uma pitada de sal aí.


É incômodo ver que isso é tratado com naturalidade pela autora – Isso me lembra uma discussão que eu tive há muito tempo com o @kuroibr [do Mangás Fã] com relação à forma brucutu e violenta que a feminista Misaki de Kaichou wa Maid-Sama trata os garotos. Meu argumento naquela discussão ainda continua de pé. A autora fundamenta irreparavelmente o contexto daquelas agressões (eu adoro, os guris ficam acuando as garotas, e Misa chega chutando suas bundas). O que Misaki faz é se defender, ou seria a vitima. Assim como qualquer obra do Jun Hayami (o autor mais cru e seco do universo ero-guro; suas histórias de estupro e abusos diversos às vezes parecem reais pelo contexto incrivelmente verossímil que ele dá) é retratada sempre de forma marginal pelo autor.
Haru é uma autêntica criança ingênua, que pratica atos maldosos, por vezes violentos, com a intenção de machucar, é claro, mas sem medir as consequências. Eu gosto deste estado bruto e ingênuo do Haru, que por vezes se mostra extremamente amável, meigo e romântico, e em outros; igualmente violento e insensível. Nós episódios finais é notável o monstro contido dentro dele. Haru é extremamente violento e complexo, ao ponto de ser sim, fascinante. A narrativa deixa subtendido que ele esconde um grande trauma da infância, o que me parece ser uma ÀS que a autora pretende usar num momento decisivo. Nos episódios finais é onde Haru mostra o seu melhor, com o seu monstro interior querendo emergir com a aparição de seu irmão, trazendo consigo lembranças talvez dolorosas. Haru desde pequeno fora deixado “para trás” e de fora dos grupinho de amigos por suas atitudes tempestuosas. Com a aproximação entre Shizuku e Yamagushi, ele se mostra extremamente possessivo com relação à ela, e todo este conflito interno do personagem é desenvolvido com sutileza, o que me agradou bastante [principalmente quando Haru tem o impulso de derrubar Yamagushi da escadaria, mas consegue suprimir o monstro interior. É fantástico como isso se mostra aparente, sem se tornar obvio demais, sem fazer melodrama]. É bonito ver o quanto ele se contém pela Shizuki. Mas se conter não é o suficiente, será que a autora vai conseguir amadurecê-lo até o final da história original?
Ao contrário de Haru, que mesmo ficando aquém de seu potencial, Shizuku é a personagem mais decepcionante aqui. Apesar do clichê de personagem “rainha do gelo”, o potencial latente de Shizuku é tão fascinante quanto o de Haru. Fria, egoísta, lógica, independente, sarcástica e em nada se parece com as heroínas convencionais sempre prontas pra ajudar o próximo e sendo vítimas da situação. Shizuku pouco se importa com estes preceitos e eu adoro isto nela. Ela é forte, mas também racional para entender quando está em desvantagem. É feminina, delicada, mas não é fresca, além de ter gênio difícil. Porém, a autora demora a desenvolver seu lado interior, seus conflitos e questionamentos – Acreditem, demorou 2/3 de um anime de 13 episódios para que ela começasse a raciocinar de forma logica sobre sua relação com Haru. Como ela é a protagonista, o alvo da ação dele, ficamos esperando uma reação que nunca vem de forma sólida, e com isso a trama simplesmente trava. O seu ponto mais interessante dentro da série foi sem dúvida sua falta de tato em lidar com as pessoas, assim como Haru, e a forma como ela encara a solidão. Isso gera um questionamento interessante na reta final. Afinal, como ela pode sentir solidão, se ela nem ao menos tem ideia do que é isto? Seria interessante ver o gelo da pessoa que aprendeu a se esforçar nos estudos por estes sempre valorizarem o seu esforço, derreter.

Kaibutsu-Kun termina de forma aberta e sem dizer ao que veio exatamente, mas ainda é uma série bem digna. Haru e Shizuku formam um casal complexo, e incrível, mas sem um bom trabalho por parte da autora em cima desse relacionamento a mensagem passada acaba, ainda que certamente não seja sua intenção, sendo a mais equivocada possível. A amizade estabelecida entre todos os personagens é algo notável e a evolução mais sentida em toda a história. Especialmente a amizade de Natsume para com Shizuru, que em alguns momentos chega a ser tocante seu carinho pela amiga, que não retribui da mesma maneira, nem mesmo é consciente destes sentimentos. A tensão sexual aflorada entre Shizuku e Haru também é digno de nota, e não fica apenas na atmosfera, mas visível pelos diálogos e nas expressões dos personagens. O Haru que sente o corpo reagir aos contatos físicos de Shizuku e vive pensando no ato sexual, e esta que, mesmo não sabendo lidar com seus sentimentos sabe exatamente o que significa ter o corpo ardendo ao encostar no garoto que deseja. Um bom momento é quando Haru vai passar a noite na casa de Shizuku, e depois do banho tomado, fica andando sem camisa pela casa. Ela reluta, mas não resiste em dar aquela olhada meio vouyer à procura do peito nu de Haru. Impagável!



Hiro Kaburaki que dirigiu impecavelmente as duas temporadas de Kimi ni Todoke fez um bom trabalho, e tenta repetir aqui o mesmo feito do seu maior sucesso: Fechando a série com um grande encontro entre todo o elenco, e terminando de forma aberta com uma obvia mensagem de continuação. E mesmo com as baixas vendagens de Kaibutsu-Kun, o mangá que já era um sucesso, ficou ainda mais em evidência, então não espantaria uma continuação pra fechar a série (embora, com a exceção de alguns sucessos como Natsume Yuujinchou e Kimi ni Todoke, raramente shoujos ganham sequência). A adaptação do ótimo Noboru Takagi (Baccano!, Durarara!!)dos textos do mangá, para o roteiro do anime, por vezes fica enfadonha e peca pela falta de objetividade para um anime de 13 episódios. Kaibutsu-Kun faz um contraponto muito legal com o excelente Natsume Yuujinshou a respeito da solidão, mas de uma forma mais positiva e alto astral. Uma pena que ao contrário deste que fecha cada arco de sua história com um objetivo alcançado, Kaibutsu-Kun pouco evoluiu, apesar de esbanjar carisma.

Nota: 06/10
Direção: Hiro Kaburaki
Roteiro: Noboru Takagi, Sawako Hirabayashi, Deko Akao
Estúdio: Brains Base
Episódios: 13
Ano: 2012

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 >Me deu a louca quando percebi que os personagens deste anime passavam a maior parte do tempo ou comendo ou  na lanchonete ou no supermecado ou no café ou no rest....É, vocês entenderam. E são somente alguns momentos! Sem brincadeira, provavelmente uns 80% de screentime esses personagens estão praticamente gastronomia.

> Em 2012 tivemos até um galinha como mascote, mas no fator carisma ela não conseguiu bater o popular Tapioca que roubou a cena em Tsuritama!

>A amizade e momentos de preciosas lembranças capturadas através de uma lente; Olha eu gosto muito disso em séries que assisto e Kaibutsu-Kun não fugiu a regra e também teve o seu momento de registro.


>A equipe do Brains Base é conhecida principalmente por driblar baixos orçamentos com uma produção mais artística, mesmo que para manter as belíssimas cores e character designer que são sempre muito bons, precise sacificar a animação. Fiquei em dúvidas se conseguiriam fazer algo bom em Kaibutsu-Kun, e quebrei a cara porque a produção ficou realmente belíssima; os cenários com filtros aplicados que dá a impressão de ser um desenho a lápis cru, o CG muito bem integrado ao 2D, matizes variadas e muita cor, assim como boas composições de câmera.

>Apesar do bom aspecto técnico, o baixo orçamento e a equipe reduzida, trouxe a tona diversos erros nos desenhos do storyboard com imperfeições de simetria e anatomias. Repare nas duas últimas imagens. Valeu HevertonGM, tinha me esquecido deste detalhe.