domingo, 13 de outubro de 2013

Ao no Exorcist – O Filme (2012)

Filme do anime que não exige conhecimento prévio da série de tv. 
O mundo de Ao no Exorcist consiste em duas dimensões unidas como uma, como um espelho. O primeiro é o mundo em que os seres humanos vivem; Assiah, e o mundo dos demônios; Gehenna. Normalmente, viagens e até mesmo qualquer forma de contato entre os dois é impossível. No entanto, os demônios podem passar para este mundo por possuir qualquer coisa que existe dentro dele. Satanás é o deus do submundo, mas não pode atravessar para o mundo terreno por não haver um recipiente capaz de suportar a densidade de seu poder. Então ele tem dois filhos com uma mulher humana, Rin (NobuhikoOkamoto) e Yukio Okumura (Jun Fukuyama), para que eles possam crescer naquele mundo e cumprirem seus planos maléficos. Só que, criados por um humano, acabam aprendendo valores humanos.

Ah, o xintoísmo! É uma religião folclórica simplesmente fantástica e uma esponja imaginativa para qualquer artista. Quanto mais descubro, mais apaixonada fico. Mas não é esse o motivo que me levou a gostar tanto de Ao no Exorcist (Blue no Exorcist – acho que eu não precisaria dizer, mas o “Exorcista Azul” no título é porque o protagonista emana chamas azuis sempre que desperta seu... poderzinho) em sua exibição em 2011. Ao no Exorcist me diverte, me fascina e me empolga não apenas por ser um mundo folcloricamente rico, mas pelo modo como o enredo e seus personagens são trabalhados dentro da premissa.
   
E este filme, apesar de ser uma história original, carrega de forma exemplar a estrutura da série e seu feeling de ser uma série essencialmente aventuresca. Dito isso, eu devo informar que ainda não conheço o mangá (agora que foi licenciado pela editora Jbc, pretendo conferir) e minha visão parte da perspectiva da adaptação animada.

Em Ao no Exorcist – O Filme, enquanto a True Cross Academy está completamente envolvida nos preparativos para um famoso festival que ocorre apenas a cada 11 anos, alheios à agitação da massa, Rin e Yukio juntamente de Shiemi Moriyama (Kana Hanazawa) têm a missão de reprimir e exorcizar um trem possuído por um demônio, enviando-o para Gehenna. Só que Rin e Shiemi resolvem salvar as almas das pessoas dentro do trem e a missão acaba falhando. Nesse meio tempo, Rin acaba conhecendo e ficando responsável por um pequeno demônio.

Esse filme traz dois personagens novos, o demônio Usamaro (Rie Kugimiya) e o exorcista Liu Cheng-Long (Hidenobu Kiuchi). O roteiro da requisitada Reiko Yoshida (K-ON!, Kaleido Star, REC) começa com uma lembrança, que se torna o mote do filme, de Rin com relação a uma história que seu pai lhe contou uma vez sobre um espirito que apareceu em uma aldeia, distraindo a todos com sua alegria, fazendo com que se esquecessem de trabalhar. A moral da história é que aparece um exorcista para selar o diabinho, mas já era tarde. Com todos distraídos se divertindo e ninguém trabalhando, a plantação morreu e a aldeia foi devastada.

Logo de cara, o que mais impressiona aqui é o mundo desenhado em cores vivas, incríveis texturas que formam um excelente casamento entre 2D e 3D, de cores fortes e estilizadas. O diretor de arte Shinji Kimura que já fez backgrounds incríveis em filmes como Akira (1988), Tekkonkinkreet (2006), Angel's Egg (1985) – e são filmes que se destacam exatamente pelo belíssimo cenário que possuem. Uma característica de Shinji Kimura, que sempre desenvolve fotografias impactantes nas obras que coloca a mão.
O cenário além de dar um aspecto visual belíssimo a este filme, também é tão vivo e pulsante que desenvolve o enredo ao lado do roteiro. 

A cidade é desenhada com cores fortes e estilizadas, destacando a densidade geográfica e amplitude dos edifícios de modo a passar para o espectador o sentimento de poluição visual em meio a densa massa de pessoas se preparando para o festival.  O comercio está nervosamente movimentando, há turistas por todos os lados, e todos os personagens ali possuem um papel vital em meio àquelas festividades. Os exorcistas criam barreiras para impedir os demônios para atacar e estragar a festa, e para dar conta da demanda, novos e prestigiados exorcistas chegam à cidade para ajudar nessa contenção, além dos exorcistas que estão especialmente encarregados de performances durante o festival.

Esse é um bom ponto no roteiro da Yoshida, justificando a inserção de novos personagens ao enredo e dando função a turma de amigos de Rin, para a narrativa se concentrar no trio Rin, Yukio e Shiemi.

Mais uma vez o filme não se distancia da série de tv ao continuar a explorando a polaridade entre os dois irmãos e a temática da responsabilidade. Fugir dela não resolve nada, o ser humano é um ser complexo pela coexistência de sentimentos contraditórios dentro de si. No fim do filme, há a mensagem de que a busca plena felicidade é uma utopia inalcançável para aqueles que possuem consciência e memória. É como um yin-yang. A dor é necessária para a superação e os sorrisos dos bons momentos é o alívio que nos mantém vivos. A figura da cidade e todas as funções desempenhadas pelos personagens exemplificam sem precisar dizer, o conceito do roteiro. São... Somos... todos uma complexa engrenagem num intricado sistema.
Enfim, é um filme divertido que traz duas belas sequências de ação, no inicio e no final. Mas o que eu gostei mesmo foi o que fez me sentir tão emocional com muitos dos episódios da série de tv, que é a interação cotidiana entre os personagens em meio a diversas aventuras. Aqui eles nem exercem um papel proeminente, mas é gostoso ver Rin e Usamaro construindo um laço fraterno tão bonitinho. O Usamaro é uma gracinha. Inicialmente ele é todo arredio, arisco, por motivos que serão explicados mais a frente. De certa forma, ele é um reflexo do próprio Rin. O filme é feito de momentos fraternamente emocionais bonitos assim.

No xintoísmo, youkais e demônios afins não são criaturas malévolas como são no ocidente. Isso se deve ao conceito contrastante filosófico do xintó como religião e da cristandade ocidental. No ocidente, o cristianismo vilaniza demônios e criaturas sobrenaturais como uma forma de tirar o peso por ações praticadas pelo homem (“não foi culpa sua, você estava sendo induzido pelo demônio”). E a beleza do xintoísmo esta na possibilidade de coexistência saudável entre humanos e demônios. No fato de demônios e humanos pouco se diferenciarem, sendo essencialmente seres tridimensionais.

Ao no Exorcist – O filme é bonito e se sai muito bem ao não se distanciar da temática da série. Poderia se encaixar perfeitamente na cronologia original, acredito. O bônus fica por conta da direção envolvente de Atsushi Takahashi e da trilha sonora do Hiroyuki Sawano, que não tem a vibe da série de tv, mas que cai muito bem aqui. Daquelas melódicas gostosas de se ouvir em dias chuvosos. 

Nota: 07/10
Direção: Atsushi Takahashi
Roteiro: Reiko Yoshida
Estúdio: A-1 Pictures
Tipo: Filme
Duração: 90 min.

Temas Relacionados:



***

 Curta o Elfen Lied Brasil no Facebook e nos Siga no Twitter