O mangá de suspense da editora Jbc.
Antes da estreia da versão animada de Another, eu fui me
aventurar nas páginas do mangá, que me correspondeu com uma narrativa tão apática,
que não tive forças suficientes para continuar a leitura e a dei por encerrada
ali mesmo, no primeiro capítulo. Foram longos anos desde a última vez que as
bancas brasileiras tiveram contato com um mangá de terror e relacionados, mais
precisamente após a decaída da Conrad, que antes de abdicar de seu posto de
principal editora de mangás do país, ainda trouxe dois dos maiores nomes do gênero:
Hideshi Hino e Junji Ito – Que vale frisar, não tiveram uma repercussão tão
boa, obviamente.
A Jbc foi muito feliz ao se aproveitar do buzz provocado
pela versão animada. Os animes num geral são propagandas de vinte e poucos
minutos, um subproduto; e Another não foge à regra, e faz comercial
principalmente para o live action que seria anunciado logo após a produção, o
tipo de mídia que ao lado dos doramas, possuem um apelo muito maior para o
público convencional que as animações. O interessante é o fato de que as
editoras brasileiras também podem se aproveitar da propaganda dos animes, que
chegam até nós através dos fansubs. A Panini sempre aproveitou melhor essa
publicidade, então fico contente de ver a Jbc reagindo, com alguns títulos que
fizeram a cabeça dos otakus há pouco tempo, como Mirai Nikki.
Another é um mangá de suspense e mistério, que usa em sua
narrativa visual a atmosfera típica do terror, adaptado do romance (algumas pessoas, inclusive já aconteceu
comigo, confundem e descrevem Another como uma light novel – um análogo da
nossa literatura young adult –, mas se trata de um livro comum) de Yukito
Ayatsuji, que está sempre às voltas com romances detetivescos. Por um acaso,
ele é casado com a sensacional Ono Fuyumi, também autora e com certa queda para
o terror, que já escreveu algumas light novels de sucesso como Shiki, Ghost
Hunt, e The Twelve Kingdoms, que não é terror, mas é uma fantasia muito
elogiada (ainda preciso ver sua
adaptação animada).
Yukito Ayatsuji mostra uma boa técnica ao entrelaçar a trama
misteriosa de Another à lendas clássicas de terror japonês, como por exemplo o
elevador, que do 03, pula para 05, já que no Japão tem se a superstição que o
numero 04 é sinônimo de azar (lá a
pronuncia do 04 é “Shi”, a mesma usada para a palavra “morte”). Há toda uma
sincronia em torno de números, lendas urbanas de pessoas que morreram e continuam
presas à terra por não tomarem conhecimentos de que estão de fato mortas, como
se nota pela premissa presente na sinopse, que teoricamente tornam Another uma
história bem pensada, com exceção do desfecho final onde o autor abandona a
execução lógica estabelecida e força a barra. Inclusive ele brinca à todo
instante com as respostas do enigma, que se mostram tão evidentes, mas que
talvez passe despercebido por você.
Certamente o romance deve ter uma narrativa melhor, apesar
da resolução de bosta e o tr0ll do autor que tenta te convencer que aquilo é
inteligente, quando na verdade está contradizendo boa parte da história. Sim,
provavelmente a narrativa é melhor que nas adaptações, como de praxe, mesmo no
mangá você consegue notar uma riqueza maior de detalhes, e a própria presença,
por exemplo, da avó do protagonista, já lhe dá uma substância maior. No entanto
falta uma intensidade emocional adequada. Comentei isto no texto de Mirai
Nikki, com relação ao fato de como mistério raramente possui suspense,
provocando um tipo de curiosidade que é vazia de emoção, logo este o elemento
fundamental de qualquer suspense ou terror. Também comentei que alguns autores
fogem dessa sentença com uma escrita habilidosa, o que definitivamente não é o
caso aqui.
Another pode ser muito atraente para quem não é tão aficionado para com o gênero em questão, apesar das falhas, a atmosfera visual de terror mascara bem os aspectos negativos da obra. Kiyohara Hiro, autor do mangá, é bem limitado
tecnicamente, apesar do bom traço, mas sabe utilizar bem os recursos de cores monocromáticas
para tentar emular uma tensão climática em torno dos personagens. Infelizmente,
ele não é um bom autor de mangás do gênero, o que se nota de imediato. Ele não
tem um bom ritmo sequencial, tem dificuldades em usar o espaço negativo para
gerar tensão, e a cinética dele é péssima para um gênero que depende muito dos
recursos visuais para se expressar.
Eu quero dizer que o anime consegue ser mais atrativo que o
mangá, inclusive as mortes na versão animada são mais bonitas e criativas. Kiyohara
Hiro é mais sutil no que tange à violência. Embora o mangá se mostre mais substancial,
os diálogos são pobres (ou continuam
pobres, porque no anime também não são tão melhores assim) e até mesmo
redundantes, criando uma sensação de barriguinha desnecessária: Ou seja, se
tornam arrastados e a leitura monótona, como o cerco que os colegas do
protagonista fazem em torno dele para lhe contar o pressuposto segredo da
turma, sendo sempre entrecortados por eventos frágeis. Faltou habilidade do
autor em solidificar essa série de mal entendidos, como Ono Fuyumi faz com
maestria em torno dos mistérios em Shiki.
O tratamento físico dado pela Jbc em Another é condizente
com o conteúdo: Fraco. São 3 páginas coloridas e mais uma em preto e branco, em
papel couchê, contracapa colorida, capa fosca que é uma delícia de sentir as
impressões dos dedos sobre – E com o papel jornal de sempre. Segue o mesmo
padrão de Mirai Nikki, também com o mesmo valor de R$13,90, mas este papel
jornal tem uma gramatura muito menor que a utilizada em Mirai Nikki, causando
aquele efeito desagradável de transparência que se torna aparente sem o menor
esforço. A adaptação está muito agradável, inclusive a Jbc optou pelo uso de honoríficos,
o que eu considero adequado para a obra em questão, devida suas
particularidades. A diagramação deixa a dever em alguns poucos momentos, mas
nada que comprometa. E contém os extras do original. A baixa fica por quanto da
transparência, algo que não deveria ocorrer com este valor cobrado, além dos
cortes da lâmina muito em cima da arte, algo que acontece com frequência nos
mangás lançados aqui.
Tenho fetiche por coleções, logo devo colecionar Another,
que é curtinho, só 04 volumes e deixará minha coleção mais bonita, ao menos
visualmente. E provavelmente nem vou tocar neles para ler, não tenho interesse
algum no conteúdo – Curiosamente, também tenho a “primeira temporada” de
Rosario + Vampire (da JBC) aqui
na coleção, com apenas 3 volumes lidos, e ao contrário de Another, nem tenho
interesse no gênero em questão. Minto, aprecio a misticismo em torno dos
vampiros, mas neste caso, o destaque é a comédia romântica ecchi, certo? Pelo menos na primeira
temporada. Nem eu entendo porque raio eu tenho a coleção de Rosario + Vampire.
Será pela Moka?
Volumes: 04
Autor: Kiyohara
Hiro
Publicação original: 2010/2012
Status: Finalizado
Demografia: Seinen
Publicação no Brasil: JBC
Lançamento: 2013
Valor: R$13,90
Compras online: Anime Pro, Comix, Jâmbo
Dica de Leitura:
- omangá de Another e o suspense em sua narrativa (Netoin!)
Leia também:
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